19 julho, 2010

COPENHAGUE


20.06.2003


Copenhague
Saímos pela manhã em direção a Gotemburg. Almoçamos numa espécie de shopping desta cidade. Depois do almoço ajudei ao Camilo a escolher um presente para sua ex-esposa. Parece que ele não poupa dinheiro quando o presente é para ela. Acho bem legal o relacionamento que ele tem com a ex e com a família dela. Acho que se algum dia eu me separar do meu marido, com o gênio que ele tem, o mínimo que vou receber de presente será uma bomba cabeça de nêgo.

No final da tarde fizemos a travessia de barco pelo estreito de Helsingor (a parte mais estreita do mar Báltico) para chegarmos à Dinamarca. Avistamos ao longe muitos cata-ventos (será esse o nome?). A Suécia está investindo em energia eólica. Fizeram à estrutura no mar porque esse negócio faz um barulhão danado e, por isso, não pode haver moradias perto do local. Em seguida avistamos também uma usina nuclear no lado sueco. Parece que essa usina é uma preocupação constante para os dinamarqueses.

Na chegada à Dinamarca, quando embarcamos no ônibus, a guia nos falou sobre o castelo Kronborg que fica perto daqui. Shakespeare ambientou o drama do príncipe Hamlet nesse castelo que, a partir daí, ficou conhecido como o castelo de Hamlet. Não vai dar tempo de visitá-lo.


Optamos por ir para Copenhague pela estrada litorânea, mais longa, porém bem mais bonita. As casas a margem da estrada são todas lindinhas, com muitas flores, muito verde e um mar azul, e certamente gelado, na outra margem da estrada. Notei que algumas pessoas atravessavam a estrada em direção à praia, vestidas com roupão. Elas caminhavam por um pequeno deck de madeira que entrava pelo mar como um embarcadouro e sentavam nos bancos que ficam no centro desse deck. Daí então tiravam a roupa para tomar sol, nus em pelo. É a visão do paraíso!!! Ou do inferno, dependendo de quem estiver pelado.

Copenhague é uma cidade maior que as outras capitais nórdicas e parece menos “escandinava” que as outras. Parece-me mais europeia, mas posso estar enganada, afinal o tempo é curto para conhecer bem e não estive em tantas cidades europeias para fazer esse tipo de comparação.

Chegamos ao hotel e logo encontramos um brasileiro que trabalha na recepção. Ele já mora a quatorze anos na Dinamarca e disse que já está bem ambientado, não sente falta do Brasil. Tomamos o metro e fomos para onde???? Para o porto, oxente! Onde mais poderia ser?

Porto Nyhavn
Um ventinho frio estava a nossa espera no porto de Nyhavn. Caminhamos por alguns metros escolhendo um restaurante para almoçarmos. São muitos, de ambos os lados de um canal, todos com mesas ao ar livre apesar do frio. Para os escandinavos o clima deve estar legal pois passamos por algumas mulheres sentadas nesses restaurantes ao ar livre, tomando sol sem a blusa, só com o sutiã. E nós tiritando de frio. Não posso reclamar, até agora não pegamos nenhuma chuva e esse vento polar que queima a pele só deu o ar da graça aqui em Copenhague.

Escolhemos um restaurante e nos acomodamos ao ar livre, porém com mantas cobrindo nossas pernas, mantas que já ficam sobre as cadeiras. Ao lado da mesa um aquecedor que parece uma luminária de pé, torna o ambiente mais aquecido e bem agradável. Quem também apareceu lá no porto foi o médico baiano Walmir, junto com a esposa Carla. Ficamos papeando até às 23:00, em seguida retornamos ao hotel.

21.06.2003

Fizemos o costumeiro tour pela cidade. O vento frio não me permitiu curtir muito o passeio. Eu e o frio não nos damos bem. A nossa guia falou que durante o inverno o dia dura poucas horas e em boa parte dele não há sol, apenas claridade. Eu gostaria de ver o fenômeno da Aurora Bureau, mas acho que não suportaria o frio. Visitamos o palácio Real e fomos ao local onde encontra-se a escultura da “Pequena Sereia” do conto infantil do escritor Hans Cristian Andersen. É uma escultura de uma mocinha sobre uma pedra dentro do lago. Nada de excepcional. Depois visitamos o King's Garden, um jardim belíssimo. Após o  almoço retornamos ao hotel e descansamos o resto da tarde.

 



À noite fomos ao parque “Tivoli”. Esse parque é muito antigo e faz lembrar um pouco aqueles parques da minha infância, guardadas as devidas proporções. Tem vários brinquedos e acontecem pequenos espetáculos em diferentes setores do parque. Não sei como é durante o dia, mas a noite é maravilhoso. As luzes suaves (nada de neon) dão um ar romântico, uma penumbra que convida ao romance. Pena que os romances estão proibidos para mim, pelo menos até segunda ordem. Entramos em um restaurante aconchegante e jantamos enquanto apreciávamos o vai e vem de pessoas de vários lugares do mundo.

Kátia me perguntou se eu não estava gostando da viagem, estava me achando um pouco triste. Eu disse que estava gostando sim, mas que o frio me incomodava bastante. Não deixa de ser verdade, mas não é apenas isso. Acho que estou também um pouco preocupada com minha mãe. Minha irmã Julieta faleceu num dia em que eu estava viajando. A partir daí, sempre que eu viajo fico com a sensação que o mesmo vai acontecer com outro familiar. Bobagem!!! Já viajei tantas vezes e nada aconteceu.

22.06.2003

Reservamos o dia de hoje para os museus. Na verdade, apenas dois pois não dá pra visitar mais do que isso. Fomos primeiro ao museu “Rosemborg” que possui em seu acervo as joias da coroa dinamarquesa. Eu e Adélia curtimos muito essa visita. Primeiro admiramos os quadros, vários deles retratavam a realeza. Depois, quando passamos para as salas das joias, adornos, armas etc... começamos a procurar as joias que tínhamos visto nos quadros, no pescoço da rainha fulana, no dedo do rei beltrano, e por aí vai. Encontramos várias e todas muito bonitas e, comprovadamente, muito antigas. Gastamos um bom tempo nesse exercício e quando saímos do museu encontramos Kátia nervosa achando que tinha acontecido alguma coisa. Não conseguia entender o que estávamos fazendo tanto tempo dentro daquele museu. Rimos muito com ela.

Depois fomos ao museu “Calsberg”. Apesar do nome de cerveja não encontramos por lá uma gota sequer do precioso líquido. O dono dessa marca, um grande colecionador, resolveu criar um museu que abrigasse toda sua coleção, que é imensa. Vimos, principalmente, muitas esculturas romanas, egípcias, etc...

Quando retornamos ao hotel, já noite, entramos em um mini-mercado para comprar umas cervejas. Não se pode vender bebidas alcoólicas após as 19:00, o freezer onde ficam as bebidas são fechados nesse horário. Aqui é lei seca mesmo. Vamos deixar para tomar as cervejas no Brasil. 


Quando chegamos ao hotel lembramos que tínhamos ainda uma garrafa de vinho. Já enfiadas nos pijamas de dormir, resolvemos fazer um brinde pela viagem que termina amanhã. Tudo está bem quando termina bem. É o nosso caso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Duas coisas eu sempre ouvi falar a respeito dos povos escandinavos: que as mulheres são bem liberais quando se trata de sexo e que os escandinavos são frios e reservados.

Com relação as mulheres e o sexo, já não se fala muito hoje em dia, acho que já não existe muita diferença com relação as mulheres de outras nacionalidades. Na minha adolescência sim, essa diferença era significativa. Lembro-me que nas revistas que eu lia se falava muito sobre as mulheres suecas e a facilidade com que tiravam as roupas diante de outras pessoas e também por serem muito liberais quando o assunto era sexo.

Quanto a frieza dos escandinavos, a mídia ainda ressalta essa característica. É comum esse tipo de comentário nas corridas de Fórmula Um sobre os pilotos finlandeses e também no futebol se fala a respeito da frieza dos nórdicos, que não vibram, não gritam, jamais se descontrolam.

Algumas informações da nossa guia me ajudaram a entender melhor o perfil dos escandinavos. Ainda na Finlândia ela nos falou sobre o hábito do banho de vapor - a sauna foi criada pelos finlandeses - , quando a família se reunia e tomavam banho juntos. Cada lugar possuía uma casinha de madeira equipada para esse banho e ali se juntavam pais, filhos, avós, primos, etc. Acho que a preocupação não era tanto com a higiene pessoal - coisa que ao norte da Europa era considerado como desperdício de tempo e de energia - mas sim como um momento de prazer. Acho que daí a facilidade em tirar a roupa diante de outras pessoas, eles fazem isso desde criança. A guia nos contou que algumas vezes costuma levar grupos de turistas para fazer sauna, mas se forem latinos é preciso ter a preocupação de que a sauna seja para homens e mulheres separadamente. Ainda assim as pessoas têm pudor em se despir. Ela resumiu numa frase, que eu achei excelente, uma grande diferença entre nórdicos e latinos:

“Os nórdicos desnudam facilmente o corpo, mas não a alma”
“Os latinos desnudam facilmente a alma, mas não o corpo”

É a mais pura verdade. Nós falamos sobre a nossa vida particular com detalhes para pessoas que mal acabamos de conhecer. Isso é impensável para um nórdico. Para eles a palavra tem uma importância muito grande e são escolhidas com muito cuidado. Por isso são de poucas palavras. Interromper uma pessoa que está falando, nem pensar, é uma tremenda falta de educação. Perguntar a alguém sobre assuntos da sua vida particular só se a intimidade for muita, caso contrário isso seria de uma indelicadeza atroz. Imagine como eles nos devem achar estranhos !!! Por sorte são muito educados e nos perdoam os deslizes.

A religião também parece não ter um papel importante no dia a dia desses povos. Daí também se explica os valores morais um tanto diferente dos nossos.

Alguns detalhes que me chamaram a atenção:

- Existe uma grande integração entre esses 4 países, ou 5 se considerarmos a Islândia. A língua não é a mesma em todos os países, mas são semelhantes, exceto para a Finlândia. O idioma falado pelos finlandeses tem sua origem na Europa Central e tem semelhança com a língua falada pelos húngaros. De qualquer forma a língua não é barreira visto que a maioria da população fala duas ou três línguas pelo menos.
As uniões pessoais entre as coroas dinamarquesas, norueguesas e suecas ao longo dos séculos talvez seja o fator que mais contribui para a união desses países.

- A realeza daqui é bem discreta. Pouquíssima semelhança com a família real inglesa. Na Noruega eles comentam que durante o choque do petróleo na década de setenta, o Rei da Noruega passou a usar o transporte público para que isso servisse de exemplo para seus súditos. Outra estorinha diz que o Rei da Noruega , retornando de uma viagem a Inglaterra, foi questionado por um inglês que estava no mesmo voo sobre o fato de que ele estava viajando sem o acompanhamento de seguranças pessoais. O rei informou que na realidade ele tem 5 milhões de seguranças, ou seja, toda a população da Noruega.

- O porto é sempre parada obrigatória em todas as cidades por aqui. No Brasil só frequentam a região do porto os que lá trabalham e as prostitutas, que também lá trabalham. Ouvi falar que em Belém do Pará estão revitalizando a zona portuária. Quando estive por lá esse trabalho ainda não havia iniciado, o porto era igual a todos os outros do Brasil, só se vai para embarcar em algum cruzeiro.

- Os nórdicos adoram navegar. Durante o trajeto de ônibus passamos por várias marinas repletas de barcos de todos os tamanhos. Pareciam com estacionamentos de carros. A guia nos disse que quase todos possuem alguma casa de verão fora da cidade e que se alguém tiver que optar por possuir um barco ou um carro, a maioria escolherá o barco. Deve ser a herança dos Vikings.

- O consumo de álcool. A lei é rigorosa no que diz respeito ao consumo de álcool. A guia nos disse que se alguém pretende fazer uma festa de aniversário, por exemplo, combina com alguns amigos com bastante antecedência para irem comprando e estocando as bebidas pois a cota de cada pessoa não permite que se compre em grandes quantidades. Por que eles bebem tanto ? E porque a taxa de suicídio é tão alta por aqui ?
Posso deduzir, e a nossa guia concorda, que o excesso de segurança pode provocar um efeito inverso, ou seja, causa insegurança. Explicando melhor, todos tem moradia, ótimo serviço de saúde pública, educação de qualidade, etc.. Não tem que batalhar por nada, não precisam competir, são super protegidos. Resultado: não estão preparados para enfrentar problemas quando eles surgem, não tem energia para lutar.

- Como eles celebram o sol. Acho que eles passam todo o inverno contando nos dedos os dias que faltam para a chegada da primavera. Quando chega o mês de maio, e os dias começam a esquentar, é só festa. Abrem-se as janelas, renovam as flores nas sacadas, preparam-se para aproveitar os dias de sol. Acho que nós, brasileiros, não fazemos ideia de como deve ser lindo o nascer do sol para essas pessoas.

- Na Suécia a licença paternidade é de 12 meses, igual a das mães. A licença pode ser tirada de uma só vez ou em partes, até que a criança complete oito anos de vida.
Acho que essa é uma ótima medida para promover a igualdade entre homens e mulheres. Nós, mulheres brasileiras, sabemos que na divisão de tarefas domésticas a mulher continua ficando sobrecarregada. Parte da responsabilidade é da própria mulher porque permite que esse padrão se perpetue. São ações como essa do governo sueco que contribuem de forma significativa para a mudança desse cenário.

- Nossa guia nos falou sobre o tempo de espera pelo atendimento em restaurantes. Ela nos disse que faz parte da cultura desse povo saborear esses momentos com tranquilidade. Um almoço com a família em um restaurante aos domingos deve ser apreciado lentamente como se fosse um acontecimento e normalmente esses momentos se prolongam por horas.
Adoro isso, acho que sou quase uma escandinava, exceto pelos olhos azuis e pelo sexo livre.

  

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