Um dia, já bem distante, sonhei em ser uma artista plástica. Via-me num ateliê com um pé direito enorme, uma espécie de galpão, com uma luz dourada entrando por uma claraboia no teto. Nas paredes várias telas enormes, algumas inacabadas. Próximo a janela uma mesa de madeira clara já bem suja de tinta, onde eu trabalhava. Eu usava uma roupa bem exótica, o cabelo crespo e rebelde preso em uma boina.
Provavelmente vi esta cena em algum filme porque, até aquela data, nunca tinha entrado em um ateliê.
Meu irmão mais velho, Vanderlei, percebeu que eu tinha algum talento para a pintura e me presenteou com tintas, pincéis, terebintina e tela. E fui pintando, copiando imagens que eu buscava em revistas, pinturas de artistas impressionistas famosos. Nada autoral, somente cópias. Logo percebi que pra ser uma verdadeira artista faltava-me criatividade.
A casa da minha mãe já estava ficando entulhada de quadros. Nunca tive talento para vender coisa alguma, então a única saída para liberar espaço em casa foi encerrar minha precoce carreira de artista plástica. Pensei em presentear meus amigos, mas queria preservá-los. Ninguém merece ser presenteado com quadros medíocres, presentes de grego.
Que pena! Nada de arte, tinha mesmo é que bater carimbo em cheque, contar o dinheiro que não era meu (trabalhava em banco nessa época) e torcer para não faltar dinheiro no caixa no final do dia.
Muitos anos depois tive o prazer de visitar museus pelo mundo e encontrar com obras dos meus pintores favoritos: Van Gogh, Monet, Renoir. Pude ver os originais de alguns daqueles quadros que eu havia copiado. Não consegui ser uma artista, mas consegui admirar in loco a obra de tantos artistas famosos, coisa que jamais sonhei.