Meu marido gosta de criar galinhas lá no sítio. Eu reclamo com ele porque algumas galinhas as vezes cagam na varanda, outras põe seus ovos dentro do fogão à lenha, dentro da pia da varanda de Vilson, e outros lugares inusitados. Quando eu reclamo ele responde:
- Você não gosta de ovo da roça? Então, galinha que é criada presa não bota tanto ovo e não fica com gema avermelhada porque elas só comem ração.
É verdade. Isso compensa a sujeira na varanda, é só lavar.
Tem galinha, tem garnizé, tem galinhola...e tem o frango Bebeto, o único que tem nome. Ele lembra um cara meio maluco que mora próximo ao sítio da minha sogra, e tem esse nome. O frango é grande, tem pernas compridas e é bonito, mas completamente doido. Dispara numa corrida repentina, briga com as galinhas por causa de comida, belisca quem dá milho pra eles, rouba o que a gente estiver comendo próximo a mureta da varanda e se deixar o copo de cerveja em cima da mureta, é bom ficar de olho porque ele vai querer beber sua cerveja. Todos que frequentam o sítio conhecem Bebeto e se divertem com as maluquices dele.
Meu marido vive dizendo que vai dar um fim no frango, porque ele não serve pra ser galo o destino dele é a panela. Eu perguntei pra Vilson:
- Porque ele não serve pra ser galo, acho que ele vai ficar um galo bonito.
- Ele não sabe o que é galinha, é um abestado. O galinho garnizé que é miúdo não perdoa nem as galinhas grandes, é de arrancar as penas das costas das galinhas e Bebeto, que devia proteger as galinhas, fica disputando comida com elas. Não serve pra galo.
Nesse final de semana fomos pro sítio. Estava um calor dos infernos, passava o dia me molhando na cascatinha, lendo e ouvindo música. De vez em quando assaltava a geladeira e comia uns jambos, depois jaca e só ia preparar o almoço lá pelas quatro horas da tarde, quando o dia começava a refrescar.
Dei falta de Bebeto, não apareceu nem uma vez pra tentar bicar meu copo de cerveja. Perguntei a Vilson:
- Cadê Bebeto? Não apareceu por aqui.
- Desencarnou. Estava bicando os pintinhos que soltei do poleiro há pouco tempo. Dei ele pra Ivo e fizeram um frango ensopado com aipim.
Puxa vida! Ele não fazia isso por mal. Vou sentir falta do frango, era tão simpático.
Agora as visitas que vão ao sítio sempre perguntam por Bebeto e eu conto sobre o triste destino desse frango: a panela.
Lembrei-me do poema "Uma Galinha" de Clarice Linspector, onde ela conta a história de uma galinha que se tornou a rainha da casa, mas no final cumpriu o seu destino, virou canja.