23 julho, 2010

HELSINQUE


 INFO INICIAL

Escandinávia, aqui vamos nós. Seremos 4 nessa viagem: Adélia, Kátia, Camilo e Eu. A Kátia e o Camilo se juntarão a nós na escala em Paris. Eles estão em um tour pela França.

Parte do nosso programa será num navio e o restante, de ônibus. Estou curiosa para conhecer os fiordes noruegueses.

Espero que o frio não seja muito, caso contrário, será só tremedeira e o prazer vai para o ralo.

10.06 2003  


Chegamos a Helsinque no início da tarde. Deixamos as malas no hotel e fomos para a área do porto. Como em outras cidades europeias, a região do porto aqui de Helsinque também é um point procurado por turistas. Ruas limpas, largas e belíssimas lojas. Jantamos no Kapeli, um restaurante envidraçado com estrutura de ferro, onde podemos ver as árvores do jardim em torno do lugar. Muito agradável.


Voltamos a pé para o hotel por volta de meia-noite. Estava escurecendo, mas ainda não era noite fechada. Desfizemos nossas malas, tomamos banho e nos enfiamos embaixo das cobertas quentinhas. Percebi que havia uma claridade entrando no quarto, provavelmente algum poste de luz próximo da janela. Levantei para fechar melhor a cortina e me deparei com o dia amanhecendo. Cruzes!!! Anoiteceu agora há pouco e o dia já está clareando?


Catedral Ortodoxa Uspenski

11.06.2003

Igreja Luterana Temppeliaukio










Fizemos um city tour pela cidade. Fomos a igreja luterana Temppeliaukio, construída dentro de uma rocha. As paredes da igreja são da própria rocha. Essa igreja é diferente de todas as outras que conheço.

Visitamos outras duas igrejas: a catedral Luterana Tuomiokirkko que foi construída em homenagem ao Tzar Russo Alexandre II e a Catedral Ortodoxa Uspenski, construída por arquitetos russos, toda de tijolinhos avermelhados. Toda essa influência russa se deve ao fato de que a Finlândia já pertenceu à Rússia.

O povo de Helsink costuma passar os finais de semana e férias em cabanas nas mais de 300 ilhas próximas a cidade. Eles parecem aproveitar ao máximo os dias de sol porque o inverno é longo e triste. Passamos por uma praia que se chama Copacabana. Nenhuma semelhança com a nossa.


O replantio de árvores deve ser bem eficiente por aqui. A extração de madeira ainda é uma das principais economias desse país e, no entanto, existe verde por todos os lados. Segundo a guia hoje a indústria de telecomunicações é o forte da economia da Finlândia, com destaque para a Nokia. É interessante notar que um povo tão introspectivo, de poucas palavras, goste tanto de falar ao telefone. Acho que no caso deles o distanciamento facilita a comunicação.


Adorei saber que na política as mulheres ocupam 40% dos cargos governamentais desse país. Inclusive a presidência da Finlândia é exercida por uma mulher. É um povo inteligente, não resta a menor dúvida.

Almoçamos em uma feira popular no cais do porto. Paella com salmão grelhado, manjubinha frita, cebola e batatas. Uma delícia.


12.06.2003

Hoje é feriado “Dia de Helsinque”. A cidade está ainda mais vazia. Para quem detesta monotonia esse não é um bom lugar. Para pessoas que gostam de caminhar com tranquilidade, admirando pequenos detalhes, saboreando os momentos lentamente, cidades como essa é o paraíso. Eu gosto disso, mas uma vez ou outra, também gosto do agito. Resumindo, tranquilidade para viver o dia a dia e movimento para sair da rotina.

Acho que essa tranquilidade se deve também, ao tamanho reduzido de sua população, cerca de 500 mil habitantes. Nada de multidões e trânsito engarrafado. É muito mais fácil administrar uma cidade com esse porte, acho eu. 

A arquitetura dos prédios antigos e a moderna arquitetura, apresentam um certo equilíbrio que é muito agradável de se admirar. 

Almoçamos na confeitaria “Fazer” tradicional casa de chocolates.

À tarde embarcamos no transatlântico “Viking” rumo a Estocolmo.

22 julho, 2010

ESTOCOLMO

 13.06.2003

Navio Mariella

Saímos de Helsinque rumo a Estocolmo  a bordo de um navio. Essa é minha primeira viagem de navio. Lembrei do meu avô que, já velhinho, contava repetidas vezes, uma viagem de navio que fez do Brasil até a Itália, sua terra natal. Falava do mar balançando assustadoramente e do medo que sentiu.

A minha viagem foi tranquila. Camarote apertadinho, banheiro idem, mas deu pra descansar. Chegamos pela manhã em Estocolmo.



Estocolmo
A cidade é composta por 14 ilhas e tem uma parte antiga, muito bem conservada, e a cidade moderna bem movimentada. Fizemos um tour pela cidade. A guia nos informou que estávamos passando próximo ao estádio onde o Brasil jogou a final da copa de 1958 e onde foi campeão pela primeira vez.

Acho que Pelé estreou nessa copa. Paramos na Cidade Antiga (eles chamam de Gaml Stan), onde tudo começou. Aqui se encontram vários pontos turísticos da cidade: o Palácio Real, Museus, a Catedral. A cidade é recortada por vários canais, vemos algumas ilhotas e muitas pontes. Andamos pelas ruas estreitas cheias de lojinhas, restaurantes, livrarias. Paramos em um restaurante simpático e almoçamos.

Fomos ao palácio onde fica a sede do parlamento e também onde acontece à entrega do Prêmio Nobel. Na noite da premiação acontece um jantar que é servido no salão azul para todos os premiados e mais 20 convidados que cada um deles tem direito de levar na cerimônia. A mesa de jantar com todo o serviço fica exposta para visitação. Peguei um guardanapo de papel com inscrições em dourado indicando a última festa. Esperei que o guarda me repreendesse, mas ele nada disse, ou não viu, talvez.

Museu Vasa
Fizemos um passeio muito interessante ao Museu Vasa. Esse museu, é na verdade, um navio de guerra que afundou na primeira viagem. O rei mandou construir o maior navio de guerra daquela época e, provavelmente por causa do excesso de peso dos canhões (mais de 60), o navio adernou e afundou na saída da baía de Estocolmo. Morreram vários marinheiros e povo sueco ficou arrasado. Imprudência dá nisso. Imagine a situação do Rei , que certamente estava presente na saída do navio!

A guia nos explicou que a concentração de sal nas águas da baía é muito baixa e por isso o estado de conservação do navio era muito bom. Foi tirado do fundo praticamente inteiro e depois de restaurando virou um museu temático. No museu estão expostos vários objetos que estavam no navio, ferramentas, esculturas, as roupas que as pessoas usavam naquela época, etc....

Torre Stadsushet (Prefeitura)
Fizemos uma caminhada pela beira mar. Estava acontecendo nesse dia a Maratona de Estocolmo. No caminho passamos por alguns atletas e lembramos que no Brasil vários gaiatos saem fantasiados. Não querem correr só se divertir. De repente passa um corredor pelado da cintura para baixo, com a bunda branca toda de fora.

14.06.2003

Fizemos um passeio de barco até a ilha onde fica o palácio real onde vivem os reis da Suécia. A Rainha Silvia é alemã e filha de mãe brasileira. Morou no Brasil quando era criança. Visitamos a ilha, tiramos fotos, mas da realeza nem sombra.






À tarde fomos ao “Skansen” um museu a céu aberto que retrata o modo de vida dos primeiros habitantes dessa cidade, suas casas, comércio, etc... As casas, os galpões de madeira, igrejas, tudo de madeira igual às construções originais. No interior vemos pessoas vestidas com roupas típicas executando tarefas que eram rotineiras para aquela época. Tem também alguns animais que eram criados pelos habitantes da cidade. Uma mistura de museu com zoológico. Interessante.

Quase não vemos negros por aqui e estrangeiros residentes acho que também é muito pouco. É o paraíso das louras. Dizem que muitos turistas vêm pra esse país por causa delas, que tem fama de muito liberal quando se trata de sexo.

21 julho, 2010

LILLEHAMMER, BERGEN E OSLO


15.06.2003                LILLEHAMMER

Fizemos à primeira parada no castelo de Gripsholms (casa da família Grip). Preciso avisar a Celso Grip que ele tem um castelo na Suécia. Seguimos viagem até a fronteira com a Noruega onde foi erguido um monumento que simboliza a paz entre os dois países.

A paisagem na Suécia é monótona, sempre plana, pelo menos aqui nessa região. Quando entramos na Noruega a paisagem foi mudando.

Lillehammer
Chegamos à cidadezinha de Lillehammer no final da tarde. A paisagem em volta é belíssima. A cidade fica num vale, cercada por pinheiros e tem um grande lago. Os gramados parecem um tapete e as casas de madeira pintadas em diversas cores, com cortininhas nas janelas e flores nas sacadas, fazem lembrar pequenas casas de bonecas.

Este é um vilarejo bem simpático que foi sede das Olimpíadas de inverno de 1994. A rua principal, a Storgata, é um calçadão, com muitas lojas e um ótimo lugar para passear e se hospedar.
Caminhando pelo jardim em volta do hotel descobrimos uma ruazinha que descia em direção ao centro da cidade. Chegamos até a rua principal, demos uma voltinha e retornamos ao hotel. A noite estava chegando e o frio aumentando. 

16.06.2003

Seguimos para Bergen. No caminho paramos em duas igrejas de madeira do século XI. São igrejas cristãs com uma história muito interessante. A guia, uma espanhola de Málaga que vive em Copenhague, nos contou que havia muitas casas distantes dos vilarejos. Pequenos sítios, quase sempre distantes uns dos outros. O isolamento era grande e no inverno a solidão era ainda maior. Aos domingos as famílias se reuniam na igreja. Levavam comida, oravam e passavam o dia juntos. Esses encontros, além de fortalecer a fé, aproximava as pessoas.

As igrejas são todas de madeira, o interior é escuro pois não há janelas e não há imagens de santos. Possui uma pequena área na parte mais ao fundo da construção que parece um altar e uma área maior, retangular, com bancos em volta onde as famílias se sentavam em volta de um fogareiro. Existe uma outra parede paralela formando um corredor ao redor do recinto do culto. A parede possui pequenos buracos de onde se pode ver o interior da igreja. A guia nos explicou que quando as mulheres estavam menstruadas não podiam entrar na igreja e participar do culto porque estavam “impuras”. Elas ficavam nesse corredor assistindo a cerimônia através dos buracos na parede. Cruuuuuzes!!!!

Continuamos subindo e chegamos próximo à região chamada de Lapônia, a terra de Papai Noel. Apesar de estarmos quase no verão ainda há neve por aqui. Paramos em uma casa típica dos lapões, com o seu telhado coberto por vegetação. Esse tipo de cobertura ajuda a aquecer o interior das casas. Tiramos algumas fotos na neve e depois colocamos uns chifres de veado na cabeça. Três mulheres chifrudas. Camilo não quis se arriscar, afinal homem não admite levar chifre mesmo que de brincadeira.




Mais a diante embarcamos em um navio e fizemos a travessia pelo fiorde “

Sogner Fjord”. No caminho inúmeras cachoeiras formadas pelo degelo da neve que vem das montanhas. É uma cachoeira após outra. Toda a paisagem em volta fica refletida na água, como se fosse um espelho. É deslumbrante, um dos lugares mais bonitos que já vi. 

A guia nos informou que o fiorde tem parte de água salgada e parte de água doce (água do degelo) e elas não se misturam, a mais pesada fica no fundo. Achei um pouco estranho, não sei se é verdade. Entre a água e a parede de pedra que sobe para o alto existe uma faixa de terra onde podemos ver várias propriedades com casas para férias e finais de semana, afinal navegar é um dos prazeres desse povo descendente dos vikings. Notei que em algumas propriedades existe uma estrutura de madeira dividida em vários níveis onde algumas coisas ficam penduradas. Parece um varal de pequenas roupas. A guia informou que era bacalhau que estava secando no sol para depois ser vendido, geralmente exportado.

Tentamos ficar bastante tempo no convés do navio, mas estava muito frio. Descemos para o restaurante e fomos “papear”. No nosso grupo tem um casal bem interessante. Ele é um cirurgião plástico baiano, pinta de playboy, que mora em São Paulo. É um gaiato, contador de estórias. Contou várias estórias a respeito de pessoas importantes que ele já operou, vários da família de Antonio Carlos Magalhães. Demos boas risadas com ele. A esposa é jovem, bem mais jovem que ele, está sempre arrumadinha. A todo o momento retoca a maquiagem, ajeita o cabelo e fica se examinando no espelhinho. Parece uma barbie. Camilo quase deu uma mancada um dia desses. A “barbie” chegou no ônibus com uma saia com a barra desfiada. Ele ia avisá-la que estava com a saia rasgada. Foi impedido a tempo. Duro foi ele entender que isso é moda.

BERGEN


17.06.2003

Bergen
Chegamos em Bergen as 18:00 h. O dia estava bonito e, apesar do cansaço, resolvemos dar uma volta pelo porto que não é distante do hotel. Jantamos em uma pizzaria e retornamos ao hotel. Já era tarde e o sol ainda não havia sumido no horizonte. Nessa época do ano aqui em Bergen o sol desaparece por algumas poucas horas, mas não chega a escurecer totalmente.

Fizemos um tour pela cidade, que não é muito grande, mas é a segunda maior cidade da Noruega. Aliás, as cidades por aqui nunca são grandes, o que é muito bom, a qualidade de vida pode ser bem melhor. A renda per capita deve ser bem alta nesse país com tanto petróleo e com uma população tão pequena - cinco milhões de habitantes. Subimos, em um funicular, até o Monte Floyen que tem uma vista muito bonita da cidade. Ao fundo algumas colinas e a entrada de um fiorde.

Abraço de Urso
Em volta do porto ficam as casinhas em estilo Hanseatico. Todas de madeira pintadas com cores fortes, coladinhas umas nas outras, formam um conjunto interessante. Bryggen é o nome desse lugar, em volta do porto, que sofreu um grande incêndio séculos atrás. Aliás, não foi só esse bairro que queimou. Praticamente toda a cidade foi reduzida a cinzas, restou apenas essa pequena área que foi recuperada muitos anos depois. No inverno, em meio à neve que deve ser muita, essas casinhas coloridas devem se destacar.


Fomos para o mercado de peixe procurar um local para almoçar. O mercado é pra turista ver, tudo muito organizado, limpo. E atrás do balcão não está um rude pescador, mas pessoas bem arrumadas que geralmente falam inglês. Comemos uma salada de arenque e camarão. Provei um pedaço de baleia defumada. Parece fígado de boi e não achei lá essas coisas. Perece que por aqui a pesca de baleia é permitida. Também vi pela primeira vez na minha vida, e talvez a última, um bacalhau com cabeça.

Mais tarde fomos a um concerto de música clássica numa sala de concertos nos arredores do hotel. Era um duo de piano e violino. O compositor clássico Edvard Grieg nasceu e viveu aqui em Bergem. Não sei muita coisa a respeito dele, mas ouvi uma composição sua que foi tocada aqui que eu conheço e gosto muito. Depois vou procurar um cd para comprar.

No jantar comemos um prato com bacalhau fresco. Acho o nosso bacalhau seco muito mais gostoso.

18.06.2003                        OSLO


Porto de Oslo















Saímos pela manhã em direção a Oslo. Paramos no caminho para tirar fotos de 2 cachoeiras. Acho que vi mais cachoeiras nestes poucos dias do que na minha vida inteira. Chegamos em Oslo à tarde. A cidade é muito moderna, bem diferente de Bergen, e diferente também das outras capitais que conhecemos na Escandinávia. Possui uma arquitetura bem moderna e muitas esculturas espalhadas por toda a cidade, algumas bem interessantes. O porto e a rua que fica em frente ao Palácio Real são os pontos de “agito” da cidade. Muita gente bonita e muitos turistas lotam os bares, apesar dos preços absurdos.

Visitamos o Museu da Galeria Nacional que possui obras de vários pintores noruegueses e de outros estrangeiros famosos (Picasso, Monet, Van Gogh, Matisse, etc...). Dos noruegueses o único que eu já conhecia é Munch. O quadro “O Grito” está lá. Aqui fiquei sabendo que esse quadro representa o desespero e a decepção do artista com o amor e com seus amigos. Ele teve uma vida trágica e isso, é claro, está presente na sua obra.

19.06.2003

Fizemos um tour pela cidade começando pelo parque “Vigeland”. Este parque possui inúmeras esculturas do artista plástico norueguês Gustav Vigeland. São figuras de criança, velhos, namorados. Duas esculturas me chamaram a atenção.
Parque Vigeland
Uma representa o ciclo da vida - nascimento, vida e morte - e a outra, acho que a principal do parque, é um obelisco enorme feito em um único bloco de pedra com vários corpos humanos sobrepostos. Além das esculturas o parque ainda possui muitas árvores, vale uma visita mais demorada.

À tarde almoçamos em um restaurante que fica dentro de uma praça na avenida Karl Johan. Essa é a principal Avenida de Oslo, começa na estação central e vai até o Palácio Real. Caminhamos por ela até o palácio passando por alguns prédios importantes: o Parlamento, o Teatro Nacional e a Universidade de Oslo. Nada muito interessante.

No final da tarde fomos até ao porto. A toda hora esbarramos em uma escultura. Aqui também o estilo é diferente dos demais portos que visitamos, esse é mais moderno e menos popular.

Parque Vigeland








19 julho, 2010

COPENHAGUE


20.06.2003


Copenhague
Saímos pela manhã em direção a Gotemburg. Almoçamos numa espécie de shopping desta cidade. Depois do almoço ajudei ao Camilo a escolher um presente para sua ex-esposa. Parece que ele não poupa dinheiro quando o presente é para ela. Acho bem legal o relacionamento que ele tem com a ex e com a família dela. Acho que se algum dia eu me separar do meu marido, com o gênio que ele tem, o mínimo que vou receber de presente será uma bomba cabeça de nêgo.

No final da tarde fizemos a travessia de barco pelo estreito de Helsingor (a parte mais estreita do mar Báltico) para chegarmos à Dinamarca. Avistamos ao longe muitos cata-ventos (será esse o nome?). A Suécia está investindo em energia eólica. Fizeram à estrutura no mar porque esse negócio faz um barulhão danado e, por isso, não pode haver moradias perto do local. Em seguida avistamos também uma usina nuclear no lado sueco. Parece que essa usina é uma preocupação constante para os dinamarqueses.

Na chegada à Dinamarca, quando embarcamos no ônibus, a guia nos falou sobre o castelo Kronborg que fica perto daqui. Shakespeare ambientou o drama do príncipe Hamlet nesse castelo que, a partir daí, ficou conhecido como o castelo de Hamlet. Não vai dar tempo de visitá-lo.


Optamos por ir para Copenhague pela estrada litorânea, mais longa, porém bem mais bonita. As casas a margem da estrada são todas lindinhas, com muitas flores, muito verde e um mar azul, e certamente gelado, na outra margem da estrada. Notei que algumas pessoas atravessavam a estrada em direção à praia, vestidas com roupão. Elas caminhavam por um pequeno deck de madeira que entrava pelo mar como um embarcadouro e sentavam nos bancos que ficam no centro desse deck. Daí então tiravam a roupa para tomar sol, nus em pelo. É a visão do paraíso!!! Ou do inferno, dependendo de quem estiver pelado.

Copenhague é uma cidade maior que as outras capitais nórdicas e parece menos “escandinava” que as outras. Parece-me mais europeia, mas posso estar enganada, afinal o tempo é curto para conhecer bem e não estive em tantas cidades europeias para fazer esse tipo de comparação.

Chegamos ao hotel e logo encontramos um brasileiro que trabalha na recepção. Ele já mora a quatorze anos na Dinamarca e disse que já está bem ambientado, não sente falta do Brasil. Tomamos o metro e fomos para onde???? Para o porto, oxente! Onde mais poderia ser?

Porto Nyhavn
Um ventinho frio estava a nossa espera no porto de Nyhavn. Caminhamos por alguns metros escolhendo um restaurante para almoçarmos. São muitos, de ambos os lados de um canal, todos com mesas ao ar livre apesar do frio. Para os escandinavos o clima deve estar legal pois passamos por algumas mulheres sentadas nesses restaurantes ao ar livre, tomando sol sem a blusa, só com o sutiã. E nós tiritando de frio. Não posso reclamar, até agora não pegamos nenhuma chuva e esse vento polar que queima a pele só deu o ar da graça aqui em Copenhague.

Escolhemos um restaurante e nos acomodamos ao ar livre, porém com mantas cobrindo nossas pernas, mantas que já ficam sobre as cadeiras. Ao lado da mesa um aquecedor que parece uma luminária de pé, torna o ambiente mais aquecido e bem agradável. Quem também apareceu lá no porto foi o médico baiano Walmir, junto com a esposa Carla. Ficamos papeando até às 23:00, em seguida retornamos ao hotel.

21.06.2003

Fizemos o costumeiro tour pela cidade. O vento frio não me permitiu curtir muito o passeio. Eu e o frio não nos damos bem. A nossa guia falou que durante o inverno o dia dura poucas horas e em boa parte dele não há sol, apenas claridade. Eu gostaria de ver o fenômeno da Aurora Bureau, mas acho que não suportaria o frio. Visitamos o palácio Real e fomos ao local onde encontra-se a escultura da “Pequena Sereia” do conto infantil do escritor Hans Cristian Andersen. É uma escultura de uma mocinha sobre uma pedra dentro do lago. Nada de excepcional. Depois visitamos o King's Garden, um jardim belíssimo. Após o  almoço retornamos ao hotel e descansamos o resto da tarde.

 



À noite fomos ao parque “Tivoli”. Esse parque é muito antigo e faz lembrar um pouco aqueles parques da minha infância, guardadas as devidas proporções. Tem vários brinquedos e acontecem pequenos espetáculos em diferentes setores do parque. Não sei como é durante o dia, mas a noite é maravilhoso. As luzes suaves (nada de neon) dão um ar romântico, uma penumbra que convida ao romance. Pena que os romances estão proibidos para mim, pelo menos até segunda ordem. Entramos em um restaurante aconchegante e jantamos enquanto apreciávamos o vai e vem de pessoas de vários lugares do mundo.

Kátia me perguntou se eu não estava gostando da viagem, estava me achando um pouco triste. Eu disse que estava gostando sim, mas que o frio me incomodava bastante. Não deixa de ser verdade, mas não é apenas isso. Acho que estou também um pouco preocupada com minha mãe. Minha irmã Julieta faleceu num dia em que eu estava viajando. A partir daí, sempre que eu viajo fico com a sensação que o mesmo vai acontecer com outro familiar. Bobagem!!! Já viajei tantas vezes e nada aconteceu.

22.06.2003

Reservamos o dia de hoje para os museus. Na verdade, apenas dois pois não dá pra visitar mais do que isso. Fomos primeiro ao museu “Rosemborg” que possui em seu acervo as joias da coroa dinamarquesa. Eu e Adélia curtimos muito essa visita. Primeiro admiramos os quadros, vários deles retratavam a realeza. Depois, quando passamos para as salas das joias, adornos, armas etc... começamos a procurar as joias que tínhamos visto nos quadros, no pescoço da rainha fulana, no dedo do rei beltrano, e por aí vai. Encontramos várias e todas muito bonitas e, comprovadamente, muito antigas. Gastamos um bom tempo nesse exercício e quando saímos do museu encontramos Kátia nervosa achando que tinha acontecido alguma coisa. Não conseguia entender o que estávamos fazendo tanto tempo dentro daquele museu. Rimos muito com ela.

Depois fomos ao museu “Calsberg”. Apesar do nome de cerveja não encontramos por lá uma gota sequer do precioso líquido. O dono dessa marca, um grande colecionador, resolveu criar um museu que abrigasse toda sua coleção, que é imensa. Vimos, principalmente, muitas esculturas romanas, egípcias, etc...

Quando retornamos ao hotel, já noite, entramos em um mini-mercado para comprar umas cervejas. Não se pode vender bebidas alcoólicas após as 19:00, o freezer onde ficam as bebidas são fechados nesse horário. Aqui é lei seca mesmo. Vamos deixar para tomar as cervejas no Brasil. 


Quando chegamos ao hotel lembramos que tínhamos ainda uma garrafa de vinho. Já enfiadas nos pijamas de dormir, resolvemos fazer um brinde pela viagem que termina amanhã. Tudo está bem quando termina bem. É o nosso caso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Duas coisas eu sempre ouvi falar a respeito dos povos escandinavos: que as mulheres são bem liberais quando se trata de sexo e que os escandinavos são frios e reservados.

Com relação as mulheres e o sexo, já não se fala muito hoje em dia, acho que já não existe muita diferença com relação as mulheres de outras nacionalidades. Na minha adolescência sim, essa diferença era significativa. Lembro-me que nas revistas que eu lia se falava muito sobre as mulheres suecas e a facilidade com que tiravam as roupas diante de outras pessoas e também por serem muito liberais quando o assunto era sexo.

Quanto a frieza dos escandinavos, a mídia ainda ressalta essa característica. É comum esse tipo de comentário nas corridas de Fórmula Um sobre os pilotos finlandeses e também no futebol se fala a respeito da frieza dos nórdicos, que não vibram, não gritam, jamais se descontrolam.

Algumas informações da nossa guia me ajudaram a entender melhor o perfil dos escandinavos. Ainda na Finlândia ela nos falou sobre o hábito do banho de vapor - a sauna foi criada pelos finlandeses - , quando a família se reunia e tomavam banho juntos. Cada lugar possuía uma casinha de madeira equipada para esse banho e ali se juntavam pais, filhos, avós, primos, etc. Acho que a preocupação não era tanto com a higiene pessoal - coisa que ao norte da Europa era considerado como desperdício de tempo e de energia - mas sim como um momento de prazer. Acho que daí a facilidade em tirar a roupa diante de outras pessoas, eles fazem isso desde criança. A guia nos contou que algumas vezes costuma levar grupos de turistas para fazer sauna, mas se forem latinos é preciso ter a preocupação de que a sauna seja para homens e mulheres separadamente. Ainda assim as pessoas têm pudor em se despir. Ela resumiu numa frase, que eu achei excelente, uma grande diferença entre nórdicos e latinos:

“Os nórdicos desnudam facilmente o corpo, mas não a alma”
“Os latinos desnudam facilmente a alma, mas não o corpo”

É a mais pura verdade. Nós falamos sobre a nossa vida particular com detalhes para pessoas que mal acabamos de conhecer. Isso é impensável para um nórdico. Para eles a palavra tem uma importância muito grande e são escolhidas com muito cuidado. Por isso são de poucas palavras. Interromper uma pessoa que está falando, nem pensar, é uma tremenda falta de educação. Perguntar a alguém sobre assuntos da sua vida particular só se a intimidade for muita, caso contrário isso seria de uma indelicadeza atroz. Imagine como eles nos devem achar estranhos !!! Por sorte são muito educados e nos perdoam os deslizes.

A religião também parece não ter um papel importante no dia a dia desses povos. Daí também se explica os valores morais um tanto diferente dos nossos.

Alguns detalhes que me chamaram a atenção:

- Existe uma grande integração entre esses 4 países, ou 5 se considerarmos a Islândia. A língua não é a mesma em todos os países, mas são semelhantes, exceto para a Finlândia. O idioma falado pelos finlandeses tem sua origem na Europa Central e tem semelhança com a língua falada pelos húngaros. De qualquer forma a língua não é barreira visto que a maioria da população fala duas ou três línguas pelo menos.
As uniões pessoais entre as coroas dinamarquesas, norueguesas e suecas ao longo dos séculos talvez seja o fator que mais contribui para a união desses países.

- A realeza daqui é bem discreta. Pouquíssima semelhança com a família real inglesa. Na Noruega eles comentam que durante o choque do petróleo na década de setenta, o Rei da Noruega passou a usar o transporte público para que isso servisse de exemplo para seus súditos. Outra estorinha diz que o Rei da Noruega , retornando de uma viagem a Inglaterra, foi questionado por um inglês que estava no mesmo voo sobre o fato de que ele estava viajando sem o acompanhamento de seguranças pessoais. O rei informou que na realidade ele tem 5 milhões de seguranças, ou seja, toda a população da Noruega.

- O porto é sempre parada obrigatória em todas as cidades por aqui. No Brasil só frequentam a região do porto os que lá trabalham e as prostitutas, que também lá trabalham. Ouvi falar que em Belém do Pará estão revitalizando a zona portuária. Quando estive por lá esse trabalho ainda não havia iniciado, o porto era igual a todos os outros do Brasil, só se vai para embarcar em algum cruzeiro.

- Os nórdicos adoram navegar. Durante o trajeto de ônibus passamos por várias marinas repletas de barcos de todos os tamanhos. Pareciam com estacionamentos de carros. A guia nos disse que quase todos possuem alguma casa de verão fora da cidade e que se alguém tiver que optar por possuir um barco ou um carro, a maioria escolherá o barco. Deve ser a herança dos Vikings.

- O consumo de álcool. A lei é rigorosa no que diz respeito ao consumo de álcool. A guia nos disse que se alguém pretende fazer uma festa de aniversário, por exemplo, combina com alguns amigos com bastante antecedência para irem comprando e estocando as bebidas pois a cota de cada pessoa não permite que se compre em grandes quantidades. Por que eles bebem tanto ? E porque a taxa de suicídio é tão alta por aqui ?
Posso deduzir, e a nossa guia concorda, que o excesso de segurança pode provocar um efeito inverso, ou seja, causa insegurança. Explicando melhor, todos tem moradia, ótimo serviço de saúde pública, educação de qualidade, etc.. Não tem que batalhar por nada, não precisam competir, são super protegidos. Resultado: não estão preparados para enfrentar problemas quando eles surgem, não tem energia para lutar.

- Como eles celebram o sol. Acho que eles passam todo o inverno contando nos dedos os dias que faltam para a chegada da primavera. Quando chega o mês de maio, e os dias começam a esquentar, é só festa. Abrem-se as janelas, renovam as flores nas sacadas, preparam-se para aproveitar os dias de sol. Acho que nós, brasileiros, não fazemos ideia de como deve ser lindo o nascer do sol para essas pessoas.

- Na Suécia a licença paternidade é de 12 meses, igual a das mães. A licença pode ser tirada de uma só vez ou em partes, até que a criança complete oito anos de vida.
Acho que essa é uma ótima medida para promover a igualdade entre homens e mulheres. Nós, mulheres brasileiras, sabemos que na divisão de tarefas domésticas a mulher continua ficando sobrecarregada. Parte da responsabilidade é da própria mulher porque permite que esse padrão se perpetue. São ações como essa do governo sueco que contribuem de forma significativa para a mudança desse cenário.

- Nossa guia nos falou sobre o tempo de espera pelo atendimento em restaurantes. Ela nos disse que faz parte da cultura desse povo saborear esses momentos com tranquilidade. Um almoço com a família em um restaurante aos domingos deve ser apreciado lentamente como se fosse um acontecimento e normalmente esses momentos se prolongam por horas.
Adoro isso, acho que sou quase uma escandinava, exceto pelos olhos azuis e pelo sexo livre.