Nossa amiga Sônia Araújo nos convidou para assistir ao Festival de Dança de Joinville e, aproveitando da sua boa vontade, passar uma temporada em sua casa na cidade do príncipe de Joinville, príncipe francês que jamais pisou nessas terras. Coisas desse nosso país tupiniquim que adora homenagear ricos e famosos.
|
AMIGAS PARA SEMPRE |
Váldea, Jozelene e eu, ficaremos 13 dias por lá. Penso que são muitos dias na casa de alguém. Fico pensando naquela história de que visita é igual a peixe – passou de dois dias, fede. Valdea diz que não tem problema, Sônia gosta da casa cheia de visitas.
Seja o que Deus quiser.
19.07.2016
Esperávamos algum atraso no aeroporto porque desde ontem os aeroportos estão operando no mesmo padrão adotado para os voos internacionais, em função da proximidade com a Olimpíada que começa no início do próximo mês. Não tivemos problema, voo sem atraso, sem turbulência, tudo ótimo.
Chegamos a Joinville no finalzinho da tarde. Sônia e um frio de uns 15° nos aguardavam no aeroporto. Relutei em trazer um casacão, mas de cara vi que valeu o sacrifício.
Estive aqui há uns dezoito anos mais ou menos e já não me lembro de muita coisa. Recordo-me de um passeio a São Francisco do Sul, do Parque Zoobotânico e da Rua das Palmeiras onde marquei encontro com minha amiga Berenice, companheira do tempo em que trabalhamos no Unibanco em Macaé. Se fui a outro lugar não me lembro.
As crianças - Gabriel, Alex e Micheli - agora são adultos. E as crianças de agora são os gêmeos Pietro e Davi, filhos de Micheli e Dudu filho de Alex, os netos de Sônia.
Essa cidade tem algumas características que me fazem lembrar um pouco o noroeste do Paraná - Londrina, Cambé, Arapongas - onde vive parte da minha família: o sotaque, algumas casas antigas de madeira, calçadas largas, pedras brita no quintal para impedir o mato que cresce muito rápido nessa região, muita gente de pele branquinha. E Joinville tem um jeito de cidade do interior, mesmo sendo uma cidade industrial com mais de quinhentos mil habitantes.
20.07.2016
|
Restaurante Virado no Alho |
Descansadas da viagem, acordamos com toda corda, cheias de fome. Almoçamos no restaurante Virado no Alho, pertinho da casa de Sônia, e passamos a tarde colocando o papo em dia.
A noite chegou e a friagem também, acho que está uns 11° lá fora. Estou com medo do chuveiro, vou deixar o banho pra quando voltar do festival. Enfiei o casacão e parti.
O espetáculo acontece na arena do Centreventos Cau Hansen que tem capacidade para receber seis mil pessoas. Acho que está quase lotado nessa noite. Hoje o espetáculo é balé clássico apresentado pela São Paulo Companhia de Dança. É um grupo bastante conceituado, um dos melhores da América Latina. Foram três peças com música de Mozart (suíte para dois pianos) e do russo Rachmaninoff, músicas que meu irmão gosta e que ouvi muito quando criança. As músicas da terceira peça são desconhecidas para mim. O balé foi impecável, gostei bastante.
Tá mais frio agora. Uma vontadezinha de cancelar o banho....
21.07.2016
Acordamos cedo para um passeio pela Estrada Bonita. Veremos se ela faz jus ao nome.
|
Estrada Bonita |
E vamos seguindo para o norte da cidade. Pequenas propriedades rurais, muito pasto verdinho, algumas construções com características germânicas, algumas araucárias e muiiiiito pé de manacá da serra. É bonita mesmo essa estrada. Decidimos que Sônia “precisa” de um manacá no seu quintal. Acho que ela não gostou muito, vai ter que molhar, varrer folha...
Paramos primeiro num local próximo a um grande restaurante que hoje está fechado. Deve abrir nos finais de semana e feriados. Uma ponte coberta por um telhado atravessa o rio Bonito cujo leito é coberto de pedras. Um grupo de crianças, provavelmente de alguma escola, atravessa a ponte fazendo algazarra. Talvez façam um piquenique, o lugar é propício.
|
Ponte Tecilio Bilau (olha o sobrenome!!!) |
|
Pesque e Pague |
Seguimos viagem e paramos numa pequena propriedade que possui um pesque-pague. A família proprietária também fabrica doces e biscoitos e prepara os peixes caso os pescadores queiram comê-los no local. O rapaz que limpa os peixes, provavelmente filho da senhora que nos atendeu na lojinha dos doces, nos mostrou uma tilápia grandona que uma menina havia acabado de pescar e que ele vai preparar para o almoço.
Compramos alguns doces e seguimos em frente. A próxima parada foi num ponto turístico mais estruturado, com comércio de produtos coloniais caseiros, artesanato, pães, biscoitos, geleias, queijo e mais uma porção de coisinhas que contribuem para o aumento do nosso abdome e da circunferência da nossa cintura. Para passar da loja para o interior da propriedade tem que pagar, mas é baratinho. Começamos pelo que mais nos interessa, a cozinha com um grande tacho de melado. Na casa de Sônia come-se melado todos os dias no café da manhã. A mulher que nos acompanhava na visita explicou como funciona o processo de fabricação. Depois passamos por um pequeno museu de antiguidades, coisas antigas que se usavam na roça, alguns animais e uma roda d’água.
A senhora Kersten, proprietária do lugar, nos disse que já foram entrevistados pelo Globo Rural. Isso deve ter impulsionado esse pequeno negócio.
22.07.2016
|
Legumes para a colheita |
Hoje vamos à festa do colono em Pomerode, a cidade mais alemã do Brasil. É uma cidadezinha pequena não muito distante daqui. O Sesc organiza esses passeios com um precinho bem legal, principalmente agora que já sou “terceira idade” e pago mais barato. Snif, snif....preferia pagar mais caro.
No ônibus encontramos uma turma de amigas de Sônia: Regina, Lourdes, Nilcea, Sonia. Turma alegre e bem disposta.
O pavilhão onde a festa acontece é todo decorado com folhagens e no alto muitos legumes e frutas pendurados. No final da festa é dada a largada para a “colheita” e o povo avança nos legumes e frutas, arranca e leva para casa o que conseguir pegar. Tô de olho numa mandioca gigante e imaginando comê-la no café da manhã com uma manteiguinha por cima, ou melado que também deve ficar gostoso.
No interior do pavilhão mesas compridas com bancos de madeira e ao fundo o palco e uma pista de dança com tamanho razoável.
Tomamos um café e dividimos uma fatia de bolo gigante. Achei estranho aquele tamanho, todos enormes, mas tinha gente devorando o pedaço inteiro sozinho.
Uma banda tipo fanfarra seguida por um grupo de locais, todos paramentados com suas roupas típicas da cultura alemã, entraram tocando e cantando música alemã. Chegando ao palco deram início a festa. Eu e Valdea resolvemos estrear a pista de dança e dançamos juntas. Na falta de um parceiro vamos de parceira mesmo. É o que há de mais “muderno”, diria uma amiga minha.
|
Portal de Pomerode |
Na parte externa do pavilhão mesas e cadeiras onde serão servidas as refeições, para quem optar por comer aqui. Nós decidimos sair pra conhecer o centro da cidade e almoçar por lá. Pegamos o táxi em frente e rodamos uns 500 metros até a pracinha central. Dava pra vir a pé tranquilamente. A cidade é bem bucólica, desses lugares onde os dias parecem passar mais devagar. Tudo limpinho, bem cuidado, florido. Muitas casas bonitas. Valdea e Lene foram tirando fotos e “comprando” as casas. Compraram muiiito. Valdea deve ter gasto todo o seu PIDV (grana que recebeu de incentivo a demissão) nessas “compras”.
Almoçamos num restaurante bem bonitinho, comida boa e preço justo. Depois sentamos na varanda do restaurante, aproveitando o solzinho morno do inicio da tarde. Ficamos olhando o tempo passar enquanto fazíamos um pouco da digestão. Na volta, caminhando até o pavilhão, conversávamos, Lene e eu, sobre a tranquilidade da vida nesse lugar e ela me disse que sentia a energia boa daqui. Perguntou se eu sentia também. Disse que não, eu nunca sinto essa sensação chamada de energia. Pessoas mais racionais, como eu, tem dificuldade em perceber essas manifestações. Gosto ou não gosto de um lugar ou de um ambiente, dependendo das características que me agradam ou desagradam do meu ponto de vista particular. Lembrei que essa cidade já foi considerada a de maior índice de suicídios no Brasil. Não combina muito com energia boa.
|
Sonia tirando um cochilo
|
O bailão, como chamam aqui, estava rufando. Sentamos próxima a pista e ficamos observando os casais dançarem. Homens com mulheres e mulheres com mulheres. Não vi homem com homem, eles são mais preconceituosos. Muitos casais dançam rodando, giram mais que o normal, acho que é herança das danças alemães.
Valdea apelidou alguns casais com nomes de pessoas nossas conhecidas: Otávio e Célia, seu Valdir (pai dela), Guilherme Mauricio (o finado) Agenilda. Um velhinho aprumado, olhos azuis, todo arrumadinho, se aproxima e convida pra dançar uma moça que estava sentada ao nosso lado. Ela empurrou a mãe pra dançar com ele. O velho falou que dançava com a mãe, mas que depois queria dançar com ela. E lá foi a velha e o velho pra pista. Depois ele devolveu a mãe e foi dançar com a filha. Daí a pouco a moça volta esbaforida e diz que o velho perguntou se poderia pousar na casa dela (aqui se fala pousar e no Rio, se hospedar).
- Velho safado! Imagina, se vou dar pouso pra qualquer um.
O velho não ficou satisfeito e continuou sua ronda na nossa área. Debruçou no cercado a nossa frente e ficou olhando pra mim e Sônia, querendo nos chamar pra dançar. Não demos bola, então ele começou a fazer sinais pra nós quatro. Valdea não perdoou:
- Esse velho de 101 anos quer se arrumar de qualquer jeito. O “cegonho dele nem avua” e ainda acha que tá podendo. Se Ângela topar vou perder meu lugar na cama. Na pousada da tia Sônia se pousar mais alguém uma de nós será despejada.
Ocupadas que estávamos em reparar o velho de "101 anos", não percebemos que a “colheita” já havia começado. Quando resolvemos sair do pavilhão olhamos pra cima e as cordas estavam vazias, já não havia nada para colher. Encontramos Regina com duas canas caianas e outros legumes. É engraçado, as pessoas saírem da festa carregadas de legumes e frutas.
23.07.2016
|
A mesa do bate-papo |
Todo dia acordamos e já encontramos a mesa arrumada para o café da manhã. É praticamente um café colonial. Anfitriã melhor que Sônia não há. Ela não para, parece uma formiguinha, não nos permite fazer quase nada. Combinamos, nós três, um revezamento para lavar a louça e uma varridinha na casa. Acho que estamos fazendo um pouco de corpo mole. E bota mole nisso. Não tenho hábito de dormir durante o dia, mas aqui acompanho o hábito das demais e durmo quase todas as tardes. Resultado, não consigo dormir direito a noite.
O café se estende pela manhã a fora. É muita conversa, muitas lembranças, muita discussão saudável. Valdea, com sua memória cavalar, lembra de coisas do arco da velha. Gabriel, filho de Sônia, que estava embarcado chegou e participa com a maior paciência das nossas conversas à mesa. Valdea conhece Gabriel desde que ele nasceu e lembra quando ele pequenino, falava:
- Ô tia Rodeia, tio Guilher tá ti traindo com Maria Zilda (artista de novelas).
E a conversa continua, a comilança também.
Quando saímos da mesa já é hora de fazer o almoço. Combinamos com Sônia que em alguns dias nós faremos o almoço. Valdea fará um bolo salgado de couve flor, Lene fará um nhoque de batata com molho de frango, sua especialidade e eu farei um risoto de abóbora com camarão.
A tarde fomos conhecer a escola de dança do Balé Bolshoi, a única fora da Rússia. Muitos visitantes no dia de hoje. Somos separados em pequenos grupos de aproximadamente quinze pessoas, que vão entrando gradativamente com um pequeno intervalo de tempo entre os grupos. Nós fomos acompanhadas por uma bailarina e um pianista, ambos professores nessa escola. Eles nos contam a história da criação da escola do Balé Bolshoi, seus idealizadores, o projeto que hoje mantém todos os alunos gratuitamente. Isso é muito bom, porque dá oportunidade a pessoas de todas as classes participarem. Muitas famílias vêm morar em Joinville para acompanhar os filhos, pois são necessários oito anos para se formar um bailarino. É o mesmo tempo que leva pra se formar um médico. Passamos pelas salas envidraçadas onde os bailarinos ensaiavam. Dá vontade de ficar parado ali, olhando.
Seguimos para a sala de costura. Um espaço enorme, cheio de roupa penduradas, outras sobre as mesas ainda em fase de costura ou bordado. Muito tule, muita linha de bordado, muita pedraria. Acho que eu adoraria trabalhar nessa sala.
Sônia fez muitas perguntas a nossos guias, o que é ótimo porque traz informações que talvez não faça parte do roteiro dos nossos guias. Perguntei a professora de balé por que não era comum bailarinos de alta estatura. Ela respondeu que existem alguns que são altos, principalmente entre os homens, mas que realmente são minoria talvez porque em função da altura tenham menos agilidade e leveza. Lene olhou pra mim e disse:
- Nós não temos a menor chance!
Com nossa idade, a estatura, o excesso de peso e o tamanho do quadril, teríamos dificuldade até para calçar as sapatilhas.
24.07.2016
|
Ponte Hercilio Luz |
Vamos a Florianópolis junto com umas amigas de Sônia. Nossa guia Olivia já trabalhou com Sônia na Prefeitura de Joinville, hoje é guia de turismo. Junto com ela, sua sobrinha Izabele, que deve ter uns 10 anos. Somos 10 coroetes e a menina Izabele.
|
Izabele |
Não conheço Floripa. Já tive viagem marcada para vir aqui, mas não pude, não lembro porque.
Começamos a visita pelo centro histórico. Hoje é domingo e tudo está fechado, uma pena. Uma cidade turística como essa e não abre o comércio nos pontos turísticos em pleno mês de férias escolares? Não dá pra entender. Depois dizem que os baianos não gostam de trabalhar. Vários grupos estão passeando por aqui e nem uma única barraquinha de artesanato aberta. Apenas os pedintes, e são muitos, bateram ponto no local. Passamos pela Praça XV, entramos na Catedral, caminhamos em direção ao Mercado Municipal, também fechado. Pensei em comer algumas ostras, mas não vai ser dessa vez.
Passamos pela Avenida Beira-Mar que estava repleta de gente caminhando, correndo, tomando sol sentados na grama. Muito bonita essa avenida que deve ter um metro quadrado bem carinho, visto os muitos prédios, bares e restaurantes ao lado da avenida.
|
Lagoa da Conceição |
Seguimos para a Lagoa da Conceição onde faremos uma parada para o almoço. Olivia nos indicou o restaurante BoKa’s. Pedimos o prato Sequência de Camarão. Vixe, é muiiiito camarão frito, empanado, no molho do peixe. O prato era pra três mas não demos conta, sobrou camarão e na batata frita nem tocamos.
|
Restaurante BoKas |
|
Lagoa da Conceição |
Cheios de preguiça depois desse farto almoço, fomos para a praia da Joaquina. Mar azul e praia forte, boa para o surf. Não molhei os pés, hoje tá um pouco frio, mas já soube que as águas aqui são mornas, bem diferente do mar no norte do Estado do Rio de Janeiro.
|
Praia da Joaquina
|
Seguimos em frente e paramos na Praia Mole. Essa é mais mansa e parece mais movimentada que a Joaquina. Todas duas muito bonitas.
|
Praia Mole |
Alguém falou que são mais de 40 praias, e é claro que não vai dar pra conhecer todas em um dia. Passamos por um mirante pra tirar algumas fotos e visitar algumas lojinhas de artesanato. Gostei muito do artesanato daqui. Não é sempre que vejo coisas interessantes nessas lojas de artesanato.
|
Praia de Jurerê |
Vamos agora até a praia de Jurere e Jurere Internacional. Acho que essa é a praia mais badalada da ilha. Já se vê pelas casas, lojas, bares e restaurantes que é uma praia mais requintada. Caminhamos até próximo à água. Se o tempo estivesse favorável eu arriscaria um mergulho, o mar aqui é convidativo. Demos um passeio pelo bairro que é muito agradável. Muitas casas não têm muros ou cercas, meu sonho de consumo. Acho lindo, mas na minha cidade só é viável em casas de condomínio.
|
Por do sol na Avenida Beira Mar |
Retornamos para Joinville no finalzinho da tarde. O sol ia se escondendo devagar na linha do horizonte do mar de Floripa. Lindo espetáculo!
Como são 40 praias e só conheci 4, então tenho que voltar.
A Van que nos trouxe é bem confortável e o motorista Vilmar é bem tranquilo e dirige com segurança. Eu e Valdéa sentamos no banco da frente, ao lado do motorista e conversamos bastante com ele. Falou que é casado, tem dois filhos e a esposa dirige uma outra Van. Contou sobre os bailões que acontecem por aqui e que leva muita gente da terceira idade para dançar nas cidades próximas a Joinville. Valdea foi dando corda e o moço começou a ficar animado. Quando passou em frente ao local de bailão já em Joinville, perguntou se Valdea gostaria de ir:
- Vou sim, mas você vai ter que dançar com as nove.
- Deus ô livre! Assim não guento, daí.
Nós rimos e pouco depois tornou a falar com Valdea:
- Pode passar em casa, tomar um banho e ir ao bailão. Dá tempo, daí.
- Tá bom. E depois sua mulher me pega e dá uma surra.
- Dá nada, ela já tá mortinha.
Valdea virou pra mim e disse baixinho:
-Homem é tudo igual.
Até que o motorista não é de se jogar fora, melhor que o velho de "101 anos".
Depois ele fez um interrogatório sobre Sônia. Se ela era casada, se o pai do filho dela era da Petrobras também, se ela se dava bem com o ex-marido....e por ai vai. Achamos que ele estava perguntando demais e começamos a dar informações falsas pra despistar. Ele deve ter pensado que “Dna Valdea mora longe, mas Dna Sônia tá aqui perto, pode render alguma coisa”.
É tudo igual, ô raça!!!
25.07 a 26.07.2016
A noite fomos assistir mais um espetáculo de balé, o da Noite de Gala. No caminho, passamos para pegar Emanuela, amiga de Sônia que tem nos acompanhados em todas as noites de festival
Para essa noite, um conto de fadas em versão moderna. A companhia de Balé do Teatro Guaíra da cidade de Curitiba, trouxe uma “Cinderela” contemporânea ambientada nas décadas de cinquenta e sessenta. Mais de vinte bailarinos, músicas conhecidas, recursos audiovisuais, dão um toque de modernidade a essa antiga história.
Ao final da apresentação, uma das integrantes do elenco falou ao público sobre as dificuldades financeiras que atravessa o Teatro Guaíra e, consequentemente, a companhia de balé.
Reflexos da crise. Nesse cenário atual, a cultura é uma das primeiras áreas a sofrer o baque. A organização do Festival, felizmente, conseguiu manter seus patrocinadores, porém com menor recurso disponível. Usou a criatividade para tocar o projeto e parece que teve sucesso.
Terminamos a noite numa pizzaria da via gastronômica de Joinville.
No dia seguinte pela manhã fomos ao salão de Tatiane, que é mãe de Dudu, neto de Sônia. Hoje é dia de cuidar da beleza. Fizemos aplicação de botox no cabelo (nunca tinha ouvido falar nisso) e hidratação. Uma das funcionárias do salão insistiu para que eu fizesse o buço e sobrancelha. Ela falou das vantagens de tirar com o fio, que o pelo demora a crescer, que a pele fica macia, e ....blá, blá, blá. Fui vencida pela insistência. Lene já estava peladinha, ou seja, tinha depilado todo o rosto.
Chegou a minha vez e, lá vem ela estalando aquela linha presa aos dedos. Parecia o “Eduardo mãos de tesoura”. Cerrei os dentes e me preparei pra dor. Até que não doeu muito, mas no dia seguinte apareci com a cara toda empelotada. Sei lá o que houve, se foi alergia ou a pele estava sensível. O cabelo ficou ótimo, mas a cara....
|
Primeira flor de AnJoVal |
Compramos uma muda de manacá da serra e plantamos no quintal da casa de Sônia. Demos um nome pra futura árvore: AnJoVal, a sílaba inicial do nosso nome. Todas as manhãs Valdea rega a plantinha e conversa com ela. Acho que Sônia não vai ter muito trabalho em dar continuidade a rega, chove muito por aqui. Quanto à conversa ao pé da árvore, acho que não vai rolar. Ela já conversa com Luna, a cadela do vizinho vereador, que toda manhã ergue as patas sobre o muro e chama por Sônia.
À noite Lene viajou para a cidade de Assis, em São Paulo. Foi visitar uma prima e retorna na sexta. Inicialmente pensamos em ir com ela, mas quando vimos a distância, o tempo que iria levar pra chegar a Assis....desistimos.
27.07 e 28.07.2016
Vamos passar o dia em São Francisco do Sul. Sônia trabalhou lá, numa base da Petrobras. A estrada não está em boas condições, o que é um absurdo considerando que o porto da cidade é muito importante pra economia do estado de Santa Catarina.
No caminho paramos na casa de Maria, mais uma amiga de Sônia. Ela não estava em casa, mas o marido dela, um sujeito muito simpático e agitado nos convidou para entrar e conhecer sua mãe. Ele é primo do repórter Caco Barcelos e são muito parecidos fisicamente.
Seguimos para São Francisco. Sônia fez um tour pela cidade, começando pela sede da Petrobras, depois pelas praias e terminamos no centro. A sede da Petrobras, que não é muito grande, cuida da armazenagem e transferência do petróleo bruto que chega por navios e é transferido por oleodutos para a Refinaria do Paraná. As praias são convidativas, bem azuis e de água morninha (ô raiva!). Muitas casas de veraneio, a maioria fechada nessa época. Muitas ruas não são pavimentadas e percebe-se que a cidade não tem uma boa infraestrutura. Uma pena! A cidade é tão bonitinha e tem um ótimo potencial turístico, é só estruturar.
No centro o casario antigo está bem conservado. Essa é a terceira cidade mais antiga do Brasil. Num dos casarões funciona uma loja que faz parte de uma Associação que visa resgatar o artesanato feito em tear. Cada coisa linda, tudo de muito bom gosto!
Amanheci no dia seguinte com uma gripe danada. Tomara que não me estrague o resto da estadia.
29.07.2016
"Macaé minha terra querida, que os anos te fazem crescer,
Para nós tu és terra onde a vida, fica sempre em constante nascer"
Hoje é o aniversário da minha cidade, Macaé. Sônia também é macaense e por coincidência mudou para Joinville há vinte um anos atrás exatamente nessa data. Pra comemorar tomei o restante da garrafa de vinho que estava na geladeira.
Lene chegou bem cedinho, descansou um pouco e quando levantou foi nos ajudar a preparar o risoto de abobora e camarão para o almoço.
Delícia de risoto. Só Gabriel não gostou, ou melhor, nem provou. Ele não come carne, peixe, frango e mais um monte de coisa. Pediu a Valdea pra fazer um bolo pra ele, mas tinha que ser um bolo difícil, não quer nada simplesinho.
A noite iremos a casa das duas irmãs, Regina e Sônia. Elas nos convidaram para um lanche e vamos comer o famoso pastel com uma massa caseira feita por elas. Fomos avisadas:
-Fiquem preparadas que as duas gostam de mesa farta, é preciso controlar o apetite, daí.
A expressão "daí" é usada pra tudo aqui na região, como a palavra “prego” no italiano ou “trem” no idioma mineiro.
Valdea fez um bolo de cenoura recheado com brigadeiro, será nossa contribuição para o lanche.
Fomos as primeiras a chegar, em seguida Lourdes, depois Nilcéa e por último, Olívia. Sônia tem um grupo de amigas que são excelentes companheiras. Costumam viajar juntas, ir ao teatro, almoçar aos domingos e no Natal, quando estão em Joinville nessa data, se reúnem na casa de Regina. Acho que esse grupo, além dos netos e do clima, é um dos fatores pelo qual Sônia não retornou pra Macaé depois de aposentada.
Regina, a dona da casa e do segredo de uma excelente massa caseira de pastel, é uma simpatia. Ela é do Rio de Janeiro e veio para o Sul quando foi aprovada num processo seletivo da Petrobras para Assistente Social. Trabalhou em Tramandai no Rio Grande do Sul. Dois anos depois veio para São Francisco do Sul pensando em facilitar sua transferência para o Rio. Acabou ficando no meio do caminho e, pelo que parece, vai ficar mesmo por aqui, junto com sua irmã e fiel escudeira, Sônia.
Lourdes gosta de fazer artesanato e nos deu de presente um “bate mão”. O meu tem estampa de canequinhas. A Sônia e Regina também nos presentearam com uma toalhinha de mão com nosso nome bordado. Uma graça. E nós não trouxemos nada pra dona da casa, o que seria educado da nossa parte. Só trouxemos a fooooome, a boca grande, o olho grande! Fazemos um mea culpa, distração imperdoável.
A mesa realmente estava irresistível. Além do pastel, elas fizeram uma empadinha dos deuses e cachorro quente. E tinha também cuscuz, bolo de mandioca, bolo de cenoura, bolo de laranja, arroz com leite, suco de cajá e de acerola, geleia....
Lene ficou desnorteada, comia um salgado, depois um doce, outro salgado e depois outro doce. E daí por diante. Sonia, que é entre nós a mais educada para comer, devorou pelo menos umas doze empadas. Como entrada.
Valdea que é gulosa e eu também, tivemos que tirar uma das calças - estávamos com mais de uma calça comprida por causa do frio - porque com a comilança até a roupa estava pesando.
Vamos chegar em Macaé com pelo menos cinco quilos a mais. Acho que podemos dispensar o avião e ir rolando
30.07.2016
Valdéa trouxe a metade do bolo de cenoura para Gabriel. O bolo “capotou” no trajeto para casa, ficou meio feinho. Ele olhou, olhou, provou, fez uma cara séria e deu nota quatro pro bolo. Safado! Tava feio, mas gostoso.
Micheli, sobrinha de Sônia, o marido e os gêmeos Davi e Pietro, vieram almoçar conosco nesse sábado. Os meninos são levados, como deve ser alguém nessa idade, e ficam meio ressabiados com essas mulheres estranhas.
Nosso último almoço dessa temporada. Viemos para o festival de dança e descobrimos que era também um festival gastronômico.
Ahhhh! Vou sentir falta de encontrar café quentinho, a mesa arrumada para o café, o melado, a bate papo na mesa, e olhar Sônia picando a casca da laranja em pedacinhos, ou seja, cada doido com sua mania. Ou como costumamos dizer aqui entre nós “fulano tem um pobreminha”. Depois de tanta conversa nessa mesa descobrimos que todos nós “temos um pobreminha”.
À noite fomos assistir o encerramento do festival. É a noite dos campeões, uma mostra de todos os que conquistaram o primeiro lugar na mostra competitiva. Tem de tudo: balé clássico, dança contemporânea, jazz, sapateado, danças populares, danças urbanas. Tem também premiação para: coreógrafo revelação, melhor bailarino, melhor bailarina, melhor grupo e prêmio revelação. Fechamos com chave de ouro.
31.07.2016
No nosso último café da manhã o tema da conversa foi relacionamentos. Ora, esse assunto renderia até uma outra viagem.
"Quem ama cuida", alguém falou. O que significa isso? Pegar no pé do parceiro, vigiar cada passo, vasculhar o celular? Para alguns sim, acham que isso ajuda a manter o relacionamento. Ou significa paparicar o companheiro? Só sair juntinho, fazer a comidinha que ele gosta, cuidar da roupa dele, fazer sexo sempre que ele quer mesmo que você não esteja com disposição....e por aí vai.
Estou casada há trinta e cinco anos e não me enquadro em nenhuma das duas opções. Acho que temos que cuidar do relacionamento sim, mas não vou dizer o que acho porque já falei demais e ainda não arrumei a mala.
Valdea tentou fechar a mala, mas não teve jeito, sobrou roupa pra tudo que é lado. Teve que pegar uma mala emprestada com Sônia. No aeroporto a mala que pegou com Sônia ultrapassou o peso para bagagem de mão. E tira roupa, joga em sacola... tava parecendo uma muambeira. Tudo bem, somos mulheres e acabamos comprando sempre mais de que se deve.
Despedimo-nos da nossa amiga Sônia e partimos. Acho que ela vai dormir uns três dias para se recuperar dessa estafa. Temos que paparicá-la muito quando for a Macaé, ela merece.
No voo de São Paulo para o Rio acabamos ficando cada uma em um voo. Tudo bem, eu vim bem acompanhada. Antonio Fagundes veio no mesmo voo e na chegada ao Rio pegou a minha bolsa que estava ao lado da mochila dele no mesmo bagageiro e me entregou. Não é mais um garoto, mas ainda dá um caldo.