23 setembro, 2016

O Poder

17.04.2016

Estive acompanhando pela televisão a votação sobre o impeachment da Presidenta Dilma, e observando aquela estranha fauna que trabalha (muito menos do que deveria) naquele ambiente. Depois de algum tempo de observação lembrei-me de uma palestra que assisti em um evento de RH, que falava sobre instintos básicos do ser humano: o desejo sexual, a busca do prazer, a agressividade, anseio pelo poder e outros que não me lembro. Segundo o palestrante esses instintos, que todos nós temos, visam à perpetuação da espécie, a preservação da própria vida, etc.

O anseio pelo poder, que me parece está relacionado à auto-estima, fica bem evidente nesse grupo. O ser humano é um bicho interessante. Na empresa onde trabalhei, ficava freqüentemente boquiaberta diante da atitude de algumas pessoas que almejavam ocupar cargos ou para se perpetuarem neles. E ficava pensando porque uns desejam tanto o poder e outros não. 

Com o passar dos anos fui entendendo (a idade avançada serve pra alguma coisa) que o desejo de poder está em todos nós. Porque são vários tipos de poder e certamente já fomos afetados por algum deles: político, material, intelectual, físico, estético, etc. Possuímos esse desejo de poder, esse prazer em ser superior ao outro. O prazer de ser mais rico, o mais inteligente, o mais bonito, o mais corajoso, o melhor amante, o mais poderoso, o mais caridoso entre todos os caridosos do seu convívio, o mais cruel entre todos os bandidos, e por aí vai. E esse poder é sempre exercido sobre outro semelhante: filhos, marido, esposa, pais, amigos, empregados, etc.

Muitas vezes esse desejo pelo poder é bem disfarçado. Tive um exemplo claro desse tipo de disfarce utilizado, talvez inconscientemente, por uma colega de trabalho na Petrobras, que utilizava a caridade para alimentar seu ego, seu desejo de ser notada. Talvez por não ser bela ou inteligente ou rica....a bondade foi o seu recurso para ser notada, ser admirada. Sempre tenho um pé atrás com pessoas muito bondosas, faz parte da minha cota de preconceito. 

Quanto a  conheci, mantive minha descrença habitual naqueles que são muito caridosos, muito religiosos, muito pudicos. Algumas vezes, com o passar do tempo, percebo que em algumas pessoas essa bondade é genuína, mas é raro. 
Fiquei a observá-la e tempos depois, no episódio da morte de uma cunhada que foi acompanhada por ela durante o período da doença, percebi a verdadeira motivação: poder e vaidade. Enquanto descrevia com detalhes minuciosos o sofrimento pelo qual padecia a enferma nos seus últimos dias, percebi o prazer em seu olhar. O que ela desejava não era minorar a dor da cunhada, mas obter a gratidão de toda a família, criar uma dívida impagável, a dependência da família em relação a ela. A super caridosa.

Não é de se admirar que nas altas esferas de poder todos os pudores sejam abolidos. Se não tivermos instituições fortes e atuantes, não há quem coloque freio nesse desejo incontrolável de poder. Não tenho muita esperança de ver o meu país livre dessa gang que se instalou no governo, em todos os níveis da estrutura.

Não somos muito melhores que os políticos, a diferença é que para os "sem poder" o estrago pode ser menor. Que bicho estranho somos nós!