22 maio, 2010

SÃO PETERSBURG

14.09.2008


Cúpula da Igreja do Sangue Derramado
Fizemos um tour pela cidade e “de cara” percebemos que essa cidade belíssima era bem mais “europeia” que as demais. Os prédios da parte mais antiga da cidade têm todos a mesma altura. As fachadas são bem conservadas e muito bonitas. Por toda parte vemos tapumes das obras de restauração. Imagino que daqui a alguns anos a cidade estará ainda mais bonita. Passamos também por muitos parques. Espero que haja tempo de visitar alguns deles.

Estamos no final do verão e a temperatura já chega perto dos 2 graus positivos. Gostaria de vir aqui no período das “noites brancas”, as noites seriam mais quentes e certamente mais alegres. Chegamos ao hotel destruídas. Amanhã estaremos melhor, com certeza.

15.09.2008
Palácio de Catarina




Visitamos 2 palácios hoje, o de Catarina e o do seu filho Paulo. A guia Irina nos contava, durante o trajeto, a história de alguns czares (Czar – Cesar para os romanos), todas muito trágicas. É um tal de mãe que matou o filho porque o filho queria o trono; filha que colocou a mãe em um convento porque queria o trono. Enfim, o "trono" era o objeto de desejo de 09 entre 10 príncipes.

Irina falou também sobre a cidade e a sua construção no delta do rio Neva. Muitas pessoas morreram na construção da cidade nessa região pantanosa. O czar Pedro escolheu esse local porque queria construir uma capital que lembrasse Amsterdan e Veneza. Parece que não levou em consideração a força das águas de um rio caudaloso como o Neva. A cidade sofreu com terríveis enchentes, perdeu metade da sua população na 2º guerra mundial, sofreu com o cerco durante a guerra quando ficaram sem água encanada, sem luz e praticamente sem comida. Acho que agora vivem um período de calmaria mais do que merecida.

O palácio de Catarina I é super luxuoso. Catarina assumiu o poder após o marido, Pedro - o Grande, adoecer. Ela "precisava" de um palácio pra chamar de seu e construiu essa maravilha. A sua filha, Imperatriz Izabel, achava o palácio muito pobrinho e resolveu reformá-lo. Gastou, entre outras coisas,  a bagatela de 100 Kg de ouro para dourar a sofisticada fachada e algumas estátuas. Poderia ser chamada de "Izabel - a perdulária"  ou usando um termo mais atual “ consumidora compulsiva”. Gastou uma fortuna e, pelo que vimos de objetos e outras preciosidades, fica claro que Izabel “não deixava barato”. Tempos depois outra Catarina habitou esse palácio - Catarina II a "déspota esclarecida". Essa não estava nem aí pra reforma de palácio, gostava mesmo era do poder,  governar era o seu prazer.









O palácio do Czar Paulo I, filho da Catarina II, é mais simples porém de maior valor visto o número de esculturas importantes que possui. Esse palácio passou de mão em mão (da nobreza, é claro), teve um período sofrido depois da Revolução de 1917 e foi depredado e saqueado durante a Segunda Guerra Mundial. O último Czar, Nicolau II, morou lá até o momento que teve que mudar-se com a família  para um local mais seguro. Não adiantou a mudança de endereço, foi morto pelos bolcheviques junto com sua mulher e os filhos. O título de Czar é uma honraria de alto risco, me parece.
Não lembrei de perguntar a Irina se algum dos Czares teve vida fácil, se algum conseguiu morrer de velho ou se de morte natural. Vou ter que pesquisar depois que a viagem terminar, para matar minha curiosidade.

Durante o passeio pela cidade passamos por vários jardins. Irina nos falou que alguns desses jardins possuem um crematório, que eram usados na época da segunda guerra, quando vários corpos congelados eram encontrados pelas ruas todas as manhãs. A cidade não foi tomada pelos nazistas, mas o cerco a Leningrado (nome da cidade na época) durou três anos. Resultado: eles tinham que sobreviver com aquilo que podiam produzir dentro da própria cidade e com o pouco que o governo conseguia enviar. Mais da metade da população morreu de fome ou de frio. O inverno é muito rigoroso por aqui, a temperatura chega a vinte graus negativos. Dizem que algumas pessoas chegavam a comer o couro dos sapatos (será verdade?) e outros praticaram o canibalismo para sobreviver. É triste a história dessa cidade tão linda, não dá pra descrever o sofrimento que eles enfrentaram. 
Em um lugarejo próximo daqui passamos por um monumento, uma grande escultura só com figuras femininas. Nessa cidade só as mulheres sobreviveram, todos os homens morreram no front.
Passamos por uma estátua de Anna Akhmatova, uma das mais importantes poetisas russas que sobreviveu aos anos pós revolução russa e conseguiu ter sua arte recuperada após a morte de Stalin, que era odiado por ela. Dois dos seus três maridos foram mortos por ele e seu filho Lev esteve preso por anos em retaliação ao posicionamento político dos seus pais. Nossa guia leu um trecho do poema Requiem onde Akhmatova dizia que se lhe fizessem uma estátua, ela deveria ficar nesse lugar. Desse local, próximo ao rio Neva, avista-se do outro lado do rio a prisão onde ele esteve preso. Ela, e muitas outras mulheres, passavam horas na fila na esperança de ver seus familiares. Durante três anos ela enfrentou essa fila, mas nunca permitiram que ela visse o filho, nem mesmo sabia se estava vivo. A estátua está de lado e fitando o horizonte, como se estivesse indo embora e lançando um último olhar a prisão.
Grande parte dos escritores, poetas e intelectuais fugiram da Rússia logo no início da revolução. Os que ficaram ajustaram suas obras ao novo pensamento vigente e os que não aderiram foram mortos e enviados para os gulags, o que também era uma sentença de morte.
Anna Akhmatova

O passeio terminou às 17:30 e estávamos mortas de fome. Fomos jantar em um restaurante português “Porto”. Comida deliciosa, atendimento nota 10. O garçom conseguiu entender muito bem o inglês de Andréa, coisa rara por aqui. A conta foi um pouco “salgada” mais valeu à pena. Encontramos nesse restaurante um grupo que faz parte do nosso tour. São 5 pessoas e todas moram em Minas. Dois casais de advogados e uma moça que é juíza. Um dos rapazes é bem bonito. Ou melhor, é muito bonito. A esposa é simpática, mas parece chegada a um "barraco" e marca o bonitão de perto. Melhor manter distância.

16.09.2008

Museu Hermitage
Fomos ao Hermitage, museu mais famoso da Rússia e o terceiro maior do mundo. Só perde em tamanho para o Louvre de Paris e o museu do Prado em Madri. A guia Irina nos acompanhou mostrando o que havia de mais importante na arte russa e também obras dos pintores mais famosos: Rembrandt, Velasques, El Greco, Leonardo da Vinci. Muitas obras também dos impressionistas Renoir, Monet, Van Gogh, etc... 

É quase impossível tirar os olhos da beleza da arquitetura desse palácio; me encantou mais do que as próprias obras de arte que ele expõe. São inúmeras salas, uma mais bonita que a outra. A sala das Malaquitas é um espetáculo!  Cortinas de veludo vermelho e o vermelho da malaquita nas colunas, na lareira, em objetos, o dourado no teto, formam um belíssimo conjunto muito colorido.
Das obras de arte, me chamou a atenção um enorme relógio com um pavão e outras aves, tudo em ouro. Em determinadas horas ele toca uma música, acho que é o conhecido "Quebra Nozes" com o som de sinos e o pavão se movimenta como se estivesse cantando. Esse relógio foi um presente para Catarina, de um dos seus amantes. É lindo!

Foi tudo muito corrido porque o museu é muito grande e ainda tínhamos muita coisa para ver nesse dia.

Seguimos para um passeio de barco pelos canais da cidade. São muitos canais, é quase como Amsterdã. Terminado o passeio fomos almoçar num restaurante de comida georgiana. Comemos veado com tomates, champions, queijo e cebolas crocantes. Uma delícia!!! Terminamos o dia passeando num shopping. Eu queria comprar uma camiseta com palavras escritas no alfabeto cirílico para meu sobrinho Rafael, mas foi impossível. Só há roupas com palavras em inglês, aliás como acontece em todos os lugares que já visitei. É mesmo um horror, o mundo está cocalizado.
É impressionante o número de sapatarias. As russas adoram saltos altos e botas. Elas andam sempre muito bem vestidas, maquiadas e de salto. Lojas de produto infantis são raras. Acho que o número de crianças por aqui é bem pequeno.

Resolvemos voltar de táxi para o hotel. Os táxis oficiais não são muito comuns por aqui. Em compensação, basta aquele sinal tradicional que fazemos com os dedos quando pedimos carona, e algum carro pára e faz a "corrida" que o táxi faria. É só combinar o preço. O motorista do nosso táxi clandestino, como não falava nada de inglês, nos mostrou o valor em rublos no visor da calculadora. É o "jeitinho" russo de defender uns trocados extras.

Quando ligamos a TV no hotel ouvimos a notícia de um avião que havia caído na Rússia com muitos mortos. O acidente tinha sido na véspera e imaginei que lá em casa alguém poderia ter ouvido a notícia e estar preocupado. Liguei para casa e Vicente atendeu. Disse que tinha acabado de comentar sobre o acidente com Lívia, mas que Vilson ainda não sabia. Pedi a Vicente pra avisá-lo que ainda não foi dessa vez que ele ficará viúvo. Pronto, já dei sinal de vida, meu compromisso diário.

Antes de dormir fizemos nosso já tradicional lanche: pão de sal, queijo gouda ou brie, presunto de Parma e coca-cola. Finalizamos com chocolate suíço que compramos no aeroporto e com alguns chocolates russos. Em seguida é dormir e sonhar.

17.09.2008

Encontramos novamente o "falso russo". Aproveitei, agora que perdi a vergonha do "mico", e pedi para tirar uma foto dele.


Palácio de Pedro I
Hoje visitamos o palácio de Pedro I. Não confundir com aquele outro Pedro I - o Mulherengo - imperador tupiniquim. Esse é Pedro, o Grande. O palácio fica na cidade de Peterhof. Como todos os outros palácios, esse também é lindo. Porém mais bonito que o palácio é o jardim. São dois jardins, em níveis diferentes. As estátuas douradas que estão na entrada principal são magníficas. Seguindo em linha reta um canal ladeado por canteiros deságua no Mar Báltico. Alguém falou que em dias de céu claro e horizonte limpo, é possível avistar a Finlândia do outro lado do Mar Báltico. Não imaginava que fosse tão próximo. Conheci a Finlândia faz uns três anos e fiquei sabendo naquela viagem que a Finlândia já  fez parte da Suécia e depois, do Império Russo. Só se livrou dos russos após a primeira Grande Guerra. 
Parece que o czar pretendia rivalizar com o Versailles de Paris. Ainda não conheço Versailles, embora já tenha ido a Paris. Se for mais bonito  que esse aqui, deve ser de cair o queixo.

Palácio de Pedro I
Pedro, O Grande, fazia jus ao codinome, tinha quase dois metros de altura, mas as pernas dele eram muito curtas. Em todos os quadros, porém, esse “detalhe” é omitido e ele fica parecendo um homem muito bonito. Era o photoshop da época, creio que só disponível para os ricos.


Palácio Iusupov
À tarde fomos ao palacete de Yusupof. Neste palácio foi assassinado Rasputin o “mago”, que era conselheiro da esposa de Nicolau II, o último czar da Rússia. O mais interessante nessa visita é a história do assassinato. Vários cômodos são preparados para contar a história. Em alguns vemos bonecos de cera, que representavam os personagens que estavam presentes no palacete naquele dia. Em alguns momentos nos sentimos presentes naquela conspiração. 

O enigmático Rasputin tinha muito prestígio junto à família imperial depois que ajudou na cura do menino hemofílico que era herdeiro do trono russo. Dizem que muitas vezes era consultado a respeito de importantes decisões políticas. Conclusão, isso incomodou alguns nobres russos que resolveram matá-lo. Convidaram Rasputim para uma noite de diversão no palácio de Iussupov. Rasputim, que já estava interessado em conhecer a belíssima esposa do príncipe Felix, aceitou. Mas os planos não deram muito certo. Tentaram envenená-lo com doces envenenados com cianureto e uma garrafa de vinho também envenenada. Após muita insistência, o bruxo resolveu comer os doces e beber do vinho. Continuou lépido e fagueiro.


Rasputi
O príncipe Iussupov ficou aterrorizado ao ver que as doses de cianureto não fizeram efeito algum. Iussupov foi até outro andar do palácio e pediu a arma de um de seus cúmplices. O príncipe convidou Rasputin para orar diante de um belo crucifixo e nesse momento o príncipe aproveitou para disparar dois tiros contra Rasputin. O mago tombou.

Enquanto preparavam o corpo para jogar no rio Neva, que passa em frente ao palácio, o bruxo abriu seus olhos e começou a estrangular o seu assassino. Um outro cúmplice disparou outro tiro contra o peito e a cabeça de Rasputin. Parecia definitivamente morto. Enrolaram o corpo em um cobertor e o amarraram com cordas. Jogaram o corpo no rio.

Dias depois o corpo foi encontrado e apesar das queimaduras provocadas pelo gelo do rio as mãos de Rasputin estavam esticadas como se ele tivesse tentado se soltar das cordas.

Temendo um escândalo, o czar Nicolau II não quis investigações e determinou um laudo que dizia que a morte tinha sido acidental. Rasputin havia profetizado que a família imperial morreria se ele fosse morto. Dois anos depois, toda a família real foi morta pela ação dos revolucionários russos. Éhhh! o mago era bom mesmo.

Saí do palacete morta de fome. Fomos jantar no restaurante Nevisk 40. Uma carne de porco com gorgonzola, rúcula, alface e rosti de batatas. Uma delícia de jantar e sem doces envenenados.
Voltamos a pé para o hotel. Queríamos apreciar a cidade iluminada nessa última noite na Rússia. A avenida Nevisk, que me foi apresentada por Dostoiévisk no livro que li recentemente, é uma das mais importantes dessa cidade. Passamos por ela várias vezes e é ainda mais bonita à noite. Estava muito frio (- 4 graus) mas sem vento algum o que tornou nossa caminhada confortável.
Já estamos sentindo aquela sensação de que ficou ainda muita coisa para conhecer. Amanhã a tarde vamos embora e São Petersburg, a cidade de Pedro o Grande, vai deixar saudade.

18.09.2008

O nosso voo é a tarde. Pela manhã fomos a uma igreja ortodoxa que fica perto do hotel. No cemitério ao lado da igreja visitamos o túmulo de Dostoievsk e Tchaikovisk. O cemitério fica dentro de um belo parque com muitas árvores, um lugar bem agradável, não fosse pelo preconceito que temos com os "habitantes" desse lugar.

A tarde embarcamos para Roma, não sem antes passar pelo severo controle da alfândega russa no aeroporto. Tivemos que tirar casaco e sapatos e fomos apalpadas por uma policial russa. Não entendi bem porque esse rigor na saída. Se fosse na chegada, tudo bem. Deve ser resquício do período soviético.

Considerações Finais


A Rússia ainda não está bem estruturada para receber turistas. Poucas pessoas falam inglês, mesmo nos restaurantes e nos pontos turísticos. Cartões de crédito também não são bem aceitos. As pessoas são grosseiras e nada cordiais com os turistas. Acho que esses problemas devem ser solucionados em pouco tempo pois a Rússia assume cada vez mais o seu perfil capitalista, aparecendo até mesmo na revista Forbes com vários russos incluídos na lista das maiores fortunas do mundo. Quanto a cordialidade, não sei se muda visto que os europeus, de um modo geral, não nos dispensam um tratamento dos mais amigáveis.

Parece-me que eles ainda estão confusos quanto ao seu enquadramento político nesse cenário ocidental. Já não são socialistas, mas ainda não se sentem confortáveis com o capitalismo. Aliás, isso não é de se admirar pois após mais de 70 anos de regime comunista, passar por uma mudança tão radical sem nenhuma preparação prévia, deixa qualquer um sem rumo. Uma piada local diz que perguntaram a um cachorro se a situação atual é melhor que a anterior. O cachorro pensou e respondeu “ penso que agora o prato está mais cheio de comida, mas a corda que prende a coleira está mais curta, o que torna mais difícil chegar até o prato”. Achei a definição perfeita.

Alguns hábitos dos russos são bem desagradáveis. Bebem e fumam muito e deixam garrafas vazias e bingas de cigarro por toda parte. Encontramos bêbados em todos os lugares. O alcoolismo é hoje uma das maiores causas de morte na Rússia.

As mulheres são um caso à parte. Muitas mulheres bonitas, nunca vi tanta mulher bonita como aqui. Andam bem vestidas - o clima favorece – muito maquiadas e saltos altíssimos, muita bota e belos casacos.

Um dado que me intrigou, a princípio, foi o decrescimento demográfico. A Rússia hoje tem menos de 150 milhões de habitantes. E olha que a Rússia tem uma extensão três vezes superior a do Brasil. Consultei Alexandra sobre o assunto e ela nos disse que a maioria dos russos não querem ter filhos. O governo fornece bolsa de estudo e seguro saúde como forma de incentivo para os casais que desejam ter um segundo filho, mas parece que eles não se entusiasmam. Alexandra disse que os russos ainda se sentem inseguros pois antes tinham moradia, saúde, educação, alimentação, tudo fornecido pelo Estado. Era pouca comida e moradias quase sempre coletivas, mas obtinham tudo isso sem precisar fazer nenhum sacrifício. Hoje têm que trabalhar muito para ter tudo isso. Sem contar as 2 guerras mundiais e 3 revoluções que enfrentaram no último século. Somente a 2º guerra mundial matou mais de 20 milhões de russos. Não é pouca coisa, é mais que suficiente para amedrontar uma criatura.

Um outro fato que me chamou a atenção foi a quantidade de igrejas. São muitas, considerando que a maioria da população é composta por ateus. É mesmo impressionante a necessidade que o homem tem de se apegar a uma religião, pois mesmo depois de 70 anos de um regime que pregava o ateísmo, bastou um pouco mais de liberdade para que a religião ressurgisse com vigor.

Saravá axé babá, como diria o baiano.





















Um comentário:

  1. Angela,
    Tô imaginado o bonitão, a barraqueira e o czar até agora...
    Bjs,
    Gerlane.

    ResponderExcluir