22 dezembro, 2017

CONSERVATÓRIA - 2017


O Coral do Sindipetro foi inscrito no Festival Nacional de Corais de Conservatória. Então, vamos juntar o útil ao agradável, honrar nosso compromisso com o Sindicato que nos patrocina e curtir essa cidadezinha tão pitoresca.

24.11.2017 

Saímos de Macaé às 10h com a turma de Graça. Uma parte dos coralistas vai num ônibus fretado pelo Sindicato no final da tarde. Resolvemos ir mais cedo porque a viagem é longa e queremos aproveitar bem o dia de hoje porque amanhã teremos ensaio e apresentação do Coral. Essas apresentações às vezes são bem demoradas e costumamos prestigiar a apresentação dos outros participantes. Sendo assim, melhor garantir a noite de sexta para curtir as serestas, serenatas, etc.
Além da turma do Coral temos algumas amigas que também estão nessa viagem: Sônia e Célia.
Sônia mora em Joinville, mas todo ano vem passar parte do verão em Macaé, fugindo do calorão arretado que faz em Joinville. Célia mora em Macaé e é amiga de longuíssiiiiiima data. Ambas são macaenses como eu e também trabalharam na Petrobras.
Chegamos ao Hotel Vilarejo por volta das 16h. Nem sentimos o tempo passar distraída que estávamos com a conversa entre nós quatro. Cheguei a ficar com dor no pescoço por ficar tanto tempo olhando para o lado esquerdo.
Deixamos as malas no quarto e já partimos para o centro. Trouxe várias roupas de frio, mas desconfio que serão inúteis, só servirão para comprovar que em se tratando de mala de viagem, menos é mais. 
Com essa temperatura agradável a caminhada fica mais interessante. Vamos admirando as flores, uns pés de couve lindos, um espantalho, o Túnel que Chora.... Quando surgem as primeiras casas antigas, todas muito bem cuidadas, Sônia não se contém:
- Que maravilha, não imaginava que essa cidade fosse tão bonitinha!!!


Acho que ela pensou que Conservatória estava mais para Carapebus ou Conceição de Macabu do que para Tiradentes, guardadas as devidas proporções.
Passamos pelo Teatro Sonora e vimos que tem show hoje e amanhã. Hoje o show é um mix de outros shows apresentados pelo time da casa. Compramos os ingressos para hoje. Amanhã é “tributo a Elis Regina” que gostaríamos muito de assistir, mas nossa noite estará comprometida com o Encontro de Corais. 
Teatro Sonora
Retornamos ao hotel caminhando, como sempre fazemos por aqui, o que fez aumentar a minha fome. Depois do banho descemos para o restaurante já prontas para o show. A comida nesse hotel está ainda melhor, o que é péssimo pra minha cintura.
O Teatro Sonora é uma casa dedicada a MPB e é também uma escola musical gratuita para a comunidade. O espaço é pequeno, mas confortável. As cadeiras são aquelas que encontrávamos nos cinemas antigos, algumas máquinas de escrever e telefones antigos fazem parte da decoração. Tem um ar meio retrô que combina bem com o clima romântico da cidade. 
Juliana Maia
A cantora Juliana Maia entrou vestida com uma roupa de época, mais precisamente uma vestimenta do final do século XIX e cantou alguns chorinhos, músicas populares daquela época. Em seguida retornou ao palco com um vestido reto e justo, cabelos soltos e crespos, bem anos cinquenta. Soltou a voz cantando músicas das grandes divas do rádio.  Nova troca de roupa e veio vestida de Carmem Miranda. Arraaaasou!!!!
Voz maravilhosa acompanhada de ótimos músicos (sax, violão e percussão), iluminação perfeita e a presença de palco da Juliana, sua simpatia e bom humor, fizeram do show um espetáculo. Enquanto apresentava os músicos, brincava com eles. O rapaz do violão, muito tímido e encabulado quando os olhares se voltavam pra ele, tentava esconder o rosto. Juliana tentava provocá-lo:
- Rapaz, cadê o sorriso pras fotos! Mostra esse bigodinho de ajudante de pedreiro.
Ao final do show, abriram a portas da sala e Juliana saiu pra calçada cantando marchinhas de carnaval. Saímos atrás da cantora, formamos um cordão e fomos cantando junto com ela. A noite terminou em carnaval.
Terminou o show e saímos em direção a Rua do Meio. No caminho passamos por alguns bares, todos com música ao vivo. Aqui é assim, tudo gira em torno da música. Não encontramos nenhuma mesa vazia na praça, o que é uma pena porque aqui ficam os violeiros. Seguimos em frente e paramos num barzinho pequeno para tomar uma cerveja e, para quem ainda estava com fome, um caldinho.
Voltamos a pé pelas ruas já meio vazias naquela hora. Atravessamos o túnel que chora na maior tranquilidade, sem medo de assaltos ou coisa parecida. Como faríamos isso na nossa cidade?

25.11.2017

O dia amanheceu ensolarado. Que delicia, não esperava por isso!! Não esperava, mas vim preparada, trouxe maiô, filtro solar...só esqueci o chapéu. Depois do café da manhã partimos pra piscina. Agora, na área da piscina, tem lanche, drinques, cerveja, tudo incluso no nosso pacote. Muito bom.
Chegou o pessoal da hidroginástica e a mulherada correu pra água. Dois marmanjos vestidos de meninas faziam a coreografia. 
Depois do almoço, tem ensaio marcado e o ônibus do Sindicato vem nos buscar. Ficamos esperando e nada do ônibus aparecer. Ligaram avisando que o ônibus ficou sem bateria e não seria possível buscar-nos. Sugeriram que fossemos a pé.- Subir morro a pé depois do almoço? Nem pensar!
Depois de alguma discussão resolvemos pedir um carro para sete pessoas e ir até o hotel. O carro chegou e nos acomodamos no interior de um carro já bem sofrido, antiguinho. Perguntei pra motorista:
- O carro aguenta uma subida carregando essa turma?- Ele tá acostumado a carregar peso, olha só pra mim.
Ela é bem gordinha e bem simpática. No caminho para o hotel, que fica no alto de um morro, passamos por ruas que não conhecíamos. Muitas residências modernas e bonitas e algumas pousadas. A pousada A Violeira, onde alguns coralistas estão hospedados, é simples, mas parece agradável e a vista da cidade é linda.
Outros corais estão hospedados nessa pousada e assistiram nosso ensaio. Alguns chegavam à janela dos quartos e aplaudiam. A acústica ali era muito favorável e mandamos muito bem. Tomara que a noite na igreja a apresentação seja tão boa quanto foi o ensaio. Quando caminhamos para o ônibus um casal vinha descendo a rua e me perguntaram:
- Vcs é que estavam cantando agora há pouco?- Sim. Estamos ensaiando para o festival de Corais.- Nós moramos aqui perto e ouvimos vcs cantando. Tava tão lindo que resolvemos sair e vir mais pra perto. Pena que acabou o ensaio.
Ulalá, abalou Bangu (eu pensei).
Chegamos à igreja por volta de 08:00h. Nosso Coral deve se apresentar as 09:00h, mas viemos antes pra prestigiar os outros grupos. Pra variar estão atrasados, muito atrasados. Pra ser sincera, não gosto muito de ouvir corais cantando, eu gosto mesmo é de cantar. Gosto dos ensaios, das risadas, das apresentações. Então logo me senti entediada, e nada da nossa hora chegar. 
Notei que um grupo estava com um uniforme bem diferente dos que usualmente os corais usam. Usavam calça branca, blusa azul royal, uma echarpe de tricô vermelha e azul, sapato branco e um chapeuzinho com fita vermelha e azul. Olhei na programação e vi que representam a Aliança Francesa de Friburgo. Ah! Tá explicado o uniforme diferente e a escolha das cores (bleu,blanc,rouge) da bandeira francesa. Vão cantar em francês, certamente. Oba!!!  Adoro francês. A língua, claro.
Quando subiram ao palco vi que era um coral só de mulheres. Cantaram “Non, Je Ne Regrette Rien”, música que Edith Piaf cantava lindamente.
“ Non, rien de rien, non, je ne regrette rien  Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal… “
Valeu a noite.
Quando nos apresentamos era quase onze horas. Ufa!Depois da apresentação tinha um lanchinho pra cada Coral. Quando sai da sala do lanche me estabaquei no chão. Foi um verdadeiro mergulho, tipo o peixinho que os jogadores de vôlei da seleção brasileira fazem depois da vitória. Vieram me socorrer:
- Vc está bem?- Sim, pelo menos por enquanto.
Às vezes é assim que acontece, na hora não se sente nada, mas depois aparecem os hematomas, torções e outras desgraças, principalmente pra quem já passou dos vinte anos.
Saindo da igreja avistamos a turma da serenata, cantando e recitando poemas. Resolvemos acompanha-los. Seguimos caminhando, ouvindo as canções românticas que combinam tão bem com as casas de fachadas coloniais. Quem vem a Conservatória vai encontrar tranquilidade, clima ameno em boa parte do ano, muita música. Luxo e agitação não fazem parte desse cenário.
Retornamos ao hotel depois da meia-noite. Pretendia dormir logo em seguida, estava bem cansada, mas encontramos a turma do Coral da Aliança Francesa na varanda do hotel, com um estoque de cerveja (o bar do hotel já estava fechado) e na maior cantoria. Fomos convidadas a juntar-nos ao grupo e não resistimos, cantamos até a madrugada. Ô turma boa!

26.11.2017

 
 

Voltei ao hotel e já encontrei o Ronaldinho do Cavaquinho se apresentando. Já assisti algumas de suas apresentações e sempre gostei. Provavelmente ele repete algumas histórias, mas isso não é problema pra mim. Minha memória não é tão boa, então tudo parece novidade. Ele estava contando como se transformou no instrumentista de sucesso que é hoje.  Na verdade, ele não é somente músico, pode se dizer que é também um showman e acredito que boa parte do seu sucesso pode ser creditado a esse talento para o humor. Algumas histórias que ele contou são bem interessantes: - “Eu me casei e fui morar em Irajá. Alguém aqui mora ou nasceu em Irajá? Ninguém? Ótimo! Ô lugarzinho feio! Muito feiiio! Fiquei desempregado e morando naquele lugar fe... deixa pra lá. Procurava emprego todo dia e nada, nada acontecia. Um dia, enquanto abastecia meu carro com uns dez reais de gasolina (não podia deixar o carro muito tempo sem sentir o gosto do combustível porque corria o risco dele não funcionar nunca mais) vi um carro todo enfeitado e reluzente, enchendo o tanque. Era um carro funerário. Puxei conversa com o dono de carro e descobri que esse negócio de carregar defunto pode render uma boa grana. - Ulala, vou entrar de cabeça nesse negócio. Procurei o dono da casa funerária, combinei tudo direitinho, voltei pra casa e tomei as providências necessárias. O sogro me emprestou o dinheiro pra reforma do carro, que ficou uma belezinha. Tudo certo pra começar o trabalho do dia seguinte, só tinha um pequeno detalhe: eu morro de medo de fantasma. Nem consegui dormir na noite anterior, tamanho o pavor de ficar sozinho com um morto dentro do meu carro. O dia foi passando, passando... e nada de receber nenhuma comunicação de falecimento. -Ufa! Que alivio, não morreu ninguém. Os dias foram passando e nada de morrer ninguém naquela área. Fui ficando desesperado. –Meu Deus, eu já fiz a minha parte, quando o senhor vai fazer a sua? No final de vinte dias o dono da funerária me chamou: - Você está despedido, nunca vi alguém tão pé frio como você. Fiquei arrasado, alta estima lá embaixo: - Pé frio, eu? Depende do ponto de vista, quem não morreu certamente não pensa assim. O mundo perdeu um papa-defunto que tem medo de fantasma, mas ganhou um músico apaixonado”.- “Sempre fui apaixonado pelas músicas de Waldir Azevedo. Gravei algumas fitas cassetes só com músicas do meu ídolo e vendia nos meus shows, que na época ainda não eram muitos. Uma médica que tinha consultório em Copacabana comprou uma de minhas fitas pra tocar em sua sala de espera. Um dia a viúva de Waldir Azevedo foi se consultar com essa médica e, chegando lá, ouviu a minha fita e pensou que era seu falecido marido tocando. Quando a médica disse que não era Waldir e sim Ronaldinho ela ficou muito surpresa e resolveu me procurar. A partir daí muitas oportunidades surgiram na minha carreira.”

Ele sabe cativar o público.
Terminado o show, é hora de almoçar e nos prepararmos para o caminho de volta.
Já no ônibus, todos acomodados, Graça vira pra Sônia e pergunta se ela vai ao show de Wando:
- Acho que não, nem sei onde ele está morando. Está no céu ou no inferno?
Caímos na risada. Essas poderosas estão cada dia mais doidas. Continuando nesse ritmo dentro de algum tempo nossos encontros acontecerão num hospício.

Dia de ir embora, então temos que aproveitar cada minuto. Esperava por um dia de sol e piscina, mas o dia amanheceu nublado. Melhor assim, vai sobrar tempo para ir ao centro comprar uma das peças da artesã Cristina Maria. Suas peças em madeiras são pintadas, na sua maioria, com motivos florais. É uma releitura do barroco mineiro de muito bom gosto. As peças não são baratas, mas acho que o preço é justo. Comprei um oratório pequeno e dois santinhos pra guardar dentro dele: São Judas Tadeu e Nossa Senhora da Conceição. Não entendo nada de santos, mas sei que esses dois são santos de devoção do meu marido e da minha sogra. Gosto do trabalho artísticos dessas peças e da simbologia que elas trazem, embora não deposite nelas nenhuma fé.