01 setembro, 2011

CONSERVATÓRIA-2011

26.08.2011

Passei o final de semana em Conservatória, uma cidade (ou seria um lugarejo?) do Estado do Rio, junto com um grupo de amigas.

No local de saída do nosso ônibus encontrei com um velho conhecido, o Silvio, que eu não via já há algum tempo. Ele é irmão de um grande amigo meu, já falecido. Lembrei da minha adolescência, quando frequentávamos – eu, Silvio e seu irmão Sérgio - a Igreja Batista, onde meus pais eram membros. Bateu-me uma certa melancolia. Melancolia combina com seresta e serenata; então está tudo certo, pois estou indo para a Cidade das Serestas. Já estou no clima.

Ficamos hospedadas no Hotel Vilarejo, o mesmo onde me hospedei anos atrás, e dividi o quarto com Valdéa e Janete. Nós três, mais Graça e Lina que também estão nesse grupo, cantamos em um Coral da Petrobrás, portanto estamos no lugar certo, vai rolar muita cantoria.

Chegamos no hotel por volta das 21 h depois de uma viagem cansativa. Jantamos e partimos para o centro da cidade que, segundo os locais, tem três ruas: uma que sobe, uma que desce e outra que atravessa essas duas. Logo que saímos do hotel um carro parou e ofereceu-nos uma carona. Ficamos indecisas, já não estamos acostumadas com essas delicadezas, mas a mulher que dirigia nos colocou a vontade, falou que é um costume dos moradores oferecerem carona para os visitantes, visto que a cidade não possui táxis. Acho que a hospitalidade também faz parte da imagem que os moradores querem transmitir para os turistas.

Quando chegamos na rua de pedestres o pessoal da serenata já estava cantando e preparando-se para iniciar sua caminhada. O centro estava repleto de turistas e o barulho que as pessoas provocam, mesmo quando tentam manter o silêncio, impedia que a música e as histórias que os seresteiros contavam, chegassem nitidamente até nós. Eles não usam nenhum tipo de amplificador de som pois consideram que isso descaracteriza a seresta.

Quando estive aqui tempos atrás, os seresteiros seguidos por um grupo de turistas, iam caminhando e cantando pelas ruas do centro. Cada casa possui uma plaquinha afixada na fachada com a indicação da música preferida daquele morador. O grupo parava e fazia uma serenata cantando aquela música que estava na placa e também outras músicas do repertório do grupo. Na volta à rua central, sentamos em um restaurante e ficamos ouvindo um grupo que tocou e cantou até a madrugada.
Serenata
Dessa vez, porém, a serenata não fluiu como deveria. Acho que o número de instrumentos e seresteiros não foi suficiente para sobrepor o ruído das vozes dos inúmeros turistas. É assim que quase sempre acontece quando um lugar começa a ficar muito badalado. Se não houver nenhuma ação eficaz, a cidade acaba perdendo ou alterando completamente sua vocação principal.

Conservatória segue resistindo à modernidade. Continua preservando a poesia e as canções antigas que são patrimônio da nossa cultura. Não sei até quando ela vai conseguir manter a tradição sem sucumbir ao apelo quase irresistível que transforma a cultura em puro comércio.


27.08.2011

 
 Logo cedo visitamos uma cachaçaria que faz parte do complexo turístico do hotel e em seguida voltamos ao centro da cidade. 
Ficamos admirando o casario colonial, a maioria em bom estado de conservação. De vez em quando, Janete parava em frente de uma delas e dizia – “Essa me serve. Quando me aposentar quero vir morar aqui.”

Procurei pelo grupo de chorinho que eu vi tocando num bar de uma viela na última vez que estive aqui. Não encontrei. Que pena!!! Eles eram ótimos.
No início da noite um senhor fez uma apresentação para os hóspedes do hotel. Ele já se apresenta ali há 28 anos. Como de praxe, cantou antigas canções e contou a história do surgimento da cidade. Em seguida retornamos ao centro para assistir a serenata. Novamente alguém nos ofereceu uma carona. Dessa vez um senhor com voz de “cabeceira” nos levou até ao centro e no caminho fez vários elogios a cidade. 

Estava fazendo muito frio. Sentamos em um restaurante, numa mesa ao ar livre, tomamos cerveja e papeamos. Rimos muito com Valdéa imitando “Elcinho” um doidinho da cidade de Campos, onde ela nasceu. Valdéa, com seu chapéu Panamá legítimo, estava um "escândalo". Janete ria muito, aquele tipo de sorriso bonito onde aparecem todos os dentes.

O túnel que chora
Por volta de meia-noite, retornamos ao hotel, caminhando pelas ruas vazias em direção ao “túnel que chora”. Segundo reza a lenda, esse túnel estreito e longo com calçamento em pedra moleque, foi escavado na pedra pelos escravos. Quando cruzamos com algum carro, nos posicionamos próximos à parede para evitar qualquer acidente. Em outra cidade eu não passaria por esse lugar escuro e deserto de jeito nenhum!!! Mas aqui tudo parece em paz e a violência das cidades grandes é algo distante. Pelo menos é o que parece.

Mais tarde, na cama, eu tentava dormir enquanto Janete e Valdéa conversavam. De olhos fechados, fiquei ouvindo as histórias de infância, as dores de um casamento desfeito, etc...

Pensei: - “Como eu sou antiquada. Casada com o mesmo homem há mais de 30 anos. Que horror!!!”

Pensando bem e avaliando o que elas passaram, acho que é melhor assim. Melhor, é claro, porque não tenho grandes problemas no casamento. Apenas aqueles triviais, que é possível suportar.


28.08.2011

As  Namoradeiras
Acordei mais tarde hoje. Valéria e Janete foram a Missa dos Seresteiros. Na volta disseram que a missa é bem legal. Em determinado momento do culto, os seresteiros entram na igreja cantando o repertório tradicional das serestas. Parece-me que todos os presentes cantam com eles. Deve ser uma missa diferente.

Ronaldinho do Cavaco
Passei a manhã no hotel. Tomei o meu café tranquilamente , depois me esparramei em uma cadeira e fiquei ali, tomando sol, lagarteando. Atualmente, principalmente quando viajo, sinto necessidade de algum momento assim, sem compromisso ou hora marcada.

Quando minhas parceiras chegaram da missa fomos até o salão assistir uma apresentação de chorinho de Ronaldinho do Cavaquinho (olha ele aí ao lado). O cara dá um show no cavaco!! E é comediante também, cheio de graça.

Depois do almoço retornamos a Macaé.