23 março, 2022

CANCÚN

 Essa viagem à Cancún foi uma odisseia.  

Em dezembro de 2019 minha amiga Tânia me perguntou se eu gostaria de ir a Cancún em abril/2020. Ela iria com um grupo de amigos e precisava de uma companheira de quarto para dividir as despesas de hospedagem. Eu nunca tinha viajado com essas pessoas e não conhecia a maioria delas, exceto Tânia e Beto. A maioria desse grupo trabalhou na Petrobras, então não eram pessoas estranhas para mim. Com Tânia já viajei uma vez e com Beto já trabalhei na mesma Unidade, o GEPEM. São duas Tânias nesse grupo. Tânia Farias, que podemos chamar de Tanuxa ou Tantan,  e Tânia Mussi que é esposa de Carlinhos.

Aceitei o convite, estava precisando mesmo sair da rotina. Já tinha uma viagem programada para a França em outubro/2020, mas pra Cancún são doze dias então não vai pesar tanto no bolso.

Jamais poderia imaginar que dois meses depois um furacão chamado Covid chegaria para virar tudo pelo avesso. Os transtornos que tivemos a partir daí foram inéditos pra todos. Carlinhos, nosso companheiro e agente de viagem informal, foi o mais afetado pelas mudanças que tivemos que fazer na programação da viagem. Ele teve o maior trabalhão. Em alguns momentos pensei em desistir, mas como os valores de passagem aérea e hospedagem não seriam devolvidos, resolvi seguir em frente.

Depois de inúmeras mudanças em voos, hotel, espera nas tentativas telefônicas e em sites das companhias, finalmente a Pandemia deu uma amenizada e resolvemos arriscar. Marcamos para fevereiro/2022, mais de dois anos após o início do planejamento dessa viagem. Ela deverá ser muuuuuuito boa para compensar o desgaste e a espera.

Oxalá!!!!!

03.02.2022

Chegamos cedo no aeroporto, o que foi a nossa sorte. Um agente de viagens de Cancún tem orientado Carlinhos sobre passeios, documentos de entrada no México, etc. Porém, ao chegarmos ao check-in da Gol, tivemos a desagradável surpresa de saber que faltava um documento exigido pelo México para entrar no país. A atendente nos enviou por email um link para que cada um pudesse acessar, preencher e enviar pra um endereço da Gol para que o documento fosse impresso. Foi um “barata voa”, um corre-corre, um quase desespero, porque essa viagem foi como um “parto difícil”. Quando será que vamos suspirar e dizer? :

- Acabaram-se os problemas, agora é só relaxar e se divertir.

Embarcamos para Brasília e depois para Cancún. Viagem tranquila, exceto para o vizinho de assento de Tânia Farias. Ela dormia um sono pesado e com frequência deslizava para o ombro do rapaz sentado a sua esquerda. Ele empurrava com o dedinho a cabeça dela para o acento correto. Eu puxava Tanuxa pro meu lado para que a cabeça tombasse pra direita, mas parecia que o avião tinha desnível e a cabeça voltava para o ombro do rapaz. ..... Ainda bem, para ele,  que foi somente no trecho Rio x Brasília.

Enfim chegamos ao nosso destino! O aeroporto fica próximo da cidade e logo estávamos passando pela avenida dos hotéis. Parece que a rede hoteleira fica concentrada nessa via, que deve ter uns sete quilômetros. Chegamos ao Hotel Empório Cancún e depois de tomarmos em “chá de espera” na recepção, deixamos nossas malas no quarto e fomos para o bar de uma das piscinas. 

Já encontramos lá o restante do grupo tomando cerveja e comendo Nachos Cargados. Cargados acho que significa “carregados”. Deve ser porque tem muitos acompanhamentos, dentre eles, uma pimenta grande cortada em fatias e bem picante. Gostei. Os meninos estão reclamando que não tem Heineken, somente a cerveja local Corona. 

Eu e Tanuxa fomos dormir mais cedo, somos as mais idosas desse grupo, precisamos de mais tempo pra recuperar as energias.

04.02.2022

Hoje é dia de descanso. Pela programação teremos três dias de descanso, ou seja, aproveitar o que o hotel oferece, ir ao centro almoçar e comprar algum “regalo”, caminhar na praia e admirar os hotéis maravilhosos dessa vizinhança. Dormir? Nem pensar!!! Com o dólar custando perto de seis reais, qualquer desperdício de tempo é um pecado grave.




Descemos para a praia em frente ao hotel. Os hotéis aqui nessa avenida têm fundos para a areia da praia, é como se fosse uma extensão do hotel. No seu perímetro da areia o hotel oferece cadeiras, espreguiçadeira, uma barraca para retirar toalhas e outra para pedir bebidas, etc. É uma vida boa! Sol, esse mar de um azul deslumbrante e morninho, uma cerveja ou uma marguerita...o único risco é um desses pássaros cagar na cabeça da gente, eles são muitos e atrevidos. São lindos, no entanto.

Depois do mar, um mergulho na piscina. Fui para o bar molhado para fugir um pouco do sol. Pedi uma marguerita de morango com pimenta na borda do copo. Não estava muito doce; uma delícia!

Hoje rimos muito com Tanuxa. Ela perde tudo: perdeu a chave do quarto, colocou a sua mochilinha preta dentro da bolsa de Tânia, pega a minha mochila preta pensando que é a dela. Consegue ser mais distraída do que eu, e olha que eu tenho uma longa lista de “gafes”. 

Um homem bem moreno nadava ao longo da praia, um pouco distante da arrebentação, parecia um peixe. Beto resolveu pegar no pé de Tanuxa : 

-Tânia, olha o tubarão!

- Onde? Vou lá pra ele me comer todinha!

No final da tarde fiz um cafezinho no quarto e tomamos com biscoito de polvilho. Esqueci de fazer a reserva para o jantar na Trattoria Bacoli, um dos restaurantes do hotel. Fizemos uma tentativa de conseguir uma mesa, mas não deu certo. Então fomos pra outro restaurante do hotel, de comida mexicana. Pedimos um prato de pescado, com a ressalva de que a pimenta deveria vir a parte. Gosto de pimenta, mas eles carregam a mão. Comemos uma posta de salmão, sobre uma caminha de purê de batata e legumes cozidos no vapor. Dei uma regadinha com o molho de pimenta, com cuidado porque pimenta mexicana merece respeito. Comemos muito bem, agora é dormir que o dia amanhã começa as seis horas.

06.02.2022

Deixamos tudo arrumado de véspera para podermos tomar um café da manhã e chegar as sete horas no ponto de encontro, onde um ônibus nos levará a cidade de Chichén Itzá, que foi a capital do povo Maia e, portanto, muito importante para a história do México.

O dia começou com chuva. Fomos para o café da manhã enfrentando o vento e a chuva através do corredor que nos leva ao elevador mais próximo do prédio do restaurante. O vento aqui é muito forte, diferente do vento em Macaé que é bem mais suave. Imagine como será o vento nos meses propensos a furacão? Vixe! Não gostaria de estar aqui nesses períodos.

O ônibus vai quase cheio. Por sorte algumas cadeiras ficaram vazias ao fundo e pude, então, ocupar dois assentos e dar um conforto maior para minhas pernas sofridas, cansadas de aperto em ônibus e aviões.

O guia começou sua fala contando um pouco da história da Civilização Maia. Boa parte da conversa não era novidade pra mim, mas é sempre mais emocionante quando alguém que vivencia essa cultura fala sobre ela. Ele falou e reprisou o fato de que:

- “O povo Maia ainda vive”. Seus descendentes diretos vivem aqui nessa região, porque quando a cidade foi atacada, não se sabe exatamente por quem, seus habitantes que conseguiram fugir, se embrenharam na floresta e com o conhecimento que tinha da agricultura e tudo o que estava relacionado a natureza, conseguiram sobreviver. Quando os espanhóis descobriram a América, a civilização maia já havia entrado em declínio e várias cidades já não existiam mais. Eles já estavam aqui a mais ou menos 2.500 anos, ou seja, antes de Cristo eles já habitavam parte da América Central e do Sul. Os maias possuíam conhecimentos muito avançados nas áreas de Matemática, Astronomia e Agricultura. Adoravam a vários deuses e acreditavam que o destino era regido por eles. Essa pirâmide que vamos conhecer é um templo dedicado ao deus Kukulkan, Serpente Emplumada em maia. A Pirâmide de Kukulkan, tem 365 degraus (O número de dias do ano), cada passo representa um dia do ano solar, tem 52 painéis que representam os 52 anos de um ciclo de destruição e reconstrução do mundo, segundo os maias. Muitos turistas vêm até aqui durante o equinócio da primavera. Nessa época, quando o sol se põe, ele projeta uma luz  que liga o topo da pirâmide a escultura da cabeça da cobra esculpida na base da pirâmide. O povo maia acreditava que o sangue humano era importante para o equilíbrio do Universo, por isso faziam sacrifícios humanos com a finalidade de agradar aos deuses e evitar que o caos reinasse sobre a terra. O calendário maia tem 13 meses de 20 dias ”.

Depois dessa aula do guia sobre a cultura maia fizemos nossa primeira parada na cidade de Valladolid. No entorno da praça principal tem um casario colonial em estilo espanhol, bem conservado. Uma cidadezinha charmosa! 



Segunda parada, Cenote Saamal. Os Maias consideravam os Cenotes como um local sagrado e realizavam alguns rituais aqui, inclusive os tais sacrifícios de humanos, que o guia falou. Curuzes!!! 

O local tem boa infraestrutura: restaurante, lanchonete, loja de souvenir, banheiros para troca de roupa, etc. É um lugar bonito, bem arborizado, jardins com plantas e fontes, algumas esculturas. 













Os cenotes são poços de águas formados por rios subterrâneos. Em algum momento a rocha se rompe formando, então, um poço. Na lateral rocha tem uma escada estreita, de madeira, que leva até a água. Tem também uma plataforma de mergulho, pra quem quiser realizar um “salto” na água. Pra entrar no cenote temos que tomar banho antes pra tirar qualquer resíduo químico, guardar nossos pertences em um armário, depois tem que colocar colete salva-vidas, ir pro cenote, nadar uns quinze minutos (nosso tempo é curto),  voltar para o banheiro, se secar e trocar de roupa porque a viagem continua. Cansei só de pensar. Uma pena que o tempo foi curto, eu preferi não mergulhar, muito trabalho pra um “molha rabinho”.

O ônibus partiu na hora marcada e somente eu e Tanuxa chegamos a tempo. O restante da turma se atrasou, mas não ficarão abandonados, são vários ônibus da mesma empresa e eles poderão pegar uma carona em outro ônibus.

Na próxima parada o guia nos convidou para participar de um ritual de agradecimento realizado por um....não me lembro o nome, mas é tipo um Xamã. Fizemos um círculo em volta do Xamã e alguém caminhou atrás do grupo balançando um pêndulo onde queimava um incenso com um cheiro suave,  parecido com eucalipto, para relaxar e limpar a mente. Difícil relaxar com a fome que eu estava sentindo.

Perguntei ao guia qual é a diferença entre as pirâmides egípcias e as maias. Ele explicou que existem diferenças e semelhanças. As pirâmides egípcias são utilizadas como uma tumba para guardar a múmia dos faraós e seus objetos de valor; as maias são templos com altares para cerimônias religiosas, principalmente de sacrifícios oferecidos aos seus deuses e, também, como observatório astronômico. As pirâmides maias tem degraus, as egípcias não. A semelhança mais evidente está na estrutura triangular com quatro faces. 

É interessante essa semelhança visto que egípcios e maias nunca tiveram contato, então não é possível nenhum tipo de influência. Talvez essa semelhança se deva as características daquela época, onde os povos dependiam muito mais da natureza para sobreviverem. Os deuses de ambas culturas eram, quase sempre, ligados aos astros e fenômenos da natureza. 

Os outros ônibus chegaram e nos reunimos com a "família Lobo” para almoçarmos. Nosso grupo consta na lista da empresa de turismo como família Lobo, porque a maioria tem o sobrenome Lobo e porque quem cuidou das nossas reservas foi Carlinhos Lobo. Então, nos próximos dias, meu nome será Angela Adamis Lobo, para facilitar a identificação. 


Depois do almoço partimos para a cidade maia de Chichén Itzá, conhecida como El Castillo. Esse lugar possui várias ruínas de prédios importantes, que hoje são consideradas uma das maravilhas do mundo moderno. A pirâmide é sem dúvida a mais imponente e mais conhecida. 

A escultura da cabeça de serpente chama a atenção. Acho interessante a relação que os povos não cristãos têm com as serpentes. A maioria de nós, ocidentais, morre de medo de cobras, sejam venenosas ou não. Eu tenho medo, mas nem tanto, já matei umas três no sítio. Não eram tão grandes, mas algumas pessoas não conseguem sequer olhar para uma cobra, nem mesmo em fotografias. Acho que tem a ver com nossa cultura religiosa judaico-cristã, que transformou a cobra num animal maldito. Vários países asiáticos tem, ou tiveram, a serpente como uma divindade. Em muitos desses países ela é considerada como um símbolo da fertilidade. Na mitologia grega ela é o símbolo da sabedoria. O guia lembrou que a serpente faz parte do símbolo da medicina e da química. Como Hipócrates é o pai da medicina e é grego, tenho a impressão que pode ser que essa serpente no símbolo tenha alguma relação com a mitologia grega. 

Chegamos tarde em Cancún, a viagem é longa, mais de duas horas. Estávamos cansados, mas ainda temos uma missão: cantar os parabéns pra Rafinha que faz três anos hoje. Bárbara passou num Minimarket que fica próximo do hotel para comprar um bolinho, mas não encontrou. Então comprou umas roscas com cobertura de chocolate e confeitos coloridos.

Rafael é uma gracinha, fala tudo, é muito alegre e inteligente. Não chora, não faz pirraça, tá sempre bem humorado. Não é qualquer criança que suportaria fazer esse passeio de “adultos”, sem se aborrecer.

Cantamos os “parabéns pra você” e as outras musiquinhas características dessa data. Ele curtiu, mas depois olhou as roscas e perguntou a mãe:

- Cadê o bolo? Isso é biscoito!

Garoto esperto!!!

07.02.2022

A jornada começou cedo, por volta das 07:00h. Hoje o destino é a ilha de Cozumel, um local excelente para a prática de mergulho. 

Fomos até a cidade de Playa del Carmen onde embarcamos num ferry boat e partimos para Cozumel. Alguém falou que a travessia leva perto de 40 min. Escolhemos o deck superior, sem cobertura, para aproveitar melhor a beleza da travessia. Chegando em Cozumel embarcamos em um catamarã rumo aos locais de mergulho. O guia do barco, César, é um gordinho simpático que fala alto e fala muito, nem precisa de microfone. Pela explicação do César entendi que são três paradas para mergulho, com níveis diferentes de profundidade. Vamos precisar de colete, pé de pato e snorkel. Cheguei a colocar colete, mas o Carlos falou sobre tantos riscos e dificuldades que eu desanimei. Tenho trauma de respirar por aquele tubinho preso à máscara, já me engasguei em uma tentativa de mergulho há muitos anos atrás. Não sou nada aventureira, recolho-me a minha insignificância. Não fui a única que ficou no catamarã, tem outros medrosos como eu. Subimos para a parte superior do barco pra tirar algumas fotos e fiquei admirando a água cristalina, de um azul incrível. Aqui a concentração de corais é enorme, são muitos tipos de peixes e de moluscos, deve ser lindo mergulhar nesse lugar. 

Playa Del Carmem

Cozumel
A quantidade de barcos por ali é enorme. O guia falou que vários Cruzeiros costumam parar por aqui, agora são poucos por causa da pandemia, o movimento costuma ser ainda bem maior

Depois da segunda parada para mergulho começou a me bater um arrependimento por ter vindo até aqui e nem tentar mergulhar. Resolvi que na próxima parada, onde a profundidade é menor, vou tentar. Beto me animou, disse que posso tentar sem usar o canudo pra respirar. Sem canudo acho que dou conta. E assim foi. Adorei!!!!



A próxima parada foi para o almoço. Uma praia lindinha com dois restaurantes bem rústicos, combinando com o local. O nosso restaurante, Playa Mia, tem uma tenda enorme que dá pra receber bastante gente. Um peixe delicioso que já chegou morno na nossa mesa; detesto comida fria, mas a fome era tanta que eu  nem me importei. 

Na volta, indo para o centrinho de Cozumel, o guia César colocou todo mundo pra dançar. Foi animado, o gordinho leva jeito pra animador de torcida de futebol. Depois pediu “propina” pra equipe do barco. Dei alguns dólares, é merecido. Aqui temos que selecionar o atendimento aos pedidos de propinas, porque são em grande quantidade.

Paramos por algum tempo no centrinho de Cozumel. Enquanto esperávamos algumas horas pelo ferry boat, fizemos umas comprinhas e tomamos mais cerveja. O dia foi bom, mas cansativo, pra variar.

08.02.2022

O passeio hoje é Isla Mujeres e fica mais próximo de Cancún. Isso é muito bom, não precisaremos enfrentar tantas horas de ônibus e barco num mesmo dia.  Esse catamarã não oferece muito conforto, não tem bancos apropriados para sentar, corrimão que facilite o acesso para a proa do barco, etc. Para os mais jovens isso não é problema, mas velho se lasca num barco desse. Tudo bem, o tempo de navegação é pequeno, por volta de trinta e cinco minutos, então essa falta de estrutura não é suficiente para me estragar o humor.

Depois do almoço teve um passeio de uma hora pelo restante da ilha, pra visitar alguns pontos turísticos aqui. Ouvi o que o guia falou, analisei e, como o melhor daqui é esse mar de águas mornas e cristalinas, optei por permanecer na praia em frente ao restaurante. Ficar um pouco de molho nesse mar do Caribe, nadar um pouquinho, e me esticar numa das muitas espreguiçadeiras espalhadas pela praia. Esse é o melhor programa pra quem está de barriga cheia e com  muita preguiça. A idade avançada nos traz algumas coisas boas e outras muitas ruins, essa é a verdade, mas já que não tenho aquela ansiedade pra conhecer tudo, ir a todos os lugares, curtir todas as baladas, procuro aproveitar bem o que é possível, respeitando os limites que a idade me impõe. A velhice é uma merda, mas ainda assim é bom viver.



Eu e Tanuxa demos uma caminhada pela orla, um pouco além do local onde paramos. O que tem aqui perto é mais do mesmo: restaurantes com estilo bem rústico, muita palha nos telhados, madeira, bambu, plantas tropicais, espreguiçadeiras em frente ao mar.

Depois de darmos um “thibum”, deitamos na espreguiçadeira e pedimos cerveja. Ficamos ali curtindo essa vidinha de rica, SQN.

Partimos para a última parada, nesse caso, uma cilada. Sempre tem uma: as lojinhas. Começou a chover e nos abrigamos na parte coberta entre o restaurante e as lojas . Fiquei observando um rapaz com uma grande cobra enrolada no pescoço, abrigado da chuva num corredor um pouco estreito. As pessoas que passavam ali, em direção a praia, quando se aproximavam e viam a cobra levavam o maior susto. Foi engraçado ver a reação das pessoas. Ele oferecia a cobra para quem quisesse filmar ou tirar fotos com ela. Cobrava cinco dólares. 

Sabe aquele momento no Ano Novo que as pessoas costumam escolher um propósito para o ano que se inicia? Pois é, nunca fiz nenhum plano, porém, a partir do ano em que me aposentei, 2015, resolvi que todo ano eu tentaria fazer algo novo ou alguma coisa que já fiz e que tenho muita vontade de repetir. Não precisa ser nada muito espetacular, pode ser até algo que eu não goste muito, mas que precise fazer. E tenho feito isso. Assisti, do alto mar, a queima de fogos em Copacabana em um Cruzeiro de Ano Novo, comprei uma bicicleta pra pedalar na orla, fiz uma pequena reforma na casa do sítio, fui a Barbacena depois de quarenta anos sem ir lá (para não estragar as boas lembranças que eu tenho dessa cidade), fiz uma outra coisa que não posso contar, e por último deixei o cabelo ficar branco. Nesse ano de 2022 vou começar por enrolar uma cobra no pescoço, coisa que jamais cogitei de fazer.

Paguei os cinco dólares e o dono da cobra me ajudou a colocá-la no pescoço. É pesada a bichinha, e não é gelada como eu imaginava que seria. Pedi a Victor pra tirar umas fotos e filmá-la. Acho que ele estava com medo, toda vez que eu me aproximava dele, ele recuava. Tadinha da cobra, tão rejeitada.

No retorno eu e Taxuna sentamos num lugar mais confortável na popa do barco. O céu estava carregado de nuvens escuras e ventava bastante. Caiu um pé d’água e nos molhamos todos. Tanuxa perguntou ao piloto do barco (ou comandante?), se podíamos sentar dentro da cabine. Ele permitiu, e ficamos por ali mais aquecidas e papeando com a tripulação. Tomamos algumas cervejas e um drinque com tequila, bem ruinzinho.

À noite a família Lobo (incluindo Victor e Beto) costuma se reunir numa mesa grande num espaço ao lado de uma das piscinas, pra comer uns belisquetes, tomar cerveja e ouvir música. Beto sempre vem acompanhado de sua inseparável mochila que guarda ali dentro tudo que você possa imaginar. A sua caixinha de som é indispensável nesses momentos; ficam por ali até tarde jogando conversa fora, dançando na chuva, bebendo...dormem pouco, mas conseguem estar cheios de energia no dia seguinte.  

09.02.2022

Dormi muito bem a noite passada, é a primeira noite em Cancún onde consigo dormir mais de quatro horas. 

Acordamos mais tarde, que delícia, tomamos café com calma e depois fomos a praia e em seguida pra piscina. 

Hoje é dia de relaxar. Mariângela foi relaxar do jeito que ela mais gosta, caminhando vários quilômetros. Lembro-me de vê-la sempre caminhando na praia dos cavaleiros, maior pique, enquanto eu fico embaixo da barraca, sentadinha na minha cadeira, lendo um livro. Maior preguiçosa! Então é isso que vou fazer hoje, só não vou ler.  Tanuxa também não vai fazer nada diferente disso. 



A praia tem pedras na orla com alguns intervalos pequenos só de areia. Vi que tem algumas bandeiras vermelhas e outras na cor coral que demarcam esses trechos sem pedra, mais apropriado para o banho de mar. Depois do mar, piscina, bar molhado, marguerita de morango, e por último hidro de água quente.

Fomos almoçar no centro. Passamos em algumas lojas e depois almoçamos no Super Chedraui Selecto, supermercado no primeiro piso e restaurante no segundo. Tem cafeteria, sorveteria, buffet de salada... as filas para pagamento desanimam um pouco, mas a fome nos obriga a esperar. Como fiz uma reserva para o jantar na Tratoria Bacoli, achei melhor ficar só na saladinha no almoço.

Voltamos caminhando pela rua principal do centro, onde ficam as principais boates da cidade. Ainda é dia, mas o buchicho já dá uma noção do que acontece a noite. Essa rua me lembra Las Vegas, pelas luzes e quantidade de pessoas caminhando pelas calçadas, e certamente deve ficar ainda mais animada á noite.

Jantamos todos no Bacoli, exceto Beto e Victor que preferiram comer comida mexicana e, me parece, assistir a um show que acontece em frente ao restaurante. Toda noite tem alguma apresentação ali.

10.02.2022

Hoje a programação é uma visita a Tulum, mas eu e Tanuxa desistimos do passeio. Tanuxa não passou bem depois que retornou do jantar e eu dormi muito mal, ou melhor, não dormi. Ainda bem cedinho passei mensagem pra Carlinhos avisando que não iríamos e tentei dormir um pouco. Por volta das dez horas tomamos café e fomos pra piscina. Esse passeio de hoje acho que não difere muito do que fizemos a Chichén Itzá: sítio arqueológico, cenote....A viagem é longa, eu não iria conseguir aproveitar quase nada, cansada como estava.

Saímos a tarde para almoçar no centro e aproveitar para comprar alguns presentinhos. Escolhemos o Restaurante Marinero's. Pedimos um prato de pescado:  peixe empanado, arroz de brócolis e legumes cozidos. Comida simples e gostosa. 

Caminhamos até o ponto do ônibus que passa pela avenida dos hotéis. Esse transporte tem nos atendido bem, é barato e nunca está lotado. Quando chegamos ao hotel o vento estava tão forte que parecia que ia nos carregar.

11.02.2022

Saímos cedo para conhecer o Parque Xcaret. Os ônibus do Parque  passam pelos hotéis para pegarem os passageiros. A viagem não é demorada e logo chegamos ao Parque. São muitas atrações, acho que um dia é pouco para aproveitar tudo, até porque vamos enfrentar filas, of course.

Esse lugar parece uma selva cheia de surpresas. Tudo é muito bem sinalizado, a todo momento passamos por um mapa que informa onde estamos e as diversas trilhas para cada atração. Tem rios subterrâneos, aquário, trilhas pela selva, praias, shows temáticos, nadar com golfinhos, caminhada no fundo do mar, e muito mais. Um dia é pouco para quem quer usufruir de todos as atrações que esse parque oferece.

O ingresso não foi barato e mesmo assim nem todos as atrações estão inclusas. Algumas coisas já conheço de outro lugares, nadar com golfinhos já nadei em Punta Cana e dei até um beijo na boca do bicho. Nadar com tubarões, nem pensar. Vou me arriscar no Sea Trek, que é um passeio no fundo do mar.

Logo que cheguei procurei um local para tomar um café. Saímos muito cedo e não houve tempo de tomarmos o café no hotel. Eu e Tanuxa nos separamos do grupo nesse momento porque nosso programa aqui será mais ligth que o do restante do grupo.

Andamos pelas trilhas e cada uma delas nos leva a algum lugar maravilhoso. Floresta, rio e o mar da Riviera Maia. Eles aproveitaram muito bem tudo que a natureza ofereceu aqui. Esse é, sem dúvida, um dos pontos turísticos imperdíveis dessa cidade mexicana. O legal do Xcaret é que você pode desfrutar das atrações e da natureza.

Paramos pra dar um mergulho numa enseada de águas muito claras, onde as pessoas nadavam com snorkel para admirar os peixes e algas que tem por aqui. Eu e Tanuxa nos esticamos nas espreguiçadeiras para aproveitarmos o sol, com uma cervejinha pra acompanhar.

Fui para o local do Sea Trek. Nessa atividade a gente desce a uma profundidade de até cinco metros respirando como se estivéssemos na superfície. Eles te enfiam na cabeça um capacete que parece um escafandro com um tubo flexível que fica ligado à superfície, por onde enviam o oxigênio necessário. Várias pessoas desistem do passeio nessa fase, se sentem desconfortáveis com esse escafandro na cabeça. Também balancei nesse momento, mas respirei fundo e fui em frente. Do nosso grupo só cinco participaram.

Em seguida descemos lentamente por degraus que nos levam até ao fundo. Do lado direito tem um corrimão que nos direciona por todo o caminho. Segurei com força no corrimão, não largo dele de jeito nenhum. Tem um grupo de mergulhadores que nos acompanham o tempo todo. Antes de entrarmos na água, eles nos deram orientação de como nos comportarmos lá embaixo, sinais com a mão que indicam se está tudo bem ou mais ou menos, se quer desistir e subir, e por aí vai.

A paisagem em volta é muito legal; corais, peixes, uma arraia enorme que passa próximo da gente e encosta no nosso corpo. Passei a mão sobre as costas dela, parece um veludo. Olhando os outros caminhantes a nossa frente, tive a sensação que estávamos andando na lua, todos parecem astronautas de sunga e biquíni andando lentamente e mais leves como se houvesse pouca gravidade. De vez em quando a água fica mais turbulenta e temos que segurar firme, os pés parecem querer sair do chão. 

Um dos mergulhadores deu uma bronca em Victor porque ele tocou nos corais com a mão. A bronca foi com gestos de ambas as partes. Fiquei pensando em como seria uma briga gestual aqui embaixo d’água. Deve ser bem legal.

O passeio dura trinta minutos. É suficiente.

Restaurante El Manglar
O almoço pode ser em qualquer um dos restaurantes do Parque, parece-me que são doze. E ainda tem muitos bares, lanchonetes... é uma puta estrutura. Escolhemos o mais próximo do Xcaret. A fila é grande, mas anda rápido. A comida foi boa, considerando o número grande de pessoas que eles atendem por dia.

Os ônibus do Parque que nos levam aos hotéis têm vários horários. Taxuna e eu escolhemos voltar no horário de 16:30. Gostaríamos de ficar mais um pouco, mas o próximo ônibus sai depois do último show, por volta de 22:00h. Não estamos muito a fim de assistir show temático, os espíritos maias que nos perdoem. Se ainda fosse mais cedo, eu arriscaria.

12.02.2022

Hoje é dia de preguiça. Tomar café sem correria, pegar sol, aproveitar a praia, piscina de hidromassagem e jantar no restaurante mexicano do hotel.

Depois do café, nos juntamos ao restante da turma na praia. Beto e sua mochila chegam em seguida. Ela é pesada, mas não pra Beto que malha todos os dias, parece um garotão. Tira sua caixinha de som e liga o som baixinho que é pra não atrapalhar os “vizinhos”. Aproveitamos, eu e Beto, para lembrar um pouco dos tempos de trabalho na Petrobras. Não sou saudosista, quando converso sobre tempos passados é sempre com prazer em lembrar os bons momentos, mas não necessariamente com saudade.

Depois fui jogar conversa fora com Victor. Sempre que converso com ele lembro do meu filho, que tem o mesmo nome e quase a mesma idade. Victor me parece um rapaz simpático e gentil. Contou-me sobre as dificuldades de morar em Imbariê (Duque de Caxias) e trabalhar no Rio. Passou por alguns apertos, até um tiro na perna em um assalto onde teve sua moto roubada. Percebo que ele, assim como meu filho, ainda enfrenta muitas dificuldades para conseguir uma situação financeira mais tranquila. O momento atual do nosso país não facilita a vida desses jovens. 

Conversando com Tânia Mussi, descobrimos que já trabalhamos no mesmo banco, o Unibanco. Eu primeiro e ela depois, quando eu já estava na Petrobras. No Unibanco trabalhei com Fátima e na Petrobras, com Nádia. Ambas são irmãs de Tânia. Êta mundo pequeno! Tânia é simpática e parece bem tranquila, igual ao marido Carlinhos.

Esses momentos de relax são essenciais, é bom jogar conversa fora sem preocupação com horário e qualquer outro compromisso. 

À noite alguns do grupo vão a Boate Cocobongo, que é a melhor, ou uma das melhores, casa noturna daqui. Estava na minha programação ir a essa boate, mas por motivos alheios a minha vontade, não irei. Paciência, economizei alguns dólares e não precisei ficar acordada até de madrugada, o que na minha idade faz alguma diferença, principalmente porque retornaremos amanhã e a viagem vai ser bem cansativa.

13.02.2022

Hoje é dia de partir. Logo cedo tivemos que fazer o teste pra Covid. O laboratório mandou um profissional que nos atendeu em nosso quarto. Minha companheira de quarto esperneou, xingou, achou ruim demais. Eu não achei tão ruim, os primeiros testes PCR eram bem piores.

Depois tivemos que preencher um formulário on line da Anvisa, exigência para entrar no Brasil. Nunca tive uma viagem tão complicada, foram tantos formulários pra preencher, uma chatice. Culpa do Covid.

Depois de alguns contratempos no check-out, chegou o momento da partida. Às 17:30 h a Van nos levou para o aeroporto.

Adiós México, hasta el regresso, si Dios quiere!

14.02.2022

Nessa viagem nossos embarques e desembarques foram todos "com emoção''. 

Começando pelo embarque no Galeão onde tivemos que preencher um formulário on-line para entrada no México, que não estava previsto, visto que já havíamos preenchido um outro com o mesmo fim. Foi o maior corre-corre. Terminamos já com o embarque fechando, a funcionária da Gol teve que nos levar até ao portão de embarque.

Chegando no México, travaram a entrada de Victor. Primeira viagem internacional, jovem, acharam que estava sozinho, certamente suspeitaram que teria intenção de atravessar a fronteira para os Estados Unidos. Beto explicou que ele estava com um grupo e mostrou a reserva do hotel, então liberaram a entrada dele. Ainda tivemos que preencher um novo formulário para apresentar na imigração. 

Ah! Já ia esquecendo que uma mala de Carlinhos chegou praticamente destruída na esteira das bagagens.

No retorno não foi diferente, o enrosco já começou em Cancún. Alguns de nós entrou na fila para idosos, no check-in.  Uma jovem na cadeira de rodas, aparentemente com alguma lesão na perna, foi levada ao check-in para passageiros com necessidades especiais. Ela deveria se fazer acompanhar de uma única pessoa, para empurrar a cadeira, mas veio com um grupo de onze pessoas. E a atendente aceitou! Uma passageira desse grupo ainda teve excesso de bagagem, abriu a mala no chão e começou a transferir parte da bagagem para outras malas, atrasando ainda mais o atendimento de quem estava na fila. Já tinha gente que estava com vontade de linchar os onze passageiros.

No embarque nos enfiamos no Free Shopping e não vimos a hora passar. Quando chegamos ao nosso portão de embarque já estavam fazendo a última chamada para embarque. Mariângela perdeu o passaporte. Chorou, disse que o passaporte deveria ter caído quando passou sua bagagem na esteira. Ninguém da empresa aérea deu pelota. Disseram que ela não poderia embarcar e que o próximo voo para Brasil seria na quarta,  ou seja,  mais dois dias em Cancún. Mariângela já estava pensando no que fazer, já que tinha que ficar, quando apareceu alguém trazendo seu passaporte. Gracias Nuestra Señora!!!!

Chegamos em Brasília por volta das 07:00h e teremos que encarar mais de 12 horas de espera pelo nosso voo para o Rio. Decidimos então deixar nossa bagagem no guarda volume e contratar uma Van  para fazer um tour por Brasília.

Descobrimos que não tem guarda volume nesse aeroporto. 

-O que? No aeroporto internacional da capital desse país não tem guarda volume?

-Foi desativado por causa da Covid. - Informou a atendente.

 Diga-me, esse é um país sério? Nem precisa responder.

Esse aeroporto é muito ruinzinho, não tem locais apropriados para carregar um celular, poucas cadeiras para sentar na área de desembarque, sem ar refrigerado. Só derrota. 

Ao invés de contratar uma Van, tivemos que contratar três carros, um só para levar a bagagem. E lá fomos conhecer a capital. Já estive aqui duas outras vezes, a trabalho, mas do nosso grupo a maioria já conhece outras capitais do mundo, mas não a do próprio país. 

Brasília realmente não atrai muitos turistas.

Na hora do check-in a atendente me diz que eu já tinha despachado uma bagagem. 

- Como assim, se eu ainda não tinha feito o check-in e só tenho essa bagagem? Respondi.

- Onde a senhora recebeu essa passagem? - Perguntou a atendente.

- Cancún. – Respondi.

A atendente conversou com a companheira do balcão ao lado, fizeram algumas ligações telefônicas e, por fim, me entregaram uma nova passagem. Não me deram nenhuma explicação e eu também não pedi.

Comentei com Mariângela que essa viagem é cheia de “emoções” e só vou acreditar que acabou quando passarmos em frente ao hospital do HPM, mas  ainda poderemos ter um pneu furado.

Na viagem para Macaé paramos na Parada das Coxinhas pra matar a fome. Essas coxinhas são deliciosas, levei mais duas pra comer no dia seguinte.

Passamos pelo HPM. Ufa!!! Enfim em casa, acabaram as "emoções".

Qual não foi minha surpresa quando no dia seguinte vi que tinham várias mensagens no grupo. Beto pedindo para quem ficou com seu perfume Diesel se pronunciar, antes que ele faça uma queixa formal. Brincadeira, é claro. Em seguida Carlinhos perguntando se alguém sabia do paradeiro da mala quebrada que ele embalou no aeroporto e estava com mais da metade das roupas que ele levou. Puta que pariu, a maldição das “emoções” ainda não terminou?

No final apareceram a mala e o perfume. Tudo acaba bem quando termina bem e estamos conversados.