25 maio, 2010

MOSCOU




Verso do cartão


             MOSCOU



Universidade de Moscou - 1964


















INFO INICIAL



A Universidade de Moscou em 2008
























O meu interesse em conhecer a Rússia começou ainda na infância. Dois amigos de meu irmão mais velho foram para a Rússia na década de sessenta, quando o comunismo ainda era um "sonho possível". Um desses amigos frequentemente escrevia cartas para meu irmão, enaltecendo o regime comunista. 

Junto com uma dessas cartas ele enviou a foto acima, da Universidade de Moscou. Guardei a foto e agora vou conferir "in loco". A partir de 1969 nenhuma carta foi enviada, ou se foi, não chegou ao destino. Não era muito conveniente, naqueles anos, receber correspondência vinda da Rússia.

Nesta viagem só iremos eu e Andréa. Adélia também iria, mas desistiu.

Fui na véspera para o Rio – o voo para São Paulo sairá as 06:00 h – e dormi na casa de Andréa. Logo que me levantei comecei a sentir muito enjoo. Estranho, isso nunca me acontece. No caminho para o aeroporto pensei que iria "chamar Raul" mas felizmente o enjoo passou antes de embarcar. Ainda bem, já me basta o medo de voar.


07.09.2008


Catedral de Milão
Nosso voo teve uma escala em Milão e como nosso voo para Moscou só sai a noite, pegamos um trem até o centro de Milão. O dia estava clareando e o centro ainda estava meio vazio. Caminhamos pelas ruas admirando a arquitetura dos prédios antigos, até chegarmos a belíssima catedral em estilo gótico, a Catedral de Milão. Demos uma volta completa em torno do edifício que é todo em mármore branco. As inúmeras estátuas que enfeitam sua fachada também são do mesmo mármore. Uma maravilha. Depois fomos a galeria Vittorio Emanuelle que fica ao lado da Catedral. Essa galeria em forma de cruz e com um teto, ou melhor, uma abóboda de ferro e vidro, é passagem obrigatória para turistas e também para os moradores que trabalham nas redondezas. Enquanto aguardávamos o almoço, ficamos observando as pessoas que transitavam pela galeria. Muitos turistas, muita gente bonita, muita gente estranha e, é claro, muito homem lindo, afinal estamos na Itália.


Gustavo - Dono da Tchwayka
Voltamos para o aeroporto e no início da noite voamos para Moscou. Reencontramos no voo a turma de mineiros que iram fazer o tour de navio. Nos sentamos, eu e Andréa, numa fila de 3 lugares. Andréa na janela, eu no meio e na poltrona do corredor um homem que deveria ser um russo. Alto, olhos grandes e verdes, um cachecol e um chapeuzinho tipo boina. No momento que ele guardava sua bolsa no bagageiro senti aquele cheiro desagradável de suor tão comum aqui na Europa. Quando ele sentou ao meu lado falei para Andréa “Merda, vou ter que aguentar esse russo catingoso até lá. Ainda bem que não é tão longe”. Ele me olhava enquanto eu falava com Andréa. Quando decolamos recostei a cabeça, fechei os olhos e fiquei tentando cochilar. Andréa conversava com as passageiras que estavam sentadas próximas a nós e que estavam com dificuldades para preencher o formulário que teríamos que entregar na Imigração russa. Nesse momento o “russo” ao meu lado falou em português mais que perfeito “não se preocupem, eu posso ajudá-las”. “My God!!! O cara é brasileiro!!!” Decidi que continuaria “dormindo” até chegar a Moscou. Fiquei com vergonha até porque acho que o fedido não era ele. Andréa ficou conversando com ele que se identificou como Gustavo dono da Tchwayka, agência de turismo especializada em Rússia onde compramos o pacote turístico. E eu, sentada entre eles dois, "dormindo". Só tive coragem de acordar depois que ele levantou para pegar a bagagem.

08.09.2008

O hotel Cosmos é enorme, tem muitas lojas, um casino e um teatro. Não havia ninguém da agência de viagem nos esperando e Andréa teve um pouco de dificuldades em se fazer entender pelo pessoal da recepção que, diga-se de passagem, não é muito receptivo. Acho que os russos ainda não estão muito preparados para receber turistas.

Kremli
Catedral de São Basílio

















































No trajeto do hotel para o centro passamos por vários prédios com arquitetura típica do período soviético. A guia nos informou que nesses prédios três ou quatro famílias dividiam o mesmo apartamento. Cada família tinha o seu quarto e a cozinha e banheiro eram utilizados por todos. Os imóveis hoje são caros e os bem localizados são caríssimos. Quem não pode pagar continua dividindo apartamentos.

A Guia Alexandra
Fizemos um tour pela cidade. Impressionante o número de cassinos que tem nessa cidade. Paramos na praça vermelha, que estava fechada para o público naquele dia, infelizmente. Vimos a catedral de São Basílio e as muralhas do Kremlin. A catedral é diferente de todas as igrejas que já vi. É linda, com aquelas cúpulas retorcidas, como aqueles pirulitos grandes e coloridos. A nossa guia, Alexandra – uma jovem morena , meio gordinha de belíssimos olhos verdes – nos disse que após a conclusão da obra o czar mandou cegar os 2 arquitetos que projetaram a catedral, para que eles não pudessem fazer nada mais bonito do que essa catedral. Parece trágico demais pra ser verdade, mas a guia garantiu que a história é verdadeira. Depois de alguns dias de Rússia compreendi que, em se tratando de Czar, tudo é possível.


Igreja Ortodoxa

Continuamos o passeio. Por toda parte se veem as torres das igrejas ortodoxas, uma mais bonita que a outra. Visitamos a igreja de Cristo Salvador, toda branca com uma grande cúpula dourada. A história dessa igreja é bem interessante. Os comunistas destruíram a igreja e, em seu lugar, construíram uma enorme piscina térmica aberta ao público. Depois da queda do governo comunista a igreja foi reconstruída sendo uma cópia perfeita da anterior. É difícil entender porque alguém destruiria uma obra tão majestosa.

Universidade de Moscou
Paramos em frente a Universidade de Moscou. Tentei identificar o prédio que eu vi em um postal que o Walter mandou para o meu irmão em 1964. Acho que nada mudou na fachada, apenas o jardim enorme em volta do prédio. Na minha infância ficava imaginando como seria essa cidade sobre a qual Walter falava com tanta admiração. Acho que era um fervor ideológico que mais tarde, com a maturidade, esfriou. Jamais imaginei que um dia eu tiraria uma foto nesse mesmo lugar.

Mc Donalds
O ônibus nos deixou na Praça Arbat, uma rua para pedestres no centro da cidade. É uma rua de comércio, mas nada de lojas de grife. Restaurantes, livrarias, bancos e lojinhas que vendem os souvenirs mais comuns aqui na Rússia: matrioskas (aquelas bonequinhas que se encaixam umas dentro das outras), chapéus de cossacos, pashiminas, etc.... Tem também um Mc Donalds, que paga um aluguel irrisório numa das áreas que tem o metro quadrado dos mais caros da cidade. Mutretas do início do capitalismo na Rússia. Imagino que Lenim e Stálin devem se revirar no túmulo caso consigam ver no que essa cidade se tornou.

Caminhando por essa rua paramos em frente a uma mansão. Alexandra nos contou que o livro "O mestre e a margarida" de Mikhail Bulgakov, escrito na década de 20, conta a história de uma visita que o Diabo fez a Rússia num certo verão. A história é ambientada em Moscou, numa época em que os russos não acreditavam em Deus e muito menos em Satanás. Nessa mansão, conta a história, o Diabo fez uma festa de arromba. Por ironia, hoje funciona nesse local a Embaixada Americana.

Restaurante My-My
Almoçamos num restaurante bem conhecido na cidade. “Mu Mu” (vaca) é um restaurante bem bonitinho, com toda a louça malhadinha como uma vaca holandesa. Não havia cardápio em inglês, mas isso não foi um problema, todos apontavam para o prato que desejavam. A comunicação por aqui é um pouco difícil, poucos entendem inglês e parecem não fazer muita questão de aprender. Pegamos nossos pratos e sentamos numa varandinha perto do sol. Momentos como esse, em que estou comendo, sem pressa e sem muito barulho, num local onde posso ver a rua e as pessoas que passam conversando, são para mim muito, muito agradáveis.

Estação do Metro
A tarde fomos conhecer as estações do metro. As escadas rolantes são altíssimas e rodam com muita velocidade. O movimento de pessoas é muito grande. Nunca vi tanta gente em uma estação de metro, nem mesmo em São Paulo. Realmente elas fazem jus à fama que tem, são todas lindas. Em uma das estações há vários mosaicos nas paredes representando cada uma das quinze repúblicas que compunham a antiga União Soviética. E todos os mosaicos retratam trabalhadores felizes. Na parede ao fundo da estação, um grande mosaico com uma figura que representa o pai da Nação com uma criança no colo. Até algum tempo atrás essa figura do bebê tinha a cara de Stálin. Uma verdadeira lavagem cerebral. Atualmente o rosto é de um bebê desconhecido.

No nosso grupo tem algumas senhoras mexicanas. Todas muito animadas, gostam de cantar, e tem a maior disposição. Uma delas tem um problema nas pernas e bastante dificuldade em andar. Apesar disso não deixa de participar de nada, vai andando devagar, mas acaba sempre acompanhando o grupo. Nesse passeio no metro ficou evidenciado uma das características do povo russo. A senhora mexicana que arrasta uma das pernas levou um tombo quando entrava no vagão do metro. Nenhum dos russos que estavam a sua volta se mexeu para ajudá-la. As mexicanas e os brasileiros que estavam mais distantes é que se dirigiram até ela e a levantaram. Os russos não são nada solidários, pelo menos com os estrangeiros. Pelo resto da viagem vários episódios confirmaram essa nossa impressão.

Estação do Metro

















Algumas paulistas fazem parte do nosso grupo. Uma médica aposentada que divide o quarto com uma mulher bem excêntrica, magrela e inconveniente. Uma outra aposentada que trabalhou num órgão público (não me lembro qual)e uma senhora meio desmemoriada. Acho que ela começa a sofrer de Alzheimer. Ontem à noite, no hall do hotel ela se aproximou de nós e disse que não conseguia fazer o elevador parar no andar dela. Ela não havia percebido que havia elevadores específicos para cada grupo de andares. Ficou um tempão falando em português com um segurança do hotel que, é claro, não entendeu nada. Quando nos viu chegar correu até nós e pediu ajuda. Levamos a senhora até o seu andar, que era o mesmo nosso. Chegando lá começou a procurar o quarto e se perdeu novamente. Vixe !!! Acho que o guia terá problemas.

À noite assistimos a um espetáculo tipicamente russo, no teatro do próprio hotel que é excelente. Um balé (como eles são bons nisso) com ótimos figurinos, coreografia idem. No meio do espetáculo identificamos 2 bailarinos que estavam no aeroporto de Milão. Um deles é muito bonito e por isso nos chamou a atenção. A noite foi ótima!!!

09.09.2008

Um dos portões do Kremlim
Galeria Gun iluminada

























Até agora o tempo está quente, não parece em nada com a Rússia gelada que imaginei. Alexandra disse para não nos animarmos muito porque hoje à tarde a temperatura deve cair. Hoje começamos o dia visitando o Kremlin. A palavra Kremlin significa fortaleza. Dentro dessas fortificações encontramos várias Igrejas, Museus, Armarias, etc...Entramos em uma igreja cujo interior é belíssima. Começou a chover e as pessoas se aglomeravam na porta da igreja sem querer sair. Lá se foi o bom tempo. Em seguida fomos ao Museu da Armaria. O museu abriga uma enorme coleção de tesouros da história russa: joias, pedras preciosas, armaduras, roupas de época, tronos e carruagens. 
Encerramos nosso tour na galeria “GUN”. Esse local foi um grande mercado público durante o regime soviético, onde os russos trocavam seus vales por comida ou produtos nacionais. Depois da queda do governo esse lugar foi transformado em uma espécie de shopping. É uma construção muito bonita e hoje, um lugar cheio de lojas das marcas mais famosas do mundo. Tudo aqui faz lembrar aquilo que os comunistas mais detestam. Enfim, um símbolo do mundo capitalista. Éh! Parece que o povo russo capitulou.



Interior da Galeria Gun

Um comentário:

  1. Brasileiro é danado para achar que não encontrará outros por aí...Daí passa vergonha....Eu tb dormiria bastante!
    Bjs,
    Gerlane.

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