Hoje
soube que uma amiga de infância está com câncer. De repente me veio o
pensamento, cada vez mais recorrente, de que o tempo está correndo rápido
demais e que agora são os amigos que estão partindo.
Quando eu era criança apenas parentes já idosos morriam e essas mortes, para a criança que eu era, tinha um quê de divertimento, de brincadeira. Era quando os parentes se reuniam e os primos se juntavam nas brincadeiras, no corre-corre pelo terreiro ou em frente a igreja.
Lembro-me de um vizinho que cometeu suicídio, tomando remédio para matar rato. Foi um buchixo danado na nossa rua. Será que foi por causa de alguma mulher? Foi por causa de alguma dívida? A noite, durante o velório, não se falava em outra coisa. Naquela época a nós, crianças, não era permitido dormir muito tarde exceto em situações especiais como o velório de um parente ou amigo da família. Fiquei acordada até tarde naquela noite, velando o morto, tomando café com rosca, ouvindo o disse-me-disse das fofoqueiras de plantão.
Agora é tão diferente!!! Quando
os amigos de longa data morrem, morre também um pouco do que vivemos. É
como se nossa história de vida ficasse mais pobre, com menos conteúdo. É isso,
o amigo morre e uma parte da nossa vida morre com ele.
Lembro-me
de minha mãe que ao morrer, aos 95 anos, já tinha perdido todos os irmãos,
cunhados, a maioria dos amigos. Fico imaginando como ela se sentia quando
relembrava algum fato antigo da sua vida. Ninguém para confirmar a história,
ninguém para rir ou se emocionar ao relembrar, ninguém que pudesse acrescentar
algum detalhe esquecido. Sozinha com suas lembranças. Até que o Alzheimer
chegou e o caos se instalou.
Alguns
costumam chamar a velhice de melhor idade. Melhor coisíssima nenhuma. Dizem que
ganhamos sabedoria. Grande consolo, o que fazer com tanta sabedoria se já não
temos muito tempo para aproveitá-la? A velhice é uma merda, mas como a outra
opção é a morte, melhor aproveitar do jeito que der.