07 junho, 2013

BORGONHA



23.04.2013                              

Piquenique
Saímos cedo em direção a Beaune. No caminho paramos para um piquenique. Ao longo das estradas francesas existem vários lugares destinados a uma parada para descanso. São locais arborizados com mesinhas para piquenique e banheiros. Paramos em um deles, escolhemos uma mesa no sol, solzinho tímido, mas que ajudava a esquentar,  arrumamos os belisquetes, as bebidas e fizemos nosso piquenique.
Fome saciada, voltamos pra estrada e deixamos a região de Champagne. 
Piquenique

Entramos na região da Borgonha. Ao lado das estradas, vinhedos a perder de vista. As folhas estão começando a brotar. Em alguns vinhedos só vemos aqueles tocos pretos, sem uma folha sequer. Daqui há um mês deve estar tudo verdinho.

Ah! Os vinhos da Borgonha! Acho que por aqui não tem vinho ruim. Até o ruim é bom.

Paramos no Chateau  Du Clos de Vougeot para nossa primeira degustação. Normalmente chamam de chateau o castelo, que é a sede da propriedade, o vinhedo, a adega e a cantina. O Clos de Vougeot é um belo exemplo desse conjunto. Assistimos a um filme sobre um jantar da "confraria dos cavaleiros da Borgonha", que aconteceu nesse chateau. É a cerimônia de admissão de um novo confrade, uma festa linda! Adoraria participar de uma festa como aquela! Veja o filme com um pouquinho da festa.

http://www.closdevougeot.fr/fr/

24.04.2013                                 BEAUNE

A cidade é uma graça. Nosso hotel fica perto do centro histórico o que é bem apropriado nesse momento, visto que no Chateau D’Etóges ficávamos distantes da cidade. Sem precisar usar o carro pra tudo, ficamos mais independentes.
Hotel Dieu - Hospício de Beaune
Visitamos o Hospício de Beaune ou Hotel Dieu fundado em 1443. Na verdade, essa construção serviu como hospital para pessoas pobres, não exatamente loucas. Hoje é um museu, com salas que guardam o mobiliário da época e algumas figuras de cera que representam as freiras e pacientes daquela época. É interessante, e de certa forma assustador, constatar a precariedade dos instrumentos e dos métodos utilizados naquela época. Tudo era muito rudimentar, servia apenas para minorar o sofrimento das pessoas. Nada mais que isso.
A capela era praticamente uma continuação da enfermaria, o que possibilitava aos enfermos, ouvirem as missas. Acho que fazia parte do tratamento....

Se o tratamento era rudimentar, outros detalhes, no entanto eram bem adequados, acho eu. Os médicos consideravam a água impura porque não havia nenhum cuidado na preservação dos rios. Sendo assim, eles recomendável que ao invés de água, os doentes tomassem vinho. Não é ótimo?
Hotel Dieu


Outro detalhe que achei interessante foi como o hospital tratava seus dejetos. Em uma das salas tem um vão no chão, que permite ver um riacho que passa embaixo do hospital. Para esse riacho eram direcionados todos os dejetos. Não é uma solução ecologicamente correta, mas considerando que se trata do século XVI, XVII e que os hábitos europeus de higiene não eram exatamente um modelo a ser seguido, foi uma solução razoável. Os povos do oriente médio eram muitos mais avançados, nesse quesito.

Os palácios europeus daquela  época não tinham banheiros. Os excrementos do Palácio de Versailles, por exemplo, ficavam armazenados nos corredores até que um decreto do rei determinou que eles deveriam ser recolhidos pelo menos uma vez por semana e descartados fora do palácio. Imagine, uma vez por semana! No restante do tempo aquele visitante indesejado ficava  exposto nos corredores.
Sempre que visito algum Palácio, procuro pelos banheiros e no máximo vejo uma latrina. Uiiiii, que nojo!!!! 

Conversando com Fatinha, que é enfermeira e professora, ela diz que provavelmente os doentes não iam para esse hospital a fim de serem curados. Iam para receberem algum conforto até morrer e apenas os muito pobres ficavam ali. Os ricos eram tratados em casa.

















































Em seguida fomos ao Museu do Vinho. Fico pensando em como o europeu tira proveito de coisas aparentemente insignificantes. Juntam umas peças aqui, um móvel ali, umas máquinas, algumas fotos antigas, um pouco de história e...Bum!!! Surge um museu. E algumas de nossas cidades no Brasil, com tanta coisa para contar deixa a história se perder. A minha cidade que vive em função da produção de petróleo já não poderia ter um museu do petróleo? Tem acervo pra isso, com certeza. Tão abandonada pelo poder público deixou toda sua história arquitetônica ir pelo ralo, ou melhor, ir para o bolso dos especuladores do ramo imobiliário.

"Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais! "  Casimiro de Abreu

Acho que me sinto um pouco saudosa, como o poeta, quando me lembro da minha cidade de tempos atrás. E uma certa tristeza quando vejo cidades com mais de quinhentos anos com tanto da sua história preservada.

Nada disso, porém, tira-me a fome. À noite, nos agasalhamos e saímos para saborear as delícias da Borgonha. O vinho é ótimo, mas a comida também não fica atrás.

Ovos en meurette, boeuf bourguignon, coq au vin e outros tantos pratos que não lembro o nome.  Esse ovo poche com bacon e pequenas cebolas roxas é de comer rezando. O ovo que comi era cozido num creme de aspargos frescos (Cocotte d'Oeuf au Lard et Crème d'Asperges, sucette de Parmesan), uma delícia! Depois do ovo poche ainda me arrisquei num risoto de camarão super apimentado (Risotto et Gambas poêlées aux Tomates, Basilic et Pétales d'ail). Como só uso pimenta malagueta no dia a dia, aquela pimenta foi forte demais pra mim. Senti certo mal-estar e não terminei o prato nem o vinho. Nada demais, logo em seguida melhorei.











Sugestões:

Restaurante “Le P’tit Paradis - Rue du Paradis, 25 – tel: 03 80 24 91 00 – Beaune – Leptitparadis@orange.fr

25.04.2013                               DIJON

Enquanto tomávamos o café da manhã no hotel conversávamos sobre o nome que davam para a casa de nossas amigas no Rio de Janeiro. Uma mora na Barra da Tijuca (PL – pousada longe.) outra mora no Recreio (PLPC – pousada longe pra caralho). O apartamento da que mora no Jardim Botânico poderia ser chamado de CDJ – Chateau D’Jardin. Pelo jeito, a minha casa que fica em Macaé seria a MFM- muquifo no fim do mundo.

Saímos para Dijon. Tivemos alguma dificuldade em encontrar a estrada certa e aí "Juliete" nos levou para uma estradinha. De um lado e do outro da estrada, um campo florido coberto de florezinhas amarelas (canola). Aproveitamos para nos enfiar no meio das flores e tirar muitas fotos. “Eu também quero!!!” Essa frase é muito dita e ouvida sempre que percebemos que uma de nós tirou uma foto num point legal.


Pegamos a rota dos vinhos (estrada N-74), região de Vosne-Romanée. Paramos em uma Cave e compramos alguns vinhos da Borgonha. A uva Pinot Noir é a única uva usada na produção do vinho dessa região, não misturam com nenhum outro tipo de uva. O vinho é um pouco mais claro e mais suave. Eu gosto.

Continuamos na rota dos Grand Crus (a mais alta categoria) e o Romanée Conti é o mais cobiçado deles. Iniciamos uma missão quase impossível, achar a Maison do vinho Romanée-Conti. Se o Renato Machado (da Globo) teve dificuldade, imagine nós, seis mulheres desorientadas. Não há uma placa, uma seta, nada....nada que indique onde fica esse lugar. Pedimos informações, mas elas não eram precisas. Parece que o Romanée Conti não quer ser encontrado.

Romanée Conti
Enfim chegamos o mais perto que é possível chegar da Maison Romanée: o vinhedo com um muro de pedra e uma pequena placa com o nome do famoso vinho. Quanto à garrafa do Romanée Conti que vem junto com outros 11 vinhos Grand Cru, é preciso pelo menos um ano na fila e pelo menos 3.000,00 euros para adquirir uma delas.  Imagine quanto custa se embebedar com esse vinho? Lula pode, nós não. Fatinha, apreciadora de um bom vinho, fala indignada: “ele nem sabe distinguir o Romanée Conti de um Sangue de Boi (sangue de boá, com pronúncia francesa)”.


Paramos para almoçar na cidade de Fixin. Surpreendeu-nos o serviço de um restaurante de uma cidade tão pequena como essa. Realmente os franceses não descuidam do ritual. Eles seguiram todo o procedimento que os melhores restaurantes cumprem à risca. Entrada, primeiro prato, queijos e sobremesa, tudo servido com capricho e certo requinte. Os franceses realmente nunca misturam a entrada com o prato principal, como nós fazemos, e comem o queijo antes da sobremesa.
O garçom que ajudou a servir nossa mesa era bem novinho e foi muito educado. Quando estávamos no estacionamento, próximo ao restaurante, o jovem garçom em trajes usuais, passou por nós fumando um cigarro. Estava quase irreconhecível sem a roupa de trabalho. Fatinha o reconheceu e chamou-o pelo nome. Disse-lhe que era feio fumar, ele riu e seguiu em frente.

 DIJON 

Dijon
Caminho das Corujas de Dijon






Dijon


























Em meio aos vinhedos, seguimos para Dijon.
Das cidades que visitamos até agora, essa é a mais cosmopolita. As construções antigas são bem conservadas e muito bonitas. 
Visitamos alguns pontos turísticos, tudo no centro histórico. São várias catedrais, museus e casas bem antigas. O roteiro pode ser feito acompanhado as corujas coladas no chão. A coruja é o símbolo dessa cidade. O dia estava bem quente, a maior temperatura que pegamos até agora. Sentamos em um restaurante numa sombra gostosa. Tomei uma cerveja, a única que tomei até agora. Depois comprei algumas mostardas, é claro, não poderia sair de Dijon sem levar algumas de suas famosas mostardas.
Já era noite fechada quando chegamos em Baune, o que significa dizer que já era mais de 22 horas. Estávamos sem disposição para caminhar até o centro, que é perto, mas a preguiça era grande. Resolvemos ir de carro e, quando entramos em uma rua depois do hotel, descobrimos um lugarzinho cheio de bares e restaurantes, bem próximo do hotel.

Entramos em um pequeno restaurante, e nos arrumaram uma mesa numa sala cheia de jovens que comemoravam o aniversário de uma menina. Fiquei com medo que começassem a fumar. A garotada fuma muito e, até pouco tempo atrás, aqui na França era bem comum fumarem dentro dos locais fechados. Acho que isso está mudando, até agora não vi ninguém fumando dentro dos restaurantes.

É o seguinte: boa aparência não é garantia de comida de qualidade, e vice-versa.
O restaurante simplesinho não “prometia”, mas a pizza estava deliciosa e o vinho também.

Sugestões:

Restaurante Chez Jeannette 
Rue Noisot , 7 – Fixin – tel 03 80 52 45 49 

Hotel Ibis Styles Beaune Centre 
7, Boulevard Perpreuil - Beuane