02 abril, 2017

Show de James Taylor e Elton John

Em Janeiro Rosani surgiu com essa ideia de irmos ao show de Elton John e James Taylor no Rio, em abril. Rosani é conhecida no nosso grupo como "juíza", por causa do seu temperamento decidido em um pouco briguento, então quando ela decide não dá trégua. 

Aí Graça, nossa guia turística predileta, sai em campo para viabilizar os delírios de nossa companheira.
Sou fã dos dois artistas, mas nunca tinha cogitado assistir um show dos dois. Rock in Rio nunca esteve nos meus projetos, tenho um pouco de medo de multidão, prefiro assistir essas apresentações em teatro, quando é acessível ao meu bolso.

Depois de alguma divulgação nos grupos do ZAP, montamos a turma de quatorze pessoas.

01.04.2017
Encontramo-nos na casa de Graça por volta das nove horas pra partimos para o Rio. Somos quatorze: Angela, Rosane, Valdea, Maura, Vera, Claudia, Cleuza, Marcia, Rosani, Fátima, Ito, Tânia, Lina e Graça. Tudo gente boa.

Combinamos passar primeiro na Feira de São Cristóvão e depois do almoço iremos para o Sambódromo, local do show. 
Chegamos ao Rio por volta das 12:00 h. A temperatura estava agradável, um ventinho amigo nos recebeu. Comentei com Rosani que havia previsão de chuva para a hora do show:

- Não vai chover, cinquenta por cento de previsão de chuva não é chuva, não chove pode ter certeza.

Juíza falou tá falado, não discuto com autoridades. Mas na minha bolsa tem uma capa de chuva, uma blusa de manga comprida para o caso da outra molhar e um calçado extra. As autoridades as vezes se enganam feio.

Apesar do clima ameno, aqui dentro do pavilhão onde funciona a Feira faz um calor danado. Caminhamos um pouco pelas lojinhas e as companheiras já começaram a fazer umas comprinhas, como é de praxe.  Eu comprei o fantoche de um fantasminha, pra ver se assusto meu neto. Desconfio que ele não se assustará e vai destruir o fantasma em alguns segundos.

Chegamos perto de um dos palcos e já estava rolando um forró. Alguns casais já se arriscavam na dança embaixo do sol de meio dia. Uma velhinha desinibida dançava sozinha no melhor estilo “tô nem aí”. Aquela é Claudinha amanhã. Esse forró deve bombar no finalzinho da tarde, quando o sol dá uma trégua.

Procuramos logo um lugar mais fresquinho num dos restaurantes. No local onde escolhemos pra sentar tinha um ventilador bem grande, turbo, jogando um vento delicioso em cima das nossas costas. Imediatamente me veio uma vontade incontrolável de tomar um chope. Começamos os trabalhos e a turma caiu de boca no torresmo, baião de dois, aipim frito, bolinho de bacalhau, etc.

Depois de toda comilança, saímos do restaurante e fomos andando devagar, desgastando o almoço para enfrentar a segunda jornada. Um céu azul sem nuvens me fez pensar que aquela capa de chuva só serviria para fazer uma sauna, se eu desejasse. Ah, se eu soubesse....

Chegamos cedo, o portão ainda não estava aberto. Entramos na fila (ô sina, essa de enfrentar fila). Um calor danado e a turma que vende capa de chuva já estava a postos.

- Olha a capa de chuva! Tá a dez real, mas quando cumeça a chuvê dobra o preço.

Ninguém se animou. Logo o anjo da guarda dos ambulantes que vendem guarda-chuva, sombrinha e capa, começou a trabalhar e uma nuvenzinha preta começou a surgir lá no horizonte.

- Olha lá, chuva tá vindo! Não sou eu que tá falando, foi a Maju que avisou. O preço da capa vai aumentar.

O pessoal da fila começou a se movimentar e a venda de capas se intensificou. Logo chegaram os primeiros pingos de chuva. Falei pra juíza:

- E aí, não vai comprar uma capinha?

- De jeito nenhum, cinquenta por cento de previsão não é chuva, é só uma garoinha.
 

Depois de um bom tempo abriram o portão e entramos. Chegamos à arquibancada e escolhemos o lugar que achamos melhor, sem disputa com ninguém por que ainda era em cedo. Estendi minha almofada de silicone, empréstimo da nossa amiga Rose pra mim e Rosani. Comecei a maldizer a almofada, que parecia pesar uma tonelada. Tentei encher a infeliz, soprei, soprei...e nada. Desisti, mas mesmo meio vazia ela cumpria sua função. Será que o silicone que botam no peito e na bunda pesam assim?  Imagino que não, caso contrario ninguém ia aguentar carregar essas próteses.

E começou a espera pelo show e comecei a pensar “podíamos ter chegado mais tarde, é tão ruim esperar”. Mal sabia eu que “esperar” seria o menor dos problemas, o pior estava por vir. 

De repente o anjo da guarda dos ambulantes que vendem....vcs já sabem o que ele vendem, abriu a torneira dos céus e “tome chuva”. Como é proibido entrar no local com sombrinhas, todo mundo sacou sua capa de chuva para enfrentar a intempérie.

Pontualmente, com um pequeno atraso de oito minutos, James Taylor surgiu no palco. O atraso foi perfeitamente aceitável até porque ele é americano e não britânico como Elton John. Agora, Sir Elton tem que ser rigorosamente pontual pra manter viva a fama de pontuais dos britânicos.

James está com cara de terceira idade, mas sua voz continua maravilhosa, macia, aveludada. Falou um pequeno texto em português onde dizia que estava feliz por estar novamente no Brasil e explicava que não poderia tocar seu violão porque tinha quebrado o dedo. E xingou “merda”. Começou a cantar seus sucessos. Quando cantava "You’ve got a friend'' a chuva despejou. Mesmo assim todos nós cantamos em coro junto com ele. Liiiiindo!!!

E tome chuva. Minhas pernas já estavam totalmente molhadas porque a capa apesar do número GG não chegavam nem a cobrir os joelhos. Quem manda ser alta!

Parou a chuva e surgiram algumas estrelas no céu. Que bom, a chuva vai parar! Quando James terminou de cantar  "Fire and Rain" a chuva voltou a cair. Que ironia, nessa música ele fala que viu o fogo e a chuva. Hoje só viu chuva. No telão ele olha pra cima e seus olhos azuis escuro como os do meu pai, transmitem tranquilidade.
 

A chuva voltou e voltou pior.  E aí começamos a ver os estragos: capas com vazamento, outras que rasgam com facilidade, almofadas de tecido que ficaram encharcadas molhando a bunda de quem estava em cima delas. Valdea trouxe um cachecol para se aquecer e ele virou uma esponja. Ela enxugava a capa com ele e torcia em seguida:

- Vim aqui para lavar roupa. Quem quer estender essa roupa pra mim?

Por fim eu já estava desejando que James Taylor se retirasse (tadinho) pra desocupar o lugar pra Elton John começar logo o show, antes que a gente congelasse. Aí ele canta a música que fez em homenagem ao Rio de Janeiro depois que participou do primeiro Rock in Rio. Ele merece nosso sacrifício!

Haja bom humor pra enfrentar esse contratempo. A chuva tava de sacanagem, parava e recomeçava, parava e recomeçava... A gente tentava se enxugar um pouco, tirava a capa, sacudia e logo em seguida chovia de novo. Num desses intervalos comi um pedaço de pizza, comi rápido antes que chovesse novamente. Pizza molhada ninguém merece.

Fiquei preocupada com Rosani. Nesse momento ela era quase a verdadeira imagem do pinto molhado. Digo “quase” porque a imagem verdadeira seria a do próprio pinto, o animal, molhado. Mas ela não se aperta, desceu e comprou uma camisa do show e conseguiu a última capa de um ambulante.

Comecei com uma tremedeira incontrolável e decidi sair da chuva. O show de James já tinha acabado então fui para a área do banheiro que é coberta.

- Elton que se foda. Desculpa aí Sir Elton, vc embalou meus sábados à noite, mas não tenho mais idade pra enfrentar temporal só pra ver meus ídolos da juventude. Aliás, vc se cuide que essa chuvinha aí no palco pode lhe resfriar, vc também já está velhinho.
Já encontrei Claudinha e Tânia lá na área coberta. Depois chegou Cleuza. Fui no banheiro e verifiquei que minha calça estava encharcada. Não havia o que fazer. Enxuguei a capa pra tentar pelo menos me aquecer um pouco. Lá de baixo ouvi quando Elton disse “muito obrigado por resistirem a chuva, é um privilégio tocar pra vocês”.

A chuva deu uma trégua e subimos correndo para o alto da escada. Elton vestido num paletó cintilante, que faria inveja a Cauby Peixoto, dedilhava o piano com a vitalidade que lhe é peculiar. Outro estilo, completamente diferente do seu antecessor no palco. James é Zem, doce. Elton é pura energia. Que show, valeu o sacrifício.

Começou a chover novamente, descemos a escada e fomos pra área coberta.   Pouco depois Vera veio nos chamar, disse que Graça estava propondo sairmos um pouco antes de terminar pra evitar o tumulto da saída. Concordamos com ela, exceto Rosani que junto com seu irmão e sua cunhada ficaram até o final.

Saímos pelo portão à esquerda e nos deparamos com as ruas interditadas. Graça ligou para o motorista da Van e ele combinou de nos pegar em frente ao prédio do Batalhão de Polícia. No caminho nos perdemos de Creuza e Taninha. Acho que nos perdemos de Lina também.

Aos poucos os retardatários foram chegando. Quando entramos na Van começamos a fazer o inventário do estrago. Valdea molhou até o dinheiro que estava na carteira, vai ter que pendurar pra secar e ver se salva algum. Márcia, que estava com a roupa na mochila, ficou decepcionada quando viu que estava tudo molhado. A solidariedade das amigas a salvou: uma emprestou uma calça leging e outra uma blusinha. Tânia disse que até a pepeca estava resfriada. Eu estava usando uma bolsa de praia, toda furadinha, molhou tudo que estava dentro. Ainda bem que eu deixei tudo na Van e pude vestir um pulôver quentinho e um calçado seco. Maura ainda me emprestou um casaquinho para cobrir minhas pernas. Enfim parei de tremer.

Parece que na viagem de volta, dentro do carro quentinho, todos dormiram. Não vi ninguém reclamar pela Van não ter parado pra fazer xixi e comer. Não parar pra comer? Estavam desmaiados, com certeza.

É TUDO MENTIRA, HISTÓRIA DE PRIMEIRO DE ABRIL. 
SÓ QUE NÃO!