10 abril, 2017

MONTEVIDEO, COLONIA DO SACRAMENTO, PUNTA DEL ESTE


Vou pela primeira vez ao Uruguai. Nunca tive muita curiosidade sobre nosso vizinho e tudo que conheço a respeito da historia desse país são duas disputas, e perdemos as duas. A final da copa de cinquenta, onde o Brasil perdeu o jogo e Uruguai foi campeão, e a derrota mais antiga, que aconteceu entre o Brasil e Argentina, ou melhor, entre portugueses e espanhóis, pela posse dessas terras. O Brasil teve sucesso, mas por pouco tempo. Os Uruguaios devem agradecer a Inglaterra que deu uma ajudinha para livrá-los dos dois vizinhos intrometidos e torna-los independentes. Acho que se tivessem que optar pela nacionalidade brasileira ou argentina, eles não teriam dúvida e cravariam um xis em “Brasil”, pois não sentem muita simpatia pelo “Hermanos” argentinos. Nós também não.

Eu, Goretti e Claudinha, passaremos doze dias por lá. Nossa última viagem juntas foi em 2005, quando fomos a Portugal e Espanha com um grupo de amigas.

16.03.2017

Chegamos a Montevideo no inicio da tarde. Ainda havia sol quando o carro passou pela avenida litorânea. Ventava bastante e o mar revolto tinha uma cor de barro. Estranhei aquela cor marrom, parecia mais suja que a Praia da Barra em Macaé. Comentei sobre isso e Goretti me disse que não era mar, era rio e que estava tão barrenta porque tinha chovido. Putz! Esqueci que a capital do Uruguai e da Argentina fica situada as margens do Rio da Plata. Só que em Buenos Aires não tem ondas como aqui, certamente porque fica mais a oeste e longe do oceano. 

A orla é bem bonita, belas construções e um calçadão que eles chamam de Rambla acompanha toda a extensão da praia. Bastante gente caminhando pelo calçadão, apesar do frio.

O bairro onde ficaremos hospedadas é o Pocitos que, parece-me, é um dos melhores bairros próximos ao centro da cidade. O apartamento que alugamos é agradável, numa rua sossegada muito arborizada (depois descobri que todas as ruas são arborizadas) poucos prédios e muitas casas.

Deixamos as malas e saímos para uma caminhada pelo centro da cidade. Vou ter que correr atrás do prejuízo pra caminhar com essas duas companheiras. Goretti sempre gostou de andar muito e agora além de caminhar também corre. Claudia também corre. Eu não corro nem faço caminhadas. Tô ferrada!

O comércio no centro é bem popular, não vi lojas de grife por aqui. Uma coisa interessante são os sapatos que enchem as vitrines: são horríveis. Lembram muito aqueles calçados “cavalo de aço” que usávamos no Brasil na década de setenta. A maioria das mulheres que encontramos usam tênis ou esses calçados enormes. Um horror!

Mercado de La Abundância
Paramos no Mercado de La Abundância para tomarmos cerveja e comermos alguma coisa. É um prédio bem antigo que merecia estar mais bem conservado. No andar superior funcionam dois ou três restaurantes, não lembro exatamente quantos, e a escola de tangos Joven Tango. O lugar estava vazio e pensei que não seríamos atendidos, pois já era um pouco tarde para o almoço. Fomos atendidos e pedimos cerveja e uma parrilha, prato típico daqui. Fiquei meio decepcionada com o prato, esperava algo parecido com nosso churrasco, mas nenhuma semelhança. Pedi uma farofa para acompanhar, porque algumas carnes eram bem gordurosas, e trouxeram-me uma porção de farinha. Pelo visto farofa é realmente coisa de brasileiro. Claudinha me apresentou a mistura de vinho branco e espumante que os locais chamam de medio y  medio. Um pouco doce, mas geladinha é bem refrescante. Gostei.

De volta ao apartamento compramos pão, queijo, vinho e outras coisinhas pra comer em casa. Vamos ficar em casa essa primeira noite e descansar. Muito vento e frio, combinação que detesto. Só falta chover. Acho que a roupa que eu trouxe tá mais pra verão que inverno, afinal ainda é março.

17.03.2017

O dia amanheceu bonito, ensolarado. Goretti se animou e colocou um shortinho. Saímos para uma caminhada pela Rambla. O piso do calçadão é de granito, um luxo! Parece que essa pedra é abundante e barata por aqui. Um vento gelado estava nos esperando e nos expulsou da praia pouco tempo depois. Já vi que não dá pra confiar que havendo sol haverá calor, porque o vento frio daqui não é mole não. 

Museu do Carnaval
Fomos para o Porto, onde visitamos o Museu do Carnaval. A folia aqui dura 50 dias, começa no início de janeiro e vai até início de março. É isso mesmo, passou o Natal e já começa o ziriguidum. São desfiles de vários grupos que representam os diversos ritmos que fazem parte da cultura do país, mas tem samba também. Parece-me que o candombe é o mais popular. Os eventos mais importantes ocorrem no Teatro de Verano, por onde passamos de táxi agora há pouco. Dá pra ver que é um parque com muito verde e uma concha acústica onde, imagino, acontecem as apresentações. 


Bar do Museu do Carnaval
Quando saímos do Museu os viajantes de um grande navio do MSC acabavam de desembarcar e vários carros e vans ofereciam seus serviços. Um coroa me abordou e perguntou se queríamos ir a Punta del Este. Disse que já tínhamos ido e segui em frente. Goretti resolveu voltar e conversar com o homem. Papo vai, papo vem e Goretti fechou com ele um tour pela cidade. Pretendíamos fazer o passeio no ônibus turístico, mas a proposta dele foi muito melhor. Quando sentei ao lado dele no carro ele me olhou e disse:
- Usted no me gusta...
- É porque elas já foram a Punta, só eu que ainda não fui – respondi.
Desculpa esfarrapada. 

Hotel Cassino Carrasco
Começou nos levando ao Hotel Cassino Carrasco, no bairro mais chique de Montevideo. O prédio é imponente e elegante. Nosso guia Carlos falou que o prédio ficou muitos anos fechado e foi restaurado mantendo o estilo original. Um dos filhos dele, que é artista plástico, trabalhou na restauração e nas colunas restauradas por ele deixou uma marca com o nome do pai. Passamos pelo restaurante, pelo cassino, pelos jardins e piscina, o SPA e por último o banheiro que o guia disse que é maaaaaravilhoso. É lindo mesmo.
Hotel Cassino Carrasco

Seguimos em frente, percorrendo algumas ruas do bairro Carrasco, onde moram os ricos bem nascidos. Todas as casas com belos jardins e sem muros. Somente as casas que tem cachorros são obrigadas a construírem cerca em volta do terreno.

Continuamos até o Jardim Japonês, que é pequeno, mas bem bonito, com aquela atmosfera de paz e relaxamento que todo jardim japonês tem. Esse jardim foi um presente do governo do Japão e tem uma plaquinha de inauguração com o nome da imperatriz japonesa que o inaugurou.











Depois paramos no monumento La Carreta, no Estádio Centenário e, por fim, no Mercado Agrícola, destino final do nosso passeio. O Mercado não é grande, mas é bem interessante, muito limpo e organizado. Tomamos umas cervejas e comemos uma picada (uma tábua de frios muito boa) na Cervejaria Mastra e depois jantamos no Restaurante Pellicer que também fica no mercado. Gostei desse lugar.
Estádio Centenário
Monumento La Carreta



                                                                                            

Choperia Mastra

     

18.03.2017

Hoje vamos almoçar no Mercado do Porto e no final da tarde as meninas vão participar de uma corrida.

No caminho para o ponto de ônibus a brisa leve foi virando vento. Goretti falou:

- Por aqui sempre tem esse ventinho gostoso.
- Gostoso? Se tá delirando!

Eu e Claudia rimos. Só uma mulher apaixonada acharia esse vento gostoso. Nesse caso, apaixonada pela cidade.

Portal de la Ciudadela
Caminhamos um pouco pela cidade velha, que começa por um grande portal ao lado da Praça da Independência, o Portal de la Ciudadela. Essa praça é bem grande e cercada de prédios, sendo que um deles chama mais a atenção. É o Palácio Salvo, o prédio mais alto de Montevideo, que tem uma mistura de estilos que eu, leiga, não consigo identificar. É bem bonito.

Seguimos caminhando pela Calle Sarandi, uma rua de pedestre ladeada por prédios antigos, lojinhas, casas de chá, livrarias, etc.  a principal via da Ciudad Vieja, e logo chegamos ao Mercado do Porto. São vários restaurantes dentro e fora do Mercado. Acho que seria gostoso ficar aqui fora já que está uma temperatura agradável, mas acabamos optando por um restaurante no interior. O lugar está lotado, certamente passageiros de algum navio atracado ali no porto. 

Palácio Salvo
Comemos muito. Voltamos pra casa e desisti de assistir à largada da corrida, a preguiça era grande. Estiquei-me em frente à TV enquanto as companheiras se preparam para a corrida. Não sei como vão conseguir correr depois daquele almoço.

Mais tarde ouvi a campainha tocar e acordei assustada. Fui lá embaixo abrir a porta e quando saí do elevador olhei para o lado e vi uma porta com o número 101, achei que estava no primeiro andar e voltei pra dentro do elevador. De repente ouvi alguém me chamando, olhei pra frente e vi Claudinha e Goretti morrendo de rir, sem entender porque saí do elevador e tornei a entrar nele. Saí novamente e abri a porta pras duas que estão me zoando até agora.

O elevador desse prédio é um caso a parte. São duas portas, sendo uma de grade de correr o que lembra aqueles elevadores antigos. Se não fecharmos as duas portas rapidamente ele dispara um apito estridente que toca até que se fechem as duas portas. E o elevador dá um solavanco que sempre assusta quando estamos distraídas.

Não fizemos reserva para o Fun Fun, mas resolvemos arriscar. O Fun Fun é um bar tradicional de Montevideo, o que eles costumam chamar por aqui de tangueria, e tem mais de cem anos. Lembra um pouco nossos bares da Lapa, no Rio de Janeiro.  São dez horas e já não tem mais lugar. Que pena! Quando a porta se abre dá pra ver que está bem animado. Ficamos ali, paradas, decepcionadas, até que um cara abriu a porta e disse que tinha uma mesa, mas que fica num local de passagem. Pronto! Aceitamos imediatamente.

Não é muito grande e está lotado, mas não parece sufocante ou desconfortável. Ficamos bem perto do pequeno palco onde um casal dança um tango. E dançam muito bem. Não sei como conseguem fazer tantas piruetas dentro de um espaço tão reduzido. Algumas vezes acho que uma gordinha que está próxima ao palco será atingida por uma daquelas pernadas dos dançarinos. Mas tudo correu bem e apresentação foi ótiiiima!


As paredes são cheias de fotografias, algumas bem antigas, camisetas de times e flâmulas. A foto mais importante, imagino, seja a de Carlos Gardel, autografada pelo próprio. Estou adorando esse lugar.
Depois dos dançarinos entra o cantor Nelson Pino,  pinta de cantor de serestas. Não deu outra, atacou de boleros, um pouco de tango e “otras cositas más”. Depois dois senhores tocaram tango instrumental, um violão e um bandoneón. Perfeito. Entre uma apresentação e outra, tomamos cerveja e Uvita, uma bebida produzida pelo próprio bar. É boa, mas um pouco licorosa, não consigo tomar mais que um copo.

Por último uma banda excelente, músicos jovens, que tocam vários ritmos, inclusive o candombe que é tão popular aqui e lembra bastante a salsa caribenha. E como há muitos brasileiros na casa, eles tocam muito samba e muita gente cai no samba. Nós também.

19.03.2017

Batata no Palito


Começamos o dia pela Feira de Tristan Narvaja. Já fui a muitas feiras de antiguidade em vários lugares diferentes. Vejamos o que essa tem de diferente. 

A feira se espalha por várias ruas, é muito grande. Não se pode dizer que é exatamente uma feira de antiguidades. Tem de tudo: frutas, verduras, queijos, roupas, plantas, livros, coisas inúteis e....antiguidades. Sabe aquelas coisas que você não consegue imaginar pra que servem? Tipo bonequinhas de plástico faltando um braço, uma perna, até a cabeça falta em algumas. Andamos rua acima, rua abaixo, comemos arepa, batata no palito, empanadas. Ufa! É cansativo, mas interessante. Quem mora por aqui deve aproveitar bem essa feira porque se encontra de tudo um pouco.

Escolhemos almoçar no restaurante La Pasiva, que fica na movimentada Avenida 18 de julho, dentro de uma bela praça. As mesas ao ar livre são um convite irrecusável, um bom almoço e um pouco de sol pra aquecer a alma.

La Passiva
Logo desistimos do sol porque o vento frio nos expulsou. Fomos para o interior do restaurante pedimos cerveja e o Chivitos, prato tradicional aqui no Uruguai. O prato chegou e me assustei com o tamanho, embora Goretti e Claudinha já tivessem falado sobre isso. Comi a metade do prato porque, além de grande, não me agradou muito. Tem muita batata frita e não gosto dessa batata congelada, só se não houver melhor opção. As companheiras disseram que o restaurante Chivitos Lo de Pepe serve um prato mais tradicional e é bem gostoso.

Dormi o resto da tarde. Amanhã sairemos cedo para Colônia do Sacramento e quero estar descansada.

20.03.2017        COLÔNIA DEL SACRAMENTO


Pontualmente chega nosso guia Carlos, que a essa altura já chamávamos de Carlitos. Percebe-se que ele é um homem afetuoso pela forma que fala dos filhos e da família da esposa, que por sinal é brasileira de Natal. Ele vai sempre ao Brasil e conhece várias cidades turísticas brasileiras. Odeia Búzios “porque las playas son muy pequeñas y  hay un montón de argentinos”. Ah, essa velha rivalidade.

No caminho vamos conversando um pouco sobre política, sobre Mujica. Carlitos não gostou do governo dele, embora reconheça que ele projetou para o mundo a imagem do Uruguai como um país progressista, aberto e tolerante. Porém a classe média se sente muito prejudicada e acha que os benefícios sociais para os mais pobres foram realizados com o sacrifício da classe média e os mais ricos foram poupados. 

Nosso guia insiste em nos mostrar locais de locação de filmes famosos de Hollywood que foram realizadas no Uruguai. Entrou num lugarejo para nos mostrar um antigo hotel que está abandonado há muitos anos e que foi locação de um filme de Hitchcock. A serie americana Miami Vice e o filme Ensaio Sobre a Cegueira também tem locações em Montevideo e Punta del Este. 

Colônia Nueva Helvécia
Paramos para conhecer a Colônia Suíça Nueva Helvécia, um pequeno povoado de imigrantes suíços que se estabeleceram aqui em meados do século dezenove. As construções conservam o estilo das casas suíças e todas as casas exibem um escudo, uma espécie de brasão, que identifica o local da Suíça de onde veio aquela família. Compramos alguns chocolates, delicioooosos, e seguimos em frente. 

Coleção de Lápis
Paramos em um lugar chamado de Granja Arenas onde existe um museu com várias coleções inusitadas: lápis, chaveiros, caixa de fósforos, vidros de perfume, bonés. A de lápis é a maior e está no Guiness Book (tem um certificado lá que comprova). O colecionador é o dono da granja, um senhor bem simpático. Nunca colecionei nada. Já tentei, mas logo enjoo e me desfaço de tudo. Jamais teria paciência para uma coleção dessas.
Ao lado do museu tem um restaurante e uma loja de queijos, doces, mel, etc. Tudo fabricado ali na granja e parece ser de ótima qualidade.

Enfim chegamos a Colônia del Sacramento. Alguém comentou que ela lembra um pouco a cidade de Parati, e é verdade. Pelo menos a parte do casario colonial.  

É a cidade mais antiga do Uruguai e foi fundada por portugueses, as margens do Rio da Plata. Do outro lado do rio fica Buenos Aires, na Argentina, fundada por espanhóis. É possível, do lado de cá, ver os edifícios da cidade argentina. Uns trinta minutos de balsa separam as duas cidade. Imagine as disputas entre espanhóis e portugueses pela posse dessa cidade? Foram várias tentativas e o Brasil também dominou essa área, mas por pouco tempo. 

A cidade ainda conserva parte das muralhas que protegiam a cidade, o Portão da Cidadela e os edifícios mais importantes daquela época. É um lugar bucólico, bom pra passear com calma, sentar à mesa dos inúmeros barzinhos e restaurantes, sob a sombra das árvores. Nas noites de verão deve ser bem gostoso andar pela cidade e ficar próximo ao rio, aproveitando a brisa.

Escolhemos o restaurante Mesón de La Plaza para nosso almoço. Sentamos numa área interna, um jardim de inverno muito agradável. Nosso guia logo se acomodou na nossa mesa. Pensei com meus botões “esse guia tá esperando que paguemos o almoço dele”. Não deu outra, na hora da conta ele nem se mexeu. Será que é esse o padrão aqui? Nunca vi isso em outro lugar.

Circulamos pela parte mais nova da cidade, que é bem bonita, e paramos no centro para Goretti resolver um problema do cartão de crédito, no Banco Santander. 














































No início da noite chegamos em casa e não saímos para jantar. Goretti fez uma sopa gostosa, acompanhada do pão delicioso que comemos toda manhã, e de um bom vinho uruguaio.
                      Huuuum! A vida é boa. 

21.03.2017                PUNTA DEL ESTE
A Mão do Afogado
Ainda é cedo e já estamos na estrada, rumo a Punta del Este, e faremos algumas paradas pelo caminho. 

Primeira parada: Atlântida. Essa cidade faz parte da Costa de Oro que serve de destino de férias para os uruguaios. Fica bem perto de Montevideo, uns quarenta minutos mais ou menos. Paramos primeiro para conhecer a casa El Aguila, uma construção de pedra com o formato de uma águia com a cabeça voltada para o mar que fica lá embaixo. Existem algumas lendas sobre essa casa ser um centro de energia cósmica, ou ter sido refúgio de bandidos e de nazistas. 

El Aguila

Seguimos pela orla que tem belas casas, a maioria fechada porque hoje é terça-feira e o verão terminou ontem. Passamos por um hotel antigo construído no formato de navio. Muito interessante.

Segunda Parada: Piriápolis. Outro balneário famoso por aqui. Subimos um morro, o Cerro de San Antonio, para ver a cidade lá de cima. É possível subir de teleférico, mas “ a mí no me gusta”, prefiro o carro. Pensei que não veria nenhum morro por aqui, Uruguai é uma grande planície.

Descemos para a orla. A Rambla acompanha toda a praia, local de caminhadas e lazer. A cidade parece muito agradável. Paramos em frente ao Argentino Hotel, que também é Cassino, para conhecermos a praia. É um belíssimo hotel, um estilo parecido com o nosso hotel Copacabana Palace. A orla daqui faz lembrar a Ocean Drive de Miami. Carlito falou que é proposital, as construções foram realizadas no mesmo estilo dos hotéis da Ocean Drive. A praia, que ainda é rio, vira mar alguns quilômetros à frente, mas já está mais azul aqui do que em Montevideo. 

Carlito informa que vários episódios de Miami Vice foram filmados aqui porque essa orla parece com a de Havana.  Como Fidel não permitiria aos Estados Unidos filmar nada em Cuba, optaram por filmar aqui. Estou começando a achar que é caô desse coroa, vou pesquisar no google.

No caminho rumo a Punta del Este, paramos num belvedere onde fica uma estátua de Iemanjá. A nossa Iemanjá? Sim, ela mesmo.  E essa não é a única estátua dela no Uruguai. Pelo visto o número de devotos não é tão pequeno.

Nesse local onde está a estátua, tem uma trilha que passa por uma caverna e desce até a praia. Goretti resolveu descer e nós ficamos aqui em cima esperando por ela. E nada de Goretti voltar, já estamos estranhando a demora. De repente ouvimos ela gritar:

- Mandem uma carreta pra buscar minha língua!!! Meu Deus, por que não vim de short? 

Ela chega esbaforida de calor e cansaço pelo esforço da subida. Está acostumada a correr em piso plano, morro acima é outra história.

Casapueblo
Terceira parada: Casapueblo. Subimos até o mirante Punta Ballena de onde se tem uma vista da Casapueblo e de Punta del Este. A vista é linda. Essa é uma casa de verão arquitetada por Carlos Paez Vilaró, um artista plástico uruguaio que faleceu recentemente. Ele morou aqui até sua morte e parte da casa não é acessível aos turistas, pois a família do artista ainda reside aqui. O estilo lembra as casas gregas que eu vi em Santorini e Mikonos. Atualmente não é só uma casa, pois tem uma galeria de arte, museu e um hotel. Não viemos no melhor horário porque tem uma chuva ameaçando cair e não queremos arriscar deixar para a tarde. A melhor hora é no final da tarde, para ver o pôr do sol. Goretti e Claudia já vieram aqui assistir o pôr do sol quando o Vilaró ainda era vivo. Disseram que enquanto o sol sumia, tocavam o Concierto de Aranjuez e era lido um texto de Vilaró em que ele agradece ao sol pela sua existência e se despede de mais um dia.  O artista estava lá nesse momento. 

Emocionante!!!





Chegamos em Punta del Este pela orla, que tem casas ma-ra-vi-lho-sas, e depois prédios, como em toda cidade grande e moderna. Fomos logo almoçar porque a fome já tinha chegado.
Escolhemos o Restaurante Soho, na orla. Decidimos ficar na área externa e um ventinho frio me obrigou a puxar o cachecol e enrolar o pescoço, local onde sou mais sensível ao frio. Deixei de lado as carnes, preferência nacional, e optei pelo pescado. Não me arrependi, estava delicioso, o melhor prato que comi até agora. Carlito ficou na nossa mesa e não coçou o bolso, of course. Tanta atenção não sai de graça.

Continuamos pela orla. Passamos pelo monumento que é o principal cartão postal da cidade e fica na Praia Brava: a Mão do Afogado. São enormes dedos que saem da areia e que representam o homem surgindo na natureza. Pensei em tirar uma foto mas o local é muito concorrido, desisti.

Depois seguimos para a Ponte Ondulada que passa por um pequeno riacho. A ponte parece uma grande letra “M” e é uma delícia passar sobre ela, todas as pontes deveriam ser assim, como um tobogã. Melhor não, pode ser perigoso.

No retorno para Montevideo passamos por locais as margens da estrada onde vimos quiosques no meio do bosque que são preparados para as famílias fazerem churrascos ou piqueniques. Muito legal!
Nosso Guia Carlitos

Paramos no bairro Beverly para visitarmos o Museu Rally. O bairro parece um grande jardim com muitas flores e árvores, onde a maioria das casas são enormes e não tem muros. O museu é todo branco e tem uma arquitetura moderna. Fica situado em uma pequena elevação no meio de um grande gramado, um lugar calmo e relaxante. As obras expostas são na maioria de artistas latinos, sendo o mais importante deles o espanhol Salvador Dali. Vi um quadro do brasileiro Juarez Machado que também faz parte do acervo do museu. Em um pátio interno há várias esculturas, inclusive de Botero, o artista que adorava retratar os gordinhos.


     

Quando chegamos em casa já era noite. Eu e Goretti descemos da Van e fomos conversando, distraidamente, sem nos despedirmos direito de Carlitos. Claudia disse que ele ficou com uma cara decepcionada sem entender porque saímos sem dar um beijo de despedida. Nós pretendemos fazer com ele um passeio a uma vinícola, mas ainda não decidimos. Bateu um remorso, ele foi sempre tão atencioso. Tá certo que a conta dele no restaurante tivemos que pagar, é péssimo fotógrafo, as vezes arranca o telefone da nossa mão para bater as fotos, mas quando olha as fotos que tirou, exclama: liiiindas! Foi mal, detesto ser indelicada com alguém que não merece, precisamos nos redimir.

22.03.2017

Toda noite é uma comilança: salaminho, queijos, muito pão, chocolate, azeitona, amendoim, batata chips e vinho. Na manhã seguinte Claudia faz um suco verde poderoso, para limpar toda a comilança da véspera. Duvido que o suco dê conta de eliminar tantas calorias. Elas ainda vão correr, mas no meu caso sei exatamente onde essas gordices vão se instalar.

O dia hoje está um pouco mais quente e aproveitamos para caminhar pela rambla.  Um pouco de exercício é necessário e o local é muito agradável. Por via das dúvidas, peguei um casaquinho de nylon que Goretti usa pra correr. Vai que venta? Velhinhas são sensíveis as mudanças bruscas de temperatura, tenho que me cuidar.

Uma coisa que me impressionou é o hábito das pessoas, principalmente os homens, andarem o tempo todo atracadas com uma garrafa térmica em baixo do braço e uma cuia na mão. Que coisa desconfortável!

Gorreti, apaixonada pelo Uruguai, já está querendo aderir ao costume dos locais.


Fonte das Fechaduras
Almoçamos num restaurante ao lado da Fonte das Fechaduras. Um casal dança um tango na calçada do restaurante, ao lado da estátua de Gardel que está sentado, olhando o movimento da rua. Aproveito para tirar uma foto ao lado dele, desse cantor disputado por argentinos e uruguaios.

Eu e Carlos Gardel
Quando chegamos em casa Claudinha perguntou se ainda tinha sopa. Olhamos pra ela admirados porque ela tinha almoçado muiiiiito bem. Pronto, ela se espantou e desistiu da sopa. Disse que fizemos bulling com ela.

23.03.2017 

Vamos ao Bairro Judeu, onde o comércio é bom e barato, segundo Carlitos. Na primeira loja que entramos já fizemos a festa. Aliás, se continuarmos nesse ritmo, teremos problemas com excesso de bagagem. Não podemos ver uma loja de objetos para casa, principalmente cozinha, que já vamos entrando. Já comprei talher, pendurador  de chaves, potinhos, tempero, queijo, etc. Já ganhei um recipiente com misturador para molho, presente de Goretti e Claudinha. E minha cozinha é pequena, não tem mais espaço disponível.

Vamos almoçar no Mercado Agrícola, que fica bem perto do Bairro Judeu. Antes vou procurar alfajor para algumas amigas e Goretti vai comprar um conjunto de tabuas e facas pra um dos filhos. Escolhemos o mesmo restaurante que almoçamos quando viemos anteriormente, o Pellicer Parrilla Gourmet. Pedi um Cordero Pellicer. Ele vem desossado, grelhado com limão, orégano e mostarda de Dijon, acompanhado de uma salada verde com abóbora. Uma delícia!

À noite fomos ao restaurante Tabaré para beber e assistir ao jogo do Brasil e Uruguai. Goretti estava torcendo pelo Uruguai, mas deu 4 x 1 para o Brasil. Gostamos do bar e vamos voltar no sábado para assistir uma roda de samba.

24.03.2017

Acordei gripada, com uma moleeeeza. Só saí de casa para almoçar porque a fome não dá trégua, apesar da gripe.

Pesei-me e levei um susto, engordei dois quilos. Ô miséria! Pra perder um mísero quilo tenho que fazer um mês de sacrifício, mas pra ganhar basta relaxar uma semana. Muito pão, muito queijo, carne gorda e cerveja. Quarteto mortal!

25.03.2017 

Continuo derrubada. Nariz entupido, respiração difícil o que acaba me deixando cansada.

Lá da cozinha vem o som que Claudinha põe pra tocar toda manhã. Suco detox, ovos cozidos, pão quentinho com manteiga, queijo, café expresso e música. Tem uma música que ouvimos todos os dias: Trem Bala com uma batida eletrônica. E outra que estamos sempre cantando: o tango “Por uma cabeza”. Como não sabemos a letra cantamos a música desse jeito:

- Ah! Punta carretas, ah punta carretas, punta carretas, punta....

Coisa de gente doida.

Fomos caminhando até o shopping Punta Carretas, que fica num belo prédio que já foi um presídio. Será que o Brasil algum dia poderá prescindir de um presídio? A nossa carência é tão grande nessa área que parece impossível que isso aconteça. Aqui é mole! Praticamente não há violência. 

Corrida Contra o Câncer de Mama
Hoje é dia de corrida e as meninas vão participar. É contra o câncer de mama e somente mulheres correrão. Gostaria de ir assistir a largada, mas preciso descansar pra sair à noite, a duas coisas o corpinho não aguenta.

Quando chegaram da corrida, guardaram as medalhas e foram descansar um pouco.

Mais tarde fomos para o Tabaré. O bar ficou cheio rapidamente. O grupo que vai tocar está afinando os instrumentos e passando o som faz um tempão, já estou ficando impaciente. 

Enfim começaram. O grupo não é lá nenhuma maravilha, mas dá pro gasto. E é samba, o ritmo contagia. Goretti, que não havia comido quase nada, bebeu umas doses a mais de vinho. Lá pelas tantas ela esbarrou no copo e mandou o vinho todo pra mesa vizinha onde estavam três casais de uruguaios. Um cidadão se molhou mais que os outros e a esposa dele não gostou. Teve um ataque de ciúmes e disse que Goretti estava dando em cima do cidadão. Bobagem, ela só estava dançando. Acho que a esposa ciumenta também já tinha bebido demais e, nesse estágio começam a perder a noção de perigo. De repente  ela começa a apontar um garfo e uma faca pra Goretti, que estava de costas pra ela. Um dos homens que estavam a mesa tirou o talher da mão dela. Falei pra Claudinha:

- Isso não vai acabar bem, melhor tirar o time de campo.


Bar Tabaré

Claudinha concordou e convencemos Goretti a ir embora. 

26.03.2017

Acordamos bem tarde e ficamos em casa vendo filme até a hora do almoço. 

Escolhemos o restaurante Chivitos Lo de Pepe, que fica próximo da nossa casa. Não arrisquei pedir Chivito, o prato mais tradicional desse restaurante. Esse prato parece mais um X-tudo, tem que estar com muita fome. Comi um entrecôte que estava delicioso, bem macio. Acho que foi a melhor carne que comi aqui no Uruguai. 

De volta a casa vamos encarar a dura tarefa de arrumar a mala e acomodar toda aquela quinquilharia que acumulamos nesses onze dias.
Chivitos

Nosso voo amanhã sai as 05:50 h, vamos ter que madrugar e sair de casa as 03:00 h. Chegaremos cedo em Macaé, início da tarde, vale o sacrifício. Preferi dormir à tarde, porque a noite não vai dar pra mim, dificilmente consigo dormir antes de 01:00 h.

27.03.2017

Saímos para o aeroporto as 03:00 h. A noite estava agradável, sem vento e sem frio. Algumas pessoas faziam ginástica numa academia ao ar livre. Fomos pela orla nos despedindo da cidade. 

O Uruguai não é nada provinciano, como muitos imaginam. E é até bem progressista, se considerarmos que o aborto é legalizado, a maconha é liberada com algumas regras específicas, foi o segundo país da América do Sul a legalizar o casamento gay, etc. 

As pessoas costumam ser cordiais e alegres, mas não são barulhentos como nós brasileiros.

Vi pouquíssimas igrejas por aqui, o que reforça uma desconfiança que tenho de que os países menos religiosos são também os mais pacíficos do mundo. 

Gostaria de ter passado mais tempo em Colônia do Sacramento e Punta del Este. Talvez volte algum dia, quem sabe? Goretti e Claudia com certeza voltarão.

O que está escrito em um guardanapo do Choperia Mastra resume bem o que percebi do Uruguai nesses poucos dias que aqui estive.



"URUGUAY, um país pequeño de grandes ideales"