23 setembro, 2001

PARIS

INFO INICIAL

Esta é minha primeira viagem à Europa. Vou com duas colegas de trabalho: Adélia e Kátia.

Eu e Adélia trabalhamos na mesma empresa e na mesma cidade e já nos conhecemos há algum tempo. Ainda não conheço a Kátia, que também trabalha na mesma empresa, porém no Rio de Janeiro.

Estou ansiosa e um pouco apreensiva. Me sinto uma "matuta", pois minhas companheiras de viagem já são bem "viajadas". Espero não gerar nenhum incômodo para as duas.

Paris sempre esteve nos meus planos mas pouco sei sobre as outras cidades. Espero me surpreender. Positivamente, é claro.

29.04.2001                                PARIS

Arco do Triunfo
Chegamos em Paris com chuva. Embarcamos em uma Van que nos deixou no centro da cidade. Chegando lá procuramos um táxi que nos levasse até ao Hotel Des Mines, na rua Boulevard Saint Michel. Enfiamos toda nossa bagagem no táxi e partimos. O motorista nos cobrou uma taxa porque o número de malas era maior que duas. Nosso hotel é simples, mas bem localizado. O quarto fica no sótão e, pelo menos para mim, é novidade. Levei uma surra do chuveiro, que é tipo ducha que corre por uma vareta. Além de ficar dentro de uma banheira - fiquei com medo de escorregar - a altura da ducha não era suficiente para que eu ficasse embaixo dela; tive que lavar minha cabeça sentada dentro da banheira. 

Fomos bater perna apesar da chuva fininha. Caminhamos pela Avenida Boulevard Saint-Michel até chegarmos ao rio Sena. Acho que o grande encanto dessa cidade está na conservação de todas essas construções antigas. Tem razão aqueles franceses que se revoltam com a construção de grandes prédios próximos ao centro da cidade. Se isso realmente acontecer melhor que fique bem distante para não desconfigurar essa arquitetura que é característica de Paris. Afinal, se alguém deseja ver prédios modernos deve ir aos Estados Unidos. 
 

Notre Dame
Passamos pela Île de La Cité, ilha que fica no Rio Sena e local onde a cidade de Paris teve sua origem. Eu nem havia percebido que era uma ilha, o rio não é tão largo e por isso a ilha não se destaca. Paramos na Catedral de Notre Dame. Ela é realmente imponente, faz jus à fama que tem. Ao lado da igreja tem um jardinzinho cheio de tulipas. È a primeira vez que vejo essa flor, só a conhecia de fotografias. É linda.



30.04.2001

Contratamos um tour para a cidade de Giverny para visitarmos o Museu de Claude Monet. O motorista da Kombi é um brasileiro que vive há 14 anos em Paris. Pelo caminho pude notar que não há um só pedaço de terra desperdiçado. Mesmo nas laterais da estrada não se vê mato. Se não plantam flores, plantam algum vegetal. Perguntei ao motorista o que era aquele campo coberto por uma planta com uma florzinha amarela que cobria uma grande extensão de terra. Ele disse que se tratava de colza, uma planta de onde se extrai um óleo vegetal usado na fabricação de diesel. Falei com ele que nós três trabalhamos em uma empresa do ramo de petróleo, mas que a nossa matéria prima, o petróleo, é extraído das profundezas do oceano atlântico. 
 
Casa de Monet
Levamos mais ou menos uma hora até chegarmos à casa de campo onde Monet viveu boa parte da sua vida. É uma casa de paredes rosadas e janelas verdes, com um jardim que ele mesmo plantou em volta de toda a propriedade. A casa conserva os objetos pessoais de Monet e alguns quadros que são réplicas dos originais famosos que encontram-se em museus do mundo todo. A cozinha é toda coberta de azulejos azuis e cheia de panelinhas de cobre dependuradas. Uma graça!!!
Jardim de Monet

O jardim é um caso à parte. Nunca vi um jardim tão lindo, com uma variedade tão grande de flores. O dia está nublado e de vez em quando cai uma garoinha. Fico imaginando o velhinho com seus pincéis e cavalete, numa manhã ensolarada, passando para a tela todo esse colorido que está a sua volta. Não é de se admirar que os quadros dele sejam uma mistura de  tons, um emaranhado de cores.
Caminhamos pelas trilhas até chegarmos à ponte japonesa que atravessa o lago coberto de ninfeias. Essa é a paisagem que vemos em tantos quadros pintados por ele. Tiramos muitas, muitas fotos.

Jardim de Monet
Ao lado da casa tem uma construção onde se pode comprar vários souvenirs com os temas dos quadros de Monet.

Retornamos a Paris. O motorista ainda nos levou em alguns pontos turísticos. Paramos primeiro na torre Eiffel e em seguida fomos à igreja do Sacré Couer (Sagrado Coração) no bairro de Montmartre. A igreja, que é belíssima, fica numa colina com uma vista privilegiada da cidade de Paris. Não há morros nessa cidade, essa colina me parece a única por aqui. Na frente da igreja tem uma imensa escadaria que cobre toda a encosta, onde os turistas sentam prá descansar e admirar a vista da cidade lá embaixo.

Sacré Couer



















Caminhamos até a feira na Place du Tertre que fica próximo à igreja. Muitos artistas pintam seus quadros ali mesmo na feira. Em volta vários barzinhos com cadeiras nas calçadas, cheio de turistas que ficam olhando o movimento na feira.

Retornamos ao hotel, tomamos banho e fomos ao Quartier Latin para jantarmos. Esse bairro fica próximo ao hotel e tem muitos restaurantes. Escolhemos um restaurante grego e pedimos uma Musaká, prato típico da Grécia. No final da noite ainda dançamos com o matrie e quebramos alguns pratos, como é costume dos gregos.

01.05.2001

Tomamos o metrô logo cedo em direção ao Museu do Louvre. Fiquei espantada com o metrô de Paris, até porque os únicos que eu conheço são os do Rio e São Paulo. Ele tem mais de 100 anos e mais de dez linhas. Algumas estações têm até três terminais, uma sobre a outra. Chegamos ao Louvre e fomos direto para as galerias que ficam numa rua ao lado, comprar alguns supérfluos. Em seguida fomos conhecer a pirâmide de vidro que fica em frente ao museu. Na realidade apenas eu fui conhecer, Adélia e Kátia já estiveram em Paris outras vezes.

O Louvre é grandioso. Não falo da coleção de obras de arte, que não vou conhecer dessa vez, mas pela própria estrutura do prédio. Ele já foi uma fortaleza, depois palácio real e finalmente um museu. É claro que cada monarca deve ter acrescentado algo, como é próprio dos poderosos deixarem sempre a sua marca, para tornar esta construção no que ela é hoje.

Notre Dame


Caminhamos até o Jardim des Tuileries, passando pelo Carrossel. O dia estava nublado e frio. Compramos um cachorro quente com uma linguiça deliciosa e mostarda idem. Sentamos numas cadeiras da praça e saboreamos nosso lanche. Fiquei com inveja do cachecol imenso que um rapaz sentado próximo estava usando. Notei que as pessoas aqui usam um cachecol bem comprido que dá muitas voltas em torno do pescoço. Achei estranho, no início, mas agora eu também quero um. Só assim pra proteger minhas orelhas do frio.

Adélia e Kátia foram bater pernas e eu fui conhecer o Teatro da Ópera de Paris (Palais Garnier). Adélia me disse que esse é o teatro mais bonito que ela já visitou. Ela tem razão, o teatro é lindo! Não sei se algum dia vou conhecer algum teatro mais bonito que esse. Pena que minha máquina fotográfica é péssima para fotos de interiores. Maquininha vagabunda essa!!! Não gosto muito de perder tempo com fotos, mas lugares como esse merecem ficar registrados no papel, além da memória, off course.

Na hora marcada nos encontramos em frente ao teatro e fomos, em seguida, para a Galeria Lafayette. É uma loja de departamentos que lembra um shopping. Parece-me que os parisienses não aderiram aos shoppings, coisa de americano. A Galeria é linda e a cúpula é um caso a parte. Pensei em experimentar uma blusa que estava com um preço acessível, coisa rara por aqui, mas desisti. Quando cheguei na área das cabines tive que prender a respiração tal era a “inhaca” que vinha lá de dentro. Os franceses usam muito perfume, mas banho que é bom, só de vez em quando.

Jardim de Luxemburgo
Adélia disse que se houver tempo vamos passear pela rua Saint-Honoré, a rua das grifes mais famosas do mundo, o templo do consumo para os endinheirados. Para nós só tem loja museu, ou seja, é só para olhar não é para comprar. Mas acho que Adélia já deve ter comprado algum “mimo” por lá.

Ficamos no centro e saímos à procura do restaurante Au P’tit Snack de um francês que foi namorado de uma amiga da Kátia. A ex-namorada pediu que entregássemos uma encomenda para o francês. Encontramos o restaurante, Kátia entregou a encomenda e aproveitamos para beliscar alguma coisa. O francês até que é bem bonitinho.

No final do dia assistimos a apresentação de uma orquestra de câmara na Igreja Saint Séverin, próximo ao nosso hotel. Ouvir música clássica em um ambiente como esse é envolvente e eu me sinto quase como parte da orquestra. Foi uma ótima opção para terminarmos a noite.

02.05.2001

Jardim de Luxemburgo
Começamos o dia pelo Jardim de Luxemburgo. Tive vontade de passar o resto do dia caminhando por ali, olhando as flores, tirando fotos. O dia está nublado e um pouco frio mas mesmo assim é muito agradável ficar nesse jardim. Imagino que quando o verão chegar deve ser muito bom estender uma toalha sob as árvores, tomar um vinho e comer esses pães deliciosos que vemos por aqui. Como seria bom se o Rio de Janeiro tivesse jardins tão bem cuidados. E tão seguros, é claro! Como não dá pra ficar parado, seguimos para outro jardim.

Place de Vosges
A Place de Vosges é a mais antiga de Paris. O jardim é bem menor que os outros que visitamos, bem diferente, porém não menos bonito. A praça tem várias estátuas e fontes e é cercada por prédios em tijolos avermelhados e com o teto em ardósia, tão comum por aqui. No térreo dos prédios tem vários cafés e galerias de arte. Dá para passar um bom tempo por aqui sem se entediar.
Place de Vosges















Jantamos no restaurante Saint Romain que fica na Avenue Saint Eliseos. No início da noite com as luzes já acesas, a avenida fica ainda mais linda. A comida estava ótima e o garçom que nos serviu, também era ótimo. A Kátia, que segundo Adélia adora o terceiro setor, começou a jogar um charme para cima do garçom argelino. Pergunta detalhes da comida, da bebida e por aí vai. Depois do jantar, na saída do restaurante, o argelino foi atrás dela na calçada e deu-lhe um beijo na boca. Nossa amiguinha ficou flutuando.

VIENA

 03.05.2001

Saímos logo cedo para o aeroporto. Na véspera contratamos uma Van através da recepção do hotel. Perguntamos se poderíamos pagar com cartão de crédito pois já tínhamos poucos francos. OK, nos informou a recepcionista.

A Van passou por vários outros hotéis e quando chegou no aeroporto já estava bem próximo do nosso horário de voo. Quando mostramos o cartão para o motorista, o francês quase teve um troço. Disse que só aceitava pagamento em francos. Não dava mais tempo de trocar os dólares. Catamos todos os francos que ainda restavam, notas e moedinhas, e entregamos para o motorista. Ele pegou o dinheiro e nos xingou com todo seu repertório de palavrões.

Voando para Viena vi pela primeira vez os Alpes. Parece mentira que estou aqui, conhecendo lugares que já admirei tantas vezes através de fotos, do cinema e também através dos livros. A Áustria que vi no filme “Imperatriz Sissi” e a “Noviça Rebelde” está logo ali embaixo. Já é possível ver o rio Danúbio, que passa por outras cidades, mas Viena é que o tornou famoso. A terra que inspirou Mozart e Strauss é também o lugar onde nasceu Adolf Hitler. Vamos pular essa parte...

Nosso hotel fica bem localizado, podemos ir a pé até ao centro. Saímos logo após desfazer as malas. Desfazer é modo de dizer; como vamos mudar de hotel constantemente, só tiro da mala o essencial. Saímos caminhando em direção ao centro já preparadas para gastar alguns xelins (moeda local) com um chocolate quente.

Chegamos ao centro, uma área piatonal com ruas largas, prédios históricos, restaurantes e cafés com mesinhas na calçada, cheias de gente elegante. Notei que havia muitas senhorinhas de pele branquíssima e todas muito bem vestidas. Olhei para a minha cor morena e os meus trajes de viajante e me senti realmente uma estrangeira.

O prédio mais importante aqui no centro é a igreja Stephansdom, catedral dedicada a Santo Estevão. A igreja é linda e o teto colorido me encantou. A torre é bem alta e deve ter uma vista maravilhosa da cidade.

Resolvemos fazer um passeio de charrete. Passamos por alguns jardins, todos muito bem cuidados. Em um deles o charreteiro nos mostrou uma estátua de Mozart no Parque Stadpark. Adélia disse que fez esse passeio anos atrás, mas dormiu durante todo tour, só agora viu Mozart no centro do jardim. É gostoso ouvir o toc-toc das patas do cavalo batendo no asfalto. Não me lembro a última vez que andei de charrete, acho que ainda era criança.

Passamos pelo Palácio Imperial de Viena que foi a residência de inverno dos imperadores da dinastia de Habsburgo. É imenso, todo cercado de jardins. Hoje funciona aqui a sede da presidência da república e um museu. O guia nos falou sobre a estátua enorme de uma mulher sobre o cavalo, em frente à entrada principal. Ou será na entrada lateral ? Sei lá, o palácio é tão grande que não sei o que é lado, frente ou fundos.
A mulher sobre o cavalo é a imperatriz Maria Tereza da Áustria que governou com mão de ferro todo o império Austro-Húngaro. Mulher quando sabe mandar, manda muito bem. Passamos por outros prédios históricos e retornamos ao centro. Escolhemos um dos inúmeros cafés e nos sentamos sob o sol que não chegava a esquentar. O chocolate quente ajudava a diminuir o friozinho do final da tarde. Quando retornamos para o hotel já era noite. No caminho entrei em um pátio que ficava na parte de trás de uma construção antiga. Era um restaurante lindo e estava cheio. Alguns clientes que estavam mais próximos à entrada do pátio me olharam de um jeito um pouco estranho. Eu não estava vestida de forma apropriada, deve ter sido isso. Fiz meia volta e retornei à rua, a rua é do povo, assim como a praça. Aqui todos os trajes são permitidos.

04.05.2001
Palácio Belvedere
Começamos o dia com um tour por dois palácios. O primeiro, que é chamado de Belvedere, visitamos apenas a parte exterior. Esse era o palácio de verão do Príncipe de Savoia, e fica numa colina, no meio de um jardim belíssimo, aliás tão belo como todos os jardins daqui.

Em seguida fomos para o Palácio de Schönbrunn. Esse é lindo demais, é de “fechar quarteirão” como diria minha amiga Tânia. Foi residência de Verão dos imperadores. É um tal de palácio para o verão, outro para o inverno; ainda não sei se existe algum para a primavera, mas não é improvável. Viena foi uma das capitais mais importantes da Europa há alguns séculos, e é claro que faz questão de conservar muito bem os símbolos daquela época. Foram-se os anéis, mas ficaram os dedos.

No Palácio de Schönbrunn viveu a Imperatriz Elizabeth, ou Sissi como ficou conhecida. O interior do palácio revela o luxo em que eles, os imperadores, viviam. O quarto de banho de Sissi tem uma pequena banheira. Segundo a nossa guia, coisa rara por aqui visto que o povo daquela época não era muito chegado a esses hábitos de higiene. Para dizer a verdade, acho que nesse quesito ele não mudaram muito.

A guia explicou que Sissi costumava deitar na banheira enquanto as criadas lavavam e penteavam seus cabelos, e os cabelos iam até os joelhos. Sissi era extremamente vaidosa e linda, famosa por sua beleza. Amada pelo marido, perseguida pela sogra, um filho suicida, entre outras coisas. A nobreza também não gostava dela porque vivia viajando enquanto o marido, sozinho, governava o império. Mas o povo gostava dela porque era bonita e culta. Depois foi assassinada durante uma visita a Itália. Ehh! A Sissi não teve uma vida fácil apesar da beleza e da riqueza. Uma espécie de Lady Di daquela época. A atriz Romy Schneider que fez o papel de Sissi no cinema era tão linda como a Sissi, e também teve uma vida marcada por várias tragédias.


Parque Burggarten
Retornando ao século XXI fomos ao Parque Burggarten, perto da Biblioteca Nacional. Adélia e eu já estávamos um pouco cansadas, nos deitamos no gramado que parecia um tapete e ficamos ali, esquentando no sol. Kátia continuou andando, foi até o prédio da Biblioteca. Adélia falou que Kátia mede o sucesso da viagem por Km percorridos, de preferência a pé.

Á noite fomos a um concerto em uma sala de espetáculos, uma sala de teatro pequena. Os músicos estavam vestidos à caráter, com roupas antigas, e tocaram principalmente valsas vienenses. Deve ser um programa pra turista ver. Fora da minha condição atual de turista, já vi coisas melhores.

BUDAPEST

 05.05.2001                   BUDAPEST

Ponte das Correntes
Saímos cedo em direção a Budapeste, capital da Hungria. Chegando lá, no caminho para o hotel, passamos por várias construções antigas com aspecto de abandono. A imagem que me passa é de decadência. Acho que a maioria dos países da Cortina de Ferro deve se encontrar na mesma situação. De vez em quando passamos por algumas áreas já recuperadas e a diferença é enorme. Acredito que daqui há alguns anos esta cidade será outra, muito mais bonita. Potencial ela tem.


Ponte das Correntes
O Hotel Taverna fica na Rua Váti, em uma área piatonal bem movimentada e próxima de vários pontos turísticos da cidade. O rio Danúbio, que separa a cidade em duas partes, fica bem próximo ao hotel. Estamos em Pest, que é uma planície e do outro lado do rio fica Buda na parte alta, sobre uma colina. Caminhamos um pouco pelo centro e em seguida fomos até a Basílica de São Estevão. As igrejas que conheci nessa viagem são de estilo gótico, meio escuras e tristes. Essa Basílica é o oposto disso. É bem clara, iluminada e chama a atenção pelo tamanho. No interior da igreja pode-se ver um tesouro importante para os húngaros: a mão mumificada do rei Estevão.

05.05.2001

Funicular
O rio é cortado por várias pontes. Uma das mais bonitas é a ponte Sissi em homenagem aquela tal imperatriz que vocês já conhecem. Atravessamos uma das pontes, acho que Ponte das Correntes, e fomos conhecer Pest. Subimos por um funicular até a colina do Castelo, paramos no Bastião dos Pescadores, local ideal para tirar algumas fotos. Daqui é possível ver toda a cidade baixa (Pest) e o prédio do Parlamento. Estou curiosa para ver esse prédio; daqui do alto ele parece magnífico. Depois fomos conhecer o Palácio Real que foi residência dos reis húngaros por vários séculos. Hoje funciona aqui a Biblioteca Nacional e vários museus. Não entramos no palácio, mas a área externa do palácio e a vista da cidade já valeram a caminhada. O dia está deliciosamente ensolarado, tirei o casaco pela primeira vez. Até agora, esse foi o dia mais bonito dessa viagem.

Prédio do Parlamento
Descemos à colina e fomos até a Termas de Gellert. Os banhos termais são tradicionais aqui em Budapest. É uma construção muito antiga e linda. Entramos apenas para conhecer. Algumas pessoas tomavam banho em uma enorme piscina aquecida. Vimos o preço dos vários tipos de massagens. O preço até que é razoável, ficamos tentadas, mas o tempo era curto. Tínhamos programado um jantar e um passeio de barco pelo Danúbio e precisávamos voltar ao hotel para tomar banho.

Jantar e Festa Típica
À noite fomos a um restaurante com música húngara. Subimos por uma estrada sinuosa até o alto de uma colina. Estava um pouco frio lá em cima. Um grupo de música folclórica nos recebeu na entrada e deu para alguns visitantes um pequeno adereço de percussão para que participássemos da música. Em seguida nos trouxeram um cálice com uma bebida - Tokaj - parecida com licor, para que já entrássemos no clima. A casa era bem grande e com um palco onde os dançarinos se apresentavam. O restaurante estava lotado. No final do jantar subi no palco e dancei junto com outros turistas que faziam um "trenzinho" pelo salão.

A guia nos informou que a maioria dos músicos e dançarinos são ciganos. Eles são muitos por aqui e a maioria trabalha com alguma forma de manifestação artística. Acho que não são andarilhos como os que vemos no Brasil, mas também são discriminados como toda minoria.

Descemos até o rio e embarcamos para um passeio pelo Danúbio. A noite estava mais fria agora e um pouco de névoa cobria o rio. A cidade iluminada parecia cintilar na escuridão. Passamos pelo prédio do Parlamento. Vocês não fazem ideia de como é lindo esse prédio à noite. É magnífico.

06.05.2001
Estátua de Anonimus
Hoje fizemos um tour pela cidade. Começamos pela Praça dos Heróis e em seguida entramos no Parque da Cidade. O parque é enorme, com vários monumentos, museus de Belas Artes, Jardim Zoológico, Banhos Termais etc... Achei interessante a estátua do Escritor Desconhecido “Anonimus”. Ela é enorme e não tem rosto, ou melhor, o rosto fica escondido por um capuz. Parece um fantasma. O tal escritor preferia permanecer incógnito; deixou seu legado para o povo húngaro, mas não se identificou. Interessante, ou melhor, estranho. Será alguém totalmente desprovido de vaidade?
Vista do Bastião dos Pescadores

Na saída do parque, atravessando uma ponte, vimos uma pequena ilha no meio do lago com um castelo. Esse lago no inverno fica congelado e se transforma em pista de esqui. A temperatura aqui chega a 20º negativos no inverno.

Continuamos o passeio até a cidadela, ou cidade velha. A parte antiga fica em uma das colinas de Buda. Mantêm ainda algumas características de cidade medieval, mas a maior parte das construções foi destruída nos bombardeios da segunda grande guerra. É gratificante constatar o esforço para manter viva a história do país. O pouco que restou está sendo muito bem conservado. A guia nos mostrou a fachada preservada de uma igreja muito antiga. O governo permitiu que uma grande rede de hotéis construísse um hotel nesse local, mas com a seguinte condição: teria que manter a fachada da igreja e não poderia construir nada que alterasse a paisagem em volta. A rede aceitou, construiu o prédio todo em espelho e a fachada da antiga igreja ficou inserida na parede frontal do hotel. Os espelhos refletem as construções do entorno e, sendo assim, não interferem na paisagem. Ficou ótimo!!! A guia nos disse que o governo está fazendo a mesma exigência com outras grandes redes internacionais que querem se instalar no país. O Mac Donald’s teve que manter toda a fachada de uma antiga estação de trens, só o interior é que é igual as outras lanchonetes da rede.

Estátua do Anonimus
Esta é uma iniciativa louvável. Preservar a cultura de um povo, nos dias de hoje, é uma dura tarefa visto que é quase impossível resistir ao poder da mídia. A nossa guia, uma mulher alta e corpulenta, demonstra de vez em quando sua aversão aos costumes americanos. Hoje ela reclamou que o mundo está “cocalizado”.








PRAGA


07.05.2001
Temos a manhã livre para fazer o que bem quisermos. Esses momentos sem hora marcada são bem agradáveis. Sentamos num monumento próximo ao hotel e folheamos um livro sobre a cidade, que a Kátia havia comprado. Escolhemos os pontos turísticos próximos ao hotel e fomos conhecê-los. Depois almoçamos e partimos para a República Theca.

Quando chegamos próximos à fronteira vimos à fila de veículos para passar pela Aduaneira. Verificaram nossos passaportes - precisamos de visto para entrar na República Theca - e respondemos a um questionário. Resquícios da velha burocracia soviética.

Chegamos ao Hotel Corinthia no final da tarde. Em seguida fomos para um passeio que tradicionalmente é feito à noite. O ônibus nos levou até o alto de um morro onde fica o Castelo de Praga. De lá descemos a pé até a margem do rio por uma ladeira estreita com um casario muito antigo. O interessante desse passeio é que parece que nos transportamos há séculos atrás. A iluminação é pouca, bem suave, parecendo luz de candeeiro. Enquanto descíamos morro abaixo, a guia ia nos contando a história desse povo, detalhes das fachadas, como os brasões esculpidos sobre a porta de entrada de cada casa. De acordo com o desenho podia-se identificar a família que morava ali.


 
Casa de Leao Vermelho, Rua Nerudova
A noite estava muito, muito fria. Eu estava quase imobilizada com a quantidade de roupas que estava vestindo. A Kátia usava um casaco com um grande capuz que escondia seu rosto. Parecia a estátua do Anonimus que vimos em Budapest.

Chegamos ao rio Vltava que corta a cidade. Esse lado do rio é chamado de Mála Strana (cidade pequena) e do outro lado fica Staré Mesto (cidade velha). A Ponte Karlüv (ponte Carlos) que cruza o rio nesse local, vista assim nessa penumbra, parece uma visão fantasmagórica. É uma ponte para pedestres com um grande portal na entrada dos dois lados do rio, e grandes estátuas negras sobre as muretas laterais. São várias estátuas, mais de vinte certamente. Kátia ficou encantada com a ponte, quer voltar amanhã durante o dia para vê-la melhor.
Ponte Karluv
08.05.2001

Retornamos logo cedo ao local de onde iniciamos nosso passeio ontem à noite: o Castelo de Praga. Junto do castelo fica a Igreja de São Vito, onde ficam as joias da coroa e o túmulo do Rei Venceslau. Esperamos um pouco e assistimos à troca da guarda. Depois descemos pela mesma rua que passamos ontem. Durante o dia o visual é outro, já não nos sentimos mais no século XIV. Agora podemos ver toda a cidade lá embaixo, as torres das igrejas, os telhados avermelhados, as pontes antigas e o rio sinuoso. Esta cidade é considerada uma das mais belas da Europa. Acho que ela faz jus à fama.

Na descida em direção à Praça da Cidade Velha passamos pela Viela Dourada. Essa rua estreita com pequenas casas recebe esse nome porque aqui moraram alquimistas tchecos. Sempre ouvi falar que os alquimistas transformavam qualquer metal em ouro. Segundo a guia, esse não era o principal objetivo. Na verdade, o que se propunha era a transformação do próprio alquimista, sua libertação espiritual e sua transformação em uma consciência superior. Loucura, loucura... No endereço 22, dessa rua, morou o escritor Franz Kafka e aqui ele escreveu algumas de suas obras. Fico imaginando como um sujeito angustiado e atormentado como Kafka conseguiu viver numa dessas casinhas claustrofóbicas.
 Na continuação visitamos a catedral gótica de São Vito e em seguida chegamos a Ponte Karlüv. Vista assim, durante o dia, ela não causa o mesmo impacto, mas nem por isso é menos interessante. Paramos em frente à estátua de São João Nepomuceno. A guia nos contou que esse santo foi um padre muito respeitado pelo povo. Ele era também o confessor da rainha, esposa do rei Venceslau. O rei andava desconfiado que a rainha andava enfeitando sua cabeça e quis obrigar o padre a dizer o que a rainha Joana havia confessado. O padre se recusou a revelar o segredo da confissão e o rei, “puto” com o padre mandou matá-lo. O seu corpo foi jogado do alto da Ponte Karlov para dentro das águas do rio Moldava. Mereceu a canonização.
Ponte Karlov



















Vários artistas - músicos, pintores, malabaristas - apresentam seus trabalhos aqui na ponte. E tem turistas às pencas, sempre dispostos a gastar alguns trocados. Comprei duas aquarelas que certamente me darão trabalho para carregar sem amassar.
Atravessamos a ponte e paramos próximo ao Relógio Astronômico. Uma multidão estava estacionada ali esperando que o carrilhão marcasse a hora. Às 14 horas um boneco representando a morte aciona o carrilhão e aí começa o desfile de 12 bonecos que representam os apóstolos. Esse relógio foi construído em 1400, o que significa que quando o Brasil foi descoberto ele já marcava as horas e que provavelmente alguns desses prédios que eu estou vendo em volta da praça, já se encontravam aqui naquela época.

Igreja N.S.de Tyn

















A Praça da Cidade Velha é o coração da cidade. É uma praça enorme e em sua volta encontram-se várias igrejas e prédios historicamente muito importantes para este país. O que logo me chamou a atenção foi a Igreja Diante de Tyn, que se destaca pelo tamanho e pelas torres escuras, em estilo gótico. A igreja não fica exatamente na praça. O nome já é um pouco estranho e a entrada da igreja também. A entrada fica em uma casa, escondida atrás de outros prédios que ficam na praça.

Sentamos em um dos restaurantes com mesas ao ar livre e pedimos o almoço. Estávamos famintas. Durante o almoço ficamos admirando o movimento na praça. Parece que tudo acontece ali. Vários grupos distintos aproveitavam o sol da tarde. Uns tocavam algum instrumento, outros ensaiavam uma espécie de teatro, alguns adolescentes andavam de skate, outros, como nós, apenas apreciavam.

Cemitério Judeu


















Terminado o almoço fomos visitar o bairro judeu Josefov. Esse é o bairro judeu mais antigo da Europa, ele existe desde 1470. Aqui nesse bairro batem ponto turistas do mundo todo, como nós, para recordar a perseguição nazista sofrida pelos judeus. Fomos primeiro a um museu judaico, que possui vários objetos sacros de colônias judias. Do museu pudemos avistar o cemitério judaico. É preciso subir vários degraus para chegar até as tumbas. Na verdade, não há tumbas, apenas lápides, muito próximas umas das outras. O espaço é pouco para tantos túmulos. Lendo o nosso livro guia, entendemos porque os túmulos ficam tão acima do nível da rua. Quando não há mais espaço para nenhum novo “morador” todos aqueles túmulos são soterrados e cria-se um novo espaço sobre o anterior. Um cemitério sobre o outro. Interessante. É algo parecido com cemitérios modernos que ficam localizados em prédios de vários andares.

Existem várias sinagogas nesse bairro, mas não dá para visitar todas. Optamos por uma visita a sinagoga velha que é bem pequena. Eu nunca havia entrado antes em uma sinagoga e achei-a completamente diferente das igrejas que já vi até hoje. A nave central é toda em madeira escura com entalhes bem bonitos e a disposição dos bancos e do púlpito (onde se lê a Torá) é bem diferente.

Sentamo-nos em uns bancos que ficam em volta na nave principal. Cansadas de tantos séculos de história começamos a falar sobre cultura inútil. Adélia perguntou - Será que posso contar uma piada sobre papagaio aqui dentro da sinagoga ? Respondi - Melhor uma piada sobre papagaio do que uma sobre judeus. Correto ? Adélia resolveu contar a piada sobre um espanador que foi confundido com um papagaio numa situação que....melhor não registar isso aqui. Tivemos uma crise incontrolável de riso que chamou a atenção de um segurança que praticamente nos expulsou da sinagoga. Minha primeira incursão pelo universo judeu não terminou muito bem.
 
 Á noite fomos à cervejaria U Fleku conhecer a famosa cerveja tcheca. Essa cervejaria, fundada há mais de 500 anos, também é mais antiga que a descoberta do Brasil. Ainda era cedo quando chegamos lá e local ainda estava meio vazio. Escolhemos uma mesa num pátio, na sombra de uma hera. Sentamos em uma comprida mesa de madeira com aqueles bancos sem encosto no mesmo comprimento da mesa, como os que a gente ainda vê na roça. Pedimos um copo de cerveja para começarmos “os trabalhos”. Kátia avaliou a carta de cerveja e fez o pedido. Eu estava meio distraída, pra variar, e quando acordei estava em minha frente um caneco enorme de cerveja escura. Eu detesto cerveja preta. Parti para o sacrifício e tomei o primeiro gole. Não é que gostei da cerveja? É um pouco mais forte e não é tão doce como as que já tomei no Brasil.

Quando a temperatura começou a cair, passamos para o interior da cervejaria. A essa altura o local já estava repleto de turistas. Um garçom nos ofereceu um cálice com uma bebida típica daqui. Kátia perguntou em inglês se aquela bebida era cortesia. Entendemos que sim. O garçom retornou outras vezes com a mesma bebida. Tomei um cálice e recusei todos os outros, a bebida era muito adocicada. Depois começamos a desconfiar que aquela bebida não era oferta coisa nenhuma. Quando a conta chegou todos os cálices "oferecidos" estavam lá. Avisamos a um grupo de rapazes que estavam na mesa ao lado, para que não cometessem o mesmo engano.

É bem clara a influência da cultura alemã por aqui. Não é só a cerveja que os tchecos adoram, na comida também está sempre presente a carne de porco, o repolho e a batata. Quanto ao idioma, não me parece que haja alguma semelhança.

09.05.2001
Hoje dormimos um pouco mais e saímos calmamente em busca de um ônibus que nos levasse até a Igreja do Loreto de Praga. Foi uma visita inesquecível. A igreja, o claustro e o jardim formam um conjunto belíssimo. O tesouro de Loreto vale a pena ser apreciado; são objetos sacros valiosíssimos. Ficam expostos em uma sala que parece com o cofre-forte onde eu trabalhei quando fui tesoureira de um banco. Toda a segurança se justifica. Alguns ostensórios são cobertos por esmeraldas, outros por pérolas. Um deles, chamado “Sol de Praga” possui mais de 6.000 diamantes. Nunca fui uma apaixonada por joias, mas que essas pedras realmente embelezam qualquer peça, isso é verdade.
  
Saímos para o sol e resolvemos tomar uma cerveja num bar próximo da igreja. O dia está lindo, ótimo para bater perna. Ouvimos o carrilhão da igreja do Loreto tocar uma música. São vários sinos que tocam de hora em hora. É gostoso de ouvir, combina com o cenário em volta.
  
Começamos a ouvir um repicar de sinos, parece que todos os sinos da cidade estão tocando ao mesmo tempo e só a igreja do Loreto, aqui ao lado, possui mais de vinte sinos. Pensei “Por quem dobram os sinos?” (parodiando Hemingway). Depois soubemos que hoje, nove de maio, se comemora o dia da libertação de Praga do regime nazista. Acho que essa é também a data (09.05.45) considerada como o fim da Segunda Guerra Mundial, embora ela não tenha terminado no mesmo dia para todas as cidades ocupadas.
 
Andamos mais alguns metros e paramos para visitar o Mosteiro de Strahov. Na verdade, a intenção era visitar a biblioteca e a galeria de arte. A biblioteca em estilo barroco e com pinturas no teto, é linda. Não foi possível olhar de perto a coleção de manuscritos e livros, o acesso não é permitido, mas ainda assim vale a visita.

Á noite fomos assistir uma apresentação do tradicional Teatro Negro de Praga. Na realidade eu e Adélia assistimos, a Kátia estava de corpo presente, mas dormindo o sono dos justos. É um espetáculo visual onde o cenário é todo negro e os atores também se vestem de negro, sobressaindo apenas o jogo de luzes, os objetos e partes do corpo que compõe a estória.