30 junho, 2023

Rota das Emoções - Maranhão, Piauí, Ceará

Há alguns meses, numa conversa entre mim e Sueli, surgiu a vontade de fazermos uma viagem juntas. Durante a pandemia tínhamos uma viagem programada para a França. Depois de tudo planejado e pago, tivemos que adiar e posteriormente cancelar. Então decidimos fazer uma viagem para algum lugar do Brasil que ainda não conhecemos. Escolhemos fazer a Rota das Emoções, um roteiro que começa no Maranhão, passa pelo Piauí e termina no Ceará, passando por boa parte da orla litorânea desses Estados. Convidamos alguns amigos para nos acompanhar e Antônio José e sua esposa Lelete (Luiza Helena) toparam.

14.06.2023

Saímos de Macaé por volta das 03:00h, para o aeroporto Santos Dumont e teremos uma conexão em Guarulhos. Chegamos em São Luís do Maranhão e o nosso Transfer para o hotel não estava a nossa espera. Huuum! Mau sinal. Entramos em contato com a agência que contratamos, que nos pediu para pegarmos um táxi e que posteriormente seríamos reembolsados. Partimos para nosso hotel e Seu Antônio, um senhor bem falante, engatou a primeira marcha e também o bate-papo. Foi nos falando sobre a cidade, os políticos e as politicagens e sobre seu desejo de aposentar e viajar. Disse que aqui é o Sarneyquistão, ou seja, a terra dos Sarneys. São os donos de tudo, segundo ele.

Tudo certo, chegamos em nosso hotel Pousada Litorânea. Desembarcamos, entramos no hotel e o recepcionista fez a consulta sobre nossa reserva:

- Não há reserva pra vocês aqui - disse o recepcionista.

Sueli desconfiou e disse:

- Fizemos uma reserva na Pousada Litorânea. É aqui?
- Não, aqui é Litorânea Praia Hotel, a Pousada fica nessa mesma rua um pouco mais a frente.

Ligamos imediatamente para o motorista que nos trouxe e ele retornou sem reclamar. Muito pacientemente Seu Antônio colocou todas as malas no porta malas e nos levou ao endereço correto. 

Restaurante Adventure

Deixamos as bagagens no quarto e partimos para o almoço. A fome era muita e não perdemos muito tempo procurando restaurante, essa Avenida Litorânea tem opções de sobra. O escolhido foi o Restaurante Adventure na praia do Calhau, quase em frente a nossa Pousada. Uma cerveja bem gelada, uma comida gostosa e a brisa fresca do mar aplacando o calorão que faz nessa cidade. Infelizmente não vai dar tempo pra um mergulho, temos um tour agendado para o Centro Histórico da cidade de São Luís.

Seguimos num carro para o centro e lá nos esperava Jociel, um jovem magrinho e muito simpático, com mestrado na área de turismo e que pretende fazer doutorado em Bolonha, na Itália. Sua mãe mora na Suíça e o pai no Maranhão. Já morou com a mãe, mas sentiu falta do calor (humano e do clima). Retornou ao Brasil e hoje mora sozinho em São Luís.

 
Beco Catarina Mina

Jociel nos guiou pelas ruas, becos e ladeiras da cidade antiga. Não vemos postes de luz cheios de fios pendurados enfeiando a cidade, acho isso ótimo, muitas construções em bom estado e muitas outras que necessitam de restauração o que dá uma aparência meio decadente, mas o saldo é positivo, pelo menos para mim. Subimos pelo Beco Catarina Mina e já sem preparo físico, me arrastei escada acima. Quando estava chegando ao último degrau um cara que parecia um pedinte me estendeu a mão oferecendo ajuda para eu subir. Olhei séria pra ele:

- Vai te catar, no último degrau é que vem me ajudar? 

Palácio dos Leões
 Fizemos uma visita guiada ao Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão, onde uma parte do palácio está aberto à visitação. Tem uma coleção bem bonita de objetos de arte distribuídos em várias salas: quadros, prataria, tapetes, cristais e belos móveis de madeira (só madeira boa que cupim passa longe). Todo o ambiente tem um toque de inspiração francesa e não é à toa visto que os franceses estiveram por aqui e também no Rio de Janeiro. Acho que tiveram mais sucesso aqui já que o nome da cidade é uma homenagem ao Rei Luís (XIII, XIV ou XV, não lembro bem qual deles. Provavelmente é o XIII, o mais antigo). Achei interessante a história de onde surgiu o nome Palácio dos Leões. Um jornal fez uma comparação irônica sobre a semelhança entre o governo e o leão, o governo possuía a mesma voracidade do leão na hora de recolher os impostos do povo. A população gostou e o apelido pegou, acabou se tornando oficial.

Jociel andou conosco pelas ruas do centro mostrando os prédios mais importantes e falando, com muita propriedade sobre a história de cada um deles. Um pouco de cultura inútil também é bem vinda e Jociel se encarregou de nos esclarecer sobre as quatro estações dessa região: Calor, Verão, Quentura e Mormaço. Estamos na estação do Mormaço, que ocorre de maio a agosto.

Conhecemos, externamente, outros prédio histórico: Igreja da Sé, Palácio de La Ravardière (sede da Prefeitura) e o casario do centro.

Encerramos o passeio tomando um sorvete de Bacuri e ouvindo a música que alguém cantava numa das mesinhas na calçada estreita da ladeira. Bacuri, na minha região, é um porquinho novo que assado é uma delícia. Acho que gosto mais de comer o porquinho assado do que o sorvete. Hoje em dia dizer que comemos “porquinho assado” não é politicamente correto, pode ofender os veganos. Tadinho do porco, mas essa é a verdade, suavizar essa fala é hipocrisia.

O motorista que nos levou até o hotel gosta de contar vantagem. Manoel diz que tem 08 filhos e que trocou a esposa por outra de 40 anos. Toma sempre um “azulzinho” que é pra melhorar a pegada. Lelete sempre joga uma conversinha nos motoristas pra saber em quem eles votaram. Se foi em Lula cai nas graças dela. Seu Manoel disse que Lula fez muito pelos pobres e que o voto dele foi pra Lula. Ganhou pontos na carteira de Lelete.

  

     


15.06.2023

Saímos cedo para a cidade de Barreirinha, porta de entrada para o Parque dos Lençóis. Um motorista apressado e mal humorado nos levou por uma viagem longa e cansativa. Estrada ruim, parece restinga, estrutura ruim pra turistas. Acho que isso já é uma preparação para a maratona nos Lençóis. 

Ficamos hospedados na Pousada São José, simplesinha, mas o atendimento que nos dispensou o José Ribamar foi bem legal. Caminhamos até o centrinho da cidade e almoçamos no Restaurante do Gaúcho. Estava lotado. A comida era razoável, mas a farofa de uma farinha muito grossa, parecia que vinha misturada com um pouco da areia que está por todo canto da cidade.

O que mais se vê pelas ruas são motos (capacete é uma raridade por aqui), quadriciclos e veículos traçados. Pra andar nessas estradas de areia só mesmo veículos com tração nas rodas traseiras. Muitas caminhonetes usam a parte da carroceria para carregar passageiros. Uma estrutura de metal sobre a carroceria com uma pequena cobertura, duas ou três fileiras de bancos e temos aí as Jardineiras, que substituem os Ônibus e Vans utilizados normalmente nas outras regiões e que aqui são inúteis. 

Mapa do Parque dos Lençóis
Indo de Barreirinha para o Parque, temos que atravessar numa balsa para a outra margem do Rio Preguiças. Enquanto esperava nossa vez de atravessar fiquei olhando um mapa dos Lençóis que estava afixado em uma parede - adoro mapa - e só então tive a noção do tamanho que tem esse Parque. O guia foi dando explicações a respeito pra quem estava ali olhando o mapa. Falou de um tipo de passeio mais radical que se costuma fazer pelo parque, Trekking, que é uma travessia da cidade de Atins até a cidade de Santo Amaro. São três dias de travessia pelas dunas, a pé (curuzes!!!) com duas paradas em locais com uma infraestrutura de apoio. Gente do céu! Deve ser lindo e cansativo. 

- Quer fazer esse passeio? - Me perguntou o guia.
- Numa próxima reencarnação, talvez – respondi.

Atravessamos o Rio Preguiças e continuamos a viagem, na base de muito sacolejo pra baixo, pra cima, pros lados, passa dentro de lagoa, divide espaço com outro carro na trilha pequena, parece que vai capotar. São muitos carros indo prá lá, tem momentos que parece que os carros estão numa espécie de competição. Haja coluna!!! Não nos deram a opção de “sem emoção”, aliás, não existe essa opção. São quarenta quilômetros de “Ô balancê, balancê, quero dançar com você, entra na roda... ". 

Somos doze pessoas nessa Jardineira, oito na parte traseira e dois na cabine (sem contar o guia e o motorista). Na traseira nós, os mais idosos, e no banco da frente dois casais jovens de Cuiabá. Eu gosto de andar com jovens, a gente rouba um pouco da jovialidade deles, enriquece nosso vocabulário com palavras e expressões (ou empobrece, sei lá) e um pouco de tecnologia. Logo percebemos que nossas tentativas de filmar durante a viagem eram medíocres diante da habilidade deles. Então Sueli perguntou a um dos jovens se ele poderia compartilhar conosco algumas de suas filmagens. Ele não se fez de difícil e imediatamente passou os detalhes pra Sueli capturar os arquivos dele. Mó facilidade. Ai, ai!! É tão bom ser jovem.

Chegando nas dunas, tiramos as sandálias e deixamos no carro. Pra caminhar por aqui tem algumas regras: nada de calçado, nenhuma bebida alcoólica ou drogas ilícitas e os veículos não podem transitar sobre as dunas. O ICMBio fica de olho. 

Perguntei a Jade (combinei com Jadielson de chamá-lo de Jade, é mais fácil lembrar) qual a melhor opção para velho escalar essas dunas.

- Aqui nessa primeira duna tem uma escada de madeira de 145 degraus – disse ele.

- É nessa que eu vou.

Olhei a escada, olhei as pessoas subindo pela areia... pensei – Porra, estou tomando remédio pra dor desde a véspera da viagem, pra que? Pra fazer essas doideiras que uma véia de quase setenta anos cheia de tendinite, não deve fazer.

Subi pela areia. Desde que não comece a doer agora, tudo bem. Se doer depois da viagem, foda-se, vou pra acupuntura e fisioterapia.

Começamos pela Lagoa Bonita e depois a do Clone (porque parte da novela Clone foi filmada aqui) e a terceira é a do Maçarico. 

Que paisagem impressionante!!! Aquela imensidão de areia fina e branca, as lagoas translúcidas, o azul intenso do céu. A beleza da natureza é a única coisa que me impede de ser classificada como uma ateia. Diante de tanta beleza é difícil não acreditar que exista um Criador.

Antônio, sentado na areia olhando tudo isso, diz que quer fortalecer sua espiritualidade e que esse lugar é o ideal pra isso. Concordo com ele, lugares assim são propícios para que tem esse propósito. Não é o meu, sou uma pessoa de pouca fé, mas entendo quem almeja esse tipo de evolução. 

Ficamos um tempo de molho naquela água morninha descansando da dureza do trajeto. Depois da terceira Lagoa resolvi escolher o caminho menos íngreme, mas a subida é difícil. A areia é muito fofa, o pé afunda até o alto da canela, haja força na perna (coisa que eu já não tenho). Naquele momento difícil lembrei da minha mãe, que aos noventa e sete anos subia os 34 degraus do meu quintal, de quatro. Não tive dúvidas, virei a ‘’buzanfa” para o público lá embaixo na Lagoa, coloquei as mãos na areia e escalei a duna, de quatro. Quando cheguei lá em cima, enquanto recuperava o fôlego, olhava as pessoas que estavam subindo e vi, para meu consolo, que duas mulheres ainda jovens estavam fazendo o mesmo que eu fiz. Ou eu estou muito bem ou elas estão um bagaço.

Ficamos por lá até o pôr do sol, um dos mais bonitos que eu já vi.

No caminho de volta,  logo no início, ouvimos um estampido. Parecia um tiro, mas foi um pneu que estourou. Fiquei com dó do motorista e o guia, enfiados embaixo do carro com aquele calor de rachar. Enfim conseguiram trocar o pneu. O guia Jadielson saiu de lá de baixo do carro parecendo um “Guia à milanesa”, empanado naquela areia branca e fina como um polvilho.

Sueli perguntou ao casal de Minas, que veio na cabine da Jardineira, se eu poderia trocar com um deles (sou a mais velhinha do grupo). Gostei da ideia, lá dentro balança muito menos. O senhor imediatamente subiu na boléia. Desconfiei que ele estava doido pra se juntar a farra que ia rolando lá em cima. 

- Obrigado, viu? Acho que você vai gostar de experimentar o roteiro com emoção, né? – Falei pro senhor.

- Ele está apenas sendo cordial – me respondeu a esposa com cara de brava.

Êtaaa! Notei uma certa ironia no jeito dela. Foda-se.

Já adicionei a minha vida o botão do “foda-se” há algum tempo. Funciona que é uma beleza.

  





16.06.2023 

São muitas lagoas: a Lagoa Azul, da Esmeralda, dos Toyoteros, do Peixe e muitas mais que não dá visitar em única viagem, a não ser que se passe uns 30 dias aqui e tenha perna robusta pra caminhar. E caminhar  com guia, caso contrário pode sair daqui direto pra Cidade do Pé Junto.

A distância de Barreirinha pra chegar aqui é menor do que pra Lagoa Bonita, menos sacrifício. O passeio aqui é mais do mesmo, o cenário é tão bonito quanto o de ontem, então optei por ficar mais tempo dentro d’água. Nunca vou aproveitar essa temperatura nas águas de Macaé, então vou me fartar nessa Lagoa Azul e deixar as outras Lagoas pra um futuro distante e improvável.

Descobri que eu, Lelete e Antônio somos do mesmo signo, Gêmeos. Provavelmente temos muito em comum.

Almoçamos no Restaurante Jacaré na orla do rio Preguiças. Uma comidinha gostosa e com preço justo. Tinha música ao vivo no almoço, o que não é muito comum na nossa região, com um repertório bom e no volume certo. O rapaz cantou a música “Onde Deus Possa me Ouvir”, do cantor e compositor mineiro Vander Lee. Filmei e mandei pra Valdea, ela também adoooora essa música.

Rio  Preguiças - Barreirinhas

Voltamos a pé até a Pousada. Aqui não tem sinal de trânsito, não tem mão única, motoqueiro não usa capacete, gente andando no meio dos carros. Um tanto confuso, o que me fez pensar no trânsito caótico da Índia, guardadas as devidas proporções.

À noite voltamos a orla do rio para tomar uma cerveja gelada, beliscar alguma coisa e aproveitar o ventinho fresco da noite. É interessante como tudo é mais bonito à noite. Creio que é por causa das luzes, da música, do frescor que vem do rio, ou tudo isso junto.

17.06.2023

Enquanto aguardávamos o Transfer ficamos conversando com Ribamar. Falei com ele sobre uma viagem que fiz ao nordeste na década de oitenta e que, na época, notamos que a maioria das pessoas que nos atendiam nos bares, restaurantes, nos táxis, etc., tinham nomes diferentes, pouco comuns. Quando estávamos quase chegando em Natal, no Rio Grande do Norte, alguém perguntou o nome do garçom que estava nos servindo:

- Eu me chamo Alex – ele repondeu.
- Que legal, até que enfim um nome bonito – comentei.
- É Alexnaldo – ele completou.

Caímos na risada.

Ribamar lembrou de uma história também. Um conhecido dele, que tinha um nome muito feio, foi a uma festa da empresa onde trabalhava e lá conheceu uma moça bem bonita. Conversaram, dançaram e no final do encontro ele perguntou o nome dela. Ela disse que não queria dizer porque achava o nome dela horrível.

- Não tem problema, o meu também é muito feio, eu me chamo Girogenaldo.

- O meu nome é Zenefrina. – disse ela envergonhada.

- Achei bonito, seria feio se fosse Raimunda – respondeu ele.

- É Zenefrina Raimunda o meu nome.

Se casaram e costumam contar essa história sobre o primeiro encontro deles.

O Transfer chegou e nos levou para o percurso de Barreirinhas a Atins pelo Rio Preguiças em uma lancha voadeira que vai até a Praia de Caburé. A vegetação nessa região parece restinga, mas não é tão baixa, tem árvores mais altas e muita palmeira. Perguntei ao guia se era a palmeira Carnaúba ou Babaçu.

- É Palmeira Buriti – respondeu o guia.
- Vixe, não entendo nada de palmeira.
- Ela gosta de água doce, você vai ver que quando o rio começa a se aproximar do mar e recebe alguma água salgada, já não se vê mais Buritis.

Muito mangue também, aqui deve ser bom de caranguejo. 

Paramos em Vassouras.  Nessa praia de rio tem barracas com cobertura de palha de coqueiro com uma estrutura legal para os turistas. Muitas redes espalhadas ao redor do restaurante e um chuveirão que eu vou usar, com certeza, antes de embarcar. Atrás do restaurante tem uma duna, com uma subida considerável, por sorte tem uma corda esticada que auxilia os mais fracos, como eu. Segundo o guia, aqui as dunas se encontram com o Rio Preguiças. Lá em cima avistamos as dunas, que não são tão branquinhas quanto a dos Lençóis, até se perderem no horizonte.

Não continuei a caminhada, voltei pra barraca porque tem um sol pra cada um lá em cima.

Os macacos pregos estão fazendo a festa dos turistas. Tem uma macaquinha que leva o filhote nas costas e fica olhando séria pra cara da gente. Esse bicho é nosso parente, não há dúvida.

Embarcamos rumo a Mandacaru. Chegando lá, a primeira barraca na saída do barco era a de bebidas, drinks diversos. Pedi uma caipirinha de limão com tangerina, com pouco açúcar. Estava supergelada e não muito doce, mas com pouca cachaça. Falei com o dono da barraca que estava com pouca cachaça e o homem me enfiou na mão uma garrafa de Ypioca. Aproveitei e caprichei na dose.

Sorvetes "Aritesanal"
Nesse lugar tem um farol de oito andares com uma vista muito bonita, e todos se dirigiram pra lá. Preferi ficar por ali observando as pessoas e as lojinhas. Sentamos numa calçada alta e ficamos ouvindo um locutor que fazia a propaganda de uma sorveteria.

- Venha comer um sorvete “aritesenal” o melhor sorvete “maranense.

O locutor era uma comédia.




Chegamos na vila de Caburé onde almoçamos e em seguida atravessamos de balsa o rio e seguimos para Atins

Ficamos na Pousada Rica Atins. Uma graça, bem simples e bem rústica, parece que estamos num sítio em algum lugar da Serra em Macaé.

Deixamos nossas bagagens no quarto e partimos para o passeio da tarde. Embarcamos em uma caminhonete 4x4 e fomos visitar as lagoas da região. Boa parte das lagoas são sazonais, na época da estiagem elas somem e quando chove novamente elas aparecem em outro lugar, de acordo com a formação que os ventos provocam nas dunas. Nosso guia nesse passeio é o Joselmo, um rapaz jovem e falante. Disse que tem cinco namoradas. 

- Não dá encrenca tantas namoradas? A cidade parece pequena – Perguntei com certa desconfiança.
- Vixe! No dia de Lambadão é uma dificuldade – respondeu o ‘’gostosão”.

No rádio do carro só toca sofrência. E vamos sacolejando que tem mais dunas pela frente. 

Chegamos a Lagoa Maria Vitória. O tempo estava meio fechado, teve até uma chuvinha. Lelete e Antônio preferiram ficar no carro, eu e Sueli resolvemos arriscar um mergulho mesmo com a chuvinha fraca que começava a cair. Passageiros de outros veículos também foram pra água que, como sempre, estava morninha. Um tempo depois embarcamos novamente e fomos pra uma outra lagoa esperar o pôr do sol. Esse também foi lindo como os outros.

Retornamos a cidade e ficamos impressionados com a quantidade de hoteis e pousadas que encontramos pelo caminho, todas com uma decoração bem rústica, muita palha, madeira e artesanato. É um lugarejo tão pequeno, parece que tem mais pousadas que casas. Quase todos os habitantes devem sobreviver graças a essas areias e lagoas.

Josemar nos indicou alguns locais para jantarmos. Escolhemos uma pizzaria, que tinha um preço meio salgado, mas o outro restaurante próximo que nos agradou mais, estava lotado. 

18.06.2023

Acordamos sem pressa, temos um tempinho agora pela manhã. A pousada é muito acolhedora, tem um grande quintal nos fundos, cheio de árvores frutíferas, passarinhos cantando o tempo todo. Uma moça trouxe um pequeno papagaio pra nos mostrar. Ele subiu no meu dedo, no de Antônio e de Sueli, mas não foi de jeito nenhum com Lelete. Se recusou a ir na mão dela.

- Deve ser bolsonarista, está vestido de verde e amarelo, por isso não gostou de Lelete – disse Antônio.

O assunto política é recorrente entre nós, mas ainda bem que sem bate-bocas inúteis e agressões. Lula e Bolsonaro passarão, mas nossos amigos permanecerão, é assim que deve ser.

Um Transfer nos levou nos levou até a lancha e embarcamos pra Caburé. A viagem foi rápida e o nosso Transfer Off Road já estava a nossa espera. Seguimos para Tutoia à beira-mar, passando por trilhas e dunas. No caminho era frequente o visual dos enormes cataventos que captam a força dos ventos. O motorista nos falou que o barulho espanta os peixes. Segundo ele quase não se vê barco de pesca por aqui. É isso, o progresso cobra seu custo. Estranhei que houvesse lixo numa praia tão deserta e ele explicou que a maré bipolar (de grande amplitude) faz isso, joga tudo pra fora. Numa coleta que fizeram, encontraram lixo de 26 países. Acho que não tem nada a ver com a maré, provavelmente alguma corrente marítima traga o lixo, o tráfego de navios deve ser grande na região do Golfo do Mexico que não fica tão distante daqui.

Fizemos uma parada na Praia do Barro Vermelho. Esse lugar faz partes dos Pequenos Lençóis, então já sabem como é: areia branquinha, água azul e morna, vários quiosques cobertos de palha. Convite para um descanso.

Êta viagem diferente!!! É a primeira que faço nesse estilo.  

Voltamos a estrada e chegando em Tutóia embarcamos numa lancha rápida para conhecermos o Delta do Paranaíba que divide o Maranhão do Piauí. Notei que já não se vê por aqui a palmeira Buriti, sinal que aqui tem água salgada. Segundo o guia esse é o único delta do mundo em mar aberto. Será? Não sei como o piloto consegue saber qual o caminho certo, são várias bifurcações e nenhuma sinalização. Depois percebi que ele sempre escolhia o braço de rio que ia para a direita. São mais de 70 ilhas no Delta e só algumas são habitadas, navegar por aqui acho que não é simples. A fome está chegando e a parada será na ilha Morro do Meio. Navegamos mais de duas horas pra chegar aqui e ainda temos muito chão, ou melhor, muita água pela frente. 

O restaurante é grande, tem uma boa estrutura e bem simpático. Os garçons estão meio atrapalhados. Um deles falou que um barqueiro avisou que está vindo com um grupo de quarenta pessoas pra almoçar. Será que são os japoneses? Em todos os passeios que fizemos aparece um grupo de japas, ou talvez sejam coreanos, chineses...não ouvi eles falando, se ouvisse saberia dizer. Depois de uma pandemia inteira assistindo doramas coreanos, chineses, japoneses e taiwanês, já consigo identificar a língua falada e a escrita dessa turma, sendo que o Taiwanês também fala chinês.

O restaurante já recebeu gente famosa por aqui. Tem um mural com muitas fotos de Nelson Piquet, em duas visitas que fez a ilha.

O restaurante está lotado, e olha que a comida não é barata. Também não há pra onde correr, as opções não devem ser muitas por aqui. Já foi o tempo que comer no Nordeste era barato. Olhando em volta vi que a maioria dos clientes são mulheres. As véias gastam com força. Olhei pra mesa ao lado e vi que estão comendo caranguejo. O cheiro está ótimo, mas não devo comer nada até a noite, estou fazendo hoje um jejum intermitente por razões que é melhor não comentar durante o almoço. 

Depois que o restaurante ficou mais vazio, Seu Raimundo, dono do estabelecimento parou em nossa mesa e começamos a conversar.

-Conta pra gente, Seu Raimundo, como começou esse restaurante aqui – indagou Antônio.

Ele diz que nasceu nessa ilha, sua mãe também e todos os seus filhos. Sua mãe nasceu em 1907 e nunca conheceu uma cidade, somente as ilhas aqui do Delta. Quando ele era jovem não tinha luz na ilha e só iam até a cidade em barco a remo, levavam doze horas remando para chegar em Parnaíba. Catava caranguejo e tinha uma chalana. Um dia ele estava no rio assando um peixe na chalana, quando passaram uns gringos franceses que sentiram o cheiro da comida, pararam e perguntaram o que ele estava fazendo. Ele falou que era um peixe assado. Perguntaram se poderiam fazer um pra eles comerem. Ele respondeu que sim e foram todos pra casa dele. Eles adoraram e voltaram no dia seguinte. Seu Raimundo não deu preço para comida e disse que eles pagassem o valor que quisessem. O gringo lhe deu um dinheiro que dava pra pagar a despesa de um mês da família. A partir daí ele começou a pensar que outros gringos passariam por ali e resolveu fazer um pequeno cais, uma varanda coberta de palha duas mesas e seis cadeiras. Foi assim que tudo começou a dar certo. Hoje trabalham com ele filhos e sobrinhos.

Seu Raimudo é o menorzinho
- O Sr acha que dá certo trabalhar com parentes? – perguntei.
- Sim.  É mais fácil dar um puxão de orelha num parente do que em um estranho – respondeu ele.

É o contrário do que fala Maquiavel, o Papa da Gestão. Ele diz que é mais fácil dar uma bebida amarga a um estranho do que a quem amamos. Toda regra tem exceção, é claro.

Lelete não perdeu oportunidade de fazer sua pesquisa, perguntou sobre o voto dele pra presidente. Seu Raimundo falou da gratidão por Lula, que fez muito pelo povo das ilhas, deu casa, colocou luz elétrica, etc. Eles hoje têm uma situação financeira muito melhor que antes, tem até faculdade em uma das ilhas. Disse que aqui nas ilhas todos votaram no Lula.

Eu entendo o voto deles e acho que é justo, a gratidão é um sentimento muito importante. 

Uma pena que eles, e boa parte da população, entendam apenas um recorte da realidade, aquela que é possível pra eles avaliarem.

No finalzinho da tarde seguimos de lancha para uma ilhota onde, ao pôr do sol, os pássaros “Guará” da cor vermelha surgem em revoada voltando para seu refúgio noturno no meio da mata. No caminho encontramos um barco com defeito. O nosso barqueiro parou, tentou resolver o problema, mas não conseguiu, então resolveu rebocar a embarcação até a ilha de onde havíamos saído. Ele disse que socorrem os outros barqueiros por amizade, mas também porque a própria legislação penaliza o barqueiro que não ajuda quem está em dificuldade. 

Nosso barqueiro tem um nome muito feio, segundo ele, então prefere ser chamado de Sócio. E eu continuo na saga dos nomes estranhos.

- Sócio, será que os guarás vão aparecer hoje? – perguntei.
-Talvez, eles sempre vem de segunda a sábado, no domingo as vezes falham – respondeu.
- Hoje é domingo.
- Então, pode ser que eles não venham – afirmou com cara de safado.

Essa informação certamente é a mesma para os grupos que vem nos outros dias da semana.

Os Guarás chegam aos poucos, dois aqui, quatro logo ali, e vai aumentando gradativamente. Surgem de todo lado aos bandos, pousam nas árvores e vão se aquietando aos poucos. Olhando daqui as árvores parecem Flaboyant com suas flores vermelhas. É lindo!!! E pra completar, olhando para o lado oposto, tem um por do sol maravilhoso, vermelho como os Guarás. 

Acho que é o quinto pôr do sol que eu vejo nessa viagem, nunca vi tantos em tão pouco tempo. Difícil saber qual é o mais bonito.

Continuamos viagem pelo rio, agora já anoitecendo. A paisagem fica tão diferente, as árvores escuras, os igarapés cobertos de mangue, tudo fica diferente quando só há a luz das estrelas pra iluminar. É uma experiência nova pra mim, nunca andei num rio a noite num barco tão pequeno, tão próximo da mata e da água. Chegamos ao Porto das Barcas onde nos espera o Transfer que nos levará até a cidade de Parnaíba.

Nos despedimos de Sócio desejando boa sorte pra esse rapaz simpático que gosta de política (já foi candidato a vereador) e que ama essa vida rio abaixo, rio acima.

Nosso novo guia e motorista, Mauricio, vai nos mostrando um pouco de Parnaíba e da história dessa região, um pouco do casario antigo e bem preservado, embora pequeno. É uma cidade bem horizontal, tem pouquíssimos prédios, e tem pouco mais de cento e cinquenta mil habitantes (Mauricio falou em seiscentos mil, mas desconfiei) e é a segunda cidade do Estado, perdendo apenas para a capital Terezina. Ele se ressente pelo fato do Piauí não ter nenhum Porto, culpa dos políticos. Antônio teve vontade de visitar um amigo que mora em Terezina, mas são quase cinco horas de viagem até lá.  Não dá tempo de ver muita coisa dessa cidade, só vamos mesmo pernoitar aqui, já é noite e estamos cansados. O dia foi longo, emocionante e cansativo. Fiquei no hotel e meus companheiros foram jantar aqui perto do hotel. Mandaram-me um vídeo do restaurante, ao ar livre sob as árvores e uma musiquinha gostosa. Quase me arrependi do meu jejum.

Amanhã sairemos em direção a cidade de Barra Grande.

19.06.2023

Seguimos pelo litoral num 4x4, são 35 Km até Barra Grande e nesse percurso passamos pelo município de Luiz Correa, onde Maurício nos apresentou algumas praias. Uma delas se chama Praia do Peito de Moça por causa de duas dunas que parecem os dois seios de uma mulher. A próxima praia tem o nome de Praia do Arrombado, Maurício não quis explicar porque. Eu contei pra ele que na nossa cidade, Macaé, tem uma Praia do Pecado, e o motivo do nome é aquilo mesmo que ele estava pensando. 

Paramos em uma praia e depois paramos pra almoçar.

- Tem cerveja bem gelada – Antônio perguntou.
- Uns dois – respondeu o rapaz.
- Só duas? – Antônio estranhou.!
- Nãããoo! “Uns dois” aqui no Nordeste quer dizer “muitos ou muitas” – esclareceu o rapaz.
- Ahhh! Ainda bem.

Quando ele trouxe a cerveja nos disse que ela estava igualzinha a “canela de pedreiro”, porque estava russa de tão gelada. Mais duas gírias pra enriquecer nosso vocabulário: "Uns dois" e "Canela de Pedreiro". Já usamos com frequência o “Vixe!”, o “Então?” e o “Peeense”, e vamos incorporar mais essas duas.

O guia nos disse que "Barra Grande é a Jeriquaquara de vinte anos atrás". É uma vila pequenina e bem rústica, cheia de hóteis e pousadas, tudo bem rústico, muita palha, madeira, artesanato em fibra natural, muita planta e flores nativas. As ruas são todas, ou quase todas, de areia da praia, todo mundo anda de sandália havaianas e bem à vontade. 

Nosso Hotel é o Be Caju, que segue a mesma linha da maioria das construções aqui. Muito agradável e acolhedora. 

Eu e Sueli deixamos as malas e fomos para a praia que fica bem pertinho do hotel. Estava quase vazia e a água não estava muito convidativa, cheia de sargaço ou algas, sei lá. 

Não tinha nenhuma barraca com mesinha vazia na areia, então voltamos para o hotel. Passamos por uma rua que está sendo pavimentada com bloquetes de cimento. Não sei se é boa ideia, nas ruas mais próximas da praia deveriam deixar na areia, é o que dá um toque de originalidade e que torna essas cidades diferentes das outras. Eu gosto mais. 

O comércio é bem simplesinho, não tem muita opção, exceto bares e restaurantes. 

No final da tarde procuramos um lugar que servisse café e pão. Pelo caminho passamos por várias Pousadas, todas lindinhas, muitas estão em construção o que significa que o turismo por aqui está crescendo. Tivemos dificuldade em encontrar um lugar para o café, as duas padarias já estavam fechadas. Achamos uma lanchonete bem simples que tinha pão de queijo, pão de tapioca, vários bolos e café. Foi a nossa salvação. Eu e Lelete não abrimos mão do cafezinho pela manhã e no final da tarde. Sueli faz questão do café pela manhã, mas a noite ela dispensa. Comemos bem e pagamos baratinho, pela primeira vez.

Voltamos pro hotel e sentamos nas espreguiçadeiras a volta da piscina. Ficamos ali papeando e curtindo a noite fresca e gostosa. De repente surge um lagarto grandão fugindo do gato da pousada, pula dentro da piscina e fica quietinho lá no fundo. Teve gente que subiu na espreguiçadeira, não digo quem. 

Um empregado do hotel veio recolher o bicho com a peneira metálica de limpar a piscina. Tirou-o do fundo e o bicho disparou coqueiro acima. Ficou lá com o corpo escondido entre os frutos e o rabo de fora.

No dia seguinte, quando fomos pro café, o lagarto ainda estava escondido no coqueiro. O café nessas pousadas é sempre bom. Não tem uma grande variedade de pães, mas temos o prazer de pedir um ovinho mexido ou frito ou poche, uma tapioca com o recheio que quisermos, um cuscuz, etc. Tudo feito na hora, tudo quentinho.





20.06.2023

Saímos mais tarde hoje, às 10h. Era tudo que eu precisava,  meu intestino agradece. Já estamos no Ceará e vamos parar na cidade de Chaval, conhecida como a Cidade das Pedras. Paramos no centro para conhecer uma enorme pedra com uma escadaria que leva até a igreja e a gruta Nossa Senhora de Lourdes. É meio estranho essa pedra tão grande no meio da cidade, parece que a pedra brota da areia. Daqui de cima é possível ver toda a cidade e ao fundo a Serra Grande (ou Ibiapaba), que delimita os Estados do Piauí e Ceará. Perguntei ao Mauricio se faz frio lá na Serra e ele disse que sim, que a altura média de Serra é de 750m e que na cidade de Viçosa faz bastante frio as vezes. Imagino o que é frio pra eles, vinte graus, talvez.  Mauricio mostrou uma lagoa ao longe e disse que as mulheres daqui ainda lavam roupa e panelas na lagoa de Chaval. É um hábito antigo que algumas delas gostam de cultivar. 

Cidade de Chaval

Chegamos em Camocim onde faremos a travessia de balsa pelo Rio Coreaú. Paramos pra almoçar na Toca do Kite em Largo da Torta.  O lugar é muito bonitinho, tudo em madeira, palhoças a beira mar, mas o preço é mais salgado que a água dessa praia. O restaurante está cheio de Kitesurfistas e Windsurfistas, essa região é o paraíso pra quem gosta desses esportes. Não estávamos com fome ainda, então optamos pela cerveja e uma porção de camarão empanado. Muito caro, uma facada. 

Toca do Kite


Fizemos uma parada  na Praia de Guriú, uma parada obrigatória nesses passeios.

Parece uma praia bem deserta, na verdade aqui é o encontro do rio com o mar que forma uma lagoa, e nesse local que estamos é um Mangue Seco. Quando a areia vai invadindo o mangue, ele morre, e por isso chamam esse lugar de cemitério do mangue. É um cemitério, mas é lindo!

Os barraqueiros criaram alguns atrativos: balanços, letreiros e lugares pra fotos especiais. Os guias já estão treinados para identificar os melhores ângulos e propõem poses inusitadas, quase um fotógrafo profissional. Acho que todo mundo quer sair daqui com material para postar no Insta.

Ao contrário de outras paradas para foto, Guriú não tem fila, pelo menos hoje. Tudo isso espalhado ao longo da praia, estrategicamente posicionados perto de barracas que vendem bebida e artesanato.



Continuamos nossa jornada para Jericoacoara. Pra entrar em Jeri tem que pagar uma taxa, escapamos porque somos idosos.

Nos hospedamos numa Pousada de nome difícil: Pousada de Munguba. Chegamos aqui já no final da tarde e resolvemos descansar um pouquinho para aproveitar melhor a noite em Jeri,  mas quando o relógio marca as 18h começa pra mim uma crise de abstinência, só penso em tomar um café. Vi que num folheto do hotel tem um desenho de uma caneca de café e abaixo está escrito ‘”de 17 a 21 horas”. Entendi que haverá um café disponível nesse período, então fui até lá. Selma (funcionária da Pousada) estava preparando massa de panquecas, já tinha uma pilha delas.

- Tem um cafezinho, Selma? – Perguntei.
- Sim, acabei de passar agora – ela respondeu.
- E tem pão? – continuei.
- Não. Posso fazer uma panqueca de queijo com orégano e presunto – respondeu com uma cara estranha
- Pode ser - Conclui.

Fiquei por ali saboreando o café e olhando os detalhes da decoração do pequeno espaço reservado para o café da manhã. Se a Pousada estiver cheia e os hóspedes vierem todos no mesmo horário vai faltar espaço, pensei. Depois vi que tem uma mesinha na varanda e umas mesas bem pequenas encostadas ao muro, na rua. Entrou pela cozinha uma jovem senhora bem moderninha, trazendo uns objetos que havia comprado para a cozinha. Deduzi que era a dona da Pousada. Começamos a conversar e perguntei pelo nome da Pousada, o que significava. Ela disse que é o nome de uma árvore, aquela que está em frente a Pousada, que tem flores belíssimas e que é uma árvore que traz muita sorte. Falou até o nome científico da árvore. Ela parecer ser um tanto esotérica. O nome da  Pousada  é feio, eu acho, parece nome de mosquito e o pessoal do marketing não recomendaria porque é um nome difícil de lembrar. Dificilmente alguém vai lembrar desse nome pra indicar a Pousada pra um amigo..

Mais tarde saímos passeando pelos becos e ruas (mais becos do que ruas), olhando as lojinhas, especulando preços, aproveitando a brisa. Não dá pra se perder por aqui, é um lugarejo pequeno e praiano e o seu charme é a descontração. Nada de salto alto, muita maquiagem, roupas muito elegantes. O most aqui é a sandalinha rasteira, vestido levinho, costas à mostra, muita biju.  

Tenho que comprar um presentinho pros netos e já vi que vai sair caro. A vida aqui pode ser simples, mas os preços estão longe disso. Acho que Antônio está inquieto, ainda não enfiou a mão no bolso com disposição, mas está por pouco. Eu e Sueli somos mais controladas, acho que Lelete também. Eu tenho andado com um escorpião no bolso, só tiro ele de lá depois de fazer a pergunta “Quero, Devo, Posso?” Recomedação do filósofo tupiniquim Mario Cortella. É só pra dificultar mesmo, fugir da tentação.

Fomos até o final da Rua Principal onde, no final da rua, tem uma barraca de drinks. Escolhi uma caipirinha de limão e cajá. Nada excepcional. Antônio disse que costuma ter uma musiquinha aqui, mas hoje não tem ou ainda é cedo. Andamos um pouco mais e paramos num restaurante pra comer uma pizza. Lelete não está se sentindo bem, talvez tenha comido alguma coisa que lhe fez mal.

21.06.2023

O Transfer Valdeir veio nos buscar para um passeio pelo Lado Leste de Jeri: Praia do Preá, Lagun Beach Park, Buraco Azul, Lagoa do Paraíso. 

Na Jardineira que nos leva estamos eu, Sueli, um casal de Brusque/Santa Catarina e uma outra moça que não nos deu bola. Antônio e Lelete não vieram nesse passeio porque ela teve febre durante toda a noite. Eles já vieram a Jericoacoara e já fizeram esse roteiro antes. 


Primeira parada foi no Município de Preá apenas para tirar foto do letreiro da cidade que fica na Vela de um Jangada. Esse lugar é frequentado principalmente por surfistas.

Mais adiante paramos pra tirar umas fotos da Árvore da Preguiça, que leva esse nome porque o vento constante torceu seus galhos e debruçou a árvore sobre o solo, como se estivesse deitada. 

Árvore da Preguiça

Como não podia deixar de ser, tem uma fila pra fotos. Quando foi que ficamos tão bobos? Quem consegue ver tantas fotos no futuro? Nossas fotos de infância são preciosas porque são poucas. Tudo que é demais perde valor.

Chegamos no Lagun Beach Parque, um lugar ideal para passar um dia inteiro. Tem duas piscinas grandes, cachoeira artificial, tiroleza, bares, restaurante, mesas e espreguiçadeiras nas áreas das piscinas, bangalôs, etc. Tudo isso e mais um jardim que contorna todo o espaço de lazer. Pra quem adora tirar fotos é uma ótima pedida. Tem algumas modelos ou influencers, e outras que se acham modelos, chega a ser engraçado.

Mergulhamos na piscina de água azul turquesa e não dá vontade de sair daqui. Apesar de ter bastante gente no Parque a piscina não está tumultuada, ótima pra relaxar. Depois tiramos algumas fotos, tivemos o nosso momento modelo sênior porque as véias também merecem ser um pouco ridículas as vezes.

Próxima parada, o Buraco Azul. Fiquei pensando porque dar esse nome a uma atração turística. Normalmente usam Gruta Azul, Lago Azul...mas Buraco, nunca vi.

Essa atração surgiu meio por acaso. Houve uma grande escavação no terreno para fornecer barro e areia para a construção de uma estrada na região. Em 2019 choveu muito forte e o buraco encheu d’água. Como o solo é rico em calcário, portanto muito clara, reflete a luz do sol na areia do fundo gerando uma água com cor azul bem clarinha, de uma beleza difícil de descrever. O dono do terreno viu que algumas pessoas começaram a tomar banho nessa lagoa que se formou e o número de pessoas estava aumentando consideravelmente. Ele imediatamente cercou o terreno e começou a cobrar a entrada. Hoje tem uma boa estrutura (não tão boa como o Lagun Beach Parque) com bares, restaurante, espreguiçadeiras, etc.

Que homem de sorte, um buraco desse não é pra qualquer um.

Entramos para um mergulho na água linda e com temperatura perfeita. Tem uma estrutura de madeira que dá suporte pra chegarmos até a água. Tem uma parte rasa e uma parte maior que é funda, chega a cinco metros segundo o guia. Algumas bóias de marcação sinalizam essa parte que é perigosa pra quem não sabe nadar, mas tem salva-vidas de olho.

Buraco Azul
Enfim chegamos a última atração do dia, o Alchymist Beach Club (Ai ai! Esse inglês que contaminou até o Nordeste). Esse clube fica as margens da Lagoa do Paraíso, paga-se trinta e cinco reais para entrar sem direito a consumação, as instalações são lindas, tem uns brinquedos infláveis que as crianças devem adorar, mas tudo é carérrimo.

“Quem vai ao inferno tem que beijar o capeta”, já dizia uma amiga, visto isso resolvemos almoçar por aqui, apesar do preço. Os ambulantes aqui não dão trégua, isso é meio chato, deveria ter um espaço reservado pra eles venderem seus produtos. Enquanto esperávamos o almoço dois rapazes se aproximaram vendendo toalhas de crochê, exatamente as mesmas que estavam sendo vendidas em Jeri por trezentos reais.

- Quanto é que tá a toalha? – perguntei.

- Mil e duzentos pra senhora – respondeu o ambulante.

- Quero não, já comprei uma ontem – menti pra não esticar o assunto.

Imagine, Antônio comprou ontem em Jeri por 170 reais e ele me pede 1.200,00 reais pela mesma toalha. Nem se eu tivesse a mesma lábia de Antônio, que conseguiu um desconto de quase 50%, eu compraria essa toalha.

- Pense!!! Me achou a cara da riqueza ou com cara de boba – falei pra Sueli.

A segunda opção é a mais provável - cara de boba, idiota, trouxa – por aí vai.

A noite voltamos para a pista de areia, atrás de um lugarzinho legal pra comer um belisquete e tomar uma cerveja. Escolhemos o Los Locos, um bar perto da pracinha de Jeri, com um cardápio pequeno, mas tudo muito gostosinho e a cerveja estava do jeito que a gente gosta, tipo canela de pedreiro. Mais tarde Antônio apareceu e nos acompanhou na cerveja. Lelete estava, na verdade, com uma infecção de garganta. A filha, que é médica e mora em São Paulo, conseguiu olhar a garganta com a ajuda do telefone e diagnosticar. Fez a receita eletrônica (maravilhas da tecnologia) e receitou o antibiótico. Amanhã já estará melhor.




22.06.2023

Hoje o dia é livre, o primeiro que tivemos, pra bater perna até cansar. Fomos para a praia e no caminho passamos por uns rapazes que estavam limpando seus bugres. Perguntamos o preço pra nos levar até a Pedra Furada, outro ponto turístico daqui. Falaram o preço, mas esse roteiro nos leva até ao pé do Morro do Serrote, sendo que os carros não podem subir, temos que ir a pé e descer até a praia. Podemos também ir de charrete puxada por um burro. Já fiquei imaginando o sacolejo, os peitos balançando, a coluna batendo no encosto da cadeira. Melhor não.

Sueli estava disposta a ir caminhando pela areia, mas a maré tem que estar na vazante, se estiver na cheia não dá pra chegar até lá. Eu não estou nem um pouco animada, são cinco quilômetros ida e volta, não é muito, mas com o sol quente no cangote e um monte de pedras pra atravessar, prefiro ‘’arregar’’. Chegando na praia Sueli resolveu pedir informação a uns pescadores que estavam sentados numa mureta. Eles falaram dos inconvenientes de ir pela areia, não é tão tranquilo como imaginamos, etc, etc. Um dos pescadores disse que poderia nos levar até lá de barco com todo conforto, só que a foto será feita de outro ângulo, do mar para a terra. Topamos.

Foi a melhor coisa que fizemos. Fomos olhando o percurso que faríamos a pé e realmente não é pra mim, muito acidentado com pedras que devem ser escorregadias visto que ficam submersas na maré cheia. Uma delícia, estar aqui no barco com esse calor e essa brisa maravilhosa e o melhor, não vamos ter que enfrentar a fila de pessoas que ficam plantadas em frente a um bendito de um buraco pra tirar uma foto. É muita gente doida.

Eu também estou no time dos doidos, não é? Estou indo atrás de um buraco na pedra, só que de barco e sem fila.

Perguntei ao barqueiro o nome dele. Eu com a mania de conhecer os nomes estranhos dos nordestinos e Lelete de saber em quem o cara votou pra presidente. Temos um probleminha, diria minha amiga Valdéa. 

- Meu nome é Meres, sei que é feio.

- É diferente, mas não é feio. Onde sua mãe arrumou esse nome – Perguntei.

- Era o nome do namorado de minha tia, ele a abandonou, mas ela nunca o esqueceu. Quando minha mãe estava grávida, minha tia implorou pra ela colocar o nome dele. Minha mãe aceitou e caso desistisse colocaria Nepomuceno.

- Vixe, agradeça a sua tia, Nepomuceno é bem pior.

Voltamos para a praia depois que Meres tirou várias fotos e fomos dar uns mergulhos, ou melhor ficar de molho na água morninha, porque temos que andar bastante pra água passar da canela e pra mergulhar temos que ir ainda mais longe.


Pedra Furada

Aproveitamos um pouco mais a praia desse nosso último dia em Jeri. No final da tarde fomos procurar um lugar pra tomar café. Encontramos um lugar ao lado de uma Academia de Ginástica bem moderninha. O Café é bem bonito, num estilo não tão rústico como o da maioria das construções daqui e, pelo cardápio com várias opções fitness, deve ser bem frequentado pela turma da academia ao lado. Tomei um chocolate quente delicioso, meu fraco, mas não posso exagerar no doce. Depois do café batemos perna por ruas que ainda não conhecíamos e confirmamos o que já intuíamos, pela quantidade de pousadas e hotéis essa vila tem mais turistas que moradores.

23.06.2023

Saímos ainda pela manhã para Jijóca de onde iremos de ônibus para Fortaleza. Ouvir falar em ônibus soa até estranho depois de dez dias só andando em areia. De Jeri a Jijóca é menos de 20 Km, mas levaremos quase uma hora pra chegar, porque a maior parte do percurso é nas dunas.

Quando entramos na Jardineira a cabine da caminhonete já estava toda ocupada. Tudo bem ir na carroceria, já pegamos a manha de proteger a coluna no encosto do banco, só não estávamos preparados pra viajar em quatro pessoas por banco, até então só andamos com três. Muito apertado, muito desconfortável, provavelmente muito perigoso também. Parece aqueles caminhões de boia fria e cinto de segurança é coisa que não se usa por aqui.

Fiquei puta, me deu uma ira, uma vontade de pedir pra parar o carro e descer, mas em volta é um deserto sem sinal de wi-fi, só areia e vento. E se não passar um carro que nos dê carona? Antônio também está muito irritado, pela manhã ele mediu a pressão e estava um pouco alta e com esse aperto o incomodo é ainda maior. Desistimos de esperar uma carona, o ônibus que nos levará sai as 11:00h, não dá pra arriscar. 

O último rapaz que subiu na jardineira é um mineirinho bem simpático e falante que logo engatou uma conversa com um outro espremidinho que estava ao lado dele. Eu e Antônio ficamos prestando nos dois e logo Antônio entrou na conversa também. Com o mineirinho aprendemos mais uma gíria, nesse caso uma gíria mineira. É o "Ranca" que significa "uma parada dura, um problemão". O tempo foi passando e nos distraímos, esquecemos dos solavancos e da falta de segurança, logo chegamos em Jijoca e embarcamos no ônibus que nos esperava. O ônibus é meio velhinho, mas depois da Jardineira superlotada qualquer prazer me diverte.

Essa viagem teve uns solavancos, mas não foi nada monótona.

A guia se apresentou e disse que se alguém do grupo conseguisse dar o seu nome pra alguma criança que viesse a nascer, ela daria sete dias com tudo pago em Fortaleza.

O nome dela? Irideme. Assim é fácil prometer viagem de graça. Ela foi dando uns esclarecimentos e fazendo graça com os passageiros.

- Qual o seu nome? – ela me perguntou.
- Ângela – respondi.
- Você tem cara de estribada e estragada.
- Que história é essa? – falei.
- É rica e gastadeira -completou.
- Errou feio, não sou nem uma coisa nem outra – informei.

Paramos para almoçar num lugarejo chamado Trairi. Irideme avisou que era um local muito simples, mas que a comida caseira era da melhor qualidade. Ela não estava mentindo, foi a melhor refeição que eu comi até agora. As opções não eram muitas, mas tudo estava muito gostoso. Escolhi a galinha caipira, batata, baião de dois, uma saladinha e farofa de areia. Não gostei da farinha encaroçada que eles usam pra farofa, mas comi dela todos os dias. Até o suco de maracujá azedo estava perfeito. Comi e repeti.

- Quanto tempo falta pra chegar em Fortaleza? – perguntei a Irideme.
- Foram duas horas e meia pra chegar até aqui e uma hora e meia daqui a Fortaleza, mas agora vai passar rapidinho porque vocês estão de bucho cheio – respondeu ela.

Ela tinha razão, quando dei por mim já estava em Fortaleza.

- Você é daqui de Fortaleza? – perguntei.
- Sou de Chorozinho. É uma cidade tão pequena que a placa de “Benvindo” é a mesma de “Obrigado, volte sempre” – respondeu Irideme.

Ela levou algum tempo dando orientações e sugestões de lugares pra comer, pra assistir show de humor e pra dançar forró, ou melhor, rala bucho.

Seguimos sua sugestão e a noite fomos a um show na Lúpus. Paga-se uma entrada que dá direito comer pizza e massa à vontade, assistir ao show e dançar forró.  A fama do Ceará ser um celeiro de humoristas, não é infundada. Aqui é comum ter casas de shows humorísticos e eu gostei dessa casa. O show é simples, mas os profissionais são muito bons. O Adamastor Pitaco fez bastante sucesso lá pra nossas bandas anos atrás. Estava sempre no programa do Faustão, Luciano Huck e outros. Depois sumiu, mas continua bom de palco. Depois teve uma dupla muito engraçada, Paçoca e Fubá. O Paçoca é um homem muiiiiito magro, nunca vi uma criatura tão magrinha e Fubá é mais gordinho.

24.06.2023

Hoje é dia livre. Adoooro!

Eu e Sueli optamos por ir à Praia do Futuro, as outras praias ficam mais distantes, vão tomar muito tempo e queremos almoçar no Mercado de Peixe, sugestão de Irideme. Antonio e Lelete já conhecem as praias, então escolheram aproveitar o comércio mais barato que o da nossa cidade e fazer boas compras.

Caranguejo Beach

Gostei da orla, muito bares, muitos coqueiros, muito artesanato. Pela fala do motorista que nos trouxe, deduzi que o nome dos bares indica nossa escolha do lugar pra ficar na praia. Ou seja, uma praia sitiada, o bar domina a porção de areia que fica à frente do seu estabelecimento. Escolhemos ficar no Caranguejo Beach. A faixa de areia é bem grande, tem lugar para todos. É mar aberto, tem ondas, lembra um pouco a nossa praia dos Cavaleiros, mas é morninha e as ondas não batem com tanta força. Tomamos cerveja e aproveitamos nosso último dia de viagem.

Saímos da praia e notei que há poucos prédios em frente à orla, diferente do que acontece em outras capitais do Brasil. Vamos para o Mercado de Peixe, na Praia de Mucuripe. 

As instalações do Mercado são boas e o preço do pescado é ótimo. Escolhemos às cegas o box onde compramos camarão. É possível pedir ao garçom, no restaurante do mercado, para prepararem o pescado do jeito que desejamos, a gente paga o preparo e escolhe os acompanhamentos. Bem prático. O restaurante é grande, todo aberto e com uma vista para o mar excelente.



Eu e Sueli pedimos pra fazer o camarão ao alho e óleo, baião de dois e salada. O atendimento foi bom e não foi demorado, embora o local estivesse bem cheio. A comida é boa e o preço é justo, nos esbaldamos no camarão. O local poderia ser mais limpo e tem muitos ambulantes que atrapalham um pouco quando você está comendo, mas nada muito diferente de outros Mercados.

Quando Antonio e Lelete chegaram pro almoço já havíamos terminado, mas ficamos com eles. Escolheram um peixe com molho de camarão e uma porção de camarão frito pra tira gosto.

Veio muiiiita comida, não deram conta de tudo. Pediram pra embalar o que sobrou e na saída do mercado Antonio deu a sacolinha com a comida pra um senhor que estava catando latinha. Ele agradeceu e imediatamente se afastou, sentou em uma mureta em frente ao mar e foi almoçar.

Sempre fico grata a vida por nunca ter passado por essa situação, que pode ser humilhante e dolorida. 

No caminho de volta passamos pela Av. Beira Mar e aí entendi que a Praia de Iracema é a principal, os prédios estão aqui, mas não é a melhor. 

Descansamos depois do almoço e no final da tarde fomos tomar um café no Supermercado Pinheiro, que fica não muito distante do nosso hotel. Tínhamos programado uma ida à noite ao Coco Bambu, mas bateu uma preguiça e preferimos ficar batendo papo no terraço do hotel, na área da piscina. Foi uma ótima escolha, ficamos exercendo o nosso direito de “fofocar”. 

Li no best-seller Sapiens-Uma breve história da Humanidade sobre os benefícios que a fofoca produziu há cem mi anos atrás, quando os riscos para sobreviver eram muitos e a “fofoca” ajudava a reconhecer os bons e os maus parceiros dentro dos bandos. Saber em quem confiar era vital para lutar em grupo pela sobrevivência do bando e a fofoca servia também para consolidar a linguagem. Então, quem sou eu pra dispensar um momento de relax e fofoca, desde que não seja deletéria, pra espalhar mentiras ou pra destruir a reputação alheia. 

Rimos muiiiito! Na verdade, rimos mais de nós mesmos, porque a todo instante esquecíamos o nome de alguém e aí era uma luta pra lembrar. O que nos serve de consolo é que isso acontecia com todos nós, então o problema é mesmo a merda da “melhor idade”. Em uma das fofocas esqueci o nome de um médico que trabalhou por muito tempo conosco, na Petrobras. Ele era parte importante da fofoca, era importante lembrar, mas quem disse que eu conseguia?

- Gente, tenho que lembrar o nome dele senão vai ser difícil pegar no sono – comentei.

Cheguei no quarto, parei de pensar nisso e logo em seguida lembrei o nome da criatura. Liguei pro quarto de Antônio e contei o nome, concluindo a fofoca que ficara incompleta.

- Meu Deus! Conheci ele sim, quem diria, né? – respondeu Antônio surpreso.

25.06.2023

Dia de partida, foi muito bom enquanto durou.

Sueli saiu pra caminhar na orla da praia de Iracema e Antônio também. 

Fiquei com preguiça, adoro uma cama pela manhã. Invejo essa disciplina pra exercícios físicos, eu preciso de muiiiiita motivação, pois pra mim é sacrifício. Os benefícios a saúde não seriam suficientes para fazer esse sacrifício? Deveria ser, mas tem a pulsão de morte, como ensina Freud, a pulsão de autodestruição tão comum entre nós.

Malas prontas, começa o caminho de volta.

Último Pôr do Sol, já chegando no Rio

Chegamos ao Rio no finalzinho da tarde e nosso motorista Diego já estava à espera. Combinamos uma parada na Parada da Coxinha, em Itaboraí, pra forrar o estômago e esticar as pernas.

Chegamos a Macaé por volta das 22:00 h. Encontrei Vilson cheio de saudade. Tá ficando velho mesmo, ele é contido, não demonstra essas “fraquezas” com facilidade.

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Essa viagem foi cheia de novidades para mim. Primeiro a preocupação em estar bem fisicamente pra essa empreitada. Com tantas tendinites achei que não daria conta, mas me saí melhor do que esperava. Meus companheiros de viagem, apesar de já termos viajado em grupo antes, foram uma grata surpresa nessa viagem onde interagimos muito mais. Foi 10+!

Nunca fiz uma viagem tão desafiadora: fazer tantas baldeações, andar por tantas dunas, sacolejar por trilhas de areia, viajar em Jardineiras não tão seguras, andar de barco à noite, etc. Achei que seria difícil, mas não foi. A paisagem luminosa que também pode ser hostil, um deserto de areia branca, mas que tem água abundante, uma areia que não esquenta (ainda estou encafifada como isso acontece), lagoas azuis turquesa, um Delta com mais de setenta ilhas, viajar pela areia a beira-mar, o luxo de ser simples (embora fique caro) em Jeri, em Atins, em Barra Grande. Tudo isso e mais, tornou essa viagem especial. Devo dizer que em boa parte isso ocorreu porque a agência Santos Turismo de Barreirinha que nos atendeu, cumpriu o que foi contratado de forma satisfatória e os guias Jociel, Jadielson, Joselmo, Sócio, Maurício, Iranildo, Valdeir, Meres, Irideme merecem nosso agradecimento. Todos ótimos profissionais, simpáticos e gentis, mas quantos nomes esquisitos, Vixe Maria! 😂😂😂😂.

VÍDEOS 

         PRAIA DO FUTURO                                         TRAVESSIA DO RIO GURIÚ             

     

                     RIO COREAÚ                                              PRAIA DO CALHAU

      

             CIDADE   DE CHAVAL                                             POR DO SOL NO DELTA             

      

         BARREIRINHAS                    DUNAS        

      

     PALÁCIO DOS LEÕES              MACAQUINHOS

   

            ILHA VASSOURAS        PÔR DO SOL LAGOA BONITA

  

         CAMINHO DAS DUNAS             CAMINHO DAS DUNAS     

 

      CAMINHO DAS DUNAS              LAGUN BEACH PARK