13.09.2013
Ultimamente só tenho ido ao Rio a trabalho. Abri uma exceção no último final de semana e fui junto com minhas amigas Conceição e Cláudia, para um passeio ao Rio sem compromisso, sem nada programado, sem obrigações a cumprir.
Ficamos hospedadas na casa de
Jackie, amiga de Conceição, que mora na Tijuca com o filho e dois cachorrinhos. Não a conhecia, mas de cara me senti à vontade com
ela. Jackie é desencanada, amorosa e sem frescura. E temos algo em comum: a
tendência a “pagar mico”. Diz que o
filho fala com os amigos que “minha mãe não paga mico, paga king kong”. Ela me
contou que um dia desses, passando ao lado do Teatro Municipal, viu que uma
grande fila se formava. Pensou: – com tanta gente assim na fila deve ser um
espetáculo interessante e barato...
Resolveu entrar na fila. Em
seguida perguntou a alguém qual era o espetáculo que estava sendo vendido. A
mulher fez uma cara de espanto e disse:
- Minha senhora, essa fila é para
o velório de Chico Anísio.Essa é a Jackie.
Deixamos nossas malas no
Sindicato onde Jackie trabalha e fomos para Santa Teresa. Já vim tantas vezes ao Rio e ainda não
conheço o Bairro de Santa Tereza. É imperdoável.
Pensávamos que o Bondinho estava
funcionando, mas que pena ele ainda está fora de combate, fomos de ônibus
mesmo. Quando entramos no ônibus o motorista estava discutindo aos gritos com
uma passageira. Durante todo o trajeto ele rosnou, estava pra lá de mal
humorado. Quando a passageira desceu do ônibus, ele jogou beijinhos. Puro
deboche!
Largo dos Guimarães |
- Deus do Céu, onde fomos parar?
Olhei para trás e vi que já não
havia ninguém no ônibus, só nós e o motorista raivoso. Perguntamos ao carcará
se já tínhamos passado de Santa Teresa. Ele disse que sim e que já estávamos
chegando ao ponto final. Olhamos em frente e vimos que o ponto final ficava na
favela de Dna Marta. Olhamos pra cara uma da outra e caímos na risada.
- Ceição, já pensou se Vilson e
Val souberem que vimos parar na favela?
- Do jeito que Val tem medo de
entrar por engano em uma favela, imagine?
Esperamos por algum tempo no
ponto final e retornamos para o ônibus. Quando o motorista entrou resolvemos
indagar sobre o melhor lugar para descermos em Santa Teresa.
- Tem lugar bom lá não, é tudo
uma merda. Só tem gente ruim, blá, blá, blá.....
A criatura descarregou toda sua
revolta. Falou que a passageira que brigou com ele provavelmente ia contar para
o marido e provavelmente o marido viria tomar satisfação com ele. Mas que ele
não tinha medo porque é da baixada e já fez muito serviço sujo para o bicheiro
Anísio Abraão.
- Gabriel.
- Ah! O anjo Gabriel!
- Anjo? Que anjo dona, eu einh?
Melhor ficar calada, ele não está
pra conversa.
Quando chegamos ao Largo dos
Guimarães ele nos disse que era melhor descer ali. Escolhemos um bar simpático
e fomos logo tomar uma cerveja por que o calor estava demais. Aliás, cerveja só
para mim e Cláudia. Conceição tem um grave defeito: não bebe cerveja, apenas um
vinhozinho e olhe lá.
Passamos por vários bares,
restaurantes e alguns ateliês, mas já estava anoitecendo e sobrou pouco tempo
para conhecer o bairro. O tour pelas favelas nos atrapalhou.
Voltamos para o centro e junto
com Jackie passamos no PT para cumprimentar o Vereador Reimont, amigo de
Jackie e Conceição. Em seguida paramos num bar para um merecido happy hour.
14.09.2013
Madureeeeeira, lá lá laiá,
Madureiraaaaa....
Hoje fomos conhecer o bairro que Arlindo Cruz canta em verso e prosa. O visual é feio, mas
com tanta escola de samba, em cada esquina um bar, mercadão e agora o parque, digamos que Madureira tem
os seus encantos.
Parque de Madureira |
Eu imaginava o mercadão como um
lugar quente, desconfortável e tumultuado. Enganei-me. O mercadão é organizado e a
temperatura é agradável. Agora, vir aqui em véspera de Natal, nem morta! Só
mesmo para quem gosta muito de aperto e multidão.
Saímos do mercadão e fomos
almoçar no Shopping Madureira. Em seguida fomos conhecer o Parque Madureira que
fica ao lado do shopping. Cláudia estava cansada, resolveu ficar num barzinho
na entrada do parque, tomando uma gelada. Eu, Conceição e Jackie seguimos em
frente.
Parque de Madureira |
Alugamos uma bicicleta de três
lugares e fomos pedalar pelo resto do parque. Senti-me voltando a infância
quando andava de bicicleta sem freio. Ela tinha freio, mas era um pouco difícil
de manobrar. O movimento de gente a pé, de bicicleta e de skate, era grande.
Gritávamos com que estivesse na frente para sair e por pouco não atropelamos
alguns.
Quando chegamos ao final do
parque, no teatro Fernando Torres, fizemos uma curva e quase capotamos.
Pedalamos de volta até ao ponto de entrega das bicicletas, cansadas e felizes.
Não encontramos Cláudia. Ligamos
e ela informou que cansou de esperar e foi a um shopping popular que fica em
frente ao parque. Estava fazendo umas tranças afro no
cabelo. Fomos até lá e conhecemos duas moças do Congo que fazem as tranças com
muita habilidade. Uma delas se chama Hula e é
uma negra linda. Disse que veio para trabalhar no Brasil há três anos. No início tinha muito medo da violência do
Rio, mas agora já se sentia tranquila.
Tínhamos ingresso para uma peça
de teatro, o musical Casa Grande e Senzala que está sendo exibido no Teatro Ziembinsk, na Tijuca. Pretendíamos passar em casa, tomar um banho e
em seguida ir ao teatro e depois encerrar a noite em algum bar da Lapa.
Quando descemos do ônibus
estranhamos o local. Perguntamos a Jackie e ela nos respondeu que como já
estávamos atrasadas achou melhor irmos direto para o teatro.
Deus do céu! Estávamos suadas,
descabeladas e Jackie estava de bermuda e chinelo. Que jeito! Não dava pra voltar atrás agora e lá fomos nós. Ainda
bem, não me perdoaria se perdesse um espetáculo daqueles por causa de um
desejado banho. Adorei a peça Casa Grande e Senzala. Os atores-cantores do grupo de teatro Os Ciclomáticos fizeram um musical de excelente qualidade.
Caffecito Bar |
15.09.2013
Voltamos a Santa Teresa pra
trocar um sapato que Cláudia comprou e o os pés foram trocados. Aproveitamos
para passear com mais calma pelas ruas do bairro. Paramos em uma
feirinha de artesanato ao lado de uma igreja antiga que infelizmente está mal conservada. O interior é bem bonito, mas o exterior precisa de uma restauração. Paramos no Bar do Mineiro que serve uma feijoada famosa. Seguimos em frente
entrando em algumas lojas de artesanato e ateliers.
A fome apertou, paramos em um restaurante simpático e optamos pela
feijoada, afinal hoje é sábado, dia de feijoada.
Parque das Ruínas |
Continuamos nosso passeio, dessa
vez pelo Parque das Ruínas, um casarão antigo em ruínas, mas o que restou do
palacete está sendo muito bem utilizado. Na parte interna poucas paredes e
escadas de ferro fazem a ligação entre os andares. Ficou uma combinação bonita,
o tijolo aparente e o ferro preto. Lembrei-me de quando assisti na televisão
uma entrevista com o ator Osmar Prado, que foi filmada nesse local. Achei tão
lindo o lugar, fiquei com vontade de conhecer, mas depois esqueci. Só agora,
quando cheguei aqui, reconheci o local da entrevista.
Na entrada do parque tem um
jardim e na parte alta um largo com uma lanchonete e algumas mesas ao ar
livre. Um grupo afinava os instrumentos para uma apresentação. Tem um violoncelo,
que eu adoro. Acho que vai ser agradável ouvir música de qualidade, cercada de
verde e lá embaixo a vista da enseada de Botafogo, que é linda.
Fomos até ao Museu da Chácara do
Céu, que fica ao lado do parque. Uma casa antiga, mas com uma arquitetura que
ainda me parece moderna. Em volta da casa, um jardim de Burle Max. Estranhei a
quantidade de guardas no museu, em todas as salas onde entramos tinha sempre um
guarda por perto. Um deles nos falou que esse museu já foi roubado algumas
vezes e os bandidos levaram várias obras de arte.
Esse palacete pertenceu a um
milionário que amava as artes. Era muito amigo de Portinari e por isso tinha um
grande número de quadros do nosso pintor mais famoso. O museu tem móveis antigos,
louças, uma biblioteca e várias obras de arte que pertenciam ao milionário. É
uma viagem pelo Rio antigo. Uma das salas possui um grande armário de gavetas
fininhas com gravuras de Debret e Taunay. Todos aqueles desenhos que estavam
nos livros de História do Brasil dos meus tempos de escola, estão aqui, nessas
gavetas. Gostaria de ver todos, mas o tempo, esse inimigo cruel, não vai
permitir. Temos que voltar para Macaé.
Voltamos à casa de Jackie,
pegamos nossas malas e partimos para Macaé.
Acho que quero passar as férias no Rio. Nada de trabalho, nada de visitar a família, casamento, formatura, enterro, aniversário de amigas, etc. Quero só passear, como qualquer turista.
Acho que quero passar as férias no Rio. Nada de trabalho, nada de visitar a família, casamento, formatura, enterro, aniversário de amigas, etc. Quero só passear, como qualquer turista.