26 novembro, 2010

GRAMADO - 2010

11.11.2010



Fui a Gramado com uma turma de amigas que fazem parte do Coral da Bacia de Campos: Inês, Valdéa, Sueli e Graça. A intenção era conhecer a cidade durante o evento Natal Luz de Gramado, que acontece todos os anos. Já visitei a cidade anteriormente, mas não durante o período dessa festa.

Chegamos no final da tarde e logo percebi que não tinha feito a melhor escolha de vestuário. Tava um frio danado. Levei algumas roupas de manga comprida, uma pashminas e meias. E nenhum casaco.

Dividi o quarto com Inês e Valdéa. Logo que chegamos no quarto Valdéa comentou com Inês que iria me pedir uma aula de como "arrumar a mala para viagem" pois minha bagagem é sempre pequena. Quando abri a mala e elas viram os vestidinhos leves e as outras roupas que eu trouxe, caíram na risada.

- Você pensou que ia para Búzios, colega? Pode cancelar a aula, disse Valdéa.

Inês, como sempre, trouxe o guarda-roupa completo. Com aquela quantidade de roupa eu passaria o mês inteiro na Europa. Sorte minha, que pude pegar emprestado com ela um dos quatro casacos que ela trouxe.

Saímos a noite para assistir ao desfile natalino na avenida principal de Gramado. Logo na chegada perdi meus óculos. Pronto! Vou passar toda a viagem espremendo o olho para conseguir ler alguma coisa. Ou pedir emprestado para minhas companheiras de viagem. Todas já passaram dos quarenta e são, certamente, dependentes desse pequeno objeto de tortura.


O desfile deve ter sido interessante, mas o frio era tão grande, tão grande, que todas nós tiritávamos de frio e o prazer de assistir ao espetáculo foi para o ralo. Uma colega disse que até sua "perereca" estava congelada. Várias vezes ela disse "sinto que o desfile está acabando" e olhava para o final da rua na esperança de avistar o final da fila de integrantes do desfile. E a fila nunca mais acabava, uma verdadeira tortura.

Quando finalmente entramos no ônibus para retornar ao hotel, encontramos nossos trêmulos companheiros de viagem tão ansiosos como nós por uma cama bem quentinha. Valter, irmão de Valdéa, estava com um gorro de papai noel que comprou para esquentar a cabeça. Se tivesse achado o saco de papai noel acho que ele também teria comprado.

Fomos a um restaurante que servia diversos tipos de sopa. Foi uma boa escolha para aquecer esses viajantes trêmulos de frio. Provei algumas que estavam saborosas. A mais tradicional por aqui é a sopa de capeletti que os italianos adoram. Acho meio sem graça aquele caldo ralo com as massinhas boiando.

Chegando no hotel tomamos um chá de abacaxi e fomos dormir.


12.11.2010

Fizemos um tour pelos principais pontos turísticos da cidade. Começamos pelo “Mundo a Vapor”. Logo na fachada tem um trem tombado como se tivesse ocorrido um acidente. No interior várias miniaturas de processos industriais, todas com movimento, mostram os detalhes da fabricação de tijolos, telhas, laminação de aço, trator movido a vapor, etc....

Entramos em uma lojinha que vendia acessórios para o frio. Saímos quase todas com gorros e luvas vermelhas, que eram as mais baratas. Acho que no próximo evento é só mandar levantar as mãos que nosso grupo será imediatamente identificado.
Em seguida fomos a um parque - não lembro o nome - próximo ao Parque do Caracol. É possível ver a Cascata do Caracol lá embaixo. No teleférico, com cadeira para duas pessoas, é possível chegar bem próximo da cascata. Dispensei o teleférico - já andei em vários e esse pequenos não me atraem - e a tirolesa. Quem não dispensou a tirolesa foi uma senhora de 73 anos que faz parte do nosso grupo. Cabelos totalmente brancos, assanhada e com uma disposição de dar inveja. Toma cerveja todos os dias, mesmo com o frio que faz aqui. Quando o frio apertou tomou uma cachacinha no jantar e, no dia seguinte vinho. Valdea costuma chamá-la de “minha sogra”, se candidatando espontaneamente para um casamento com um dos filhos solteirões (são dois).

Hollywood Dariam Car tem uma exposição de carros antigos. Poucas pessoas entraram mas eu gosto de veículos antigos e fui dar uma olhada. O meu jipe Willians 1951 poderia estar ali, só precisaria de uma bela maquiagem. É interessante verificar a riqueza de detalhes, a delicadeza dos acessórios. E as cores? Vários tons de azul, rosa, verde, vermelho, branco e preto. Daqui a cinquenta anos se visitarmos uma exposição de carros antigos (do século XXI) só veremos 3 cores: branco, preto e cinza. E modelos quase iguais!!! Esse nosso mundo automatizado e globalizado está tornando tudo muito sem graça.

Almoçamos e em seguida fomos ao “Mini Mundo”. Como já conhecia esse lugar, optei por dar uma volta pelos arredores e tirar fotos de flores e algumas fachadas. As hortênsias ainda não estão totalmente floridas, mas outras flores estão viçosas e dão um colorido especial a essa cidade. Caminhando pelas ruas quase vazias e olhando as casas com muros baixos, gramado verdinho e casas com sacadas floridas, constatei que essa cidade é um pedaço da Europa nos trópicos. São muitos ‘brasis’ dentro desse país continental.

O nosso próximo destino também já é meu conhecido. O Lago Negro lembra um pouco a região da floresta negra na Alemanha. Estive por lá no ano passado e a arquitetura daqui possui alguma semelhança com a da região da Bavária. Alguns do nosso grupo foram caminhar em volta do lago. Eu já estava cansada e preferi ficar sentada no gramado de Gramado, “lagarteando" sob o sol daquele final de tarde.

Na saída do parque cometi um desatino; comprei uma guirlanda de um camelô. Onde eu estava com a cabeça? Sair carregando esse negócio até Macaé, sem amassar!! É como transportar um bebê. Aliás, não estou me reconhecendo, já comprei várias coisas quase inúteis. Inúteis talvez não, mas completamente desnecessárias.


Encerramos o passeio na Aldeia do Papai Noel. Ainda não conhecia esse parque. Segundo reza a lenda o alemão Knorr se encantou com aquele pedaço de terra e construiu ali sua residência. Durante muito tempo recebeu pessoas famosas que visitavam a cidade e se hospedavam em sua casa. Hoje sua propriedade foi transformada em ponto turístico. O lugar tem uma bela paisagem, muito verde e uma vista do vale do Quilombo. Esqueci de perguntar a guia porque deram esse nome ao vale. Acho que escravos não eram comuns nessa região.
A casa do Knorr, em estilo Bávaro e com móveis do início do século XX, foi o que mais me interessou. As crianças certamente devem gostar das renas, que não são comuns por aqui, e da fábrica de brinquedos.

É interessante notar como uma cidade aproveita um tema e transforma esse tema em atração turística tirando dele o máximo proveito. Há poucos dias vi uma reportagem sobre a cidade mineira de Varginha que transformou a história do aparecimento de um ET, quase sempre motivo de gozação, em tema para ornamentação de praças, etc... tirando do fato o máximo de proveito possível.

Aqui em Gramado o natal tornou-se símbolo da cidade, assim como as hortênsias. Macaé poderia fazer o mesmo com o tema petróleo, começando pela criação de um museu interativo ou até mesmo uma plataforma desativada onde os visitantes pudessem ver como funciona a extração do petróleo. Estou delirando? Talvez. Só sei que com criatividade tudo é possível.

13.11.2010

Hoje descemos a serra para conhecer a parte italiana da colonização gaúcha. Antes de começarmos a parte “cultural” do nosso passeio, fizemos uma visita à loja da Tramontina na cidade de Carlos Barbosa. Terminada as compras (não resisti e também aderi a gastança) fomos para a estação de trem para o passeio turístico. Na chegada à estação, a recepção é feita por uma cantora, simpática e com ótima voz, cantando músicas italianas.

Durante o trajeto a maria fumaça faz uma parada onde desembarcamos, tomamos vinho, champanhe, comemos queijo e cantamos a tarantela com alguns músicos. Voltamos ao trem e seguimos viagem. Um grupo encena um teatrinho dentro dos vagões e um outro grupo canta músicas italiana e gaúcha.

É um agradável momento de confraternização bem ao estilo italiano.

Durante o passeio lembrei várias vezes de Alda. Ela adorou esse passeio e constantemente convidava a mim e Vilson para uma viagem ao sul. Ela já não está entre nós, mas a lembrança permanece.

Continuamos o passeio, agora o roteiro conhecido como Caminhos de Pedra. São construções em pedra e madeira semelhantes a que existem na região norte da Itália. São bem antigas e conservam a história dos italianos que chegaram aqui no final do século XIX. O meu nono Pietro Adami também chegou ao Brasil nesse período, mas sua família veio para o Estado do Rio.

Antes que todas as casas fossem demolidas, descobriram o potencial turístico da região e investiram nisso. No caminho encontramos produtos típicos dessa cultura: salame, vinhos, queijos, etc... Paramos em uma casa onde aconteceu parte da filmagem do filme “Quatrilho”. Assisti a esse filme alguns anos atrás e adorei. Foi o primeiro filme brasileiro que gostei de ver, depois de um longo período em que não assisti a nenhuma produção nacional que valesse a pena.

Uma integrante da família Strapazzon mostrou a casa, o vinhedo e nos falou um pouco sobre a vida de dificuldade e de superação da sua família, que é na verdade a história de todos os italianos que vieram para o sul. Falou sobre a filmagem do Quatrilho que deu maior visibilidade a região e destacou que o que antes era “motivo de vergonha hoje é orgulho para sua família”.

Paramos em seguida em uma Ervateira, casa onde se produz a erva mate que os gaúchos usam no chimarrão. Uma mulher nos mostrou toda a linha de produção da erva, os antigos maquinários, o forno, etc... e em seguida partimos para a degustação. Pela primeira vez provei o chimarrão. Detestei!!! É amargo demais.

Nossa guia Suzi é excelente. Ela é de origem alemã, da cidade de Carlos Barbosa, mas mora atualmente em São Paulo. É quase ruiva, bem bonita e educadíssima. Tem falado bastante sobre a história dos colonizadores italianos e alemães. Normalmente essa é a parte que mais me agrada nas viagens com guia, mas o sistema de som do nosso ônibus é péssimo e por isso aproveitei pouco do que ela falou. Na verdade, não foi só por isso, gastei boa parte do tempo conversando com Tânia.

Tânia é uma colega de trabalho que aposentou recentemente. Como eu nasci em Macaé e ela chegou na cidade ainda criança, temos muitas lembranças e amigos em comum. Papeamos por um longo tempo e demos muitas risadas. Durante essa conversa eu “matei” alguns macaenses que, segundo Tânia, ainda estão bem vivos. Realmente minha memória está cada vez menos confiável.

Á noite fomos assistir ao espetáculo “A fantástica fábrica de natal”. Agasalhei-me um pouco, bem menos que minhas colegas de viagem, e partimos para o local da apresentação. Fazia bastante frio, mas o local era coberto e não havia vento o que tornou a noite bem mais agradável que a anterior. O show, um musical no estilo da Broadway, conta a história de uma fábrica onde os brinquedos ganham vida. Tem canto, dança, acrobacias e alguns efeitos especiais. A criançada deve adorar.

14.11.2010

Novamente descemos a serra e fomos até Caxias do Sul.


Visitamos a Igreja de São Pelegrino. Eu já conhecia essa igreja, mas não me lembrava de muita coisa. As portas principais são esculpidas em bronze contando a história da imigração italiana. Logo na entrada tem uma réplica da Pietá de Miguelangelo, idêntica a que já vi na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Nossa guia informou que a estátua foi presente do Papa João Paulo VI na comemoração dos cem anos da imigração italiana. No interior várias pinturas de Aldo Locatelli representam passagens bíblicas. É uma pintura bem acadêmica, mas algumas colocam em evidência pés e mãos. Achei que ele é especialmente bom nesse quesito, pés e mãos.

Fomos para a vinícola Zanrosso. Já estive lá anteriormente e, portanto, dispensei a história da família e parti direto para a degustação. Tomei bastante vinho. Considerando que era apenas uma degustação, bebi demais. Comprei vinho e espumante para tomarmos no Natal. Fiz mais um estrago no orçamento, que com o casamento do meu filho programado para março, está bem apertado.

Passamos na fábrica de chocolate Alpino onde comprei chocolate para meus afetos. Em seguida voltamos para Gramado. Uma outra apresentação de natal, com sopranos e tenores, está na programação para a noite.

Eu, Tânia e Alzira optamos por um passeio noturno pelo centro de Gramado. Separamo    -nos do grupo e descemos na avenida principal da cidade. A cidade à noite fica realmente linda. Entrei num caixa 24 horas para pegar algum dinheiro e quando saí percebi que algumas pessoas estavam paradas na calçada. Olhei em volta e vi que uma multidão estava ali parada, observando a rua. Perguntei o que acontecia e me disseram que estavam esperando as luzes acenderem. Vi que parte das luzes ainda não estavam acesas e, como os demais, também resolvemos aguardar. Enquanto aguardávamos entramos numa loja de chocolates Lugano e comprei dois tabletes onde estava escrito “adoro minhas noras”. Preciso agradar as meninas porque, segundo o costume, são elas que escolherão o asilo onde ficarei na velhice.


Às nove horas em ponto uma música de natal começou a tocar, alguns fogos de artifício pipocaram e as luzes foram acesas. Uma árvore de natal enorme, no meio da avenida, começou a girar e a brilhar com várias nuances de cores. De onde eu estava pude ver a luz dos flashes de inúmeras câmeras e celulares se juntando ao brilho da iluminação natalina. É bonito, e engraçado ao mesmo tempo. Não é preciso muita coisa para atrair a atenção de turistas ávidos por uma foto. Mas, verdade seja dita, a cidade ficou linda assim toda iluminada.

Notei que grande parte dos enfeites natalinos é feito de garrafas pet, e todos muito bonitos. Na maioria das vezes não gosto muito da aparência dos objetos decorativos que são feitos com material reciclado, mas esses candelabros provam que é possível fazer coisas interessantes com o material que vem do lixo. Durante a noite é possível confundi-los com vidro ou cristal.


Entramos em uma loja de enfeites natalinos com produtos de muito bom gosto para turistas mais endinheirados do que eu. As árvores de natal custam em torno do R$ 5.000,00. Vou continuar acendendo meu pisca-pisca no pinheirinho tradicional.

Comemos uma pizza na rua coberta e voltamos para o hotel. Amanhã logo cedo partiremos para Porto Alegre. O ônibus que nos levará deve ser bem maior que o que nos trouxe. Caso contrário, não haverá lugar para as malas.

Já encontrei Inês no hotel e ela me disse que o espetáculo que o grupo assistiu foi emocionante, o melhor dos três que ela viu. Disse que várias músicas do repertório do nosso coral foram apresentadas pelo grupo de cantores. Gostaria de ter assistido, mas não me perdoaria se saísse de Gramado sem ver, de perto e com calma, a decoração do Natal Luz.

15.11.2010

Chegamos ao aeroporto no horário do almoço. À medida que vou ficando mais velha, aumenta o meu medo de avião. Deveria ser o contrário, mas quanto mais velha mais medrosa.

Comemos e partimos para o Rio de Janeiro. A viagem foi bem tranquila, sem turbulência. Saímos de Macaé com chuva e encontramos chuva também no retorno.

"Melhor do que partir, é voltar". Não sei quem disse isso mas há alguma verdade nessa afirmação, pelo menos para mim.