22 dezembro, 2017

CONSERVATÓRIA - 2017


O Coral do Sindipetro foi inscrito no Festival Nacional de Corais de Conservatória. Então, vamos juntar o útil ao agradável, honrar nosso compromisso com o Sindicato que nos patrocina e curtir essa cidadezinha tão pitoresca.

24.11.2017 

Saímos de Macaé às 10h com a turma de Graça. Uma parte dos coralistas vai num ônibus fretado pelo Sindicato no final da tarde. Resolvemos ir mais cedo porque a viagem é longa e queremos aproveitar bem o dia de hoje porque amanhã teremos ensaio e apresentação do Coral. Essas apresentações às vezes são bem demoradas e costumamos prestigiar a apresentação dos outros participantes. Sendo assim, melhor garantir a noite de sexta para curtir as serestas, serenatas, etc.
Além da turma do Coral temos algumas amigas que também estão nessa viagem: Sônia e Célia.
Sônia mora em Joinville, mas todo ano vem passar parte do verão em Macaé, fugindo do calorão arretado que faz em Joinville. Célia mora em Macaé e é amiga de longuíssiiiiiima data. Ambas são macaenses como eu e também trabalharam na Petrobras.
Chegamos ao Hotel Vilarejo por volta das 16h. Nem sentimos o tempo passar distraída que estávamos com a conversa entre nós quatro. Cheguei a ficar com dor no pescoço por ficar tanto tempo olhando para o lado esquerdo.
Deixamos as malas no quarto e já partimos para o centro. Trouxe várias roupas de frio, mas desconfio que serão inúteis, só servirão para comprovar que em se tratando de mala de viagem, menos é mais. 
Com essa temperatura agradável a caminhada fica mais interessante. Vamos admirando as flores, uns pés de couve lindos, um espantalho, o Túnel que Chora.... Quando surgem as primeiras casas antigas, todas muito bem cuidadas, Sônia não se contém:
- Que maravilha, não imaginava que essa cidade fosse tão bonitinha!!!


Acho que ela pensou que Conservatória estava mais para Carapebus ou Conceição de Macabu do que para Tiradentes, guardadas as devidas proporções.
Passamos pelo Teatro Sonora e vimos que tem show hoje e amanhã. Hoje o show é um mix de outros shows apresentados pelo time da casa. Compramos os ingressos para hoje. Amanhã é “tributo a Elis Regina” que gostaríamos muito de assistir, mas nossa noite estará comprometida com o Encontro de Corais. 
Teatro Sonora
Retornamos ao hotel caminhando, como sempre fazemos por aqui, o que fez aumentar a minha fome. Depois do banho descemos para o restaurante já prontas para o show. A comida nesse hotel está ainda melhor, o que é péssimo pra minha cintura.
O Teatro Sonora é uma casa dedicada a MPB e é também uma escola musical gratuita para a comunidade. O espaço é pequeno, mas confortável. As cadeiras são aquelas que encontrávamos nos cinemas antigos, algumas máquinas de escrever e telefones antigos fazem parte da decoração. Tem um ar meio retrô que combina bem com o clima romântico da cidade. 
Juliana Maia
A cantora Juliana Maia entrou vestida com uma roupa de época, mais precisamente uma vestimenta do final do século XIX e cantou alguns chorinhos, músicas populares daquela época. Em seguida retornou ao palco com um vestido reto e justo, cabelos soltos e crespos, bem anos cinquenta. Soltou a voz cantando músicas das grandes divas do rádio.  Nova troca de roupa e veio vestida de Carmem Miranda. Arraaaasou!!!!
Voz maravilhosa acompanhada de ótimos músicos (sax, violão e percussão), iluminação perfeita e a presença de palco da Juliana, sua simpatia e bom humor, fizeram do show um espetáculo. Enquanto apresentava os músicos, brincava com eles. O rapaz do violão, muito tímido e encabulado quando os olhares se voltavam pra ele, tentava esconder o rosto. Juliana tentava provocá-lo:
- Rapaz, cadê o sorriso pras fotos! Mostra esse bigodinho de ajudante de pedreiro.
Ao final do show, abriram a portas da sala e Juliana saiu pra calçada cantando marchinhas de carnaval. Saímos atrás da cantora, formamos um cordão e fomos cantando junto com ela. A noite terminou em carnaval.
Terminou o show e saímos em direção a Rua do Meio. No caminho passamos por alguns bares, todos com música ao vivo. Aqui é assim, tudo gira em torno da música. Não encontramos nenhuma mesa vazia na praça, o que é uma pena porque aqui ficam os violeiros. Seguimos em frente e paramos num barzinho pequeno para tomar uma cerveja e, para quem ainda estava com fome, um caldinho.
Voltamos a pé pelas ruas já meio vazias naquela hora. Atravessamos o túnel que chora na maior tranquilidade, sem medo de assaltos ou coisa parecida. Como faríamos isso na nossa cidade?

25.11.2017

O dia amanheceu ensolarado. Que delicia, não esperava por isso!! Não esperava, mas vim preparada, trouxe maiô, filtro solar...só esqueci o chapéu. Depois do café da manhã partimos pra piscina. Agora, na área da piscina, tem lanche, drinques, cerveja, tudo incluso no nosso pacote. Muito bom.
Chegou o pessoal da hidroginástica e a mulherada correu pra água. Dois marmanjos vestidos de meninas faziam a coreografia. 
Depois do almoço, tem ensaio marcado e o ônibus do Sindicato vem nos buscar. Ficamos esperando e nada do ônibus aparecer. Ligaram avisando que o ônibus ficou sem bateria e não seria possível buscar-nos. Sugeriram que fossemos a pé.- Subir morro a pé depois do almoço? Nem pensar!
Depois de alguma discussão resolvemos pedir um carro para sete pessoas e ir até o hotel. O carro chegou e nos acomodamos no interior de um carro já bem sofrido, antiguinho. Perguntei pra motorista:
- O carro aguenta uma subida carregando essa turma?- Ele tá acostumado a carregar peso, olha só pra mim.
Ela é bem gordinha e bem simpática. No caminho para o hotel, que fica no alto de um morro, passamos por ruas que não conhecíamos. Muitas residências modernas e bonitas e algumas pousadas. A pousada A Violeira, onde alguns coralistas estão hospedados, é simples, mas parece agradável e a vista da cidade é linda.
Outros corais estão hospedados nessa pousada e assistiram nosso ensaio. Alguns chegavam à janela dos quartos e aplaudiam. A acústica ali era muito favorável e mandamos muito bem. Tomara que a noite na igreja a apresentação seja tão boa quanto foi o ensaio. Quando caminhamos para o ônibus um casal vinha descendo a rua e me perguntaram:
- Vcs é que estavam cantando agora há pouco?- Sim. Estamos ensaiando para o festival de Corais.- Nós moramos aqui perto e ouvimos vcs cantando. Tava tão lindo que resolvemos sair e vir mais pra perto. Pena que acabou o ensaio.
Ulalá, abalou Bangu (eu pensei).
Chegamos à igreja por volta de 08:00h. Nosso Coral deve se apresentar as 09:00h, mas viemos antes pra prestigiar os outros grupos. Pra variar estão atrasados, muito atrasados. Pra ser sincera, não gosto muito de ouvir corais cantando, eu gosto mesmo é de cantar. Gosto dos ensaios, das risadas, das apresentações. Então logo me senti entediada, e nada da nossa hora chegar. 
Notei que um grupo estava com um uniforme bem diferente dos que usualmente os corais usam. Usavam calça branca, blusa azul royal, uma echarpe de tricô vermelha e azul, sapato branco e um chapeuzinho com fita vermelha e azul. Olhei na programação e vi que representam a Aliança Francesa de Friburgo. Ah! Tá explicado o uniforme diferente e a escolha das cores (bleu,blanc,rouge) da bandeira francesa. Vão cantar em francês, certamente. Oba!!!  Adoro francês. A língua, claro.
Quando subiram ao palco vi que era um coral só de mulheres. Cantaram “Non, Je Ne Regrette Rien”, música que Edith Piaf cantava lindamente.
“ Non, rien de rien, non, je ne regrette rien  Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal… “
Valeu a noite.
Quando nos apresentamos era quase onze horas. Ufa!Depois da apresentação tinha um lanchinho pra cada Coral. Quando sai da sala do lanche me estabaquei no chão. Foi um verdadeiro mergulho, tipo o peixinho que os jogadores de vôlei da seleção brasileira fazem depois da vitória. Vieram me socorrer:
- Vc está bem?- Sim, pelo menos por enquanto.
Às vezes é assim que acontece, na hora não se sente nada, mas depois aparecem os hematomas, torções e outras desgraças, principalmente pra quem já passou dos vinte anos.
Saindo da igreja avistamos a turma da serenata, cantando e recitando poemas. Resolvemos acompanha-los. Seguimos caminhando, ouvindo as canções românticas que combinam tão bem com as casas de fachadas coloniais. Quem vem a Conservatória vai encontrar tranquilidade, clima ameno em boa parte do ano, muita música. Luxo e agitação não fazem parte desse cenário.
Retornamos ao hotel depois da meia-noite. Pretendia dormir logo em seguida, estava bem cansada, mas encontramos a turma do Coral da Aliança Francesa na varanda do hotel, com um estoque de cerveja (o bar do hotel já estava fechado) e na maior cantoria. Fomos convidadas a juntar-nos ao grupo e não resistimos, cantamos até a madrugada. Ô turma boa!

26.11.2017

 
 

Voltei ao hotel e já encontrei o Ronaldinho do Cavaquinho se apresentando. Já assisti algumas de suas apresentações e sempre gostei. Provavelmente ele repete algumas histórias, mas isso não é problema pra mim. Minha memória não é tão boa, então tudo parece novidade. Ele estava contando como se transformou no instrumentista de sucesso que é hoje.  Na verdade, ele não é somente músico, pode se dizer que é também um showman e acredito que boa parte do seu sucesso pode ser creditado a esse talento para o humor. Algumas histórias que ele contou são bem interessantes: - “Eu me casei e fui morar em Irajá. Alguém aqui mora ou nasceu em Irajá? Ninguém? Ótimo! Ô lugarzinho feio! Muito feiiio! Fiquei desempregado e morando naquele lugar fe... deixa pra lá. Procurava emprego todo dia e nada, nada acontecia. Um dia, enquanto abastecia meu carro com uns dez reais de gasolina (não podia deixar o carro muito tempo sem sentir o gosto do combustível porque corria o risco dele não funcionar nunca mais) vi um carro todo enfeitado e reluzente, enchendo o tanque. Era um carro funerário. Puxei conversa com o dono de carro e descobri que esse negócio de carregar defunto pode render uma boa grana. - Ulala, vou entrar de cabeça nesse negócio. Procurei o dono da casa funerária, combinei tudo direitinho, voltei pra casa e tomei as providências necessárias. O sogro me emprestou o dinheiro pra reforma do carro, que ficou uma belezinha. Tudo certo pra começar o trabalho do dia seguinte, só tinha um pequeno detalhe: eu morro de medo de fantasma. Nem consegui dormir na noite anterior, tamanho o pavor de ficar sozinho com um morto dentro do meu carro. O dia foi passando, passando... e nada de receber nenhuma comunicação de falecimento. -Ufa! Que alivio, não morreu ninguém. Os dias foram passando e nada de morrer ninguém naquela área. Fui ficando desesperado. –Meu Deus, eu já fiz a minha parte, quando o senhor vai fazer a sua? No final de vinte dias o dono da funerária me chamou: - Você está despedido, nunca vi alguém tão pé frio como você. Fiquei arrasado, alta estima lá embaixo: - Pé frio, eu? Depende do ponto de vista, quem não morreu certamente não pensa assim. O mundo perdeu um papa-defunto que tem medo de fantasma, mas ganhou um músico apaixonado”.- “Sempre fui apaixonado pelas músicas de Waldir Azevedo. Gravei algumas fitas cassetes só com músicas do meu ídolo e vendia nos meus shows, que na época ainda não eram muitos. Uma médica que tinha consultório em Copacabana comprou uma de minhas fitas pra tocar em sua sala de espera. Um dia a viúva de Waldir Azevedo foi se consultar com essa médica e, chegando lá, ouviu a minha fita e pensou que era seu falecido marido tocando. Quando a médica disse que não era Waldir e sim Ronaldinho ela ficou muito surpresa e resolveu me procurar. A partir daí muitas oportunidades surgiram na minha carreira.”

Ele sabe cativar o público.
Terminado o show, é hora de almoçar e nos prepararmos para o caminho de volta.
Já no ônibus, todos acomodados, Graça vira pra Sônia e pergunta se ela vai ao show de Wando:
- Acho que não, nem sei onde ele está morando. Está no céu ou no inferno?
Caímos na risada. Essas poderosas estão cada dia mais doidas. Continuando nesse ritmo dentro de algum tempo nossos encontros acontecerão num hospício.

Dia de ir embora, então temos que aproveitar cada minuto. Esperava por um dia de sol e piscina, mas o dia amanheceu nublado. Melhor assim, vai sobrar tempo para ir ao centro comprar uma das peças da artesã Cristina Maria. Suas peças em madeiras são pintadas, na sua maioria, com motivos florais. É uma releitura do barroco mineiro de muito bom gosto. As peças não são baratas, mas acho que o preço é justo. Comprei um oratório pequeno e dois santinhos pra guardar dentro dele: São Judas Tadeu e Nossa Senhora da Conceição. Não entendo nada de santos, mas sei que esses dois são santos de devoção do meu marido e da minha sogra. Gosto do trabalho artísticos dessas peças e da simbologia que elas trazem, embora não deposite nelas nenhuma fé.

17 setembro, 2017

TIRADENTES-2017

Há uns três meses atrás minha amiga Thayz disse-me que iria, junto com Carlos, ao festival gastronômico de Tiradentes. Perguntou se eu gostaria de ir também. Pensei um pouco...já fui lá umas cinco vezes, mas nunca na época do Festival. Aceitei o convite. Thayz me passou o telefone de Renato e Magali, os organizadores desse passeio. Liguei e Renato informou que não havia mais vagas. Que pena! Faltando uns quinze dias para a viagem o Renato me ligou dizendo que houve uma desistência e que eu poderia ir, se quisesse. Topei.



24.08.2017

Cheguei ao local marcado para a saída do ônibus às 06:00 h. Não tinha a menor noção de quem fazia parte do grupo nem de quem iria dividir o quarto comigo. Gosto de surpresas.
As pessoas foram chegando e vi que conhecia a maioria. Antigos colegas de trabalho, todos aposentados como eu, conhecidos de infância e outros que eu conhecia “de vista”. Josânea e Marcus, Lurdinha , Soraia, minha prima Lídia e Armando, Gripp e Carmem Lucia, Fátima e Marcus, Dna Hilda, Paulo, e meus amigos Thayz e Carlos, que me convidaram para esse passeio gastronômico.
Dna. Hilda
Magali me comunicou que vou dividir o quarto com Dna Hilda. Eu já conheço essa senhora de outras viagens e sei que é boa companheira: alegre, destemida e boa de copo. Apesar dos oitenta anos, topa qualquer programa. Uma vez, lá em Gramado, eu não quis descer de tirolesa e ela, apesar dos oitenta anos, não arregou, se jogou na tirolesa e deslizou morro abaixo na maior alegria. Ô véia doida!!!
Chegamos no final da tarde. Viagem demorada e cansativa, mas eu dormi um pouco o que ajudou bastante. Alguns reclamaram que o motorista é muito lento. Também achei, mas é melhor assim do que viajar com algum apressado irresponsável. 
Marcas Mineiras

Deixamos as malas no hotel e partimos para a primeira loja, Marcas Mineiras, recomendação de Lourdinha que conhece bem o artesanato local. A loja 
tem coisas maravilhooooosas. Peças bordadas com perfeição, trabalhos em patchwork, toalha de banho lindíssimas, cristais, cerâmica, essências, etc....Tudo de muito bom gosto. Atrás da loja, numa grande área verde, tem uma pequena loja de “coisas de antigamente” e ao fundo uma cafeteria coberta com um grande telhado de vidro, que permite tomar o café ao ar livre protegido da chuva, mas sem perder de vista o movimento das árvores acima do telhado. Que lugar simpático! Vamos ter que voltar aqui porque hoje a cafeteria estava fechada.
Marcas Mineiras















Saímos para caminhar, mas antes fizemos um “pit stop” em outra loja com cafeteria, Empório Maria Monteiro. Aqui também a tentação dos doces nos persegue. Resisti e tomei um cafezinho com pão de queijo, mas Carlos quebrou a corrente e me deu um bombom artesanal. Cai em tentação, a carne é fraca.
Seguimos pelas ruas de pedra, entramos nas lojinhas pra admirar o artesanato, os doces, aproveitar a cordialidade dos mineiros.
Já é noite e estamos cansados. Entramos no Mandalun para encerrar o dia com alguma comida quente porque a noite está muito friiiiiia. Depois de tomar um caldo de batata baroa e um copo de vinho, me senti pronta pra cair nos braços de Morfeu.
Vamos a duas cidades importantes para quem quer fazer compras: Santa Cruz de Minas e Resende Costa. Thayz e Carlos não irão. Disse Thayz que Carlos não queria ir porque tinha um encontro com Sueli. Acho que é um código, segredinho deles.
Saímos de Tiradentes seguindo pela Estrada Real até Santa Cruz, cidadezinha pequena ao pé da Serra de São José e banhada pelo Rio das Mortes. Aqui se faz muito móvel artesanal e artesanato em ferro, bem típico dessa região. Achei os preços melhores que em Tiradentes. 
Durante o trajeto o guia foi nos contando a história da Estrada Real que liga Diamantina, em Minas, ao porto de Paraty no Estado do Rio, construída para ser rota de transporte de ouro e diamantes. Hoje virou rota turística. O guia é um homem muito magro e alto, com uma bonita voz de barítono e com um vasto conhecimento da história daquela região e dos “causos” que justificam alguns ditados e costumes. Um bom desodorante e algumas aulas de gramatica o tornariam um guia quase perfeito. Eu, Lurdinha e Soraia, que estávamos sentadas nos primeiros bancos, fomos as que mais sofremos com a “inhaca” do guia falante. E lá foi ele contando histórias e estórias de escravos, padres, igrejas, etc.:
- Porque se diz  “fulano lavou a égua” quando alguém tem um grande lucro ou uma grande satisfação?  Os donos do garimpo juntavam as pepitas e o ouro em pó em cavalos para o transporte até a capital. Os escravos pegavam o ouro em pó e esfregavam no pelo do cavalo. Depois de descarregar a carga eles iam literalmente lavar a égua e pegar o ouro roubado do dono do garimpo. Foi dessa forma que eles conseguiram, por exemplo, colocar ouro na construção da Igreja do Rosário.
- Em Tiradentes foi construída a igreja dos brancos, a igreja dos mulatos e a igreja dos pretos. A igreja dos pretos é a Nossa Senhora do Rosário. Os brancos diziam que essa era a santa de devoção dos pretos porque o Rosário é composto originalmente por três terços, cada terço com cinco mistérios. Cada mistério recorda uma parte importante da história da salvação. Enfim, levavam mais de duas horas rezando, o que era bem apropriado porque os pretos tinham mais pecados, diziam os brancos.
- Porque Santo Antonio é conhecido como o santo casamenteiro? Porque Fernando de Bulhões, nome de batismo de Santo Antonio, quando decidiu seguir a vida religiosa achou por bem doar o seu patrimônio as moças da sua cidade que não tinham dote para se casar. Sem dote, nada de casamento, era ficar pra “titia” e pronto.
- O dote era colocado em baús de madeira. Os pais iam colocando ali joias, dinheiro, objetos de arte. As amigas vigiavam entre si os baús de cada uma, com o propósito de informar para os irmãos ou primos, a existência de algum baú que estivesse “bem recheado”. De posse dessa informação o rapaz se adiantava e pedia a moça em casamento, antes que outro o fizesse. Daí a expressão “deu o golpe do baú”.
- Como distinguir de longe a diferença entre uma igreja e uma capela? A igreja tem duas ou mais torres com sino e a capela pode ter uma torre ou nenhuma.
- Qual a diferença entre sobrado e solar? Sobrado tem um comércio na parte de baixo e um lar na parte de cima. O Solar é só lar, embaixo e em cima.
- Até 1802, em Minas Gerais, os mortos eram enterrados dentro das igrejas (só os mortos tá? Os vivos não). Perto do altar ficavam os mais ricos, que contribuíam mais para igreja. No meio do caminho entre o altar e a porta ficavam os pobres. Perto da porta de entrada da igreja ficavam os mais pecadores (os pretos, as adúlteras, os assassinos, etc), para que fossem “pisados” por todos que entravam na igreja.
Essa é uma pequena amostra das curiosidades que o guia apresentou. Sempre que ele perguntava “vocês sabem a diferença entre...”, ninguém sabia responder. Um passageiro levantou e disse:
- Cambada de ignorantes, ninguém sabe nada! Vão na igreja todo dia e não sabem nada de religião! O moço aí sabe mais do que o padre.
Em determinado momento, no meio de uma das histórias, o guia falou que antigamente as pessoas não tinham o hábito de tomar banho todos os dias. Soraia não se conteve:
- Esse hábito não acabou não, tem gente que ainda hoje leva diiiiiias sem tomar banho
Ela estava falando dele, mas com certeza ele não entendeu. Mais tarde Magali disse que a mulher o havia abandonado recentemente e que talvez por isso estivesse tão magro. Tá explicado!!! A maioria dos homens é muito dependente da mulher para os afazeres domésticos. Ele deve estar lavando a própria roupa, lavando muito mal, pelo visto.
O guia foi um intervalo cultural no meio de tantas compras. Viva a cultura! Abaixo o consumismo!
Resende Costa
Chegamos a Resende Costa, almoçamos e em seguida começamos a maratona das compras. O forte do comércio aqui é arte têxtil. A maioria das lojinhas e oficinas fica concentrada numa única rua onde se encontram: redes, colchas, conjuntos americanos, almofadas, mantas, tapetes, bonecos de tecido, etc.
Já estava cansada de tanto andar, comprei rapidamente o que necessitava e voltei para o ponto de encontro. Só encontrei os maridos, a mulherada estava enfiada nas lojinhas. A tarde estava bonita e ensolarada, perfeita para uma bebida gelada. Do outro lado da rua tinha um barzinho que está vazio naquele momento. Entrei no bar e pedi uma cerveja. Sentei numa mesinha na calçada, fiquei bebericando a cerveja super gelada e tomando um solzinho. 
Algumas pessoas que trabalhavam em frente ao bar ficaram me olhando com curiosidade. Acho que não estão acostumadas a ver uma mulher, ou melhor, uma senhora bebendo sozinha numa mesa de bar.
De repente alguém grita o meu nome. É Amós, meu amigo maluquinho. Ele veio com a família e alugou um imóvel em Tiradentes. A esposa e as noras estão comprando, ele e os filhos vieram pro bar. Ficamos papeando e aguardando que as compras acabassem ou que o dinheiro acabasse, ou os dois juntos.
Retornamos a Tiradentes e próximo ao hotel encontrei meus amigos Carlos e Thayz numa sorveteria. Thayz contou que aproveitou para conhecer alguns ateliês, a cidade tem vários, e em um deles conheceu o artista. Ficou encantada com o trabalho dele. 
Resolvi acompanhá-los no sorvete e escolhi o de café. Gostei, mas sorvete não faz parte dos meus doces favoritos, nem lembro a última vez que tomei um. Ouvimos uma cantoria vindo lá da rua e saímos para a calçada para ver o que se passava. Era um grupo de jovens, alguns usando roupas folclóricas, carregando estandartes e bandeirolas. Parece uma Folia de Reis, mas não sei do que se trata.
Resolvemos voltar àquela loja linda que visitamos no primeiro dia e usufruir daquela cafeteria ao ar livre, cercada de verde. Tomamos um café e compramos um pedaço de bolo de chocolate com recheio de doce de laranja. Levamos o bolo pra comer depois porque precisamos preservar nosso apetite para o jantar. Fizemos reserva no “Tragaluz”, um bom restaurante que eu já conheço. A noite promete.


Logo que anoitece a temperatura cai bastante. Saímos para uma curta caminhada até o restaurante, que fica na mesma rua do nosso hotel. Carlos estava todo encasacado e com um gorro:
- Podem me chamar de Carlos Down (por causa do gorro).
O restaurante tem móveis de madeira e uma parede de pedra. O ambiente é muito agradável, velas na mesa numa penumbra na medida certa, e a temperatura gostosa bem diferente do frio que faz lá fora. Tem uma aparência bem tradicional, mas não é antiquado.
O restaurante estava lotado, se não tivéssemos feito a reserva não conseguiríamos comer aqui. Ficamos numa mesa bem situada, num cantinho sem muita circulação de garçons. O garçom que nos atende é bem baixinho e tem um topete grande todo arrumadinho. Carlos gosta de brincar com os garçons que nos atendem, e perguntou:
- Você faz parte de alguma dupla sertaneja? Vc tem cara de quem sabe cantar.
- Sou só garçom mesmo e canto mal "dimais".
Thayz perguntou ao garçom se os cardápios poderiam ser comprados. Era o cardápio dos pratos do festival gastronômico e tinha um formato parecido com os livrinhos de literatura de cordel. 
-Não está à venda não senhora.
Carlos olhou o garçom e falou:
-Ela costuma levar sem avisar. Hoje ela resolveu pedir, é melhor vender, viu?
O rapaz do topete riu e continuou atendendo.
Carlos pediu um Badejo com molho de cachaça, purê de banana da terra e legumes grelhados. Aliás, o molho de cachaça ele dispensou. Thayz preferiu a tradicional galinha d'angola, símbolo dessa cidade. Eu escolhi costela de Angus prensada, com vagens cozidas e nhoque de ora pro nobis. E um bom vinho pra acompanhar essa comida deliciooosa!
Já nos sentíamos mais que satisfeitos, mesmo assim nos rendemos à tentação dos doces. Pedimos duas sobremesas bem conhecidas: Queijo com Goiabada e Doce de Leite Quente com Sorvete de Queijo Minas e uma farofinha de nozes

Não é uma goiabada qualquer. Goiabada cascão prensada na castanha de caju granulada, frita na manteiga, deitada em cama  de catupiry, acompanhada de delicioso sorvete de goiaba.
Ulalá!




Logo depois do café partimos para o distrito de Bichinho, reduto de artesãos, lugarejo muito conhecido nestas paragens. Pegamos um táxi que nos levou até lá por um preço justo, em mais ou menos vinte minutos. Atravessamos toda a rua principal, onde fica concentrado o comércio de artesanato, e fomos até a parte mais alta, onde estão a igrejinha e o restaurante famoso por aqui “Tempero da Ângela”. 
Resolvemos voltar caminhando, morro abaixo, entrando nas lojas e ateliês. Como a descida era longa, combinamos com o taxista Lanusse um valor para que ele ficasse a nossa disposição. Lalá (apelido que Thayz propôs para Lanusse) ofereceu um acordo para ficar por duas horas. Topamos. Carlos ficou batendo papo com Lalá, enquanto eu e Thayz vasculhávamos as lojas, olhando mais do que comprando, é claro. Não entramos nos lugares apenas para comprar, gostamos de admirar o trabalho bem feito, a originalidade das peças, o inusitado.
Ateliê Artes Flores Zezinho
Thayz estava à procura do Ateliê de Seu Zezinho, um artista na confecção de flores de papel. Quando finalmente encontramos o local, subimos os pequenos degraus num morrinho onde fica o Ateliê do Zezinho. A casa parece uma cabana: barro, tijolo, madeira, pedra, bambu....e flores de papel.
Realmente um artista o Seu Zezinho, as flores são lindas. O trabalho dele já fez parte de várias novelas e minisséries da Globo. Pena que ele não estivesse lá, gostaríamos de conhecê-lo. Tinha saído pra almoçar e quem nos atendeu foi uma mulher, comerciante e artesã também, dona da loja que fica em frente ao Ateliê. Muito legal essa solidariedade entre os artesãos, não há competição o que é bom e inteligente também. Quanto mais sucesso o seu vizinho faz, maior o número de turistas que virão conhecer o lugar, o que é bom para todos. 
Thayz ficou encantada com as flores e comprou algumas.


Passamos por outras lojas e terminamos o passeio visitando o ateliê Oficina de Agosto. Não lembro o nome do artista que é dono desse ateliê, mas me recordo que em outra viagem que fiz aqui falaram sobre a preocupação que ele tem com o meio ambiente e por isso trabalha sempre com materiais recicláveis. Tem muita coisa interessante aqui e realmente ele trabalha com uma grande diversidade de materiais.
Voltamos para almoçar em Tiradentes. As ruas estão apinhadas de gente, a cidade tranquila que não tem cadeia por falta usuário, parece ferver nesse final de tarde. Resolvi subir uma pequena ladeira que termina em uma igrejinha. Ou será capela? Esqueci o que o guia ensinou.
Em outras vezes que aqui estive também senti vontade de subir essa rua, mas nunca sobrou tempo. A subida é íngreme e eu sem preparo físico, sofri. Olhando lá do alto, a paisagem fica ainda mais bonita nesse final de tarde. O sol vai bordando de dourado as folhas das árvores, o telhado das casas, a igreja matriz... Na encosta do morro da igrejinha muitos jovens sentados na grama fazem piquenique, namoram, fumam maconha... tudo na maior tranquilidade, combinando com o pôr do sol.
Sentei na grama e descansei um pouco. Quase sempre, na hora de levantar do chão me arrependo de ter sentado. As pernas parecem pesar trinta quilos cada uma, uma merda. Vou para o hotel me preparar para o jantar dessa noite num restaurante que eu gosto muito, o “Atrás da Matriz”.
A noite estava muito fria, perfeita para um bom jantar e um vinho pra brindar. Iniciamos a subida e Carlos não demorou muito, reclamou:
- Isso não é uma caminhada, é uma via crucis! Onde fica esse restaurante, gente?
- Atrás da matriz – respondi
- Não é o nome do restaurante que eu quero saber, é onde fica.
- O restaurante fica atrás da matriz, por isso o nome dele é Atrás da Matriz – explicou Thaiz.
Chegamos. Ufa!!!

Restaurante cheio, pra variar. Ficamos na varanda lateral, lá dentro não tem lugar, mas a temperatura está agradável aqui fora, bem diferente da última vez que estive aqui, quando foi preciso colocar um aquecedor ao lado da mesa e uma manta para cobrir as pernas.
Uma moça nos atendeu e avisou que estava apenas começando a trabalhar nessa atividade. Morava em outra cidade e estava desempregada. Portanto, caso cometesse alguma falha, pedia nossa paciência.
Bacalhau com molho de amêndoas
Bacalhau é a especialidade desse restaurante. Então, escolhemos um lombo de bacalhau frito no azeite, com molho de amêndoas e arroz crocante. Thayz comia e suspirava, saboreando o bacalhau que estava divino. Carlos, como sempre, antes de escolher o prato principal já está pensando na sobremesa.  Comentei sobre isso:
- Carlos, você é uma formiguinha pra doce, né?
- Sou. Uma vez me perguntaram: “se lhe fosse oferecido uma mulher de perna aberta e um doce, o que você comeria primeiro?”. Não tive dúvida, respondi imediatamente “a mulher e em seguida comia o doce”.
Carlos gosta de contar “causos”. Lembra-me os irmãos do meu pai, todos gostavam de contar piadas, inclusive as irmãs. Meu pai, apesar de muito discreto,  não perdia uma oportunidade de contar um "causo" engraçado.
Como é bom comer uma comida gostosa com boa apresentação, num ambiente limpo e tranquilo. Sem música alta, sem pressa e se a bebida for boa e a companhia agradável, é perfeito. O preço pode até ser salgado, mas vale a pena porque esse breve instante ficará pra sempre gravado em nossa memória.
Fazendo o caminho de retorno para o hotel, fomos encontrando os muitos turistas que curtiam a noite de sábado. Em uma rua, um grupo de pessoas assistia a três homens de aparência humilde que tocavam e cantavam para arrecadar algum dinheiro. A música era boa, eles mereciam uns trocados.
Nossa última noite aqui, amanhã sairemos pela manhã. Já sinto vontade de voltar, sempre fico com a sensação que falta conhecer alguma coisa interessante. Quem sabe? Talvez na próxima vez essa sensação de incompletude se desfaça.


10 abril, 2017

MONTEVIDEO, COLONIA DO SACRAMENTO, PUNTA DEL ESTE


Vou pela primeira vez ao Uruguai. Nunca tive muita curiosidade sobre nosso vizinho e tudo que conheço a respeito da historia desse país são duas disputas, e perdemos as duas. A final da copa de cinquenta, onde o Brasil perdeu o jogo e Uruguai foi campeão, e a derrota mais antiga, que aconteceu entre o Brasil e Argentina, ou melhor, entre portugueses e espanhóis, pela posse dessas terras. O Brasil teve sucesso, mas por pouco tempo. Os Uruguaios devem agradecer a Inglaterra que deu uma ajudinha para livrá-los dos dois vizinhos intrometidos e torna-los independentes. Acho que se tivessem que optar pela nacionalidade brasileira ou argentina, eles não teriam dúvida e cravariam um xis em “Brasil”, pois não sentem muita simpatia pelo “Hermanos” argentinos. Nós também não.

Eu, Goretti e Claudinha, passaremos doze dias por lá. Nossa última viagem juntas foi em 2005, quando fomos a Portugal e Espanha com um grupo de amigas.

16.03.2017

Chegamos a Montevideo no inicio da tarde. Ainda havia sol quando o carro passou pela avenida litorânea. Ventava bastante e o mar revolto tinha uma cor de barro. Estranhei aquela cor marrom, parecia mais suja que a Praia da Barra em Macaé. Comentei sobre isso e Goretti me disse que não era mar, era rio e que estava tão barrenta porque tinha chovido. Putz! Esqueci que a capital do Uruguai e da Argentina fica situada as margens do Rio da Plata. Só que em Buenos Aires não tem ondas como aqui, certamente porque fica mais a oeste e longe do oceano. 

A orla é bem bonita, belas construções e um calçadão que eles chamam de Rambla acompanha toda a extensão da praia. Bastante gente caminhando pelo calçadão, apesar do frio.

O bairro onde ficaremos hospedadas é o Pocitos que, parece-me, é um dos melhores bairros próximos ao centro da cidade. O apartamento que alugamos é agradável, numa rua sossegada muito arborizada (depois descobri que todas as ruas são arborizadas) poucos prédios e muitas casas.

Deixamos as malas e saímos para uma caminhada pelo centro da cidade. Vou ter que correr atrás do prejuízo pra caminhar com essas duas companheiras. Goretti sempre gostou de andar muito e agora além de caminhar também corre. Claudia também corre. Eu não corro nem faço caminhadas. Tô ferrada!

O comércio no centro é bem popular, não vi lojas de grife por aqui. Uma coisa interessante são os sapatos que enchem as vitrines: são horríveis. Lembram muito aqueles calçados “cavalo de aço” que usávamos no Brasil na década de setenta. A maioria das mulheres que encontramos usam tênis ou esses calçados enormes. Um horror!

Mercado de La Abundância
Paramos no Mercado de La Abundância para tomarmos cerveja e comermos alguma coisa. É um prédio bem antigo que merecia estar mais bem conservado. No andar superior funcionam dois ou três restaurantes, não lembro exatamente quantos, e a escola de tangos Joven Tango. O lugar estava vazio e pensei que não seríamos atendidos, pois já era um pouco tarde para o almoço. Fomos atendidos e pedimos cerveja e uma parrilha, prato típico daqui. Fiquei meio decepcionada com o prato, esperava algo parecido com nosso churrasco, mas nenhuma semelhança. Pedi uma farofa para acompanhar, porque algumas carnes eram bem gordurosas, e trouxeram-me uma porção de farinha. Pelo visto farofa é realmente coisa de brasileiro. Claudinha me apresentou a mistura de vinho branco e espumante que os locais chamam de medio y  medio. Um pouco doce, mas geladinha é bem refrescante. Gostei.

De volta ao apartamento compramos pão, queijo, vinho e outras coisinhas pra comer em casa. Vamos ficar em casa essa primeira noite e descansar. Muito vento e frio, combinação que detesto. Só falta chover. Acho que a roupa que eu trouxe tá mais pra verão que inverno, afinal ainda é março.

17.03.2017

O dia amanheceu bonito, ensolarado. Goretti se animou e colocou um shortinho. Saímos para uma caminhada pela Rambla. O piso do calçadão é de granito, um luxo! Parece que essa pedra é abundante e barata por aqui. Um vento gelado estava nos esperando e nos expulsou da praia pouco tempo depois. Já vi que não dá pra confiar que havendo sol haverá calor, porque o vento frio daqui não é mole não. 

Museu do Carnaval
Fomos para o Porto, onde visitamos o Museu do Carnaval. A folia aqui dura 50 dias, começa no início de janeiro e vai até início de março. É isso mesmo, passou o Natal e já começa o ziriguidum. São desfiles de vários grupos que representam os diversos ritmos que fazem parte da cultura do país, mas tem samba também. Parece-me que o candombe é o mais popular. Os eventos mais importantes ocorrem no Teatro de Verano, por onde passamos de táxi agora há pouco. Dá pra ver que é um parque com muito verde e uma concha acústica onde, imagino, acontecem as apresentações. 


Bar do Museu do Carnaval
Quando saímos do Museu os viajantes de um grande navio do MSC acabavam de desembarcar e vários carros e vans ofereciam seus serviços. Um coroa me abordou e perguntou se queríamos ir a Punta del Este. Disse que já tínhamos ido e segui em frente. Goretti resolveu voltar e conversar com o homem. Papo vai, papo vem e Goretti fechou com ele um tour pela cidade. Pretendíamos fazer o passeio no ônibus turístico, mas a proposta dele foi muito melhor. Quando sentei ao lado dele no carro ele me olhou e disse:
- Usted no me gusta...
- É porque elas já foram a Punta, só eu que ainda não fui – respondi.
Desculpa esfarrapada. 

Hotel Cassino Carrasco
Começou nos levando ao Hotel Cassino Carrasco, no bairro mais chique de Montevideo. O prédio é imponente e elegante. Nosso guia Carlos falou que o prédio ficou muitos anos fechado e foi restaurado mantendo o estilo original. Um dos filhos dele, que é artista plástico, trabalhou na restauração e nas colunas restauradas por ele deixou uma marca com o nome do pai. Passamos pelo restaurante, pelo cassino, pelos jardins e piscina, o SPA e por último o banheiro que o guia disse que é maaaaaravilhoso. É lindo mesmo.
Hotel Cassino Carrasco

Seguimos em frente, percorrendo algumas ruas do bairro Carrasco, onde moram os ricos bem nascidos. Todas as casas com belos jardins e sem muros. Somente as casas que tem cachorros são obrigadas a construírem cerca em volta do terreno.

Continuamos até o Jardim Japonês, que é pequeno, mas bem bonito, com aquela atmosfera de paz e relaxamento que todo jardim japonês tem. Esse jardim foi um presente do governo do Japão e tem uma plaquinha de inauguração com o nome da imperatriz japonesa que o inaugurou.











Depois paramos no monumento La Carreta, no Estádio Centenário e, por fim, no Mercado Agrícola, destino final do nosso passeio. O Mercado não é grande, mas é bem interessante, muito limpo e organizado. Tomamos umas cervejas e comemos uma picada (uma tábua de frios muito boa) na Cervejaria Mastra e depois jantamos no Restaurante Pellicer que também fica no mercado. Gostei desse lugar.
Estádio Centenário
Monumento La Carreta



                                                                                            

Choperia Mastra

     

18.03.2017

Hoje vamos almoçar no Mercado do Porto e no final da tarde as meninas vão participar de uma corrida.

No caminho para o ponto de ônibus a brisa leve foi virando vento. Goretti falou:

- Por aqui sempre tem esse ventinho gostoso.
- Gostoso? Se tá delirando!

Eu e Claudia rimos. Só uma mulher apaixonada acharia esse vento gostoso. Nesse caso, apaixonada pela cidade.

Portal de la Ciudadela
Caminhamos um pouco pela cidade velha, que começa por um grande portal ao lado da Praça da Independência, o Portal de la Ciudadela. Essa praça é bem grande e cercada de prédios, sendo que um deles chama mais a atenção. É o Palácio Salvo, o prédio mais alto de Montevideo, que tem uma mistura de estilos que eu, leiga, não consigo identificar. É bem bonito.

Seguimos caminhando pela Calle Sarandi, uma rua de pedestre ladeada por prédios antigos, lojinhas, casas de chá, livrarias, etc.  a principal via da Ciudad Vieja, e logo chegamos ao Mercado do Porto. São vários restaurantes dentro e fora do Mercado. Acho que seria gostoso ficar aqui fora já que está uma temperatura agradável, mas acabamos optando por um restaurante no interior. O lugar está lotado, certamente passageiros de algum navio atracado ali no porto. 

Palácio Salvo
Comemos muito. Voltamos pra casa e desisti de assistir à largada da corrida, a preguiça era grande. Estiquei-me em frente à TV enquanto as companheiras se preparam para a corrida. Não sei como vão conseguir correr depois daquele almoço.

Mais tarde ouvi a campainha tocar e acordei assustada. Fui lá embaixo abrir a porta e quando saí do elevador olhei para o lado e vi uma porta com o número 101, achei que estava no primeiro andar e voltei pra dentro do elevador. De repente ouvi alguém me chamando, olhei pra frente e vi Claudinha e Goretti morrendo de rir, sem entender porque saí do elevador e tornei a entrar nele. Saí novamente e abri a porta pras duas que estão me zoando até agora.

O elevador desse prédio é um caso a parte. São duas portas, sendo uma de grade de correr o que lembra aqueles elevadores antigos. Se não fecharmos as duas portas rapidamente ele dispara um apito estridente que toca até que se fechem as duas portas. E o elevador dá um solavanco que sempre assusta quando estamos distraídas.

Não fizemos reserva para o Fun Fun, mas resolvemos arriscar. O Fun Fun é um bar tradicional de Montevideo, o que eles costumam chamar por aqui de tangueria, e tem mais de cem anos. Lembra um pouco nossos bares da Lapa, no Rio de Janeiro.  São dez horas e já não tem mais lugar. Que pena! Quando a porta se abre dá pra ver que está bem animado. Ficamos ali, paradas, decepcionadas, até que um cara abriu a porta e disse que tinha uma mesa, mas que fica num local de passagem. Pronto! Aceitamos imediatamente.

Não é muito grande e está lotado, mas não parece sufocante ou desconfortável. Ficamos bem perto do pequeno palco onde um casal dança um tango. E dançam muito bem. Não sei como conseguem fazer tantas piruetas dentro de um espaço tão reduzido. Algumas vezes acho que uma gordinha que está próxima ao palco será atingida por uma daquelas pernadas dos dançarinos. Mas tudo correu bem e apresentação foi ótiiiima!


As paredes são cheias de fotografias, algumas bem antigas, camisetas de times e flâmulas. A foto mais importante, imagino, seja a de Carlos Gardel, autografada pelo próprio. Estou adorando esse lugar.
Depois dos dançarinos entra o cantor Nelson Pino,  pinta de cantor de serestas. Não deu outra, atacou de boleros, um pouco de tango e “otras cositas más”. Depois dois senhores tocaram tango instrumental, um violão e um bandoneón. Perfeito. Entre uma apresentação e outra, tomamos cerveja e Uvita, uma bebida produzida pelo próprio bar. É boa, mas um pouco licorosa, não consigo tomar mais que um copo.

Por último uma banda excelente, músicos jovens, que tocam vários ritmos, inclusive o candombe que é tão popular aqui e lembra bastante a salsa caribenha. E como há muitos brasileiros na casa, eles tocam muito samba e muita gente cai no samba. Nós também.

19.03.2017

Batata no Palito


Começamos o dia pela Feira de Tristan Narvaja. Já fui a muitas feiras de antiguidade em vários lugares diferentes. Vejamos o que essa tem de diferente. 

A feira se espalha por várias ruas, é muito grande. Não se pode dizer que é exatamente uma feira de antiguidades. Tem de tudo: frutas, verduras, queijos, roupas, plantas, livros, coisas inúteis e....antiguidades. Sabe aquelas coisas que você não consegue imaginar pra que servem? Tipo bonequinhas de plástico faltando um braço, uma perna, até a cabeça falta em algumas. Andamos rua acima, rua abaixo, comemos arepa, batata no palito, empanadas. Ufa! É cansativo, mas interessante. Quem mora por aqui deve aproveitar bem essa feira porque se encontra de tudo um pouco.

Escolhemos almoçar no restaurante La Pasiva, que fica na movimentada Avenida 18 de julho, dentro de uma bela praça. As mesas ao ar livre são um convite irrecusável, um bom almoço e um pouco de sol pra aquecer a alma.

La Passiva
Logo desistimos do sol porque o vento frio nos expulsou. Fomos para o interior do restaurante pedimos cerveja e o Chivitos, prato tradicional aqui no Uruguai. O prato chegou e me assustei com o tamanho, embora Goretti e Claudinha já tivessem falado sobre isso. Comi a metade do prato porque, além de grande, não me agradou muito. Tem muita batata frita e não gosto dessa batata congelada, só se não houver melhor opção. As companheiras disseram que o restaurante Chivitos Lo de Pepe serve um prato mais tradicional e é bem gostoso.

Dormi o resto da tarde. Amanhã sairemos cedo para Colônia do Sacramento e quero estar descansada.

20.03.2017        COLÔNIA DEL SACRAMENTO


Pontualmente chega nosso guia Carlos, que a essa altura já chamávamos de Carlitos. Percebe-se que ele é um homem afetuoso pela forma que fala dos filhos e da família da esposa, que por sinal é brasileira de Natal. Ele vai sempre ao Brasil e conhece várias cidades turísticas brasileiras. Odeia Búzios “porque las playas son muy pequeñas y  hay un montón de argentinos”. Ah, essa velha rivalidade.

No caminho vamos conversando um pouco sobre política, sobre Mujica. Carlitos não gostou do governo dele, embora reconheça que ele projetou para o mundo a imagem do Uruguai como um país progressista, aberto e tolerante. Porém a classe média se sente muito prejudicada e acha que os benefícios sociais para os mais pobres foram realizados com o sacrifício da classe média e os mais ricos foram poupados. 

Nosso guia insiste em nos mostrar locais de locação de filmes famosos de Hollywood que foram realizadas no Uruguai. Entrou num lugarejo para nos mostrar um antigo hotel que está abandonado há muitos anos e que foi locação de um filme de Hitchcock. A serie americana Miami Vice e o filme Ensaio Sobre a Cegueira também tem locações em Montevideo e Punta del Este. 

Colônia Nueva Helvécia
Paramos para conhecer a Colônia Suíça Nueva Helvécia, um pequeno povoado de imigrantes suíços que se estabeleceram aqui em meados do século dezenove. As construções conservam o estilo das casas suíças e todas as casas exibem um escudo, uma espécie de brasão, que identifica o local da Suíça de onde veio aquela família. Compramos alguns chocolates, delicioooosos, e seguimos em frente. 

Coleção de Lápis
Paramos em um lugar chamado de Granja Arenas onde existe um museu com várias coleções inusitadas: lápis, chaveiros, caixa de fósforos, vidros de perfume, bonés. A de lápis é a maior e está no Guiness Book (tem um certificado lá que comprova). O colecionador é o dono da granja, um senhor bem simpático. Nunca colecionei nada. Já tentei, mas logo enjoo e me desfaço de tudo. Jamais teria paciência para uma coleção dessas.
Ao lado do museu tem um restaurante e uma loja de queijos, doces, mel, etc. Tudo fabricado ali na granja e parece ser de ótima qualidade.

Enfim chegamos a Colônia del Sacramento. Alguém comentou que ela lembra um pouco a cidade de Parati, e é verdade. Pelo menos a parte do casario colonial.  

É a cidade mais antiga do Uruguai e foi fundada por portugueses, as margens do Rio da Plata. Do outro lado do rio fica Buenos Aires, na Argentina, fundada por espanhóis. É possível, do lado de cá, ver os edifícios da cidade argentina. Uns trinta minutos de balsa separam as duas cidade. Imagine as disputas entre espanhóis e portugueses pela posse dessa cidade? Foram várias tentativas e o Brasil também dominou essa área, mas por pouco tempo. 

A cidade ainda conserva parte das muralhas que protegiam a cidade, o Portão da Cidadela e os edifícios mais importantes daquela época. É um lugar bucólico, bom pra passear com calma, sentar à mesa dos inúmeros barzinhos e restaurantes, sob a sombra das árvores. Nas noites de verão deve ser bem gostoso andar pela cidade e ficar próximo ao rio, aproveitando a brisa.

Escolhemos o restaurante Mesón de La Plaza para nosso almoço. Sentamos numa área interna, um jardim de inverno muito agradável. Nosso guia logo se acomodou na nossa mesa. Pensei com meus botões “esse guia tá esperando que paguemos o almoço dele”. Não deu outra, na hora da conta ele nem se mexeu. Será que é esse o padrão aqui? Nunca vi isso em outro lugar.

Circulamos pela parte mais nova da cidade, que é bem bonita, e paramos no centro para Goretti resolver um problema do cartão de crédito, no Banco Santander. 














































No início da noite chegamos em casa e não saímos para jantar. Goretti fez uma sopa gostosa, acompanhada do pão delicioso que comemos toda manhã, e de um bom vinho uruguaio.
                      Huuuum! A vida é boa. 

21.03.2017                PUNTA DEL ESTE
A Mão do Afogado
Ainda é cedo e já estamos na estrada, rumo a Punta del Este, e faremos algumas paradas pelo caminho. 

Primeira parada: Atlântida. Essa cidade faz parte da Costa de Oro que serve de destino de férias para os uruguaios. Fica bem perto de Montevideo, uns quarenta minutos mais ou menos. Paramos primeiro para conhecer a casa El Aguila, uma construção de pedra com o formato de uma águia com a cabeça voltada para o mar que fica lá embaixo. Existem algumas lendas sobre essa casa ser um centro de energia cósmica, ou ter sido refúgio de bandidos e de nazistas. 

El Aguila

Seguimos pela orla que tem belas casas, a maioria fechada porque hoje é terça-feira e o verão terminou ontem. Passamos por um hotel antigo construído no formato de navio. Muito interessante.

Segunda Parada: Piriápolis. Outro balneário famoso por aqui. Subimos um morro, o Cerro de San Antonio, para ver a cidade lá de cima. É possível subir de teleférico, mas “ a mí no me gusta”, prefiro o carro. Pensei que não veria nenhum morro por aqui, Uruguai é uma grande planície.

Descemos para a orla. A Rambla acompanha toda a praia, local de caminhadas e lazer. A cidade parece muito agradável. Paramos em frente ao Argentino Hotel, que também é Cassino, para conhecermos a praia. É um belíssimo hotel, um estilo parecido com o nosso hotel Copacabana Palace. A orla daqui faz lembrar a Ocean Drive de Miami. Carlito falou que é proposital, as construções foram realizadas no mesmo estilo dos hotéis da Ocean Drive. A praia, que ainda é rio, vira mar alguns quilômetros à frente, mas já está mais azul aqui do que em Montevideo. 

Carlito informa que vários episódios de Miami Vice foram filmados aqui porque essa orla parece com a de Havana.  Como Fidel não permitiria aos Estados Unidos filmar nada em Cuba, optaram por filmar aqui. Estou começando a achar que é caô desse coroa, vou pesquisar no google.

No caminho rumo a Punta del Este, paramos num belvedere onde fica uma estátua de Iemanjá. A nossa Iemanjá? Sim, ela mesmo.  E essa não é a única estátua dela no Uruguai. Pelo visto o número de devotos não é tão pequeno.

Nesse local onde está a estátua, tem uma trilha que passa por uma caverna e desce até a praia. Goretti resolveu descer e nós ficamos aqui em cima esperando por ela. E nada de Goretti voltar, já estamos estranhando a demora. De repente ouvimos ela gritar:

- Mandem uma carreta pra buscar minha língua!!! Meu Deus, por que não vim de short? 

Ela chega esbaforida de calor e cansaço pelo esforço da subida. Está acostumada a correr em piso plano, morro acima é outra história.

Casapueblo
Terceira parada: Casapueblo. Subimos até o mirante Punta Ballena de onde se tem uma vista da Casapueblo e de Punta del Este. A vista é linda. Essa é uma casa de verão arquitetada por Carlos Paez Vilaró, um artista plástico uruguaio que faleceu recentemente. Ele morou aqui até sua morte e parte da casa não é acessível aos turistas, pois a família do artista ainda reside aqui. O estilo lembra as casas gregas que eu vi em Santorini e Mikonos. Atualmente não é só uma casa, pois tem uma galeria de arte, museu e um hotel. Não viemos no melhor horário porque tem uma chuva ameaçando cair e não queremos arriscar deixar para a tarde. A melhor hora é no final da tarde, para ver o pôr do sol. Goretti e Claudia já vieram aqui assistir o pôr do sol quando o Vilaró ainda era vivo. Disseram que enquanto o sol sumia, tocavam o Concierto de Aranjuez e era lido um texto de Vilaró em que ele agradece ao sol pela sua existência e se despede de mais um dia.  O artista estava lá nesse momento. 

Emocionante!!!





Chegamos em Punta del Este pela orla, que tem casas ma-ra-vi-lho-sas, e depois prédios, como em toda cidade grande e moderna. Fomos logo almoçar porque a fome já tinha chegado.
Escolhemos o Restaurante Soho, na orla. Decidimos ficar na área externa e um ventinho frio me obrigou a puxar o cachecol e enrolar o pescoço, local onde sou mais sensível ao frio. Deixei de lado as carnes, preferência nacional, e optei pelo pescado. Não me arrependi, estava delicioso, o melhor prato que comi até agora. Carlito ficou na nossa mesa e não coçou o bolso, of course. Tanta atenção não sai de graça.

Continuamos pela orla. Passamos pelo monumento que é o principal cartão postal da cidade e fica na Praia Brava: a Mão do Afogado. São enormes dedos que saem da areia e que representam o homem surgindo na natureza. Pensei em tirar uma foto mas o local é muito concorrido, desisti.

Depois seguimos para a Ponte Ondulada que passa por um pequeno riacho. A ponte parece uma grande letra “M” e é uma delícia passar sobre ela, todas as pontes deveriam ser assim, como um tobogã. Melhor não, pode ser perigoso.

No retorno para Montevideo passamos por locais as margens da estrada onde vimos quiosques no meio do bosque que são preparados para as famílias fazerem churrascos ou piqueniques. Muito legal!
Nosso Guia Carlitos

Paramos no bairro Beverly para visitarmos o Museu Rally. O bairro parece um grande jardim com muitas flores e árvores, onde a maioria das casas são enormes e não tem muros. O museu é todo branco e tem uma arquitetura moderna. Fica situado em uma pequena elevação no meio de um grande gramado, um lugar calmo e relaxante. As obras expostas são na maioria de artistas latinos, sendo o mais importante deles o espanhol Salvador Dali. Vi um quadro do brasileiro Juarez Machado que também faz parte do acervo do museu. Em um pátio interno há várias esculturas, inclusive de Botero, o artista que adorava retratar os gordinhos.


     

Quando chegamos em casa já era noite. Eu e Goretti descemos da Van e fomos conversando, distraidamente, sem nos despedirmos direito de Carlitos. Claudia disse que ele ficou com uma cara decepcionada sem entender porque saímos sem dar um beijo de despedida. Nós pretendemos fazer com ele um passeio a uma vinícola, mas ainda não decidimos. Bateu um remorso, ele foi sempre tão atencioso. Tá certo que a conta dele no restaurante tivemos que pagar, é péssimo fotógrafo, as vezes arranca o telefone da nossa mão para bater as fotos, mas quando olha as fotos que tirou, exclama: liiiindas! Foi mal, detesto ser indelicada com alguém que não merece, precisamos nos redimir.

22.03.2017

Toda noite é uma comilança: salaminho, queijos, muito pão, chocolate, azeitona, amendoim, batata chips e vinho. Na manhã seguinte Claudia faz um suco verde poderoso, para limpar toda a comilança da véspera. Duvido que o suco dê conta de eliminar tantas calorias. Elas ainda vão correr, mas no meu caso sei exatamente onde essas gordices vão se instalar.

O dia hoje está um pouco mais quente e aproveitamos para caminhar pela rambla.  Um pouco de exercício é necessário e o local é muito agradável. Por via das dúvidas, peguei um casaquinho de nylon que Goretti usa pra correr. Vai que venta? Velhinhas são sensíveis as mudanças bruscas de temperatura, tenho que me cuidar.

Uma coisa que me impressionou é o hábito das pessoas, principalmente os homens, andarem o tempo todo atracadas com uma garrafa térmica em baixo do braço e uma cuia na mão. Que coisa desconfortável!

Gorreti, apaixonada pelo Uruguai, já está querendo aderir ao costume dos locais.


Fonte das Fechaduras
Almoçamos num restaurante ao lado da Fonte das Fechaduras. Um casal dança um tango na calçada do restaurante, ao lado da estátua de Gardel que está sentado, olhando o movimento da rua. Aproveito para tirar uma foto ao lado dele, desse cantor disputado por argentinos e uruguaios.

Eu e Carlos Gardel
Quando chegamos em casa Claudinha perguntou se ainda tinha sopa. Olhamos pra ela admirados porque ela tinha almoçado muiiiiito bem. Pronto, ela se espantou e desistiu da sopa. Disse que fizemos bulling com ela.

23.03.2017 

Vamos ao Bairro Judeu, onde o comércio é bom e barato, segundo Carlitos. Na primeira loja que entramos já fizemos a festa. Aliás, se continuarmos nesse ritmo, teremos problemas com excesso de bagagem. Não podemos ver uma loja de objetos para casa, principalmente cozinha, que já vamos entrando. Já comprei talher, pendurador  de chaves, potinhos, tempero, queijo, etc. Já ganhei um recipiente com misturador para molho, presente de Goretti e Claudinha. E minha cozinha é pequena, não tem mais espaço disponível.

Vamos almoçar no Mercado Agrícola, que fica bem perto do Bairro Judeu. Antes vou procurar alfajor para algumas amigas e Goretti vai comprar um conjunto de tabuas e facas pra um dos filhos. Escolhemos o mesmo restaurante que almoçamos quando viemos anteriormente, o Pellicer Parrilla Gourmet. Pedi um Cordero Pellicer. Ele vem desossado, grelhado com limão, orégano e mostarda de Dijon, acompanhado de uma salada verde com abóbora. Uma delícia!

À noite fomos ao restaurante Tabaré para beber e assistir ao jogo do Brasil e Uruguai. Goretti estava torcendo pelo Uruguai, mas deu 4 x 1 para o Brasil. Gostamos do bar e vamos voltar no sábado para assistir uma roda de samba.

24.03.2017

Acordei gripada, com uma moleeeeza. Só saí de casa para almoçar porque a fome não dá trégua, apesar da gripe.

Pesei-me e levei um susto, engordei dois quilos. Ô miséria! Pra perder um mísero quilo tenho que fazer um mês de sacrifício, mas pra ganhar basta relaxar uma semana. Muito pão, muito queijo, carne gorda e cerveja. Quarteto mortal!

25.03.2017 

Continuo derrubada. Nariz entupido, respiração difícil o que acaba me deixando cansada.

Lá da cozinha vem o som que Claudinha põe pra tocar toda manhã. Suco detox, ovos cozidos, pão quentinho com manteiga, queijo, café expresso e música. Tem uma música que ouvimos todos os dias: Trem Bala com uma batida eletrônica. E outra que estamos sempre cantando: o tango “Por uma cabeza”. Como não sabemos a letra cantamos a música desse jeito:

- Ah! Punta carretas, ah punta carretas, punta carretas, punta....

Coisa de gente doida.

Fomos caminhando até o shopping Punta Carretas, que fica num belo prédio que já foi um presídio. Será que o Brasil algum dia poderá prescindir de um presídio? A nossa carência é tão grande nessa área que parece impossível que isso aconteça. Aqui é mole! Praticamente não há violência. 

Corrida Contra o Câncer de Mama
Hoje é dia de corrida e as meninas vão participar. É contra o câncer de mama e somente mulheres correrão. Gostaria de ir assistir a largada, mas preciso descansar pra sair à noite, a duas coisas o corpinho não aguenta.

Quando chegaram da corrida, guardaram as medalhas e foram descansar um pouco.

Mais tarde fomos para o Tabaré. O bar ficou cheio rapidamente. O grupo que vai tocar está afinando os instrumentos e passando o som faz um tempão, já estou ficando impaciente. 

Enfim começaram. O grupo não é lá nenhuma maravilha, mas dá pro gasto. E é samba, o ritmo contagia. Goretti, que não havia comido quase nada, bebeu umas doses a mais de vinho. Lá pelas tantas ela esbarrou no copo e mandou o vinho todo pra mesa vizinha onde estavam três casais de uruguaios. Um cidadão se molhou mais que os outros e a esposa dele não gostou. Teve um ataque de ciúmes e disse que Goretti estava dando em cima do cidadão. Bobagem, ela só estava dançando. Acho que a esposa ciumenta também já tinha bebido demais e, nesse estágio começam a perder a noção de perigo. De repente  ela começa a apontar um garfo e uma faca pra Goretti, que estava de costas pra ela. Um dos homens que estavam a mesa tirou o talher da mão dela. Falei pra Claudinha:

- Isso não vai acabar bem, melhor tirar o time de campo.


Bar Tabaré

Claudinha concordou e convencemos Goretti a ir embora. 

26.03.2017

Acordamos bem tarde e ficamos em casa vendo filme até a hora do almoço. 

Escolhemos o restaurante Chivitos Lo de Pepe, que fica próximo da nossa casa. Não arrisquei pedir Chivito, o prato mais tradicional desse restaurante. Esse prato parece mais um X-tudo, tem que estar com muita fome. Comi um entrecôte que estava delicioso, bem macio. Acho que foi a melhor carne que comi aqui no Uruguai. 

De volta a casa vamos encarar a dura tarefa de arrumar a mala e acomodar toda aquela quinquilharia que acumulamos nesses onze dias.
Chivitos

Nosso voo amanhã sai as 05:50 h, vamos ter que madrugar e sair de casa as 03:00 h. Chegaremos cedo em Macaé, início da tarde, vale o sacrifício. Preferi dormir à tarde, porque a noite não vai dar pra mim, dificilmente consigo dormir antes de 01:00 h.

27.03.2017

Saímos para o aeroporto as 03:00 h. A noite estava agradável, sem vento e sem frio. Algumas pessoas faziam ginástica numa academia ao ar livre. Fomos pela orla nos despedindo da cidade. 

O Uruguai não é nada provinciano, como muitos imaginam. E é até bem progressista, se considerarmos que o aborto é legalizado, a maconha é liberada com algumas regras específicas, foi o segundo país da América do Sul a legalizar o casamento gay, etc. 

As pessoas costumam ser cordiais e alegres, mas não são barulhentos como nós brasileiros.

Vi pouquíssimas igrejas por aqui, o que reforça uma desconfiança que tenho de que os países menos religiosos são também os mais pacíficos do mundo. 

Gostaria de ter passado mais tempo em Colônia do Sacramento e Punta del Este. Talvez volte algum dia, quem sabe? Goretti e Claudia com certeza voltarão.

O que está escrito em um guardanapo do Choperia Mastra resume bem o que percebi do Uruguai nesses poucos dias que aqui estive.



"URUGUAY, um país pequeño de grandes ideales"