15 outubro, 2013

RIO DE JANEIRO - 2013

13.09.2013

Ultimamente só tenho ido ao Rio a trabalho. Abri uma exceção no último final de semana e fui junto com minhas amigas Conceição e Cláudia, para um passeio ao Rio sem compromisso, sem nada programado, sem obrigações a cumprir.
Ficamos hospedadas na casa de Jackie, amiga de Conceição, que mora na Tijuca com o filho e dois cachorrinhos. Não a conhecia, mas de cara me senti à vontade com ela. Jackie é desencanada, amorosa e sem frescura. E temos algo em comum: a tendência a “pagar mico”.  Diz que o filho fala com os amigos que “minha mãe não paga mico, paga king kong”. Ela me contou que um dia desses, passando ao lado do Teatro Municipal, viu que uma grande fila se formava. Pensou: – com tanta gente assim na fila deve ser um espetáculo interessante e barato...

Resolveu entrar na fila. Em seguida perguntou a alguém qual era o espetáculo que estava sendo vendido. A mulher fez uma cara de espanto e disse:
- Minha senhora, essa fila é para o velório de Chico Anísio.

Essa é a Jackie.
Deixamos nossas malas no Sindicato onde Jackie trabalha e fomos para Santa Teresa. Já vim tantas vezes ao Rio e ainda não conheço o Bairro de Santa Tereza. É imperdoável.

Pensávamos que o Bondinho estava funcionando, mas que pena ele ainda está fora de combate, fomos de ônibus mesmo. Quando entramos no ônibus o motorista estava discutindo aos gritos com uma passageira. Durante todo o trajeto ele rosnou, estava pra lá de mal humorado. Quando a passageira desceu do ônibus, ele jogou beijinhos. Puro deboche!
Largo dos Guimarães
Subindo a colina tenho a impressão que estou em outra cidade, mais antiga, mais bucólica. Tantas casas antigas, algumas bem conservadas e outras nem tanto. E fomos subindo, subindo, esperando surgir um local interessante para descer. De repente entramos pelo meio da mata atlântica e logo em seguida vi uma placa escrita UPP do Morro dos Prazeres e do Escondidinho. Uai! Se tem uma UPP isso aqui é uma favela!
- Conceição, acho que já passamos de Santa Teresa.
- Deus do Céu, onde fomos parar?

Olhei para trás e vi que já não havia ninguém no ônibus, só nós e o motorista raivoso. Perguntamos ao carcará se já tínhamos passado de Santa Teresa. Ele disse que sim e que já estávamos chegando ao ponto final. Olhamos em frente e vimos que o ponto final ficava na favela de Dna Marta. Olhamos pra cara uma da outra e caímos na risada.
- Ceição, já pensou se Vilson e Val souberem que vimos parar na favela?

- Do jeito que Val tem medo de entrar por engano em uma favela, imagine?
Esperamos por algum tempo no ponto final e retornamos para o ônibus. Quando o motorista entrou resolvemos indagar sobre o melhor lugar para descermos em Santa Teresa.

- Tem lugar bom lá não, é tudo uma merda. Só tem gente ruim, blá, blá, blá.....
A criatura descarregou toda sua revolta. Falou que a passageira que brigou com ele provavelmente ia contar para o marido e provavelmente o marido viria tomar satisfação com ele. Mas que ele não tinha medo porque é da baixada e já fez muito serviço sujo para o bicheiro Anísio Abraão.

Deduzi que ele era de Nilópolis. Cláudia perguntou qual era o nome dele:
- Gabriel.
- Ah! O anjo Gabriel!
- Anjo? Que anjo dona, eu einh?

Melhor ficar calada, ele não está pra conversa.

Quando chegamos ao Largo dos Guimarães ele nos disse que era melhor descer ali. Escolhemos um bar simpático e fomos logo tomar uma cerveja por que o calor estava demais. Aliás, cerveja só para mim e Cláudia. Conceição tem um grave defeito: não bebe cerveja, apenas um vinhozinho e olhe lá.
Passamos por vários bares, restaurantes e alguns ateliês, mas já estava anoitecendo e sobrou pouco tempo para conhecer o bairro. O tour pelas favelas nos atrapalhou.


Voltamos para o centro e junto com Jackie passamos no PT para cumprimentar o Vereador Reimont, amigo de Jackie e Conceição. Em seguida paramos num bar para um merecido happy hour.



14.09.2013

Madureeeeeira, lá lá laiá, Madureiraaaaa....
Hoje fomos conhecer o bairro que Arlindo Cruz canta em verso e prosa. O visual é feio, mas com tanta escola de samba, em cada esquina um bar, mercadão e agora o parque, digamos que Madureira tem os seus encantos.
Parque de Madureira
É gente demais andando pra cima e pra baixo. Se o falecido avô do meu marido visse aquela gente toda provavelmente diria – “Essa gente não tem o que fazer não? É só batendo perna o dia inteiro?”

Eu imaginava o mercadão como um lugar quente, desconfortável e tumultuado. Enganei-me. O mercadão é organizado e a temperatura é agradável. Agora, vir aqui em véspera de Natal, nem morta! Só mesmo para quem gosta muito de aperto e multidão.
Saímos do mercadão e fomos almoçar no Shopping Madureira. Em seguida fomos conhecer o Parque Madureira que fica ao lado do shopping. Cláudia estava cansada, resolveu ficar num barzinho na entrada do parque, tomando uma gelada. Eu, Conceição e Jackie seguimos em frente.
Parque de Madureira
Paramos para ver um casal que fazia uma apresentação de dança moderna, tipo dança de rua. Mais a frente um palco com uma concha acústica de concreto, enorme. Em volta do palco, um grande largo rodeado por alguns degraus formando uma pequena arquibancada. Um espaço excelente para shows e hoje estava sendo usado para transmitir ao vivo os shows do Rock in Rio. Andamos um pouco mais e vimos uma cascata onde as crianças tomavam banho e na parte alta, uma pista de skate. Achamos que o parque terminava ali, mas quando vimos um quadro com a nossa localização, descobrimos que não tínhamos percorrido nem um terço do parque.
Alugamos uma bicicleta de três lugares e fomos pedalar pelo resto do parque. Senti-me voltando a infância quando andava de bicicleta sem freio. Ela tinha freio, mas era um pouco difícil de manobrar. O movimento de gente a pé, de bicicleta e de skate, era grande. Gritávamos com que estivesse na frente para sair e por pouco não atropelamos alguns.

Quando chegamos ao final do parque, no teatro Fernando Torres, fizemos uma curva e quase capotamos. Pedalamos de volta até ao ponto de entrega das bicicletas, cansadas e felizes.
Não encontramos Cláudia. Ligamos e ela informou que cansou de esperar e foi a um shopping popular que fica em frente ao parque. Estava fazendo umas tranças afro no cabelo. Fomos até lá e conhecemos duas moças do Congo que fazem as tranças com muita habilidade. Uma delas se chama Hula e é uma negra linda. Disse que veio para trabalhar no Brasil há três anos. No início tinha muito medo da violência do Rio, mas agora já se sentia tranquila.

Tínhamos ingresso para uma peça de teatro, o musical Casa Grande e Senzala que está sendo exibido no Teatro Ziembinsk, na Tijuca.  Pretendíamos passar em casa, tomar um banho e em seguida ir ao teatro e depois encerrar a noite em algum bar da Lapa.
Quando descemos do ônibus estranhamos o local. Perguntamos a Jackie e ela nos respondeu que como já estávamos atrasadas achou melhor irmos direto para o teatro.

Deus do céu! Estávamos suadas, descabeladas e Jackie estava de bermuda e chinelo. Que jeito! Não dava pra voltar atrás agora e lá fomos nós. Ainda bem, não me perdoaria se perdesse um espetáculo daqueles por causa de um desejado banho. Adorei a peça Casa Grande e Senzala. Os atores-cantores do grupo de teatro Os Ciclomáticos fizeram um musical de excelente qualidade.
Caffecito Bar
15.09.2013


Voltamos a Santa Teresa pra trocar um sapato que Cláudia comprou e o os pés foram trocados. Aproveitamos para passear com mais calma pelas ruas do bairro. Paramos em uma feirinha de artesanato ao lado de uma igreja antiga que infelizmente está mal conservada. O interior é bem bonito, mas o exterior precisa de uma restauração. Paramos no Bar do Mineiro que serve uma feijoada famosa. Seguimos em frente entrando em algumas lojas de artesanato e ateliers.

A fome apertou, paramos em um restaurante simpático e optamos pela feijoada, afinal hoje é sábado, dia de feijoada. 
Parque das Ruínas
Continuamos nosso passeio, dessa vez pelo Parque das Ruínas, um casarão antigo em ruínas, mas o que restou do palacete está sendo muito bem utilizado. Na parte interna poucas paredes e escadas de ferro fazem a ligação entre os andares. Ficou uma combinação bonita, o tijolo aparente e o ferro preto. Lembrei-me de quando assisti na televisão uma entrevista com o ator Osmar Prado, que foi filmada nesse local. Achei tão lindo o lugar, fiquei com vontade de conhecer, mas depois esqueci. Só agora, quando cheguei aqui, reconheci o local da entrevista.

Na entrada do parque tem um jardim e na parte alta um largo com uma lanchonete e algumas mesas ao ar livre. Um grupo afinava os instrumentos para uma apresentação. Tem um violoncelo, que eu adoro. Acho que vai ser agradável ouvir música de qualidade, cercada de verde e lá embaixo a vista da enseada de Botafogo, que é linda.
Fomos até ao Museu da Chácara do Céu, que fica ao lado do parque. Uma casa antiga, mas com uma arquitetura que ainda me parece moderna. Em volta da casa, um jardim de Burle Max. Estranhei a quantidade de guardas no museu, em todas as salas onde entramos tinha sempre um guarda por perto. Um deles nos falou que esse museu já foi roubado algumas vezes e os bandidos levaram várias obras de arte.

Esse palacete pertenceu a um milionário que amava as artes. Era muito amigo de Portinari e por isso tinha um grande número de quadros do nosso pintor mais famoso. O museu tem móveis antigos, louças, uma biblioteca e várias obras de arte que pertenciam ao milionário. É uma viagem pelo Rio antigo. Uma das salas possui um grande armário de gavetas fininhas com gravuras de Debret e Taunay. Todos aqueles desenhos que estavam nos livros de História do Brasil dos meus tempos de escola, estão aqui, nessas gavetas. Gostaria de ver todos, mas o tempo, esse inimigo cruel, não vai permitir. Temos que voltar para Macaé.

Voltamos à casa de Jackie, pegamos nossas malas e partimos para Macaé.

Acho que quero passar as férias no Rio. Nada de trabalho, nada de visitar a família, casamento, formatura, enterro, aniversário de amigas, etc. Quero só passear, como qualquer turista.